"Seu objetivo como investidor deveria ser simplesmente comprar, a um preço racional, uma participação num negócio que é fácil de entender, e cujos lucros, está praticamente certo, vão ser significativamente mais altos daqui 5, 10 e 20 anos.
Com o tempo vai descobrir que poucas empresas se encaixam neste padrão. Por isso, se descobrir uma, você deve comprar uma quantidade significativa de suas ações. Você também deve resistir à tentação de se desviar de suas diretrizes. Se não estiver disposto a manter uma ação durante 10 anos, evite manté-la por 10 minutos.
Junte uma carteira de empresas cujos lucros marcham para cima ao longo dos anos, e o valor do mercado da carteira marchará junto."
"Investimento inteligente não é complexo, o que tampouco signifique que seja fácil. O que um investidor precisa é de uma capacidade para avaliar corretamente negócios selecionados. Note a palavra "selecionados": não precisa ser um especialista em todas as empresas, nem, necessariamente, em muitas. Você só precisa ter a habilidade para avaliar as empresas que ficam dentro de seu círculo de competência. O tamanho do círculo não é muito importante; o conhecimento de suas extremidades, no entanto, é vital."
- Warren Buffet
Invista em negócios, não ações
As duas citações destilam uma boa parte da filosofia de Warren Buffet, um dos investidores mais renomados dos Estados Unidos, e o expoente mais conhecido de investimento em valor (value investment). Como pode ser visto, ele é a antítese da concepção popular de um investidor em bolsa: considera que investe em negócios, não em ações; não se preocupa com o movimento dos preços de suas ações, mas com as vendas, lucros, margens e necessidades de capital de suas empresas; não procura ganhos de capital de curto prazo mas compra participações em poucas empresas para manté-las durante anos, se não décadas; e mora em Omaha, bem longe de Wall Street. Mas com sua técnicas "pão-pão queijo-queijo" conseguiu juntar uma das maiores fortunas do país.
Simplicidade enganadora
As idéias de Buffet são fascinantes mas antes de descrevé-las em mais detalhe, um aviso. Suas estratégias parecem simples mas não são: envolvem uma vida de conhecimento do mundo de negócios. Enquanto Graham, a principal influência sobre o Buffet como investidor, dedicou uma parte de seu trabalho ao pequeno investidor amador, não é o caso do Buffet. A estratégia defensiva do Graham é relativamente fácil de adotar; para implementar as estratégias de Buffet, no entanto, um pequeno investidor deve ter um profundo conhecimento de pelo menos um segmento da economia.
A bolsa não serve como guia
A primeira coisa de Buffet que chama a atenção é sua visão da bolsa de valores. Para ele a bolsa não serve como um guia na escolha de investimentos - é simplesmente um local onde se executam operações de compra e venda. Para ele o valor cotado em bolsa, movido mais a sentimento do que a dados fundamentais, nada tem a ver, necessariamente, com o valor verdadeiro de um negócio. É por isso que um investidor de sucesso é, freqüentemente, aquele que consegue dominar suas emoções durante o processo de investimento.
Nível da bolsa é imaterial
O nível da bolsa não é um empecilho para Buffet. Se encontrar uma empresa interessante a um preço que ele considera bom, ele comprará em qualquer época. Só que, numa época em que a bolsa estiver em baixa, o número de oportunidades será maior.
Impossível escapar aos fundamentos
Associada ao ceticismo de Buffet em relação à bolsa vem sua descrença com respeito às previsões sobre o rumo do mercado - e às estratégias de investimento baseadas nestas previsões. Ele acredita, no entanto, que enquanto a bolsa for capaz de se manter supervalorizada ou subvalorizada durante muito tempo, o mercado não conseguirá fugir, no longo prazo, dos fundamentos dos negócios em que empresas estão engajadas.
Pesquisa de opinião não substitui avaliação
Buffet não tenta prever períodos de alta ou baixa da bolsa. Mas também ele não ignora estes períodos: ele "simplesmente tenta ser medroso quando outros são gulosos e guloso quando outros são medrosos". Mesmo assim ele insiste que uma "pesquisa de opinião" (a bolsa) não é um substituto para uma avaliação cuidadosa dos dados fundamentais de uma firma.
Margem de segurança: as três palavras certas
Mas o que mais distingue a abordagem do Buffet de outros investidores de sua geração é o que ele procura comprar. Para entender isso é necessário voltar às duas personalidades que mais o influenciam: Benjamin Graham e Phillip Fisher. Nas palavras de Buffet: "Sou 15% Fisher e 85% Benjamin Graham". Do Graham ele adotou o conceito de "margem de segurança". "Quarenta e dois anos depois de lê-las ainda acho que essas são os três palavras certas".
Procura-se uma margem enorme
O conceito da margem de segurança, o coração da escola de investimento em valor (value investment) estabelecida por Graham, envolve "uma procura por discrepâncias entre o valor de um negócio e o preço de pedaços pequenos do mesmo negócio no mercado". Não é uma discrepância pequena mas, nas palavras de Buffet, "uma margem enorme". De Fisher aprendeu os benefícios de "encontrar as verdadeiras grandes empresas, e ficar com elas por todas as flutuações do turbilhão que é o mercado".
Quatro empresas: 76% da carteira
Se juntamos o pensamento de Fisher de procurar as "verdadeiras grandes empresas" com a insistência de Graham de uma "margem enorme" entre preço e valor, é fácil entender porque há poucas firmas que preenchem os requisitos. Isso explica uma outra caraterística de Buffet: o pequeno número de seus investimentos. No fim de 1993, por exemplo, ele mantinha as ações de somente 9 empresas em carteira. Quatro destas empresas representaram 76% do valor total do portfólio.
A crítica alocação de capital
Mas Buffet vai mais além em seus investimentos: quando possível ele prefere obter o controle de uma empresa para poder influenciar a condução do negócio. Ele está particularmente interessado na questão crítica de alocação de capital. Se não tiver oportunidade de adquirir controle ele opta pela compra de ações ordinárias na bolsa de valores. Ele considera que esta segunda alternativa tem duas vantagens: na bolsa há mais opções e as oportunidades para encontrar pechinchas são maiores.
Concentre-se diz Keynes
Mas não é necessário diversificar para limitar o risco? Para justificar sua posição Buffet cita as palavras do economista Maynard Keynes: "Estou cada vez mais convencido que o método correto em investimento é investir somas relativamente grandes em negócios que se pensa que entende e em cuja administração se tem fé total. É um erro imaginar que se limita o risco quando se distribui fundos entre empresas que pouco conhece e em cuja administração não se tem nenhum razão particular para ter confiança especial".
Vantagem para um é risco para outro
Aqui estamos forçados a intervir de novo. Parece que esta declaração representa uma crítica direta das recomendações de Graham para que o investidor defensivo diversifique suas aplicações. Não é. A diferença vital é que o investidor defensivo precisa distribuir o risco exatamente porque não tem grande conhecimento dos negócios de que participa, e muito menos razão para ter fé em seus dirigentes.
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