A valorização do dólar em relação ao real neste ano está próxima de 10%. Não se trata de um fenômeno localizado. Nos principais mercados mundiais, operadores de câmbio aumentam cada vez mais a demanda pela moeda americana em busca de proteção enquanto o coronavírus aumenta o sobe-e-desce dos mercados financeiros.
O dólar mostra ganhos em relação às 30 principais moedas mundiais no último mês, coincidindo com a crescente preocupação de investidores e analistas com o impacto econômico da doença. Nem mesmo o iene japonês e o franco suíço, duas moedas consideradas portos seguros tradicionais, não conseguem acompanhar o desempenho. O franco suíço mostra queda de 1,7% neste ano, enquanto o iene acumula baixa de 3%.
A valorização do dólar contradiz o consenso de fim de ano de que economias internacionais se fortaleceriam e atrairiam recursos dos Estados Unidos. O surto de coronavírus distorceu essa narrativa, e investidores famintos por rendimentos também evitam juros negativos na Ásia e na Europa. E, sem uma perspectiva de curto prazo para o fim dos impactos causados pela epidemia, o momento parece favorecer o dólar.
Economia americana mais imune
“O crescimento dos EUA está mais isolado do impacto causado pelo vírus do que a demanda na Ásia e na Europa”, disse à Bloomberg, por e-mail, Ed Al-Hussainy, da gestora de investimentos Columbia Threadneedle. Segundo ele, os diferenciais de juros também tornam o dólar uma aposta segura “excepcionalmente atraente”.
Com o aumento das preocupações com o coronavírus, Al-Hussainy, analista sênior de juros e câmbio, disse que a gestora de ativos reduziu a exposição a moedas de mercados emergentes.
O dólar atingiu a sua maior cotação em relação ao iene em dez meses, em meio ao temor de que os efeitos do coronavírus causem recessão no Japão. Nos EUA, o crescimento permanece sólido.
Makoto Noji, estrategista-chefe da SMBC Nikko Securities, em Tóquio, prevê que a desvalorização do iene atinja nível visto pela última vez em 2017 caso o crescimento dos EUA e do Japão continue divergindo.
Para Momtchil Pojarliev, chefe de câmbio do BNP Paribas Asset Management, o iene já está barato o suficiente. Ele comprou a moeda japonesa na quinta-feira (dia 20) com a visão de que a sua tradição de ativo seguro irá predominar caso o impacto do vírus comece a aparecer nos dados econômicos americanos.
Outros oásis
Mas existem outros oásis para investidores em meio às incertezas globais: o ouro atingiu a maior cotação em sete anos na quinta-feira, enquanto o retorno (yield) da nota do Tesouro de 10 anos caiu para menos de 1,5%, a menor desde setembro. Quanto maior a procura de investidores por um papel, menor o retorno pago.
“O mercado começa a discernir melhor entre as moedas e os ativos que deseja manter neste mundo nervoso pelo vírus”, disse Alan Ruskin, estrategista-chefe internacional do Deutsche Bank.
“Na área de câmbio, o dólar americano é top”, afirma o analista.
Fonte: Bloomberg
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