sexta-feira, 14 de junho de 2013

Brasileiro descobre pedra rara no quintal de casa

Brasileiro descobre pedra rara no quintal de casa

Uma só formação reúne seis variações de cristais. Peça, de duas toneladas, tem qualidade jamais vista, segundo geólogo.
DIRCEU MARTINS Ametista do Sul (RS)
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De um lado, uma ponte inacabada. Do outro, uma estradinha empoeirada de terra – único acesso até uma cidade simples e tranquila. Mas embaixo da terra está escondido um tesouro: a maior jazida do mundo de ametista, uma pedra preciosa.

O município de Ametista do Sul, no noroeste do Rio Grande do Sul, é o maior produtor mundial da pedra que, na região, está por toda parte: nas lojas, nas paredes da igreja e, principalmente, nos sonhos dos moradores.

No friozinho gaúcho, a família Tressi está de pé logo cedo. No fogão a lenha, a artesã Claraci Tressi prepara o café da manhã. O garimpeiro Miguel Tressi, marido dela, revela o que pensa quando acorda: "Geralmente, penso em garimpar e achar uma pedra que renda bem". Volta e meia, ele acha uma. Cada pedra é um cômodo a mais na casa.

"A história da cozinha é assim: eu achei uma pedra, fui à loja e comprei o material. Eu mesmo construí", conta o garimpeiro. Quanto mais ele acha pedras, maior a casa fica.

E a igreja também vai ficando cada vez mais abençoada, graças aos fiéis que tiram o sustento nas minas. Por fora, a Paróquia de São Gabriel, padroeiro da cidade, é uma construção como outra qualquer. Mas, por dentro, a decoração deve ser a única do planeta. As paredes são cobertas de ametistas. São 40 toneladas de pedras. A pia de batismo é uma concha de ametista gigante. A campanha para revestir a igreja durou cinco anos.

"Era algo emocionante. Muitas vezes, via aquelas mãos calejadas, de pessoas sofridas, mas que traziam com amor e alegria. Diziam que era pouco, mas de coração, para colocar na parede da igreja", lembra o padre Gilberto Giacomoni.

Tanta fé e disposição sustentam a pequena cidade gaúcha. Ao todo, 95% da economia giram em torno da pedra preciosa. O garimpo dá o sustento. Em compensação, arrasta os jovens para os subterrâneos da cidade. Andrei Tressi, filho de Miguel e Claraci, acaba de completar 18 anos e já entrou na profissão. Para a mãe, uma mistura de preocupação e orgulho.

A mina fica a poucos minutos da casa da família Tressi. É um buraco na encosta da montanha. A galeria começou a ser aberta há 22 anos. Os garimpeiros só conseguem avançar de dois a três metros por mês. Hoje ela já tem 350 metros de profundidade. É lá que está enterrada a esperança de Miguel. O trabalho deles é encontrar a pedra que a natureza escondeu há milhões de anos.

O garimpeiro conta que um ventilador joga ar limpo para dentro da mina. Mesmo assim, o ar é meio pesado. "A gente já não estranha mais", diz Miguel. Quanto mais avançamos, mais vai ficando abafado e perigoso, porque é um labirinto de antigas jazidas já exploradas.

No túnel apertado, carrinhos levam para fora a parte que não interessa: uma montanha de pedras nada preciosas e muito pesadas. Trabalho duro, resolvido na broca e no braço. Para vencer a rocha, Miguel fura e enche o buraco de pólvora. É o momento mais tenso e perigoso. Antes de explodir, Miguel tira o capacete. Tempo de pedir proteção. Logo depois da explosão, ele mostra os geodos encontrados. Geodo é a parte oca da rocha com o cristal de ametista dentro. É o que eles tanto procuram. Deram sorte.

"Foi um tiro de sorte", avalia Miguel. Mas o jovem filho dele não parece tão animado. "O trabalho é perigoso. O cara sempre tem um pouco de medo. Eu queria ver se conseguia outra profissão, trabalhar em uma firma. Queria deixar o garimpo", conta Andrei.

Mas, mesmo na terra do tesouro, não existem muitas opções, e a necessidade fala mais alto. Em outra mina, ali perto, os garimpeiros acabam de descobrir uma ametista gigante. É um casulo de um 1,8 metro, do tamanho de um homem. Os três trabalharam mais de oito horas. A pedra já havia sido cortada e estava quase solta.

