sábado, 20 de julho de 2013

Extração de riquezas – Os Garimpos Brasileiros

a Extração de riquezas – Os Garimpos Brasileiros

garimpo-falandoemjoiasO garimpo é uma atividade de extração mineral que já existe há muito tempo no mundo.
Os primeiros sinais dessa atividade datam do século XV, com os Europeus que partiam em busca de novas terras para conquistar suas riquezas minerais.
No Brasil, os garimpos começaram a despontar no século XVIII, com as campanhas em busca de ouro e diamantes no estado de Minas Gerais.garimpo-falandoemjoias
A atividade garimpeira é considerada uma forma legal de extração de riquezas minerais desde que atenda a determinadas regras e obrigações. É permitido a qualquer brasileiro ou cooperativa de garimpeiros, desde que  esteja regularizado no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão no país que controla todas as atividades de mineração.
O garimpo se torna problema justamente porque a maioria deles segue às margens da lei. Ocasionando  uma série de problemas ,muitos deles de caráter social.
garimpo-falandoemjoiasIsso em virtude da baixa qualidade de vida dos trabalhadores do garimpo, que vivem em pequenos povoados sem qualquer tipo de infra-estrutura (água tratada, esgoto, saúde, escolas, entre outros).
Infelizmente, no Brasil, muitos garimpos quase sempre estão associados a confrontos, assassinatos, roubos, disputas de terra, prostituição, e narcotráfico e sem esquecer à degradação ambiental.garimpo-falandoemjoias
Isto porque os garimpos ilegais são extremamente difíceis de serem controlados.
garimpo-falandoemjoiasEles também desestabilizam a paz, pois invadem terras indevidas, como reservas indígenas, muitas vezes, na base de confrontos violentos.
Mas não são todos.Existem muitas empresas que fazem um garimpo consciente, Com projetos de reaproveitamento das pedras que saem do garimpo e não são aproveitadas.
Um grande exemplo é o garimpo de opala no norte do Piauí há poucos anos 150 garimpeiros fundaram uma associação e legalizaram 90% dos terrenos, onde catam o que sobrou para ganhar a vida. E estão ganhando. Eles encontram opala no rejeito desprezado pelas mineradoras 40 anos atrás.garimpo-falandoemjoias
Muitos garimpeiros morreram cavando as minas de opalas da região. Placas sinalizam os novos tempos: “proibido morrer”. O cuidado com a segurança e com o meio ambiente estão por toda a parte.
O trabalho é feito respeitando o meio ambiente. O que se retira que não é usado,logo é compactado para fazer reflorestamento. Neste garimpo a retirada não é desordenada como acontece em muitos pelo Brasil a fora.
garimpo-falandoemjoiasCada garimpo tem um acampamento: uma espécie de base de apoio improvisada, onde eles fazem as refeições e também descansam nos momentos de folga. Eles levam para o acampamento o jeito de viver na roça.
Na cidade, de Pedro II, a mais próxima do garimpo já se vê o reflexo nas ruas. As casas coloniais estão preservadas existem muitas  joalherias e oficinas Nos últimos anos, a produção de jóias aumentou seis vezes. A cidade soube usar as opalas para melhorar a vida dos moradores. Jovens que antes teriam que ir embora para arrumar emprego hoje vão de moto para o trabalho.garimpo-falandoemjoias
Essa comunidade orgulha o país inteiro fazendo as coisas direito. Alem de não prejudicar a natureza faz com que todos a volta cresçam junto estabilizando a vida de todos.
O Globo Reporte ano passado fez uma bela reportagem a respeito de garimpos de Ametista no sul do país. Segue um trecho da reportagem.
Vale a pena ver.
Um bom dia a todos.

Quando os primeiros exploradores chegaram ao Brasil

Quando os primeiros exploradores chegaram ao Brasil, o maior objeto de desejo era o ouro, metal precioso o bastante para manter o fausto das cortes européias. As excursões pioneiras pelo litoral e até pelo interior foram frustrantes. Nada parecia haver naquela terra além de natureza pródiga, solo fértil e índios pagãos. Qualidades estas, aliás, para as quais os exploradores davam pouca ou nenhuma importância.

