A motivação para escrever esse artigo veio das inúmeras consultas sobre como identificar meteoritos que tenho recebido através do site. Uma resposta para essa pergunta pode ser difícil até mesmo para os especialistas mais experientes. Não há profissão formal qualificada para essa análise. A que mais se aproxima é a de geólogo. Porém esses foram treinados para identificar rochas terrestres e a menos que um geólogo não tenha se especializado e experiência com meteoritos não irá conseguir fazer uma identificação melhor do que uma pessoa que tenha estudado e esteja habituada a fazer isso [1]. A vasta maioria de caçadores e colecionadores de meteoritos não é formada por geólogos e muitos deles adquiriram com o tempo uma grande experiência nessa área.
Recentemente no caso de Varre-Sai tenho também visto muitos astrônomos que se tornaram especialistas em meteoritos de um dia para o outro. Provavelmente sem nunca ter visto um meteorito na vida. A mídia sensacionalista do Brasil na busca de noticias de impacto publica qualquer coisa que algum astrônomo disser sem mesmo saber se o fato é verdadeiro ou não.
Para se ter idéia da raridade de uma descoberta através de material enviado para analise, uma instituição que analisa meteoritos nos EUA afirma que de cerca de mil espécimes enviadas geralmente uma é realmente um meteorito [2]. Ou seja, encontrar um meteorito não é fácil. Muitas pessoas me enviam fotos e já perguntam qual o valor mínimo que podem receber. Antes de tentar vender alguma amostra que eventualmente tenha encontrado ainda há um longo caminho a percorrer de testes e análises.
A ideia desse artigo é apresentar algumas observações e testes simples que podem dar uma primeira indicação da origem extraterrestre de um material. Às vezes é possível ter um veredicto com alguns testes simples em outros casos somente testes mais elaborados de laboratório.
Primeiramente, gostaria de separar a análise da amostra em três fases distintas: análise preliminar, análise da superfície externa e analise da região interna:
Análise Preliminar
O material que constitui o meteorito é em geral três vezes mais denso do que uma rocha terrestre. Um siderito é constituído essencialmente de ferro! Assim o que primeiramente se nota ao segurar um meteorito é seu peso relativamente maior do que uma rocha terrestre. Cerca de 99% dos meteoritos possuem o elemento ferro em sua constituição. Mesmos os condritos ainda possuem ferro, porem em muito menor quantidade que os sideritos. Assim o primeiro teste é verificar se a amostra é atraída por um ímã. Caso a atração seja fraca ou o material seja pequeno, é possível amarrar o imã a uma cordinha e aproximar o material do ímã (não o contrário!). Se houver alguma atração será possível perceber um movimento do ímã em direção ao material. Se o material não atrair o ímã a possibilidade de amostra ser um meteorito cai muito, para quase zero, mas ainda existe. Os tipos mais raros de meteoritos como acondritos tem essa característica. Esses também são os mais valiosos!
Se o material não passar no teste do ímã a chance de ainda ser um meteorito é praticamente zero!
Se o material atrair um ímã ainda não quer dizer que o mesmo já seja um meteorito. Muitos minerais terrestres têm essa propriedade. O tipo de material que é mais confundido com meteorito é a magnetita, um minério de ferro que atraí muito um ímã (daí vem o nome). Outro mineral é a hematita, que também pode ser ou não magnético. Para diferenciar esses dois tipos de materiais de meteoritos verdadeiros são possíveis fazer testes simples como riscar o material contra uma superfície áspera. Você pode utilizar um ladrilho de cerâmica para isso utilizando a superfície não acabada da mesma (a superfície onde é colada ao piso). Risque vigorosamente a amostra contra essa superfície e observe se a mesma deixa algum rastro. Se a amostra deixar um rastro preto/cinza (como um lápis), é provável que você tenha uma magnetita. Se o risco originado tiver uma cor avermelhada ou marrom é provável que a amostra seja uma hematita.
Risco vermelho - hematita |
Risco preto-magnetita |
Análise da superfície externa
Geralmente a primeira coisa que conseguimos perceber ao tentar identificar um possível meteorito é o seu formato, cor e textura da superfície.
Quando o meteoróide (o material recebe o nome de meteorito somente após ter sobrevivido a reentrada e se encontra na superfície terrestre) faz a sua entrada na atmosfera terrestre a parte externa do mesmo sofre fusão e muito material se perde nesse processo. Em geral o aspecto externo de um meteorito, por ter sofrido essa ação na reentrada, não apresenta pontas agudas ou cavidades, pois essas teriam sido cobertas pelo material fundido. Formatos com ponta, por sua vez, também não iriam sobreviver a reentrada, pois são muito mais frágeis.
O formato externo às vezes pode também assumir aspectos aerodinâmicos logicamente originados no processo de reentrada. Devido a esse processo meteoritos não apresentam aspectos regulares como esferas ou sólidos de revolução.
Em alguns casos também é possível observar pequenas marcas na superfície chamadas de remagliptos. Essas marcas se assemelham a marcas de dedos deixadas em uma massa de vidraceiro. Esses remagliptos são originados porque a superfície do material possui pontos de fusão diferentes. Tanto meteoritos rochosos como ferrosos podem apresentar esses remagliptos, porém essas características são bem mais pronunciadas nos meteoritos ferrosos. Veja essas estruturas em meteoritos ferrosos como o Sikhote-Alin:
Remagliptos em meteorito |
Quanto à cor da superfície externa, pode haver muita variação. Um meteorito recém-caído, condrito ou siderito, vai apresentar uma crosta de fusão preta que vai se perdendo com o tempo.
Fonte: Geólogo.com
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