O geodo de ametista visto por fora chega a ser feio, ainda mais coberto de lama. A beleza só aparece quando a pedra é cortada ao meio. Do garimpo, a pedra vai para uma oficina. No fundo da mina, o cheiro de óleo diesel do carrinho torna o trabalho ainda mais penoso.

Depois de milhões de anos escondido pela natureza, o cristal brilha pela primeira vez. Quanto mais escuro o tom de lilás mais valiosa a ametista.

As ametistas e outros tipos de cristais se formaram há cerca de 120 milhões de anos, quando uma intensa atividade vulcânica cobriu de lavas uma extensa área no sul do Brasil. Quando esfriou, a lava endureceu e deu origem ao basalto, uma rocha escura. No interior de alguns tipos de basaltos ficaram aprisionadas bolhas gasosas, que deram origem aos geodos em suas várias formas.

Os garimpeiros calculam que a ametista vá render R$ 5 mil para eles. É pouco, diante de tanto trabalho, e quase nada, se comparado com o valor da pedra nas joias vendidas no mundo inteiro.

Foi-se o tempo em que esposa de garimpeiro ficava em casa ou trabalhava na roça. Há três anos, a Cooperativa Ametista Solidária é uma opção de renda na cidade, com pouca chance de emprego.

A cooperativa trabalha quase sempre com pedras desprezadas pelos garimpeiros. São pedras que eles encontram, mas acabam jogando fora. É o talento dos artesãos que transforma lascas e cascalhos quase sem valor comercial em joias. A artesã Claraci Tressi, mulher de Miguel, faz colar. "A gente plantava milho, feijão, soja. Lá o serviço era pesado e agora é bem leve. Só é difícil fazer a montagem e o acabamento da joia", conta.

A artesã Shaina Winques vem de uma família de garimpeiros. Ela se emociona ao falar do pai, que trabalha nas minas desde os 12 anos. "Eu tenho orgulho de dar acabamento nas pedras que meu pai encontra. Ele faz um trabalho duro, e dar um retorno para ele é uma satisfação muito grande", diz.

A cooperativa também emprega ex-garimpeiros, vítimas da silicose, uma doença causada pela poeira aspirada no trabalho das minas. A silicose diminui a elasticidade dos pulmões, por isso, é conhecida popularmente como pulmão de pedra.

"Na realidade, a gente adquire silicose no garimpo por falta de informação. No meu caso, foi isso", conta o presidente da cooperativa, Alcione Batista.

A doença chegou a atingir 20% dos garimpeiros da cidade. O Ministério do Trabalho apertou a fiscalização e exigiu que as minas se modernizassem, principalmente no sistema de ventilação e no uso de água nas brocas, para evitar o pó. Muitos garimpos estão interditados, até que cumpram as normas. Outro problema é para o meio ambiente.

"Em alguns casos, o rejeito da mineração chega a fechar córregos. Mas nosso trabalho junto à cooperativa e aos proprietários de garimpo é para que isso não ocorra", explica o engenheiro de minas Anderson Oliveira.

Existem dois projetos de reaproveitamento do rejeito. "O primeiro é usar o rejeito para encascalhar estradas de chão vicinais ao município. O segundo é aproveitar o rejeito moído para remineralizar o solo, jogando em alguns cultivos como parreiras, cítricos, milho, soja", adianta Anderson Oliveira.

A cidade onde a riqueza aparece do nada está construída sobre uma imensa rede de túneis. As escavações do garimpo avançam quilômetros por baixo da terra. Bem embaixo dos pés, pode ser que algum garimpeiro esteja trabalhando. É comum ouvir o barulho e até sentir em casa o tremor das explosões, mas ninguém reclama. No fundo, todo mundo tem a esperança de um dia encontrar um tesouro no quintal. E isso já aconteceu, bem na casa do comerciante Alcedir dos Santos.

O homem de sorte mostra o local exato da descoberta. Alcedir guarda em casa a peça especial: duas toneladas, 13 cabeças e seis variações de cristais. São todos os minerais encontrados em Ametista do Sul em uma só formação.

"Eu quero R$ 500 mil por essa peça. Depois que cair nas mãos de alguém com um certo interesse, não sabemos quanto pode valer. É única, jamais foi encontrada uma peça desse porte na região", diz Alcedir.

