Depois de descer ao fundo do poço há três anos, muitas empresas brasileiras de capital aberto recuperaram o valor de mercado. Na primeira quinzena de junho, o conjunto das 295 companhias listadas na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, atingiu um valor somado de 979 bilhões de dólares, uma recuperação de quase 23% em 12 meses — e mais que o dobro da cotação registrada no final de 2015, quando a cifra havia caído para 469 bilhões de dólares.
A redução da taxa básica de juro — de 14,25% há três anos para 6,5% atual-mente — e a sinalização de uma relação mais amigável entre o governo e o mercado são apontadas entre os fatores que ajudaram na retomada do valor das companhias brasileiras. É uma boa notícia para os investidores, mas os preços atuais ainda estão distantes do pico alcançado no primeiro trimestre de 2011, quando as companhias brasileiras listadas na bolsa chegaram a valer 1,5 trilhão de dólares.
Dentro da América Latina, o Brasil é, de longe, o país com o mercado de capitais mais pujante. As empresas brasileiras representam pouco mais da metade (51,5%) da soma do valor de mercado das companhias abertas latino-americanas e valem mais que o dobro das companhias mexicanas (417 bilhões de dólares). No mercado global, porém, o país ainda tem muito a evoluir.
“O Brasil é um gigante na América Latina, mas, se comparado a mercados maduros, vemos a pequenez do mercado nacional. A Microsoft vale mais de 1 trilhão de dólares, mais do que a soma das companhias brasileiras listadas na bolsa”, diz Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da consultoria Economatica, parceira no levantamento de dados de MELHORES E MAIORES 2019, edição que chegará às bancas em agosto.
E o que a economia do país ganharia com um mercado de capitais mais robusto? Além de ser uma importante opção de investimento para pessoas e instituições, o mercado de capitais pode ser um poderoso canal de captação de recursos para as empresas, movimentando a economia. De acordo com um estudo feito pela consultoria Accenture em 2018, o fortalecimento do mercado brasileiro de capitais se traduziria em mais emprego, renda, investimento e arrecadação de impostos. Se o mercado brasileiro crescesse 12,2% ao ano por cinco anos, em valor, a estimativa é que ao final desse período seria gerado 1,7 milhão de empregos adicionais, o PIB per capita do país teria um acréscimo de 12% e o volume de investimentos aumentaria 21%.
A redução da taxa Selic foi um importante fator para a recuperação da bolsa nos últimos três anos. Com uma taxa de juro menor, mais investidores se dispõem a explorar o mercado de ações para obter rendimentos maiores. “Com uma taxa de juro de 14%, poucos investidores deixavam a renda fixa para se aventurar no mercado de ações. Agora a situação é diferente”, diz Vinicius de Castro Scotta dos Passos, coordenador do MBA em mercado de capitais e derivativos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Mesmo assim, o Brasil tem hoje apenas 1,1 milhão de pessoas físicas investindo na bolsa.
Nos Estados Unidos, metade dos investidores da bolsa são pessoas físicas — cerca de 150 milhões. “O mercado de capitais é a forma mais democrática de empreender, pois permite a qualquer pessoa se tornar sócia de grandes empresas”, diz Passos. “Temos um potencial de crescimento inegável, mas algumas condições precisam ser cumpridas para atrair mais investidores e fortalecer a bolsa.” Entre essas condições está a estabilidade política e econômica. A aprovação da reforma trabalhista em 2017 foi um passo relevante nessa direção, segundo especialistas. Mas a demora para a aprovação da reforma da Previdência, o risco Brasil e uma agenda política conturbada podem levar os investidores a buscar outras opções.
Na essência, o papel do mercado de capitais é fazer a ponte entre os investidores e as empresas que precisam de recursos para seus projetos. “No Brasil, o BNDES tem desempenhado esse papel, mas o ideal é que a instituição atue como intermediário e parceiro do mercado de capitais, e não como o principal provedor de recursos aos projetos privados”, diz Passos.
Para Arthur Moraes, especialista em mercado financeiro na escola de negócios Ibmec de São Paulo, o fortalecimento do mercado de capitais depende também da modernização das empresas. Entre as 120 maiores companhias do mundo em valor de mercado, apenas cinco são brasileiras: Petrobras, Itaú Unibanco, Bradesco, Ambev e Vale. “Não há nenhuma empresa de tecnologia nessa lista, e isso é preocupante”, diz Moraes. “As empresas de tecnologia são justamente as mais inovadoras, e não é por acaso que elas lideram o ranking global das empresas mais valiosas.”
Fonte: EXAME
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