segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Garimpeiros ilegais invadem o interior de Minas Gerais

Garimpeiros ilegais invadem o interior de Minas Gerais

A esperança, ou a ilusão, de encontrar uma fortuna no chão provocou uma nova corrida por esmeraldas no interior de Minas Gerais

A notícia de que uma pedra preciosa foi achada numa mina desativada em Nova Era atraiu centenas de garimpeiros ilegais.

Na pequena cidade de Nova Era, há uma semana, só se ouve um assunto. "Das pedras preciosas que começou a aparecer nesse garimpo", conta o operador de bomba, Rui Barbosa.

A região é conhecida historicamente como centro de exploração de esmeraldas. Depois de lapidada, a gema é uma das mais valorizadas no mercado de jóias e pode custar até US$ 30 mil dólares o quilate.

A fama da esmeralda e a notícia de que uma mina abandonada ainda estava cheia da pedra provocaram uma corrida a Nova Era. "Está todo mundo invadindo lá, rapaz", afirma o frentista, Antônio Ferreira Francisco.

O caminho para quem sonha com as esmeraldas é longo. Homens, mulheres, idosos percorrem a pé 25 quilômetros até a mina. "Quem sabe de repente a gente encontra uma boa, melhora de vez a vida da gente. A gente sonha muito", sonha uma mulher.

A pedra é extraída com explosivos. Depois que a dinamite é estourada dentro, é preciso esperar um pouco até que fumaça se dissipe. Enquanto isso, os garimpeiros fazem fila na porta. Eles esperam. Quem entra primeiro, tem mais chance de encontrar a riqueza.

A comerciante Beth Braga fechou o bar na cidade para se arriscar em busca das esmeraldas. "No meu comércio eu ganho em média R$ 100 reais por dia. Aqui, eu estou correndo o risco de ganhar um milhão", diz.

A área invadida pertence à uma mineradora, que já entrou com o pedido de reintegração de posse. Nesta sexta-feira, 50 policiais militares estiveram no garimpo e apreenderam armas e 25 bananas de dinamites usadas pelos garimpeiros para explodir a rocha.

Mas logo depois que os policiais deixaram a área, os invasores voltaram à atividade. O garimpeiro, Pedro Ferreira dos Santos conhece bem cenas como essa. Diz que já tirou sacos de ouro de Serra Pelada, no Pará, na década de 80. Perdeu tudo o que ganhou arriscando a sorte em outros garimpos pelo país. E agora, espera tirar de novo a sorte grande. "Com certeza, com nova esperança de encontrar uma sorte. E estou pretendendo tirar uma hoje, agora", sonha.

Kimberlito vargem-1 (Coromandel, MG): bulk sample confirma mineralização diamantífera

Kimberlito vargem-1 (Coromandel, MG): bulk sample confirma mineralização diamantífera

Vargem-1 kimberlite: bulk-sample confirms the diamond mineralization





RESUMO
O kimberlito Vargem-1, a sudeste de Coromandel (MG), ocorre sob o leito e margens do Rio Santo Inácio, o qual possui depósitos aluvionares lavrados desde longa data. Entretanto, a presença de diamantes na intrusão foi sempre questionada, pois teria uma química mineral desfavorável à mineralização. Agora, amostragem de grande volume, em execução por firma mineradora, revelou a presença de diamantes, com pesos inferiores a 1 ct, em um dos poços pesquisados. Esse fato "abre" nova perspectiva exploratória em dezenas de intrusões já identificadas em tal região.
Palavras-chave: Kimberlito Vargem-1, Coromandel, diamante.

ABSTRACT
The kimberlite Vargem-1, southeast of Coromandel (MG), occurs under the bed and banks of the Santo Inácio River, which has alluvial deposits mined for many years. However, the presence of diamonds in the intrusion was always questioned, which would have an adverse mineral chemistry to diamond mineralization. Now, bulk sampling running for a mining company, revealed the presence of diamonds, weighing less than 1 ct in one of the pits. This fact "opens" new exploratory perspective in dozens of intrusions already identified in such region.
Keywords: Vargem-1 Kimberlite, Coromandel town, diamond.



1. Introdução
O kimberlito Vargem-1 reveste-se de maior importância por constituir o primeiro corpo desse tipo inequivocamente identificado em Minas Gerais (1969), por meio de análises químicas de minerais separados do seu solo de alteração (Svisero et al., 1977). Uma parte da intrusão aflora sob o aluvião rico em diamantes do rio Santo Inácio, afluente do rio Paranaíba, a sudeste de Coromandel (Figura 1-A). Como os cascalhos desse rio são mineralizados a teores compensatórios, com o encontro periódico de grandes diamantes, permaneceu sempre a dúvida se o kimberlito seria ou não diamantífero e, logo, um dos responsáveis pelo espalhamento da mineralização no meio secundário, embora as empresas que antes o pesquisaram tivessem-no considerado estéril. Agora, amostragem bulk revelou o contrário.