O Globo Repórter mostrou imagens da pedra para o geólogo Jürgen Schnellrath, do Centro de Tecnologia Mineral, no Rio de Janeiro. "Realmente, é um exemplar extremamente interessante. Eu nunca tinha visto algo parecido. Já vi diversos geodos de ametista. Mas não nessa formação específica – com todos esses geodos de alguma forma interconectados, apresentando qualidades diferentes do seu preenchimento. Com certeza, nunca mais irá ser encontrada uma pedra com o mesmo tamanho e qualidade. É realmente espetacular", avalia.

"Eu acho que isso é sorte, foi um presente de Deus", comenta Alcedir, que não pretende vender a casa onde mora.

Aposentado encontra diamante em Estrela do Sul, MG

Aposentado encontra diamante em Estrela do Sul, MG

Ele estava na calçada de casa quando avistou o diamante de 4 quilates.
6º maior diamante do mundo é da cidade e foi exposto no museu de Louvre.

Do G1 Triângulo Mineiro
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 Um aposentado de 70 anos morador de Estrela do Sul, no Triângulo Mineiro, encontrou uma pedra de diamante na porta da própria casa. O caso foi no início do mês passado e repercutiu entre os moradores da pacata cidade que tem cerca de 7.000 habitantes. O município é conhecido pelo garimpo e pelas histórias de quem encontrou pedras preciosas de forma inusitada.
André Fontes, que procurou gemas boa parte da vida, conversava com os amigos na calçada. O assunto: diamantes. Foi quando um caminhão passou e espirrou a pedra para perto dos pés do ex-garimpeiro. A pedra tem quatro quilates e pode valer cerca de R$ 5 mil depois de lapidada. Se virar joia pode valer ainda mais. Não é uma fortuna, mas alegrou a vida do aposentado. “Eu olhei e falei: esse trem não quer quebrar. Aí agachei, peguei e vi que era um diamante. Mostrei para os colegas que estavam junto e eles confirmaram”, disse.
Diamante vale R$5 mil (Foto: Reprodução TV Integração)Diamante pode valer R$5 mil (Foto: Reprodução TV
Integração)
Município é conhecido pelos diamantes
Na década de 70, quando a cidade começou a ser asfaltada, foi usado cascalho tirado do rio Bagagem, onde muitos diamantes foram encontrados. O prefeito, Lycurgo Rafael Farani, acredita que o diamante tenha saído do asfalto. O administrador do município está até preocupado. “Já imaginou a corrida para garimpar as ruas da cidade? Eu não vou ter recurso para tapar tantos buracos”, brincou.
Segundo ele, outras histórias são contadas na região. Em uma delas, um morador fez um buraco na própria casa. “Um morador sonhou que na casa dele tinha um diamante e cavou um buraco, mas não encontrou”, disse. Ele diz que outros já foram encontrados até na moela de uma galinha.
O museu da cidade guarda as fotos do sexto maior diamante do mundo. Ele foi retirado do Rio Bagagem. O “Estrela do Sul” chegou a ser exposto no museu Louvre, em Paris. Com a notícia de André Fontes, outros moradores disseram que vão ficar de olho nas ruas da cidade.“Vou prestar mais atenção. Quem sabe não acho um desse também”, disse o motorista Isac Almeida.
O estudante João Bacelar se empolgou com a ideia e já pensa em garantir o futuro: “Vou varrer a rua inteira e procurar um para mim”.
“Estrela do sul” chegou a ser exposto no museu Louvre, em Paris (Foto: Reprodução TV Integração)“Estrela do Sul” chegou a ser exposto no museu Louvre, em Paris (Foto: Reprodução TV Integração)
 

O topázio imperial

O topázio imperial é uma das mais belas e raras gemas do mundo. A designação 'imperial' para este tipo de topázio tem origem na Rússia, local das primeiras jazidas, exauridas durante o período czarista. Atualmente apenas a região de Ouro Preto (MG) é fornecedora desta gema em escala comercial, abastecendo joalherias de todo o planeta. É no distrito ouropretano de Rodrigo Silva que se situa a Mina do Capão, a maior do mundo, de propriedade da empresa TIMCIL - Topázio Imperial Comércio e Indústria Ltda. Para nos falar sobre esta fascinante gema, entrevistamos o Dr. Wagner Colombarolli, um dos sócios da empresa, engenheiro metalurgista formado pela Escola de Minas de Ouro Preto, onde foi professor por 11 anos e também diretor.
Jóia br - É correto afirmar que o topázio imperial somente ocorre no Brasil ?
Wagner Colombarolli -
A única área economicamente viável se encontra em nosso país, na região do município de Ouro Preto, em Minas Gerais. A ocorrência se dá em três macro-regiões: Saramenha, Rodrigo Silva – Dom Bosco e Antônio Pereira - próximo à Mariana, mas ainda pertencente ao município de Ouro Preto.

