Autoestima é a qualidade de se valorizar e demonstrar confiança em si mesmo. Por isso, alguém com a autoestima elevada tende a se julgar de forma positiva. Já uma pessoa com a autoestima baixa está a inclinada a fazer uma imagem negativa de si mesma.
A autoestima não é estática. É o que diz o pesquisador Juan Mosquera, da PUC-RS. Para ele, essa autoavaliação acontece em diversas situações do nosso dia a dia e pode apresentar altos e baixos.
Assim, se uma pessoa está com a autoestima baixa, isso não significa que nada possa ser feito para mudar a situação.
Mas, afinal: como elevar a autoestima?
Atualmente, fala-se muito em autoestima como um dos fatores decisivos para se ter sucesso na vida. Num mundo cada vez mais competitivo, ter uma imagem positiva de si mesmo tornou-se valor fundamental.
É preciso manter a autoestima elevada para se dar bem financeiramente, para tirar boas notas e ser um aluno de sucesso, para se tornar um profissional de destaque... Até para conquistar o coração de outra pessoa não podemos deixar a peteca cair.
Livros de autoajuda e vídeos motivacionais na internet fazem uma lista de recomendações de como elevar a autoestima. As dicas são as mais variadas: identificar qualidades ao se olhar no espelho, sempre comemorar conquistas, ser mais tolerante com os próprios erros, cercar-se de pessoas positivas...
Há muitas recomendações, algumas baseadas em opiniões de especialistas, outras não. E quando se trata de saúde mental, é preciso cautela. Se não há consenso na Psicologia sobre o conceito de autoestima, é provável que nem todas as dicas sirvam para todas as pessoas.
Para o psicoterapeuta canadense Nathaniel Branden, a autoestima está relacionada à satisfação pessoal. “Desenvolver a autoestima”, segundo ele, “é expandir nossa capacidade de ser feliz”. No famoso livro Autoestima e seus Seis Pilares, Branden recomenda seis atitudes básicas para quem não anda com uma imagem tão positiva de si mesmo, entre as quais a autoafirmação, uma atitude relacionada à defesa de seus próprios valores e princípios.
A origem do conceito na Psicologia e o debate acadêmico
O famoso psicólogo norte-americano William James (1842-1910) é o responsável por introduzir o conceito de autoestima no debate acadêmico. Isso foi em 1885. Segundo James, o que define a autoestima é a diferença entre as nossas pretensões e o nosso sucesso. Assim, se uma pessoa supõe que pode chegar longe, mas por alguma razão não consegue, essa frustração vai derrubar a autoestima.
Podemos que ver que o conceito de autoestima, desde a origem, aparece associado a eventos externos. Apesar da autoavaliação ser subjetiva (somos nós mesmos que nos julgamos), o que se passa no nosso entorno é muito importante na definição da autoestima.
Não ser amado reduz a autoestima. Ser amado a aumenta. Quem disse isso foi Sigmund Freud (1856-1939), o pai da Psicanálise. No seu célebre estudo sobre o narcisismo, de 1905, Freud estabelece relações entre o amor e a autoestima.
Quando amamos alguém, abrimos mão de parte do nosso próprio narcisismo. O amor tem a ver com doação. “Uma pessoa apaixonada é humilde”, diz Freud. Mas essa perda pode ser compensada pelo amor de outra pessoa. Há equilíbrio se somos correspondidos.
Hoje em dia o conceito de autoestima é muito utilizado no campo da Psicologia e das Ciências Sociais. Há pesquisas sobre autoestima envolvendo diversos grupos sociais, categorias profissionais, faixas etárias, instituições etc. Afinal, se o indivíduo se constrói em relação com a sociedade, é impossível compreendê-lo isoladamente. E isso também vale para a autoestima.
A importância de se valorizar: um estudo com policiais
Os especialistas em Saúde Pública Edson de Andrade e Edinilsa de Souza, num estudo sobre policiais civis do Rio de Janeiro, apontam, entre outras coisas, que a autoestima elevada contribui com a saúde mental e com a melhoria da qualidade dos serviços prestados por esses profissionais.
Para os autores, atuar na autoestima pode ajudar inclusive na diminuição da cultura da violência no meio policial.
Ou seja: autoestima tem tudo a ver com satisfação e bom desempenho profissional. No caso do estudo com policiais cariocas, vê-se como toda a sociedade pode sair ganhando caso um grupo profissional se sinta valorizado.
Autoestima e estigma social
Estudos em Psicologia Social atribuem ao estigma um papel importante na diminuição da autoestima.
Já ouviu falar da palavra estigma? No sentido literal, estigma é uma marca provocada por uma ferida. Uma cicatriz.
No sentido figurado, que é o que mais nos importa agora, estigma é uma “marca social”. Uma mancha que algumas pessoas carregam simplesmente pelo fato de serem elas mesmas. Um processo de estigmatização geralmente está associado a preconceitos e discriminações.
Um estudo publicado por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora, intitulado “Estigma internalizado e autoestima”, chama a atenção para esse fenômeno.
Devido a certas características consideradas socialmente indesejadas, indivíduos e grupos são desvalorizados. Perdem status. E o que esses pesquisadores procuram demonstrar é que essa desvalorização social pode, em alguns casos, levar à internalização do estigma. Isto é, a própria pessoa discriminada, seja por qual motivo for, acaba trazendo a marca – o estigma – dentro de si.
Os efeitos disso para a autoestima são devastadores, pois a pessoa já antecipa a desvalorização. Um indivíduo de baixa renda, por exemplo, pode se sentir menos capaz antes mesmo de sofrer a discriminação.
Uma pessoa cujo corpo não corresponda aos padrões de beleza da sociedade também pode sofrer com isso. O mesmo se pode dizer em relação às minorias sociais.
Há tempos que os chamados movimentos identitários, como o movimento negro ou de gênero, tentam combater as raízes desse processo de estigmatização, sobretudo por meio da afirmação de sua identidade e do orgulho de ser quem é. Nos Estados Unidos dos anos 60, o Black Power marchava pelos direitos civis e estimulava a população negra a orgulhar-se de sua aparência. Atualmente, movimentos ligados às minorias sociais continuam lutando contra a discriminação e por melhores condições de vida. Talvez seja essa uma das principais causas pelas quais tanto se fala em autoestima hoje em dia. Lutar por direitos, nesse sentido, também é lutar pela autoestima.
Fonte: HIPERCULTURA
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