2. O kimberlito Vargem-1
A intrusão, datada em 80,3 Ma, compõe um cluster com, pelo menos, outros dois ou três corpos próximos (Svisero et al., 1986, 2005). Para esses autores, sua forma superficial, com cerca de 1,8 ha, é triangular e voltada para sul, hospedando-se em siltitos do Grupo Bambuí, onde, no contato dessa encaixante, desenvolvem-se, localmente, grandes blocos, quase maciços, de silexito. Nas cavas de pesquisa, abertas no yellowground do corpo, observam-se, em meio à massa argilosa, restos de minerais originais, em "manchas" serpentinizadas, consideradas por Svisero et al. (1986) como resultantes da alteração de antigos megacristais de olivina forsterita.
No presente (Figura 1-B), seis poços de pesquisa estão sendo abertos pela GAR Mineração, cada um com cerca de 100 m3 cada, atravessando o corpo longitudinalmente. O material aluvionar foi previamente removido, juntamente com o topo mais alterado do corpo, para se evitar possível contaminação. A bulk sample pretende amostrar próximo de 2.000 toneladas de material rochoso, suficientes para definir teores e reservas do corpo. Os diamantes recuperados têm peso inferior a 1 ct.

3. Química dos principais minerais indicadores
Estudos mineralógicos prévios são devidos a Svisero et al. (1977) e Esperança et al. (1995), a partir de material rochoso alterado da borda da intrusão. Os piropos, analisados com microssonda eletrônica, foram classificados como do tipo G-9, de pouca representatividade em intrusões férteis na África do Sul e Rússia (Figura 1-C). Agora, separou-se do material recuperado, em uma das cavas de bulk sample (a que produziu diamantes), grande quantidade de minerais pesados para novos estudos. As análises em granadas confirmaram os dados anteriores que indicam larga predominância de piropos G5 e G9 sobre os G10 (conforme classificação e limites de Grütter et al., 2004), os quais caracterizam corpos de alto potencial diamantífero. Estudos sobre outros indicadores encontram-se em andamento.

4. Conclusão
A constatação de que o kimberlito Vargem-1 é diamantífero, mesmo que os teores encontrados resultem em antieconômicos, permite comprovar que não apenas esse, mas, inclusive, a maioria dos corpos da região foram pesquisados insuficientemente. Isto já havia sido demonstrado no caso do kimberlito Canastra -1, pesquisado preliminarmente em 1974, mas somente com uma nova campanha exploratória, em 1991, foram identificados teores economicamente viáveis (Chaves et al., 2008). Tal fato "abre" a perspectiva de exploração de dezenas de outras intrusões de natureza semelhante na região.

Piroeletricidade e emissão de infravermelho distante da turmalina

Piroeletricidade e emissão de infravermelho distante da turmalina


Fernando Soares LameirasI; Valéria Alves Rodrigues de MeloII; José Maria LealIII
IFísico, Professor, Pesquisador Titular - Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear - CDTN (Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN). Caixa Postal 941 - Campus da UFMG - Pampulha - Belo Horizonte - CEP 30123-970. E-mail: fsl@cdtn.br
IIGraduanda em Química (Universidade Federal de Minas Gerais), Bolsista do CNPq de Iniciação Científica no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear - CDTN (Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN). Caixa Postal 941 - Campus da UFMG - Pampulha - Belo Horizonte - CEP 30123-970. E-mail: varm@cdtn.br
IIIGeólogo, Bolsista da CAPES, Doutorando da Universidade Federal de Ouro Preto (Redemat) e Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear - CDTN (Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN). Caixa Postal 941 - Campus da UFMG - Pampulha - Belo Horizonte - CEP 30123-970. E-mail: jmleal@cdtn.br



RESUMO
Um modelo tridimensional de computador de esferas rígidas da estrutura cristalina da turmalina revela que oscilações anarmônicas são impostas ao sítio W, o que, teoricamente, pode explicar a sua piroeletricidade e a emissão de infravermelho distante. Entretanto esses efeitos devem ser pequenos. Medidas das suas grandezas são necessárias para explicação do uso industrial do pó de turmalina.
Palavras-chave: turmalina, estrutura cristalina, piroeletricidade, emissão de infravermelho distante.

ABSTRACT
A three dimensional rigid ball computer model of the tourmaline crystal structure shows that anharmonic oscillations are imposed to the W site. This can theoretically explain both the pyroelectricity and the far infrared emission of tourmaline. Nevertheless, these effects should be small. Measurements of their magnitudes are necessary to explain the industrial use of tourmaline powder.
Keywords: tourmaline, crystal structure, pyroelectricity, far infrared emission.



