Por Barani Krishnan
Investing.com - Para aqueles que conhecem bem Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o fato de ele ter empurrado a redução dos estímulos à economia para depois no fim da semana passada não foi uma surpresa.
Qualquer um que apostasse diferente, achando que o chairman demonstraria mais preocupação com a inflação, deve ter pago um preço alto na sexta-feira, depois que o dólar e os rendimentos do Tesouro afundaram e as ações e o ouro subiram.
O evento mais antecipado do ano do Fed - e, possivelmente, do calendário econômico dos EUA - terminou em lamúria depois que Powell provou, com o seu discurso no Simpósio de Jackson Hole que é a criação de emprego que importa para o banco central, e não as pressões dos preços.
Sem ambiguidades quanto a qual dos seus dois mandatos o Fed está priorizando, o foco retorna - pelo menos para os leitores desta coluna - ao que isto significa para as commodities, especialmente os preços do ouro.
O ouro se ancorou com firmeza acima do patamar de US$ 1.800 pela primeira vez em três semanas - e digo "com firmeza" porque o metal dourado vem rondando a casa dos US$ 1.800 desde segunda-feira, embora não tenha exatamente chegado lá - mas isso é apenas parte da história.
Para realmente determinar para onde ele está indo no curto prazo, temos que esperar o relatório do emprego nos EUA de agosto, marcado para sexta-feira que vem, dia 3 de setembro.
Por quê? Porque o Fed vai estar atento exatamente a isso para anunciar a redução das compras de US$ 120 bilhões em uma combinação de títulos e instrumentos hipotecários de agências que vem realizando nos últimos 18 meses, para isolar a economia dos efeitos da pandemia de Covid-19.
Na verdade, Powell focou precisamente o emprego, no seu discurso de Jackson Hole.
Com mais de um ano da crise de Covid-19, restaurar o crescimento do emprego continua a ser um dos maiores desafios dos dirigentes do Fed. Mais de 21 milhões de empregos foram perdidos nos EUA entre março e abril de 2020, no auge dos lockdowns motivados pelo coronavírus, e cerca de 7 milhões de vagas ainda não foram preenchidas, segundo os diretores.
"O cronograma e o ritmo da futura redução das compras de ativos não têm a função de transmitir uma sinalização direta sobre o cronograma do aumento da taxa de juros, para o qual articulamos um teste diferente e substancialmente mais rigoroso", disse Powell. Ele também enfatizou a necessidade de evitar um "movimento inoportuno de política monetária" em meio às insistentes novas incertezas em razão da variante delta.
"Hoje, com uma folga substancial remanescente no mercado de trabalho e a continuação da pandemia, tal erro poderia ser particularmente danoso", acrescentou o presidente do Fed.
Traduzindo, isso significa que o Fed vai manter um foco restrito sobre o mercado de trabalho para sinais sobre o tapering.
Mais importante ainda, "os dados do emprego semanais e mensais vão ditar o momento da elevação de taxas", afirmou Phillip Streible, estrategista de metais preciosos da Blueline Futures em Chicago.
Como citado, aqueles que apostaram corretamente em Powell nos últimos meses sabem que quanto maior a melhoria no mercado de trabalho dos EUA, maiores e mais rápidas são as chances de tapering. Consequentemente, pior será a perspectiva para os preços de ações e do ouro. Este é uma das ironias da economia atual dos EUA, onde investir em Wall Street às vezes não passa de um jogo de chimpanzés arremessando dardos chapados pelo esteroide do estímulo econômico.
Streible concorda, afirmando: "Como investidor em ouro e prata, o que se quer é ver uma recuperação prolongada no mercado de trabalho, levando a uma trajetória mais longa da recente recuperação de preços".
O relatório de julho sobre o emprego foi o melhor em um ano, acrescentando 943.000 postos depois dos 1,76 milhão em julho de 2020. O que é mais crítico, trouxe a taxa mensal do desemprego - o Santo Graal para uma redução - para 5,4%, contra 5,9% em junho. A definição do Fed de "pleno emprego" é uma taxa de desemprego de 4%. Ninguém acha que isso será alcançado, sendo que muitos acreditam que 4,9%-4,5% será o melhor possível.
Por enquanto, o crescimento do emprego para agosto tem uma previsão conservadora de 728.000. Se, por qualquer razão, o número for tão bom como o de julho, poderá reduzir o abismo do desemprego em mais meio por cento, levando os EUA para o território dos 4,9% . Isso poderia iniciar a contagem regressiva do Fed para o tapering, sendo que provavelmente setembro-outubro irá marcar o primeiro anúncio antes do que pode ser uma sequência de redução mensal de US$ 10 bilhões, o que reduziria o estímulo para nada no intervalo de um ano, se tudo correr bem. E, no nosso mundo, raramente tudo vai bem.
"Se não teve a oportunidade de aumentar sua posição atual ou se sente pouco posicionado em Ouro, precisa que os números do emprego SUPEREM as expectativas", Streible escreveu num relatório publicado na sexta-feira. "Isso vai desencadear uma pequena tendência de venda no ouro, durante a qual ele seria negociado em uma faixa provável de US$ 1.819,80 a US$ 1.779,80".
