Por Felipe Machado
Investing.com - O dólar superou o patamar de R$ 5 há dois anos e, desde então, poucas vezes ficou abaixo deste nível. Na segunda-feira, porém, a moeda voltou a ser negociada por menos que esse 'piso'. E a baixa prosseguiu: a cotação fecha a semana com desvalorização de 5,38% ante o real, a R$ 4,7207, depois de oito quedas seguidas.
Especialistas ouvidos pelo Investing.com indicam que há espaço para mais quedas, e o mercado ainda se pergunta qual deve ser o novo patamar.
André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton Investimentos, explica que a valorização do real acontece devido ao alto fluxo de capital estrangeiro para o Brasil, motivado majoritariamente pela combinação de commodities valorizadas e taxa de juros (Selic) em alta.
"A alta de commodities atrai dinheiro para cá por dois motivos: há empresas listadas que se beneficiam disso, e o cenário de commodities em alta conspira para termos saldo comercial subindo, principalmente porque a atividade está fraca", exemplifica o especialista.
Perfeito indica que um ponto gráfico de suporte importante para a cotação é na casa de R$ 4,65. "Mas, como é muito 'lá embaixo', talvez o mercado demore a querer ir até esse preço. Vamos observar se estabiliza em torno de R$ 4,80 ou R$ 4,90, para depois imaginarmos uma queda mais forte", completa.
Para ter ideia da entrada de capital estrangeiro, Victor Beyruti, economista da Guide Investimentsos, relembra que o fluxo cambial em 2022 está positivo em US$ 9,4 bilhões. Em todo ano passado, o saldo ficou em US$ 6,1 bilhões. Dentre os fatores para esse movimento, ele aponta que o Brasil iniciou o ciclo de alta de juros antes de outros países e estava com ativos subprecificados.
"Nosso modelo aponta, de modo conservador, que o valor justo para o dólar seria algo em torno de R$ 4,50 e R$ 4,60. Mas a cotação não deve cair de forma linear, como temos visto nesses dias", indica Beyruti.
Para Eduardo Grübler, gestor de renda variável da plataforma de investimentos Warren, o patamar mínimo pode ser ainda mais baixo: R$ 4,40. A tendência do curto prazo, no entanto, é que se estabilize em torno de R$ 4,85.
Ele alerta, porém, que a cotação atual já está próxima ao "preço justo". "Vemos grande risco devido às tensões internacionais de termos um 'spike' na cotação. Então, não vemos muito prêmio em seguir vendido em dólar", considera.
A diretora da corretora de câmbio Getmoney e colunista do Investing.com, Vanessa Blum, destaca que o fluxo estrangeiro deve continuar forte enquanto permanecer o cenário de commodites e juros em alta e a guerra na Ucrânia.
Segundo ela, quatro grandes fatores poderiam alterar essa lógica. "Os pontos de atenção são: 1 - eleições aqui e tensões políticas; 2- descomprometimento com o ambiente fiscal interno ou ações para angariar votos; 3- final da guerra; 4- as altas de juros do Fed", diz
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