Por Barani Krishnan
Investing.com -- Pela segunda vez em duas semanas, os preços do petróleo brutos romperam abaixo de US$ 100 por barril.
E, apesar da volatilidade inerente às sanções russas e aos controles da OPEP, os receios com uma Covid 2.0 na China e com um Federal Reserve determinado a dobrar a aposta na elevação das taxas de juros dos EUA podem dificultar um pouco mais a escalada de volta às máximas deste ano, de quase US$ 140.
O Brent, negociado em Londres e referência global de preços para o petróleo, recuava 5,24%, para US$ 100,59 por barril às 15h04 (de Brasília) na segunda-feita, após uma mínima intraday de US$ 99,26. A queda se acumula ao recuo da semana passada de 4,5% no Brent.
A menos que ele registre avanço de cerca de 7% entre hoje e o fechamento de sexta-feira, o Brent fechará o mês de abril no vermelho — seu primeiro mês negativo desde o fenomenal rali do petróleo deste ano, que lançou o preço de referência para altas que chegaram a US$ 139,15 no dia 7 de março, duas semanas após a invasão da Ucrânia, acarretando rápidas sanções do Ocidente contra a Rússia que restringiram ainda mais o fornecimento global de petróleo.
O petróleo WTI, negociado em Nova York e referência de preços nos EUA, registrava queda de 5,15%, a US$ 96,81. Assim como o Brent, o WTI caiu 4,5% na semana passada, registrando uma perda no mês de 4% até o momento. O WTI disparou para até US$ 130,50 no dia 7 de março.
Um novo surto de casos de Covid na capital chinesa de Pequim dominou as manchetes da pandemia, depois que 47 casos descobertos desde sexta-feira na capital chinesa provocaram a testagem de milhões de pessoas para o vírus, em uma ação que paralisou distritos residenciais e empresariais.
Xangai, que está em lockdown há mais de duas semanas, reportou mais de 19.000 novas infecções e 51 mortes nas últimas 24 horas, fazendo com que o número de óbitos em decorrência do surto em curso subisse para mais de 100.
Ansiosos por evitar a escassez que atingiu Xangai nas últimas semanas, os mais de 21 milhões de moradores de Pequim começaram a se abastecer com alimentos, como exibido pela cobertura da mídia. Longas filas se formaram nos supermercados, à medida que as pessoas compravam arroz, macarrão, legumes e outros alimentos, ao mesmo tempo em que os funcionários das lojas se apressavam para reabastecer as prateleiras vazias. A mídia estatal publicou relatos afirmando que os fornecimentos continuam abundantes em Pequim, apesar do aumento das compras.
Até duas semanas atrás, as sanções do Ocidente contra o petróleo russo - e uma possível proibição da UE na sequência, como prova da aliança entre os EUA, a Europa e o Canadá contra a invasão da Ucrânia por parte de Moscou - eram o único grande fator no mercado de petróleo.
Embora isso não tenha mudado na essência, uma situação de Covid 2.0 na China está introduzindo uma dinâmica diferente ao petróleo, em função da redução da mobilidade no maior importador mundial da commodity.
Este fato ocorre apesar do desprezo de muitos investidores de energia na exuberância excessiva da China - que alguns chamam de exercício de Relações Públicas - sobre os lockdowns da Covid, agora que o resto do mundo superou as medidas adotadas no auge da pandemia nos últimos dois anos.
"A diferença aqui é que a China é a segunda maior economia do mundo e não tem dado sinais de que pretende conviver com o vírus", disse Jeffrey Halley, que chefia a pesquisa da região Ásia-Pacífico e Austrália da plataforma de negociação online OANDA.
"Alguém que apostasse no recuo do Presidente Xi Jinping em tudo o que ele diz que vai fazer, ou em relação ao governo como um todo, seria uma pessoa ousada. Tendo isso em mente, a provável válvula de escape vai ser a ruptura da máquina exportadora chinesa, além de um rombo na confiança dos consumidores".
Além da China, os Estados Unidos também parecem estar apresentando um mini ressurgimento da Covid, com um aumento recente nos casos da variante BA.2, além de duas novas subvariantes — chamadas de BA.2.12 e BA.2.12.1 — que parecem ser ainda mais contagiosas.
Os EUA têm uma média de 46.925 casos por dia, de acordo com um monitor do New York Times, alta de 51% em relação a duas semanas atrás.
As hospitalizações, que também estavam em declínio constante, estão aumentando. O país registra uma média de 15.642 internações por dia, alta de 4% em relação a duas semanas atrás, porém ainda próximo dos níveis mais baixos desde as semanas iniciais da pandemia.
Além dos receios com a Covid, o rali do dólar também está afetando os preços das commodities cotadas na moeda, incluindo o petróleo.
O Índice do Dólar, que compara a divisa norte-americana contra as seis principais moedas mundiais, atingiu a máxima em 25 meses de 101,745 na segunda-feira, com as expectativas de que o Federal Reserve irá adotar um aumento de 50 pontos base, ou meio ponto percentual, em sua reunião da política monetária de maio, que acontece na semana que vem. Isso seria o dobro dos 25 pbs, ou 0,25%, aprovados pelo banco central em março, na primeira elevação das taxas de juros dos EUA da pandemia.
O dólar seria o principal beneficiário de um aumento nos juros, com a economia possivelmente sendo sua vítima.
A economia e o mercado de trabalho norte-americanos têm tido um desempenho superior desde o pior das rupturas da Covid de 2020, com o PIB crescendo 5,7% no ano passado, sua melhor taxa em 40 anos, e queda no pico de desemprego durante a pandemia, de quase 14,8%, para 3,6% no mês de março. Mas a inflação também se acelerou além das expectativas, avançando também ao seu ritmo mais rápido em quatro décadas.
As ações agressivas do Fed a fim de controlar a inflação suscitaram preocupações de que os Estados Unidos poderiam entrar em recessão. No entanto, uma sucessão de falas de dirigentes do Fed acalmou em parte as preocupações do mercado ao longo da semana passada, relativas à possibilidade de que a trajetória da economia se invertesse para uma direção negativa em função do combate da inflação por parte do banco central. O otimismo, especialmente no que diz respeito ao excelente mercado de trabalho, conquistou alguns dos pessimistas. Mas os receios de um pouso forçado para a economia ainda não desapareceram por completo.
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