Nas margens do Tripuí foram encontradas as pepitas de ouro que mudaram a história do Brasil

Qual das montanhas de Minas seria Sabarabuçu?
 
Foi no contato com os índios que os estrangeiros se deram conta que algo de muito valioso se escondia nos recônditos do Brasil. Não faltavam histórias sobre uma terra distante, onde o ouro brotava no leito dos rios. No alto de suas montanhas podiam ser retiradas pedras de magníficas cores, verdes e azuis... O nome de uma dessas serras era Sabarabuçu, mas havia outras, muitas outras.
A Corte Portuguesa desincentivava as jornadas pelo interior, com receio de que a corrida lhe tirasse o controle sobre o que viesse a ser descoberto. Mas não foi possível segurar a força das lendas, que finalmente provariam ser a mais pura verdade. A primeiras expedições, conforme consta em alguns estudos, se deram já no séc. XVI. Não foram bem sucedidas e muitos aventureiros não voltaram para contar o que viram na terra virgem e hostil. Somente no final do século seguinte se daria o achamento das primeiras e tímidas lavras de metais.
"Bandeira" era o nome das grandes incursões pelo país naqueles tempos. As "bandeiras" que penetraram Minas inicialmente partiam do planalto de Piratininga, em São Paulo. A de Fernão Dias, em 1674, tinha por finalidade encontrar Sabarabuçu, o Eldorado. Foram sete longos anos de trabalho árduo, nos quais poucas pedras foram encontradas. No entanto, a jornada revelou grande parte do imenso território. Dos pousos para descanso das tropas de Fernão Dias surgiriam mais tarde núcleos povoados, cujo papel foi fundamental para a colonização do estado.
Fernão Dias morreu em 1681, nas proximidades da cidade de Caeté, talvez frustrado por não ter encontrado as esmeraldas que buscava. Talvez tivesse pensado que o ouro e as pedras estavam mais ao norte, ainda mais distantes nas entranhas do Brasil. Se pensou assim estava errado. Mal sabia ele que tinha alcançado Sabarabuçu e que só faltou procurar mais um pouquinho. Seus companheiros continuariam seu trabalho, entre eles seu filho Garcia Rodrigues Paes e seu genro Borba Gato, que abriram importantes caminhos para o interior.
 
Ouro faz brotar do chão uma história
Produção de ouro nas Minas Gerais
1697
1699
1705
1715
1739
1744
1754
1764
115 Kg
725 Kg
1,5 Ton
6,5 Ton
10 Ton
9,7 Ton
8,8 Ton
7,6 Ton
O tão sonhado ouro por fim se acharia nos fins daquele século XVII. E era muito, muito ouro, opulentas minas. O mais provável é que o descobridor tenha sido um paulista, Antônio Rodrigues Arzão, que não pôde concluir seu feito por causa da animosidade dos índios que caçava. Bartolomeu Bueno de Siqueira assumiu, com as informações que recebeu, a busca pelo metal. Descobriu em 1694, nos arredores de Itaverava, jazidas cujas amostras de ouro foram levadas para o Rio de Janeiro, para apreciação do Governador, que tinha jurisdição sobre todas as descobertas.
Pico do Itacolomi, referência para os primeiros bandeirantes (Mariana - MG)

Câmara e Cadeia (Mariana - primeira capital da província das Minas Gerais)

Mina de ouro (Ouro Preto - MG) Belas paisagens no caminho do ouro (Cachoeira do Campo - MG)
 