Jóia br - Algumas vezes acontece do topázio imperial ser confundido com outras gemas, como o citrino...
Wagner Colombarolli - Isto pode acontecer, tanto por má-fé quanto por ignorância, na ponta do varejo, com pessoas que compram uma pedra ou uma jóia montada com pedra de cor amarela. Do ponto de vista mineralógico, o citrino é um quartzo amarelo. Mesmo que possa haver um topázio na cor próxima a do citrino, eles diferem por outras características, tais como a raridade, estrutura, variedade e, sobretudo, valor. Quem conhece o topázio não se confunde, pois são pedras diferentes.
 
Jóia br - Também é muito comum as pessoas associarem o topázio somente à cor azul. Sua empresa recebe consultas deste tipo?
Wagner Colombarolli - Não, o que às vezes acontece é sermos procurados por mineradores ou garimpeiros, sobretudo da região norte e oeste do País, que encontram o topázio branco e nos oferecem para compra. O topázio azul é o topázio branco irradiado. O topázio de cor azul também pode ser encontrado na natureza, mas tem a tonalidade mais clara e sua ocorrência é menos freqüente.

topázio imperialJóia br - O topázio imperial pode ser encontrado em várias cores. Qual é a mais valiosa?
Wagner Colombarolli - Como todo produto, ele tem suas nuances, sua raridade e, conseqüentemente, seu valor. No topázio, nós partimos do menos valioso, que é o amarelo, para o laranja, vermelho, rosa, cereja, salmão e o lilás, que é o mais caro e mais valioso.

Jóia br - Pode–se ‘melhorar’ a cor da gema?
Wagner Colombarolli - O topázio imperial não aceita a radiação. Se isto é feito, há uma alteração sensível, mas quando exposto à luz do sol ele retorna imediatamente à cor original - não como no azul, que fica com cor permanente. Existe a queima do topázio, em que ele adquire uma cor violeta - pink topaz, como é denominado no Japão. Eu particularmente não gosto, prefiro o natural.

Jóia br - A procura é maior por parte de brasileiros ou estrangeiros?
Wagner Colombarolli - Mais por estrangeiros, embora existam pessoas no Brasil que prefiram a jóia com topázio imperial. Temos conhecimento de peças muito boas e valiosas vendidas aqui. Acontece que o poder aquisitivo de nosso povo é menor e, conseqüentemente, como o topázio imperial é uma gema mais cara, isto faz com que ela seja mais procurada no exterior. Atualmente, vende–se muita jóia com topázio imperial no Brasil para estrangeiros.
Nossa empresa vende as gemas diretamente para alguns joalheiros e para pedristas, que irão serrar e formar a pedra, lapidar - cada um de acordo com sua técnica - e daí repassar a seus clientes. No caso dos joalheiros, aconselhamos que usem os serviços de pedristas e lapidários que estejam familiarizados com o topázio imperial, pois estes saberão a melhor forma de lapidação da gema e aproveitamento da cor. Já as pedras de coleção geralmente são poucas e nós preferimos manter em nosso acervo e exibi-las ao público em feiras e exposições.

Jóia br - O que mais influencia no consumo? É a raridade?
Wagner Colombarolli - Penso que é a beleza, o conjunto. Mesmo o topázio amarelo ou alaranjado, desde que bem trabalhado, fica lindo colocado numa jóia.

Jóia br - Além da participação em feiras e de campanhas para divulgar o topázio imperial na mídia, a empresa pensa em mais alguma ação institucional?
Wagner Colombarolli - Temos viabilizado o desenvolvimento de coleções de jóias com o topázio imperial, por solicitação de alguns designers que irão realizar mostras no Brasil e no exterior. Estamos também estudando a realização de um concurso de jóias com topázio imperial, provavelmente para o próximo ano.


