Rodolfo Amstalden: Está chegando a hora da próxima Bolha Global
Talvez você se lembre de Michael Burry, um dos protagonistas do livro Big Short (depois virou filme), que ficou famoso por apostas milionárias contra o subprime.
Burry é um cara bem discreto, com Asperger, quase nunca fala em público.
Nas raras vezes em que fala, é melhor ouvirmos.
Sua tese atual prevê uma bolha gigantesca se formando dentro do universo de fundos passivos que replicam índices de ações.
Esses fundos passivos tomaram uma proporção tão grande nos EUA que passaram a distorcer os preços de várias ações.
O mercado funciona bem quando seus vários jogadores atuam por conta própria, errando ou acertando de forma autônoma.
De tempos em tempos, porém, uma massa de investidores abdica da autonomia e passa a confiar suas decisões de alocação em modelos.
Esses modelos podem assumir as mais variadas formas – seja por meio dos algoritmos acadêmicos de Scholes e Merton (quebra da LTCM), seja por meio dos p-values simplistas das agências de rating (crise do subprime).
Nesse sentido, índices funcionam também como modelos de alocação, cada vez mais, e especialmente desde que a indústria de fundos passivos bombou de tamanho.
Pior: eles não foram originalmente pensados para executar esse papel, mas acabaram forçados a isso pelos ETFs.
Vejamos o argumento numérico de Burry sobre o que está rolando por trás das cortinas.
Cerca de metade das 500 ações que compõem o tradicional S&P 500 negociam abaixo dos 150 milhões de dólares por dia.
A priori, 150 milhões parecem uma puta grana. Mas a verdade é que representam um traço perto dos (literalmente) trilhões de dólares vinculados a essas ações por meio de fundos passivos.
No caso do Russell 2000, a cena fica ainda mais bizarra, pois metade de suas ações negocia abaixo de 5 milhões de dólares por dia, e um quarto negocia abaixo de 1 milhão de dólares por dia.
O próprio Burry se refere à situação através da metáfora do Taleb de um cinema cheio para uma saída de incêndio estreita.
A sala de cinema (ativos dos ETFs) é potencialmente infinita, sempre cabem mais cadeiras. Mas a saída de incêndio (volume negociado por dia) continua do mesmo tamanho.
Isso vai criando um desequilíbrio explosivo entre estoque e fluxo.
Como as taxas dos ETFs são minúsculas, guiadas pela eficiência competitiva, os incentivos da indústria de fundos passivos estão todos direcionados para a formação de escala – o que só agrava o problema com o passar do tempo.
Ninguém sabe quando essa potencial bolha vai estourar lá fora.
E, aqui no Brasil, os fundos de índice brazucas ainda engatinham.
De qualquer forma, podemos já seguir uma recomendação prática de Michael Burry, aquilo que ele mesmo está fazendo com sua própria grana.
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Escondidas no cantinho do mercado, elas ficam confortavelmente à margem da influência nociva dos fundos passivos.
Fonte: MONEY TIMES
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