Em 23 de junho de 1698, a "bandeira" comandada por Antônio Dias de Oliveira chegou aos pés de um pico, chamado Itacolomi. Ali seriam lançados os fundamentos de uma fabulosa cidade, por cujas ruas percorreriam o ouro e os ideais de liberdade: nascia a inesquecível Vila Rica (atual Ouro Preto), que foi capital da província até o final do século XIX. Em 1709 era criada a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro. No início da mineração, o ouro encontrado no leito dos rios obrigou os garimpeiros a viverem como nômades. Esgotada a lavra partiam para outras mais lucrativas. A população encontrava-se bastante dispersa. Os imigrantes vinham de todo lugar, ansiosos por fazer riquezas naquele novo Eldorado. Quando o ouro começou a ficar escasso nos rios, a extração passou para as encostas das montanhas. O trabalho de cavar exigiu que o minerador se fixasse. As minas foram surgindo e junto a elas os núcleos povoados. O ouro parecia brotar em todo lugar. Sabarabuçu, Cataguás ou Cataguases, Caeté, do Rio das Mortes, Itambé, Itabira, Ouro Preto, Ouro Branco etc. Eram enfim muitas minas, ou melhor dizendo, "Minas Gerais". Já em 1701 o nome começou a ser usado, sendo oficializado em Carta Régia de 1732.
A ambição dos imigrantes origina o primeiro grande conflito pelo ouro: a guerra dos emboabas, que envolveu paulistas e demais imigrantes. Em decorrência disso, a Coroa Portuguesa criou em 1720 a Capitania das Minas, desmembrada de São Paulo. Passou a controlar duramente a extração, recolhendo 20% de tudo que era produzido, o chamado quinto. As atividades agrícola e manufatureira praticamente não existem. Apenas uma agricultura de subsistência e criação de pequenos animais, como o porco. Os demais produtos chegam às regiões mineradoras no lombo de burros. A província cresce rapidamente e com ela a carência por produtos de primeira necessidade. Os mercadores ambulantes também se estabelecem nos povoados. Surge o primeiro grande mercado consumidor do Brasil. Tudo é comercializado, de escravos africanos a artigos importados da Europa. A abertura do Caminho Novo, por Garcia Rodrigues Paes, intensificou ainda mais a troca de mercadorias, ligando o Rio de Janeiro às regiões mineradoras. O ouro fez com que a capital da Colônia se transferisse de Salvador, na Bahia, para a cidade do Rio de Janeiro em 1763.
A intensa mistura de pessoas tão diferentes em um mesmo ambiente, impulsionadas pelo poder do ouro, deu início a uma nova sociedade. Portugueses, paulistas, negros, índios e outros imigrantes se misturavam e formaram um mosaico cultural. Até então vigorava no Brasil a rígida sociedade dos engenhos, com sua estrutura paralítica, cujos rumos eram ditados pelos Senhores, principalmente os das grandes fazendas de açúcar. A incipiente e efervescente sociedade mineira tinha características mais democráticas, os padrões de conduta não eram tão rígidos e a ascensão social era mais fácil. Até mesmo um escravo, numa bateada feliz, podia enricar e comprar sua liberdade. A combinação da vida urbana com a atividade mineradora cria novos ofícios, desenvolvendo um novo embrião de classe média. São escultores, músicos, tropeiros, pintores, marceneiros, alfaiates, entalhadores, advogados, poetas... Um Estado Moderno nasce no Brasil, com administração burocrática, fiscalização e arrecadação de impostos.
  Os diamantes também escreveram a história de Minas (Diamantina - MG)

Igreja São Francisco de Assis, obra-prima do Barroco Mineiro (Ouro Preto - MG) Igreja N.Sra. do Ó, pequena jóia do Barroco Mineiro (Sabará - MG)

Teto da Igreja São Francisco de Assis (Ouro Preto - MG)
Nesse ambiente tornou-se possível o surgimento de um movimento artístico e cultural sem precedentes no Brasil. As vilas se tornam prósperos redutos, onde floresce uma rica arquitetura. As artes tomam impulso, lembrando em muito o renascimento europeu. Vigora o mecenato e mestres como Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e Manuel da Costa Ataíde encontram o ambiente perfeito para exercerem sua genialidade. O Barroco Mineiro impressiona por seu esplendor, sua força e dramaticidade. É uma arte de fervor religioso, teatral e encontrou em Minas o cenário perfeito para se estabelecer.

A febre do ouro em Serra Pelada

A febre do ouro em Serra Pelada

Guto da Costa tinha pouco dinheiro no bolso e muita esperança em 1983. Havia completado 18 anos, e “de maior”, sonhava em ficar rico. Andava de namorico com a filha de um homem “bem de vida”, que não via com bons olhos aquele romance ameaçando entrar sem pedir licença na própria casa. Com os brios feridos, o coração em chamas, o corpo afogueado, Guto olhou para a imensidão à frente, observou atônito, o vai e vem de homens embrutecidos e de poucas palavras, respirou fundo e disse a si mesmo. “É aqui que vou ‘enricar’ e voltar pra casar com ela”. Vinte e nove anos depois, Guto é dono de uma pequena venda em uma vila pobre e empoeirada. Ri dos arroubos da juventude. Nunca mais voltou para casa. Nem saiu do garimpo de Serra Pelada. A história poderia ser um enredo ficcional para uma novela ou filme. Mas é real. Como reais são as histórias de milhares de ex-garimpeiros de Serra Pelada. O mergulho em apenas uma delas é mais rico do que qualquer roteiro cinematográfico, mas o cinema insiste em tentar capturar a quase inatingível essência do mais famoso garimpo de ouro do Brasil.
A empreitada mais recente será a que unirá Wagner Moura, um dos mais talentosos atores de sua geração, ao diretor Heitor Dhalia. O filme terá como pano de fundo a região de Serra Pelada. A história se passa em 1978, quando dois amigos saem do Rio de Janeiro em direção ao Pará, com a intenção de encontrar ouro em Serra Pelada, mas a cobiça pelo poder e pela riqueza vai abalar a relação da dupla. Ao divulgar o projeto, Dhalia disse que há muito a ser explorado nessa história, que marcou uma época no Brasil e ainda não foi contada nos cinemas.
Os garimpeiros não tinham noção dessa grandiosidade épica quando fincaram pés e mãos no barro da serra em busca de ouro. Não pensavam em ser protagonistas ou coadjuvantes de nada. Sonhavam apenas com o metal que mudaria as próprias vidas. Cinema, por exemplo, só os do telão meio encardido que exibia uns filmes de faroeste. “Aqui tinha o telão do cinema todo dia, e sempre tinha um artista por aqui fazendo show. Aparecia uns circos de vez em quando. Os filmes que passava no cinema, os que os garimpeiros mais aplaudia, depois passava de novo”, lembra Almir Ferreira, 71 anos num português atropelado.
Quando Serra Pelada chamou a atenção do mundo, o cinema veio atrás. “Era nosso divertimento”, diz Ferreira. “Quando Os Trapalhões vieram aqui, se melaram tudo de melechete (lama proveniente da lavagem da terra). Aí enchia o saco de folhas, saía subindo as escadas na pedra preta que nem os garimpeiros. Mas o nosso era cheio de terra. Eu achei aquilo muito bom, pra você vê como nós era importante”.
“Os Trapalhões na Serra Pelada” é um filme de 1982, dirigido por J.B. Tanko. A história é simples. Os amigos Curió, Boroca, Mexelete e Bateia aventuram-se em busca de ouro no garimpo de Serra Pelada. A mina é controlada pelo estrangeiro Von Bermann, cujas ordens são executadas pelo capanga Bira. Sedento por poder, o gringo contrabandeia o ouro e deseja apoderar-se das terras do brasileiro Ribamar, que se recusa a fazer negócio antes da chegada do filho Chicão. Mesmo sendo uma típica comédia ao estilo de Renato Aragão e companhia, a sinopse do filme apresenta as possibilidades de discussão a respeito da forma colonizadora que caracteriza a região. O capital estrangeiro dominando o local onde homens simples tentam construir sonhos a partir de uma realidade difícil.
“Sabe qual é a história mais bonita, seu moço? É quando era só nós, os garimpeiros. O cara saía por dentro da mata, com saco de ouro nas costas, com um 38 do lado e mais uns quatro companheiros. Um respeitava o outro, mas não tinha muita conversa”, lembra Luiz Fonseca Oliveira, 65 anos, enquanto senta num banco rústico fugindo do sol. “Quando tirei a carteira de garimpeiro fiquei orgulhoso. Me senti gente importante, cidadão mesmo”, ri, olhando para o boné amassando nas próprias mãos.
Novos Colonizadores
Saber que Serra Pelada e outros pontos da Amazônia voltaram a interessar ao cinema nacional desperta reações diferentes. Como os próprios garimpeiros, a Amazônia será apenas cenário ou protagonista nessa relação?
“A região nunca saiu de foco, o que acontece é que os interesses dos ‘colonizadores’ de nossa sociedade moderna mudam de acordo com o que os convém em dado momento de espaço e tempo”, analisa o professor e videomaker Guto Nunes. “Do ponto de vista profissional pode ser uma boa resposta, desde que eles utilizem em suas produções, produtoras independentes e mão-de-obra profissional e a força braçal e intelectual do nosso povo”, diz.
Diretora do documentário “Serra Pelada: Esperança não é sonho”, Priscila Brasil não gosta quando falam em “redescoberta amazônica”. “A expressão é cheia de uma submissão da qual eu não gosto. Vários já se inspiraram nesse universo, cada um de um jeito, cada um na sua lógica. Uns enxergam a selva de uma maneira mais brutal, outros de uma maneira mais contemplativa, outros veem quase um zoológico gigante, tipo Simba Safari, que só falta rolar ar condicionado”, critica.
A supremacia do olhar estrangeiro
“É preciso mais que um dia para entender a história dos garimpeiros”, diz, com ar de quem viu muito, Pedro Bacabal, 53 anos. Homem de riso fácil que zomba do próprio destino, Bacabal chegou ao garimpo com 23 anos. Ganhou e perdeu dinheiro. Batendo com o cabo de uma enxada no chão, como a pontuar as palavras, enfatiza que em Serra Pelada os homens todos deixaram escorrer a juventude. “Como é que vou explicar isso ao senhor?”, questiona-se. “Eu acho que mesmo na melhor das produções ainda existe um olhar estrangeiro, os protagonistas são de fora, uma lacuna que só vamos talvez superar com nossas produções locais. O que me preocupa é se reforçarem o olhar do exótico, do coitadinho. Isso sempre me irrita”, diz Segtowick.
“Tem quem ache que a Amazônia tem vocação para cenário de filme - mas o cenário exuberante é um coadjuvante mal pago, infelizmente”, diz a jornalista, produtora e fotógrafa Maria Christina. “Embora eu deva concordar que a história ainda por ser contada deve ser efetivamente contada, seja em filmes ou obras literárias, o melhor era mesmo que nos deixassem em paz. Ilusão, claro, porque a região precisa de divisas, e minha indignação com toda a exploração que sofremos (cuja conta vamos pagar ad infinitum) me faz desejar que fôssemos invisíveis”, complementa.
Terra de feitos épicos (e homens invisíveis)
Invisibilidade social parece ter sido sempre a marca dos garimpeiros de Serra Pelada. Mesmo que tenham produzido feitos épicos. “O garimpo tirou uma serra de um lado e colocou em outro. Isso não é pra qualquer um”, bate no peito Manoel Martins de Oliveira, um homem que chegou ao garimpo em dezembro de 1980. Dizia-se que o ouro de Serra Pelada pagaria a dívida externa brasileira. Mais de três décadas depois, Antonio Bernardo, o Godô, luta aos 64 anos, contra uma hanseníase que lhe insiste em pregar peças. A última foi uma ferida no rosto. O curativo imenso esconde a chaga. Pobreza e doença se tornaram companheiras dos ex-garimpeiros. Juntam-se à saudade, a uma melancolia resignada, a um bom humor de quem viu e viveu boas aventura e à incerteza dos dias que restam.
“A gente fez parte do Brasil. Eu sei disso”, diz o ex-garimpeiro que só atende pelo nome de Nick. É o pseudônimo que ele descobriu para dar vazão ao lado artista. Nick é pintor. Exibe os quadros com orgulho. A febre do ouro passou. Para ele não volta mais. Não?
Nos fundos da Loja Kaleny, bem no centro da vila de Serra Pelada, duas fotos chamam a atenção. Numa está a clássica imagem do formigueiro humano que foi o garimpo nos anos 80. Ao lado, uma foto com dois homens, sujos de lama da cabeça aos pés, outra imagem bastante difundida de Serra Pelada. É quase impossível reconhecer que o rapaz de 23 anos que posa com ar de esperança na foto, em um dia perdido de 1985, seja o mesmo proprietário da loja que vende de tudo um pouco. Cláudio Moraes tem hoje 49 anos e criou as duas filhas na vila de Serra Pelada. “Não enriqueci, ganhei problema de hérnia de disco, de coluna, mas sei que fiz parte de uma história bonita do Brasil”, diz. Cláudio Moraes está relativamente estabilizado. Não precisa diretamente do ouro do garimpo, mas quem disse que deixou de sonhar em voltar à ativa? “Daqui não arredo pé. Se esse garimpo voltar a dar ouro de novo, quero estar aqui”, afirma. Alguém registraria a cena? (Diário do Pará)

Eles ficaram milionários ao tirar ouro da mina, mas esbanjaram - hoje vivem na miséria

Eles ficaram milionários ao tirar ouro da mina, mas esbanjaram - hoje vivem na miséria

Os Garrinchas de Serra Pelada


Depois de receber uma bolada em dinheiro, Índio fretou um avião da falida Transbrasil para encontrar uma namorada no Rio e passou dois meses hospedado no Copacabana Palace. Hoje, vive da aposentadoria de R$ 515 da atual mulher, sua 14ª companheira. Com Zé Sobrinho aconteceu algo parecido. Com os milhões que ganhou no trabalho, promoveu festas onde não faltavam bebidas importadas e mulheres bonitas. Aos 70 anos, dá expediente numa cooperativa para pagar as contas. As trajetórias de Índio e Zé Sobrinho lembram a história de muitos jogadores de futebol, como Garrincha, o gênio de pernas tortas que conquistou duas Copas do Mundo. Nascidos em famílias pobres, ficaram milionários da noite para o dia, não souberam administrar suas fortunas e agora vivem à beira da miséria. A diferença é que os dois não enriqueceram jogando bola, mas garimpando ouro em Serra Pelada na década de 1980. “Não gosto de falar dessa história”, disse Índio ao iG em sua casa de madeira e sem rede de esgoto no povoado que reúne cerca de 6 mil pessoas, a 55 quilômetros de Curionópolis (PA). “Às vezes parece até que foi um sonho”.
Em casa com a mulher, Índio vive ma nova realidade: depois de tirar mais de uma tonelada de ouro de Serra Pelada, o garimpeiro fretou um avião para ir ao Rio de Janeiro
A história de José Mariano dos Santos, o Índio, cuja mãe ascendia a tribos locais, ganhou contornos de lenda em Serra Pelada. Nascido em 1953 em Penalva, município a 250 quilômetros de São Luís do Maranhão, largou a escola para ajudar a pagar as contas de casa. Trabalhava numa oficina de motosserras no município paraense de Jacundá quando ouviu falar de Serra Pelada pela primeira vez. Não pensou duas vezes e, aos 27 anos, resolveu tentar a sorte na mina de ouro. Durante os dois primeiros anos só conseguiu o suficiente para sua subsistência. Não imaginava o que estava por vir. Entre 1982 e 1986, Índio “bamburrou” (enriqueceu, na gíria dos garimpeiros) ao garimpar 1.183 quilos de ouro – R$ 81,5 milhões em valores atualizados. Com os descontos de impostos e pagamentos de empregados, sócios e fornecedores, ficou com um lucro de 411 quilos (cerca de R$ 28 milhões). “Com esse dinheiro o cabra analfabeto quer ir logo atrás de mulher, boate e carro novo”, contou.

Em Belém, capital do Pará, Índio tentou comprar uma passagem de avião para ir ao Rio encontrar uma mulher por quem se apaixonara. Vestido de garimpeiro (camiseta, bermuda e chinelos), foi menosprezado por uma balconista da antiga Transbrasil. Quando ela foi atender um cliente engravatado que pedia informações sobre o mesmo voo, Índio não se conteve. Começou a gritar que não queria comprar uma passagem, mas fretar um avião. Com a confusão armada, o garimpeiro foi chamado pelo gerente da companhia para conversar. Ali, soube que poderia fretar o avião, mas que isso custaria muito caro. “Disse que não queria saber o preço, só quando o avião decolaria”, disse Índio. Logo ele embarcaria para o Rio acompanhado do piloto, co-piloto e uma comissária de bordo. E só. O arroubo de novo rico custou o equivalente a quase cinco quilos de ouro, ou R$ 345 mil em valores atualizados.
No auge de Serra Pelada, Índio guardava sua fortuna em sacos de dinheiro escondidos em guarda-roupas, tinha 13 casas em sua maioria em Belém e Serra Pelada e 11 carros zero quilômetro na garagem. Mas a gastança desenfreada fez com que o sonho virasse um pesadelo. Índio vive com Raimunda, a 14ª mulher, com quem está casado há oito anos. Não tem renda e suas contas são pagas com a aposentadoria da mulher, de R$ 515. Até para comprar a carteira de cigarro de R$ 2 o garimpeiro precisa pedir dinheiro emprestado. Boa parte da comida que vai à mesa vem do quintal de casa, onde eles criam galinhas, cultivam um pomar e uma pequena horta. Aos 57 anos, Índio voltou a estudar e sonha em fazer faculdade – Geologia ou Direito estão entre suas opções. “Se pudesse, faria tudo diferente”, disse ele. “Nunca achei que fosse envelhecer ou que o ouro fosse acabar."
“Aproveitei a vida”
Entre os moradores de Serra Pelada não é difícil encontrar exemplos de garimpeiros que tiveram história de ascensão e queda como a de Índio. No auge do garimpo, quando cerca de 100 mil pessoas exploravam a mina artesanalmente e carregavam nas costas sacos de lama de até 35 quilos, transformando a cava num verdadeiro formigueiro humano, estima-se que foram extraídas 42 toneladas de ouro da região. Os feitos dos garimpeiros eram contados ao final do dia na principal avenida do vilarejo, ao pé de uma árvore que ficou conhecida como “Pau da Mentira“. O apelido tem fundamento. Apesar do volume expressivo, poucos ficaram ricos com o ouro de Serra Pelada. Os moradores costumam repetir que apenas 1% dos que exploraram a mina encontraram ouro em grande quantidade. Destes, apenas 10 enriqueceram de fato. O restante “blefou” – ou perdeu tudo, na gíria dos garimpeiros.
José Sobrinho da Silva, 70 anos, é um dos “blefados”. Natural de Barra de São Francisco, no Espírito Santo, chegou a Serra Pelada em 1980 e encontrou milhares de homens cavando a terra em busca de riqueza. Logo seria recompensado: tirou quase uma tonelada de ouro da mina e estima que tenha ficado com 50% desse valor. “A primeira coisa que garimpeiro faz quando ganha dinheiro é investir no ‘banco rachado’ (mulheres, na gíria local)”, disse ao iG. Zé Sobrinho gostava de beber e promovia festas de arromba para os amigos e familiares. Em meio a bebedeiras, ficava generoso. “Dei um carro semi-novo para um amigo só porque tinha raspado a lateral”, afirmou. O resto do dinheiro ele reinvestiu na mina. No auge do garimpo teve 27 barrancos (área em que se explorava o ouro) e mais de 100 funcionários. O sonho de encontrar mais ouro acabou em 1992, com o fechamento da mina pelo então presidente Fernando Collor.
Dá época áurea, restou apenas uma coleção de fotos amareladas guardadas num envelope. Em uma delas, Zé Sobrinho posa com 12 quilos de ouro em uma bateia - espécie de peneira sem furo. Hoje, trabalha como vice-presidente da Coomigasp, a cooperativa que se associou à mineradora canadense Colossus para retomar a exploração de Serra Pelada, e tem renda de R$ 5 mil. Apesar disso, vive com a família numa casa modesta, feita de madeira, em Serra Pelada. O garimpeiro está animado com a mecanização. Primeiro, por causa dos empregos que serão gerados na região. E depois por causa dos lucros gerados pelo ouro – a jazida comprovada está avaliada em R$ 2,3 bilhões. Ele sabe que nenhum garimpeiro vai “bamburrar”, mas acredita que o lucro do negócio vai gerar uma renda para os moradores da região. “Perdi tudo o que tinha, mas aproveitei a vida”, disse Zé Sobrinho. “Não adianta nada ter uma tonelada de ouro guardada no banco”.

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sexta-feira, 19 de julho de 2013

RODONITA E RODOCROSITA


RODONITA E RODOCROSITA





Estas duas gemas de tonalidade rósea a vermelha devem sua cor ao manganês e podem, eventualmente, apresentar aspecto similar.

A rodonita ocorre usualmente na forma opaca e, menos frequentemente, nas formas translúcida e transparente; sua cor é geralmente vermelho-rosada a vermelho-alaranjada e vermelho-carne.
Quimicamente constitui-se de um silicato de manganês, de fórmula CaMn4[Si5O15], possui dureza 5 ½ a 6 ½, peso específico 3,40 a 3,74 g/cm3 e índices de refração 1,733 (- 0,017 + 0,005) a 1,744 (- 0,021 a + 0,008), com uma birrefringência de 0,010 a 0,014. O IR médio, obtido pelo método de visão distante, corresponde a aproximadamente 1,73.
A rodonita costuma apresentar aspecto mosqueado, com veios ou inclusões pretos de óxido de manganês. Sua lapidação é difícil, por conta da clivagem perfeita em duas direções.
As ocorrências de rodonita encontram-se amplamente distribuídas, embora poucas fontes forneçam material transparente. No Brasil, até onde sabemos, há produção em Minas Gerais, no município de Conselheiro Lafayete, onde ocorre associada à piroxmangita, e em Urandi, no Estado da Bahia.
Pela semelhança de grafia, é conveniente lembrar que a rodonita não tem qualquer parentesco com a rodolita, um membro intermediário da série de granadas piropo-almandina.
Já a rodocrosita possui cor rósea, normalmente mais clara, mas algumas vezes semelhante à da rodonita; o matiz mais apreciado é o vermelho-groselha; ocorre na forma opaca e, menos frequentemente, na forma translúcida.
Quimicamente constitui-se de um carbonato de manganês, de fórmula MnCO3 e, assim como todos os carbonatos, reage em contato com ácido clorídrico. Esta gema costuma apresentar veios brancos com estrutura fibrosa radial e clivagem romboédrica perfeita.
Possui dureza 3 ½ a 4 ½, portanto inferior à da rodonita; peso específico 3,45 a 3,70 g/cm3 e índices de refração 1,590 (- 0,012 + 0,010) - 1,805 (- 0,019 a + 0,015), com uma birrefringência de 0,208 a 0,220, elevada como convém a um carbonato.
Suas principais ocorrências estão localizadas nos EUA (Colorado), na África do Sul e, principalmente, na Argentina. Neste país, já era trabalhada pelos incas, que a extraiam da localidade montanhosa de San Luís - situada a aproximadamente 230 km a leste de Mendoza - pelo menos desde o século XIII.