Um controverso monumento contendo uma suástica pode ser visto no extremo sul do Amapá. Seu contexto é, no mínimo, macabro
ISABELA BARREIROS
Uma cruz de mais ou menos três metros desperta a curiosidade de quem passa pela cidade de Laranjal do Jari, no Amapá. Ela pode ser observada à distância, ainda por quem navega pelo rio Jari, a única entrada possível para a região. Contendo uma suástica, mais curiosa ainda é a origem do grande monumento, que remonta aos anos 1930.
Naquela época, ideologias de extrema-direita tentavam se expandir para além de seus berços. No caso do nazismo, os alemães montavam comitivas a fim de levar o pensamento dominante do país para outras localidades. Mas quem imaginaria que eles iriam até a Amazônia para realizar tal plano?
Nos anos 30, o alemão — com origens brasileiras — Joseph Greiner, ao lado de outros integrantes de sua organização nazista, veio para o interior do Amapá e permaneceu no local por pelo menos dois anos. Com o intuito de estudar a região, três pesquisadores vieram em um avião, que quebrou e representou o primeiro problema dos europeus em terras brasileiras.
Acredita-se que Greiner tenha vindo morar no Brasil antes da expedição, que ficou conhecida como Jari. "Ele veio ainda adolescente pro Brasil, com 15 anos. Não se tem uma idade exata, mas ele tinha mais de 30 anos quando faleceu em janeiro de 1936. Ele era uma pessoa que não tinha família, não era casado, era solteiro, e não deixou filhos também", explicou Edivaldo Nunes, historiador da Universidade Federal do Amapá (Unifap) em entrevista ao G1.
O pesquisador teria sido contratado pelo governo alemão para facilitar a comunicação entre os dois diferentes povos. Mesmo que possa ter ajudado no diálogo entre os moradores da região, — em maioria, indígenas —, e os germânicos, não durou muito tempo no local. A grande cruz leva seu nome: "Joseph Greiner morreu aqui de febre em 2 de janeiro de 1936 a serviço da pesquisa alemã", dizem os escritos.
Com “pesquisa alemã” podemos entender um projeto secreto de colonização nazista em plena Amazônia brasileira. A sepultura do alemão revelou como Hitler queria ocupar terras na região, como aconteceu com a Guiana Inglesa e Francesa, por exemplo.
A França na época era arqui-inimiga da Alemanha, desde a Primeira Guerra Mundial. Tinha todo um rancor ainda pela França. Então possivelmente o interesse deles em chegar à Guiana era uma futura invasão no caso se eles entrassem em conflito", explicou Nunes.
A possível colônia latino-americana foi estudada por 17 meses. Nesse período, os cientistas obtiveram informações sobre a fauna e flora da região, além de dados sobre as culturas indígenas que vivam ali. Existem fotos que mostram os encontros dos europeus com a tribo Aparai, por exemplo.
O projeto, no entanto, não foi para frente. Greiner, como é possível atestar com a enorme cruz em sua homenagem, faleceu devido à febre. Os outros integrantes da comitiva também foram atingidos com inúmeras doenças ao longo do tempo que estiveram aqui. Malária e difteria também faziam parte do cenário enfrentado por eles.
Eles voltaram à Alemanha carregando crânios e dados sobre centenas de espécies de mamíferos, répteis, anfíbios e aves da localidade. Os pesquisadores também levaram as fotos e vídeos que fizeram durante sua estadia no Brasil.
Fonte: AH/UOL
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