domingo, 21 de novembro de 2021

História do Garimpo de Tenente Ananias de Águas- Marinhas

 


 

Tenente Ananias é um pequeno município situado no alto sertão nordestino, na região oeste do Estado do Rio Grande do Norte, semi-árido brasileiro. Com uma área de 272 Km² o município se encontra a uma distancia de 410 km da capital do Estado.

Sua população é de 9.300 habitantes, a maior parte vive na zona urbana, e a minoria se encontra de maneira dispersa pelas diversas comunidades rurais do município, sendo as comunidades da Vila Mata e do Sitio Santo Antonio as mais povoadas.

A maioria da população de Tenente Ananias vive da agricultura de subsistência, produzindo arroz, feijão e milho; e da agropecuária com a criação de bovinos, caprinos e suínos. Entretanto toda sua economia fica comprometida nos períodos de estiagem mais prolongada. O certo mesmo é que a maior parte da renda das famílias provêm de programas de transferência de renda do Governo Federal como o Bolsa Família e das Aposentadorias e Benefícios Rurais junto ao INSS. Atualmente o comércio do crediário se constitui como a maior fonte de renda para população local.

Tenente Ananias tem em sua história o marco do ciclo da mineração que nas décadas de 70 e 80 movimentou a economia do município, águas-marinhas era o principal minério extraído do subsolo, com o tempo a produção foi declinando e o garimpo fechou, deixando dezenas de famílias sem trabalho.

Fomos em busca dessa história, através de entrevistas face a face com populares que fizeram da mesma,  conseguimos relatos usamos para construção do texto intitulado “garimpo Azul”. 

Há muitos anos atrás, aproximadamente, em 1948 existia em cima da terra do município de Tenente Ananias, isto é na zona rural, no sitio Gerimum muita pedra azul que a população chamava vidro da terra, mas para eles era apenas pedras bonitas usadas para enfeitar a terra, vale salientar, que “o povo vivia aqui / do outro mundo isolado/ não existia o asfalto/ o radio era novidade/ o transportes era um jumento/ ou um cavalo arreado/ ou então uma carroça/ por um boi gordo puxada. Mas um dia chegou um homem vindo de Campina Grande, cidade da Paraíba, seu José Florentino procurando “vidro da Terra”, (pedras preciosas) foi ao encontro de seu Manoel  Osório proprietário da fazenda Gerimum que disse: “ existe por aqui umas pedras de vidro”. Ouvindo a afirmação seu José Florentino falou: É eu soube que aqui no Gerimum podia ter mineiro”. Ambos seu Manoel Osório e Seu José Florentino encontraram muitos tubos de berílio em cima da terra, era tanto berilo que eles juntavam, enchiam caçuás e transportavam em lombos de animais até o destino da venda, em seguida seu Florentino foi trazendo gente de fora que ia levando os berilos; como era grande a quantidade e não existiam estradas para carros fizeram uma estrada toda em serviço braçal com picaretas para carros chamados FUBICAS passarem, depois passaram a destinar 10% do valor da venda das pedras aos proprietários da terra, as pedras eram vendidas a um grego na cidade de Recife – PE .    



Em 1950 chegaram outras pessoas enviadas por José Florentino, entre elas, seu José Soares, que dizia ter vindo pesquisar, mas na verdade eram uns exploradores de minério que se utilizavam da mão-de-obra infantil, davam para cada criança, uns mireis e estas juntavam os tubos de berilos pensando como seus pais, que eram pedras de vidro de pouco valor. Os ditos pesquisadores ficavam sentados debaixo de uns pés pereiros frondosos, recebiam os berilos e iam quebrando, retirando apenas as pedras preciosas de águas marinhas; os berilos que tinham 10% de ácido que misturando a chelita, eram utilizados na construção de peças para navio e avião.

