A busca pelo ouro e outras riquezas minerais norteou as primeiras aventuras ibéricas no Novo Mundo
MARCUS LOPES/ ATUALIZADO POR FABIO PREVIDELLI PUBLICADO EM 06/01/2021, ÀS 13H2
![Gravura de J.M. Rugendas sobre a mineração de ouro no Brasil](https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/_versions/brasil/mineracao_capa_widelg.jpg)
O pico do Jaraguá, na zona oeste de São Paulo, já foi o lugar que recebeu as antenas de TV da cidade. Porém, muito antes disso, era o cenário da primeira mina de ouro do Brasil colônia. A exploração do minério chegou ao extremo sul do país quase dois séculos antes de descobrirem metais preciosos e diamantes na futura Minas Gerais.
Na carta enviada ao rei de Portugal informando sobre o descobrimento do Brasil, Pero Vaz de Caminha lamentava o fato de não ter encontrado ouro ou prata nas novas terras.
Anos depois, o governador-geral Martim Afonso de Sousa enviou expedições mata adentro em busca de metais e pedras preciosas. Sem sucesso. Mais sorte deram os espanhóis, que acharam prata no Peru, em 1545.
São Paulo
No Brasil, as boas notícias só começaram após o início da colonização do planalto. As primeiras descobertas de ouro não foram em Minas Gerais, mas no Pico do Jaraguá, em São Paulo.
Conhecido por ser o ponto mais alto da região metropolitana, com 1.135 metros de altitude (o que justifica as antigas antenas de televisão espetadas em seu cume), hoje as pessoas escalam o morro em busca de um mirante para ver a paisagem da capital paulista. No final do século 16, porém, elas eram atraídas por outra beleza: a do ouro.
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Muito antes do ciclo do ouro ocorrido em Minas Gerais, no século 18, o Jaraguá já atiçava a cobiça dos mineradores por abrigar jazidas do minério. Não só ali, mas em outros pontos da atual Grande São Paulo: como a Serra da Cantareira, Guarulhos e Santana de Parnaíba.
No Ribeirão das Lavras, por exemplo, região onde séculos depois seria construído o Aeroporto Internacional de Guarulhos (Cumbica), havia um garimpo que funcionou até o século 19. Depois, os exploradores foram descendo pelo Vale do Ribeira em direção a Paranaguá (no Paraná), e ao norte catarinense.
"Onde havia aldeias de índios geralmente havia ouro por perto", explica o arquiteto e historiador Nestor Goulart Reis.
Para dar conta da movimentação e evitar a sonegação de impostos, no final do século 17, havia três casas de fundição nas capitanias do sul: em São Paulo, Iguape e Paranaguá. Fundadas pela Coroa portuguesa, as casas de fundição eram as responsáveis pela cobrança do "quinto", o imposto cobrado sobre a mineração do ouro.
Apenas em terras paulistas foram extraídas 4.650 arrobas de ouro entre 1600 e 1820. É pouco se comparadas às 35,8 mil arrobas produzidas em Minas Gerais entre 1700 e 1820. Mas, se não ganharam em quantidade, os paulistas podem se orgulhar de abrigar as primeiras minas para a exploração do minério na colônia.
"A mineração no Brasil começou em São Paulo, e não em Minas Gerais", explica Goulart Reis. Os primeiros registros sobre o minério começaram logo após a fundação de São Vicente, em 1532. Em cartas à Lisboa, os padres jesuítas relatavam a existência da "itaberaba" (pedra que brilha, em tupi), que os índios traziam do planalto para o litoral.
O corsário inglês Thomaz Cavendish, que atacou São Vicente em 1588 e 1591, teria recebido "itaberabas" que os indígenas trouxeram da Mutinga, local junto ao Rio Tietê, próximo do Morro do Jaraguá. Registros mais consistentes surgiram entre o fim do século 16 e o começo do 17.
Em 1604, o garimpeiro sertanista Clemente Álvares informou à Câmara da Vila de São Paulo que desde 1592 vinha explorando ouro nas regiões do Jaraguá e Cantareira. No mesmo ano, o mercador português Afonso Sardinha, conhecido como “o Velho”, declarou, em seu testamento, 800 mil cruzados em ouro em pó (enterrados em botelhas de barro).
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Já em 1599, época da união ibérica entre Portugal e Espanha, o governador-geral do Brasil Dom Francisco de Sousa, por ordem da Coroa espanhola, passou um período na vila de São Paulo, atraído por notícias de ouro e ferro na região.
"O que poderia levar um governador-geral a trocar uma cidade como Salvador, que já tinha 10 mil habitantes, por um lugar que possuía 180 habitantes, entre portugueses e mestiços?", indaga Goulart Reis, autor de “As Minas de Ouro e a Formação das Capitanias do Sul” (2003), publicado pela editora Via das Artes.
Mineração
Ao explorar o processo de mineração nas capitanias de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, entre os séculos 16 e 19, o pesquisador trouxe à tona informações pouco conhecidas do público e dos próprios historiadores.
Os jesuítas, por exemplo, foram donos de minas de ouro descobertas em fazendas da Companhia de Jesus em São Miguel Paulista, Santo Amaro e Embu-Guaçu. As lavras nesses locais foram abandonadas após a expulsão dos jesuítas pelo marquês de Pombal, em 1759.
A mão de obra utilizada nas lavras das capitanias do sul era a indígena, que usava métodos rudimentares de mineração, como o bateiamento. Porém, com uma novidade: eram assalariados.
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O pagamento era feito com utensílios de ferro — anzóis, enxadas e machadinhas —, novidade trazida pelos portugueses. Junto com a exploração do ouro surgiu outra atividade econômica importante na São Paulo seiscentista: a busca por ferro.
A partir de 1697, com a descoberta de lavras em Minas Gerais, a mineração no Sul começou a entrar em decadência. "Decaiu, mas não acabou", ressalta o professor, citando minas ativas no Vale do Ribeira e no entorno de Curitiba até o fim do século 18. No Jaraguá e na Cantareira, entretanto, o garimpo ocorreu até o começo do século 19, assim como no interior do Rio Grande do Sul.
Fonte: UOL/AH
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