O novo ministro da agricultura mal sentou na cadeira, mas já mostrou a que veio. Marcos Montes, sucessor de Tereza Cristina na pasta, defendeu o projeto de lei (PL) 191/2020, que libera a mineração em Terras Indígenas, sob a justificativa (furada, vale ressaltar) de que isso facilitará a extração de potássio, minério utilizado na produção de fertilizantes para a agricultura. No entanto, Montes tentou dissociar a questão do potássio da extração de ouro e outros metais preciosos, assinalando que a prioridade precisa estar em “minerais estratégicos” para a economia brasileira.
“Nós temos que ter cuidado em analisar essa matéria. Eu disse aos parlamentares que nós temos que tratar a exploração mineral em Terras Indígenas com outros focos, o foco em minérios estratégicos, e o fertilizante é um mineral [sic] estratégico”, disse Monte depois de uma conversa com membros da Frente Parlamentar da Agropecuária. Esse ponto foi abraçado pelo líder da bancada ruralista, deputado Sérgio Souza. “Não vamos discutir temas como a mineração de pedras preciosas, que não interessa ao agro neste momento”.
O problema do argumento ministerial é que diversos estudos amplamente repercutidos pela imprensa nos últimos meses mostram que as maiores reservas de potássio ainda não exploradas no Brasil se encontram fora das Terras Indígenas – aliás, nem na Amazônia o potencial é tão grande, ficando a região atrás de áreas do Nordeste e do Sudeste. Ou seja, para aumentar a produção de potássio no Brasil, não é necessário “tocar a boiada” sobre as reservas indígenas, tal como querem Bolsonaro & Cia. Das duas, uma: ou os ruralistas não sabem ler o jornal ou o pitch pró-mineração esconde o real interesse do grupo. Canal Rural e Valor repercutiram a fala de Montes.
Ainda sobre fertilizantes, o Valor também destacou a movimentação da indústria do carvão mineral para “vender” seu produto como fonte alternativa de fertilizantes. De acordo com a Associação Brasileira de Carvão Mineral (ABCM), o processamento do minério, a partir de sua gaseificação pode resultar em amônia e ureia, compostos utilizados na produção de fertilizantes. Nesse sentido, as reservas de carvão mineral no sul do Brasil poderiam ser uma alternativa de fonte para essa matéria-prima. No entanto, esse tipo de tecnologia ainda não é aplicada no Brasil e os impactos ambientais disso são significativos. Além disso, tal como no caso do potássio, o aumento desta produção para fertilizantes não aconteceria da noite para o dia, com estimativas de até quatro anos para que isso saia do papel.
A manifestação da ABCM tem cheiro de lobby por mais subsídios.
ClimaInfo, 7 de abril de 2022.
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