Existia ali um homem chamado ‘Velho Amaro’, rezador, que com suas rezas curava quem era mordido de cobra, parava algumas tempestades que quisesse arrebentar o mundo. Uma vez a filha de seu Amaro foi buscar uma lenha e na areia do riacho encontrou um vidro da terra, muito bonito e pesado que passou a servir de peso para pesar algodão, mas o dito pesquisador ficou sabendo e procurou fazer amizade com Seu Amaro, convidou-o para ser padrinho do filho e conquistando a amizade do velho curador, mas um certo dia Seu Amaro foi chamado para curar uma pessoa mordida de cobra jararaca, malha de cascavel, no sitio jatobá e o esperto pesquisador quebrou o berilo, tirou as pedras de águas marinha, aproximadamente 30Kg, colocou numa mala e seguiu até a cidade paraibana do Lastro, isto se passou em um período de inverno e não dava pra chegar de Fubica, então seu Manoel Gonçalves mandou dois rapazes irem com ele de montaria, o pesquisador seguiu num burro chamado “Carão” até outra cidade paraibana, Sousa, seguindo de lá para Campina Grande e Rio de Janeiro, onde vendeu as pedras de águas marinha. Aqui ele nunca mais apareceu, deixando para trás apenas o facão, a lanterna e a capa de proteção.

O próximo explorador veio do ceará, começou a trabalhar, Seu Gonçalo Januário, arranjou sócios e começou a garimpar, já não se encontrava pedras em cima da terra, entretanto ainda era muito raso, trabalhavam com instrumentos manuais ( picareta, aço, marreta, pixote, carro de mão etc) e por muito tempo a exploração continuou, sendo encontrado muito minério e assim atraindo muitos outros garimpeiros que vinham de diversas localidades e aqui mesmo em Tenente Ananias as pessoas começaram a  se envolver na atividade. 

Com o crescimento da atividade surgiu o Garimpo, na terra de Dona Quinquinha, que começou devido um certo dia dois rapazes terem cavado o chão a procura de capuchú de abelha e encontraram no local muita água marinha. Os sacos que tinham levado para trazerem o capuchú, trouxeram cheios de pedras preciosas de águas- marinhas, nasceu a grande exploração manual, foram vendendo as banquetas furando túneis, usando instrumentos rudimentares, vinha gente de todo canto as banquetas com extensão de 10 metros de alto a alto, que pareciam ondas do mar. A fase áurea do minério foi dos anos de 1970 a 1985. Eram cavados túneis horizontais de até 300 metros. As primeiras pesquisas foram financiadas pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte com recursos da SUDENE (Superintendência de desenvolvimento do Nordeste), a fundo perdido, tudo desenvolvido pela CDM – Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais.



Na época o nordeste passava por uma grande seca, foram 5 anos seguidos de estiagem e aproximadamente 360 agricultores alistados nas frentes de emergência passaram a prestar serviços no garimpo sob a orientação dos geólogos da CDM, a produção aumentou, vieram compradores de todo país. Pessoas de Tenente Ananias enriqueceram com o minério.

Um fato que merece destaque foi a criação do Centro de lapidação, onde as pedras preciosas, os berilos que antes eram lapidados no estado de Minas gerais e/ou em outras capitais passaram a ser lapidados em Tenente Ananias, para tanto foram realizados vários cursos de lapidação, onde foram formadas  três turmas com 20 alunos cada, totalizando 60 pessoas a trabalhar no centro de lapidação do projeto garimpo, lapidando águas marinhas, ametistas e cristal. A lapidação aconteceu na cidade até o ano de 1987, ano que o Governo estadual, desativou o garimpo, levou todo o maquinário e o minério foi desativado, permanecendo apenas exploradores individuais de pequeno porte.

A reativação do garimpo é a continuidade da exploração, com preocupação clara da preservação ambiental, numa política de exploração sem degradação ambiental, promovendo também um resgate histórico da mineração. 

Apesar de toda essa história, a população nunca teve acesso a um acervo técnico sobre a mineração e seria interessante que as escolas desenvolvessem um estudo e pesquisas sobre a história da mineração no município.



Fonte: Geologo.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário