sexta-feira, 7 de junho de 2013

Rei dos diamantes relembra os tempos do garimpo

Rei dos diamantes relembra os tempos do garimpo

Mineiro volta ao lugar onde se tornou um milionário. Júlio Bento descobriu mina no Vale do Jequitinhonha. Pedras eram escondidas dentro de uma panela no acampamento.
DIRCEU MARTINS Diamantina (MG)
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No coração de Minas Gerais fica um lugar que já foi procurado por bandeirantes, aventureiros, e cobiçado por impérios. A história está nas ruas, nas casas, na alma da cidade, que tem no nome a riqueza e o destino de pedra: Diamantina. Ninguém sabe ao certo, mas calcula-se que da região tenham saído mais de 600 quilos de diamantes. E também de lá saíram outras pedras que se transformaram em joias belíssimas que ainda hoje brilham pelo mundo inteiro.

Quase três séculos de mineração deixaram marcas e mitos.

"Júlio Bento foi quem tirou mais diamantes. Ele até achou que era castigo tanto diamante", conta o empresário Fábio Nunes.

"Na região, o rei do diamante é Júlio Bento", confirma o taxista Sandoval Ribeiro, o Juca.

Júlio Bento, o rei do diamante, não gosta de revelar a idade, mas dizem que ele já passou dos 80. Fala menos ainda quando se trata de fortuna. Afinal, ele continua rico ou não? Seu Júlio voltou à Diamantina para mostrar o garimpo onde achou a primeira de muitas e muitas pedras valiosíssimas. Um tesouro encontrado justamente na região de Minas Gerais famosa pela pobreza, o Vale do Jequitinhonha.

A estrada é de terra, mas, naquele tempo, nem ela existia. Seu Júlio abriu as primeiras picadas e passou com uma tropa de mulas. De um trecho em diante, só com tração nas quatro rodas. Depois de uma hora de solavancos, chega-se ao local. Foi em um trecho do Rio Pinheiro que seu Júlio passou os primeiros cinco anos no garimpo.

Depois da investida dos bandeirantes, no Período Colonial, Diamantina viveu, na época de seu Júlio, uma segunda febre do garimpo. No começo dos anos 80, Diamantina chegou a ter mais de 30 mil garimpeiros. Só em uma mina trabalhavam 250 homens. Os diamantes que saíam da região espalhavam riquezas pelo Brasil inteiro e por outros países do mundo. Mas tudo isso tem um custo para a natureza: onde o garimpo chega, a paisagem muda. Areia que foi parar no meio do rio saiu de outro garimpo que ficava um pouco acima.

O leito do rio também foi desviado. Os muros construídos pelos garimpeiros ainda estão de pé. Seu Júlio volta a explorar o lugar, desta vez, para garimpar a própria história. Dois quilômetros adiante, um reencontro com o passado. O velho garimpeiro descobre o acampamento onde ele e os colegas passavam as noites.

"Ficou tudo do jeito que era porque a pedra protege. A comida era carne, arroz, feijão, verdura", lembra seu Júlio.

O homem que cozinhava para os garimpeiros hoje é chefe de cozinha em um restaurante de Diamantina. Mas, naquele tempo, Luiz Lobo – o Vandeca, como ainda é conhecido – tinha outra função, da maior importância: esconder os diamantes que seu Júlio tirava do rio.

"Seu Júlio confiava tanto em mim que eu tinha na cozinha uma panela que se chamava panela do segredo. Nem os cunhados dele sabiam onde eu guardava os diamantes. Eu guardava dentro de uma panela. Eu colocava as garrafas de diamantes e os pacotes de macarrão e de sal em cima, para que ninguém desconfiasse do que estava ali dentro. Ninguém nunca descobriu", afirma Vandeca.

Hoje seu Júlio vive em São Paulo. Além de não falar se ficou rico, ele não revela, nem mesmo, a quantidade de diamantes que extraiu. Mas, de repente, tira do bolso uma recordação dos velhos tempos: um diamante de quase cinco quilates. "Há mais de 20 anos eu guardo", conta.

Tantas lembranças deixam os olhos do velho garimpeiro brilhando como as pedrinhas que ele tanto procurou. "Dá vontade de chorar", diz seu Júlio, emocionado.

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