Por outro lado, um número decepcionante no mercado de trabalho ampliaria o rali do ouro "para a nossa próxima grande resistência de US$ 1.835 - US$ 1.840/oz", escreveu Streible.
A última vez que o ouro foi negociado acima de US$ 1.830 foi em meados de julho. Se chegar aos US$ 1.850, ele poderá facilmente escalar para os US$ 1.900, criando um potencial retorno aos recordes de US$ 2.000 dólares vistos há um ano, se tudo correr bem - o que, de novo, é raro no nosso mundo.
Resumo do mercado e dos preços do ouro
O ouro atingiu a máxima de 3 semanas na sexta-feira, alcançando o seu maior ganho semanal desde maio, depois de Powell não ter informado um calendário claro para a redução dos gastos com o estímulo dos EUA.
O dólar e os rendimentos do Tesouro dos EUA afundaram, enquanto ativos de risco, de ações a commodities, incluindo o petróleo, dispararam. Considerado como um porto seguro, o ouro também acompanhou a movimentação de alta, dada a sua sensibilidade à inflação, que normalmente impulsiona os preços do metal.
Os contrato futuros do ouro para um mês negociados na Comex de Nova York fecharam em alta de US$ 24,30, ou 1,4%, a US$ 1.819,50 por onça, depois de uma máxima em 3 semanas de US$ 1.821,55.. Na semana, houve um aumentou em torno de 2%, o maior desde meados de maio.
O Fed compra pelo menos US$ 80 bilhões em títulos do Tesouro e US$ 40 bilhões em títulos hipotecários de agências todos os meses desde março de 2020, a fim de isolar a economia dos EUA dos efeitos das medidas da pandemia do coronavírus. O banco central também manteve as taxas de juros norte-americanas a níveis baixos recordes, entre zero e 0,25%.
A questão de quando o Fed deve reduzir seu estímulo e aumentar as taxas de juro tem sido amplamente debatida nos últimos meses, já que a recuperação econômica entrou em conflito com o recrudescimento da variante delta do coronavírus.
O programa de estímulo do Fed está sendo responsabilizado por agravar a pressão sobre os preços nos Estados Unidos, onde o crescimento econômico para o segundo trimestre de 2021 foi estimado em 6,6% na quinta-feira - acima do recuo de 3,5% registado para todo o ano de 2020. O próprio banco central projetou o crescimento econômico em 6,5% para todo o ano de 2021.
O indicador preferido do Fed para a inflação - o índice de Despesas de Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês), que exclui os preços voláteis de alimentos e energia - subiu 3,6% no ano até julho, seu valor mais elevado desde 1991. O índice PCE incluindo energia e alimentos aumentou 4,2% no ano.
A meta do próprio Fed para a inflação é de 2% ao ano, embora com uma flexibilidade de tolerância acima de 2% no longo prazo.
À parte das compras de ativos do Fed, o governo Biden aprovou US$ 1,2 trilhões de dólares em despesas relacionadas com a Covid-19 desde a posse do presidente em janeiro. Os congressistas democratas alinhados com Biden levaram adiante esta semana um plano de gastos adicionais de US$ 3,5 trilhões, para fazer avançar sua agenda econômica.
Resumo do mercado e dos preços do petróleo
Os preços do petróleo terminaram a penúltima semana de agosto com ganhos de dois dígitos que anularam a queda da semana anterior, com a ajuda de um alerta de furacão e pela indecisão de Powell sobre o tapering do Fed.
O petróleo WTI, negociado em Nova York, e referência do petróleo nos EUA, fechou a US$ 68,74 por barril, alta de US$ 1,32, ou 2% no dia. Na semana, o WTI teve aumento de 10,3%, eclipsando a queda de 8,9% da semana anterior motivada por temores com o ressurgimento da Covid em função da variante delta.
O petróleo Brent, negociado em Londres e referência global para o petróleo, fechou a US$ 72,70, um aumento de US$ 1,63 ou 2,3%. Na semana, o Brent subiu 11,5%, após a queda de 7,7% da semana anterior.
Para o WTI, foi o maior ganho semanal desde setembro de 2020, enquanto para o Brent, foi o maior ganho semanal desde maio de 2020.
Os preços do petróleo tiveram um rali enquanto empresas norte-americanas de petróleo e gás corriam para concluir as evacuações de plataformas offshore no Golfo do México, à medida que a tempestade tropical Ida se aproximava da região antes de tocar solo como um furacão de categoria três. O golfo abriga campos que fornecem cerca de 17% da produção petrolífera americana. Mais de 45% da capacidade total de refinamento dos EUA também está localizada lá.
"O risco de aumento da intensidade antes de tocar solo pode ser um suporte para os preços no final da semana", disse Craig Erlam, analista da OANDA, de Nova York. "Várias empresas têm retirado os trabalhadores das instalações offshore em antecipação à tempestade".
O petróleo também se movimentou depois que Powell disse que a economia dos EUA estava em boas condições, mas ainda precisava da proteção do estímulo contra a pandemia.
Fonte: Investing.com
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