SÃO PAULO (Reuters) -O dólar acelerou os ganhos e voltou a cruzar a barreira dos 5,70 reais nesta quinta-feira, com a menor liquidez exacerbando os efeitos das compras de moeda, que ocorriam conforme investidores avaliavam dados nos EUA e o cenário doméstico à medida que o ano eleitoral se aproxima. De forma geral, apesar de momentos de trégua, o mercado segue vendo o nível de risco associado ao Brasil compatível com uma taxa de câmbio entre 5,60 reais e 5,70 reais por dólar, em meio a dúvidas sobre como será a condução da política fiscal no ano que vem e, sobretudo, quais serão as diretrizes do governo a ser eleito em outubro de 2022. Às 12:46 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,71%, a 5,7087 reais na venda. Na máxima, alcançada no fim da manhã, a cotação foi a 5,7202 reais, alta de 0,91%. Mais cedo, chegou a cair 0,74%, a 5,6267 reais.
Na B3 (SA:B3SA3), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,92%, a 5,7145 reais.
O real liderava as perdas entre as principais moedas globais nesta sessão. "Os dados econômicos dos EUA de hoje vieram como esperado, exceto por um, e é o que importa... O (núcleo do) PCE (de novembro) veio mais forte que o esperado" (4,7% contra 4,5%, e acima de 4,2% antes), comentou Mohamed A. El-Erian, conselheiro na Allianz (DE:ALVG) e na gestora Gramercy. O índice PCE é a medida preferida do banco central dos Estados Unidos (Fed) para acompanhar a evolução da inflação no país, que em 12 meses segue acima da meta do Fed e levou o banco central norte-americano recentemente a indicar alta da taxa de juros em 2022. Juros mais altos nos EUA criam reveses a mercados emergentes, que podem perder fluxos de recursos para a segurança dos mercados norte-americanos --o que por sua vez tende a valorizar o dólar. O índice do dólar contra uma cesta de rivais subia 0,15%, nas máximas da sessão. Por aqui, a menor liquidez também colabora para movimentos mais dilatados na taxa de câmbio. Para o dólar futuro de primeiro vencimento mais de 127 mil contratos foram negociados até 12h45, volume considerado baixo. Na véspera, o mercado de dólar futuro movimentou 190.380 contratos, 23% abaixo da média dos últimos dois meses. As trocas de sinal no câmbio refletem a volatilidade que marcou 2021 e que pelos indicativos deve seguir em 2022. Além da virada na política monetária global, o mercado vai ter de lidar ainda com os ânimos pré-eleição no Brasil.
"Desde o surgimento de Lula como um potencial candidato presidencial, a polarização aumentou. Catalisadores para um rali (dos mercados domésticos) estariam associados ao surgimento de uma terceira via ou a Lula voltando-se para uma retórica mais favorável ao mercado, bem como uma solução clara para as pressões de gastos", disse o Bank of America em nota.
O BofA calcula que o dólar chegará a 5,80 reais ao fim de setembro, mês que antecede as eleições, antes de fechar o ano em 5,70 reais.
(Por José de Castro)
Fonte: Reuters
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