 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Rara no mundo, exploração de opala emprega mais de 1.500 pessoas no PI

Rara no mundo, exploração de opala emprega mais de 1.500 pessoas no PI

'Retirada do mineral é importante para o desenvolvimento', diz APL.
Extração da pedra é importante para econômia e cultura, afirma prefeita.

Pedro Santiago Do G1 PI, de Pedro II
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Material retirado do solo e descartado após lavagem (Foto: Pedro Santiago/G1)Material retirado do solo e descartado após lavagem (Foto: Pedro Santiago/G1)
A cidade de Pedro II, a 195 quilômetros de Teresina, é um dos dois locais no mundo onde é encontrada a opala, uma pedra semipreciosa muito utilizada na confecção de joias. O garimpo, beneficiamento, lapidação e venda da Opala emprega diretamente cerca de 1.500 pessoas na cidade, que tem uma população de pouco mais de 37 mil habitantes.
“Nossa cidade foi abençoada por seu clima ameno e a farta disponibilidade de Opala em nossas terras. Hoje trabalhamos com a pesquisa mineral, lavra, design, joalheria e até a inclusão social. A gestão da exploração da Opala é fundamental para o desenvolvimento da cidade”, afirma Marcelo Moraes, coordenador do Arranjo Produtivo Local, entidade que tem o objetivo de consolidar a cadeia produtiva da pedra no município e regiões vizinhas.
A prefeita de Pedro II, Neuma Café, afirma que a importância da opala transcende o fator econômico.  “Tem uma importância econômica fundamental, além da cultural com a divulgação do nome da cidade. Falar em opala no mundo é falar em Pedro II. Antigamente, a opala era quase traficada. Chegavam, pegavam e levavam de forma clandestina. Agora existe uma cadeia produtiva bem definida”, diz a gestora
Antônio Sepúlveda, presidente da Cooperativa dos Garimpeiros de Pedro II (Foto: Pedro Santiago/G1)Antônio Sepúlveda, presidente da Cooperativa dos
Garimpeiros de Pedro II (Foto: Pedro Santiago/G1)
Antônio Sepúlveda Almendra, 45 anos, presidente da Cooperativa dos Garimpeiros de Pedro II conta que a situação do garimpeiro já foi pior, mas tem melhorado com o conhecimento adquirido e a inserção de máquinas no garimpo. “Antes eles não tinham um acompanhamento, orientação, trabalhavam irregulares e ainda corriam riscos. Queremos mecanizar o processo de extração da Opala, diminuindo o trabalho dos garimpeiros e aumentando a sua renda, para isso, já temos uma máquina que lava a terra, separando as pedras e areia, da opala”, explica.
Trabalhando na extração da Opala há 26 anos, Antônio Gonçalves, de 51 anos, conta que ainda existe muita Opala em Pedro II. “Eu acredito que ainda têm muitas pedras aqui nesse solo. Somos muitos garimpeiros, mas ainda tem lugar para outros”, diz ele, que já achou uma pedra de 1,7 quilo. “Vendi a R$ 100,00 o grama, o valor total chegou a cerda de R$ 170 mil. O dinheiro foi dividido entre a cooperativa, o dono da terra, eu e outros sócios” relata.
Francisco da Costa Silva, 38 anos, é outro garimpeiro que há mais de duas décadas lava a terra atrás do seu sustento. “Eu gosto do meu trabalho, tanto é que estou aqui em uma sexta-feira (31) enforcada. O rendimento não é dos melhores, mas a gente vende por semana uma média de R$ 200, R$ 250, mas isso varia. Tem dias ruins e bons”, diz.
Rejeito
Mas nem tudo são flores na cadeia produtiva da Opala. Mais de 40 anos de produção desenfreada produziram cerca de 10 milhões de metros cúbicos de rejeito, material retirado do solo e descartado após lavagem.
A Mina do Boi Morto, na Zona rural da cidade, dá uma medida dessa fatura. São morros cortados, cavados, revolvidos que estão lá ameaçando o equilíbrio da natureza. Atenta a esse problema, que poderia inviabilizar a atividade, a APL desenvolveu um plano ambiental que aproveita o rejeito em dois estágios.
“Esse material descartado ainda tem muita opala, tanto é que os garimpeiros trabalham nele todos os dias. Depois desse aproveitamento, a terra descartada será utilizada para fazer tijolos ecológicos. Já estamos aplicando isso aqui no Boi Morto”, conta Marcelo Moraes.
Plano ambiental da Mina do Boi Morto, na Zona rural da cidade (Foto: Pedro Santiago/G1)Plano ambiental da Mina do Boi Morto, na Zona rural da cidade (Foto: Pedro Santiago/G1)
 

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Rei dos diamantes relembra os tempos do garimpo

Rei dos diamantes relembra os tempos do garimpo

Mineiro volta ao lugar onde se tornou um milionário. Júlio Bento descobriu mina no Vale do Jequitinhonha. Pedras eram escondidas dentro de uma panela no acampamento.
DIRCEU MARTINS Diamantina (MG)
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No coração de Minas Gerais fica um lugar que já foi procurado por bandeirantes, aventureiros, e cobiçado por impérios. A história está nas ruas, nas casas, na alma da cidade, que tem no nome a riqueza e o destino de pedra: Diamantina. Ninguém sabe ao certo, mas calcula-se que da região tenham saído mais de 600 quilos de diamantes. E também de lá saíram outras pedras que se transformaram em joias belíssimas que ainda hoje brilham pelo mundo inteiro.

Quase três séculos de mineração deixaram marcas e mitos.

"Júlio Bento foi quem tirou mais diamantes. Ele até achou que era castigo tanto diamante", conta o empresário Fábio Nunes.

"Na região, o rei do diamante é Júlio Bento", confirma o taxista Sandoval Ribeiro, o Juca.

Júlio Bento, o rei do diamante, não gosta de revelar a idade, mas dizem que ele já passou dos 80. Fala menos ainda quando se trata de fortuna. Afinal, ele continua rico ou não? Seu Júlio voltou à Diamantina para mostrar o garimpo onde achou a primeira de muitas e muitas pedras valiosíssimas. Um tesouro encontrado justamente na região de Minas Gerais famosa pela pobreza, o Vale do Jequitinhonha.

A estrada é de terra, mas, naquele tempo, nem ela existia. Seu Júlio abriu as primeiras picadas e passou com uma tropa de mulas. De um trecho em diante, só com tração nas quatro rodas. Depois de uma hora de solavancos, chega-se ao local. Foi em um trecho do Rio Pinheiro que seu Júlio passou os primeiros cinco anos no garimpo.

Depois da investida dos bandeirantes, no Período Colonial, Diamantina viveu, na época de seu Júlio, uma segunda febre do garimpo. No começo dos anos 80, Diamantina chegou a ter mais de 30 mil garimpeiros. Só em uma mina trabalhavam 250 homens. Os diamantes que saíam da região espalhavam riquezas pelo Brasil inteiro e por outros países do mundo. Mas tudo isso tem um custo para a natureza: onde o garimpo chega, a paisagem muda. Areia que foi parar no meio do rio saiu de outro garimpo que ficava um pouco acima.

O leito do rio também foi desviado. Os muros construídos pelos garimpeiros ainda estão de pé. Seu Júlio volta a explorar o lugar, desta vez, para garimpar a própria história. Dois quilômetros adiante, um reencontro com o passado. O velho garimpeiro descobre o acampamento onde ele e os colegas passavam as noites.

"Ficou tudo do jeito que era porque a pedra protege. A comida era carne, arroz, feijão, verdura", lembra seu Júlio.

O homem que cozinhava para os garimpeiros hoje é chefe de cozinha em um restaurante de Diamantina. Mas, naquele tempo, Luiz Lobo – o Vandeca, como ainda é conhecido – tinha outra função, da maior importância: esconder os diamantes que seu Júlio tirava do rio.

"Seu Júlio confiava tanto em mim que eu tinha na cozinha uma panela que se chamava panela do segredo. Nem os cunhados dele sabiam onde eu guardava os diamantes. Eu guardava dentro de uma panela. Eu colocava as garrafas de diamantes e os pacotes de macarrão e de sal em cima, para que ninguém desconfiasse do que estava ali dentro. Ninguém nunca descobriu", afirma Vandeca.

Hoje seu Júlio vive em São Paulo. Além de não falar se ficou rico, ele não revela, nem mesmo, a quantidade de diamantes que extraiu. Mas, de repente, tira do bolso uma recordação dos velhos tempos: um diamante de quase cinco quilates. "Há mais de 20 anos eu guardo", conta.

Tantas lembranças deixam os olhos do velho garimpeiro brilhando como as pedrinhas que ele tanto procurou. "Dá vontade de chorar", diz seu Júlio, emocionado.