1. Introdução
Nos últimos anos, tem crescido o interesse industrial pelo pó de turmalina preta (série schorlita-dravita). Produtos para tratamento de água, purificação de ar, cosméticos, argamassas, agricultura, tintas e roupas têm sido lançados no mercado. Observa-se um crescente número de pedidos de patente para usos industriais da turmalina. Porém há pouca literatura científica para fundamentar esses usos. Em geral, a piroeletricidade ou a emissão de infravermelho distante da turmalina tem sido utilizada para justificar o seu uso nos diversos produtos, através de textos com objetivos de divulgação comercial e dirigido para o público leigo.
A piroeletricidade da turmalina é uma propriedade conhecida e relativamente bem documentada na literatura científica, embora existam poucas referências sobre as suas causas. (Donnay, 1977) atribuiu a piroeletricidade da turmalina a vibrações anarmônicas do oxigênio no sítio W (descrito na próxima seção), ao observar que a sua posição média se move 0,005 Å entre 193 e 293 K, sendo o único átomo com deslocamento acima da incerteza experimental. Não se encontram, na literatura científica internacional, trabalhos sobre as causas da emissão de infravermelho distante ou mesmo se ela, de fato, existe na turmalina.
Nesse trabalho, a estrutura cristalina da turmalina está apresentada em detalhes, através do modelo de esferas rígidas, e correlacionada com a piroeletricidade e emissão de infravermelho distante, tanto do ponto de vista da mecânica clássica, quanto quântica. Espera-se dar uma contribuição para a elucidação dos fundamentos científicos para o uso industrial do pó de turmalina.

2. A estrutura cristalina da turmalina
A fórmula estrutural da turmalina é XY3Z6(T6O18)(BO3)3V3W. A sua estrutura cristalina é trigonal, do grupo espacial R3m. É caracterizada por anéis de seis tetraedros (sítios T), cujos oxigênios do ápice apontam para a direção do eixo c. Os sítios tetraédricos T são ocupados por silício. Ocasionalmente o silício pode ser substituído por alumínio ou boro [Hawthorne, MacDonald, Burns,1993 e Tagg, Cho, Dyar et alii.,1999 ]. Grupos triangulares de BO3, paralelos ao plano (0001), se alternam acima e abaixo dos tetraedros. A maioria dos estudos cristalográficos indica que há quantidades estequiométricas de boro nesse sítio [Hawthorne,1996 e Bloodaxe, Hughes, Dyar, et alii., 1999]. Os anéis planares de tetraedros são ligados por dois tipos de octaedros, Z e Y, que dividem lados entre si. O octaedro Z é distorcido e ocupado por cátions trivalentes, como Al3+, Cr3+ e V3+, mas pode conter quantidades significativas de cátions bivalentes, como Mg2+ ou Fe2+. Os cátions do sítio Z servem como ligação entre os elementos estruturais com simetria de 120º em relação ao eixo c. O sítio Y é um octaedro relativamente regular, ocupado por vários cátions multivalentes, como Li1+, Mg2+, Fe2+, Mn2+, Al3+, Cr3+, V3+, Fe3+ e Ti4+. Estudos mais refinados mostram que todos ou quase todos os sítios Y estão ocupados [Hawthorne, MacDonald, Burns,1993, MacDonald, Hawthorne, Grice, 1993 e Taylor, Cooper, Hawthorne, 1995]. O sítio X é um antiprisma trigonal de coordenação nove, localizado ao longo do eixo c. É comumente ocupado por sódio, cálcio ou potássio em menores quantidades ou, ainda, pode estar desocupado. Há 31 ânions na fórmula, localizados em 8 sítios distintos, O(1) até O(8) [Donnay, Buerger, 1950]. Os sítios O(2) e O(4) a O(8) são ocupados, exclusivamente, por O2-. O sítio O(1), denominado de sítio W, na fórmula estrutural, está localizado ao longo do eixo c, central ao pseudo-anel hexagonal de tetraedros e pode conter OH1-, O2- ou F1-. Se O2- for dominante nesse sítio, é necessário existir uma ordenação de curto alcance nos sítios Y e Z, tal que eles são, respectivamente, ocupados por alumínio e magnésio [Hawthorne, Henry, 1999]. Os três sítios O(3), denominados de sítio V, geralmente contêm OH1-, mas, também, podem conter quantidades significativas de O2-. O sítio W é único porque F1- só ocupa esse sítio e O2- também tende a ocupá-lo em relação a OH1- [Grice, Ercit, 1993, MacDonald, Hawthorne, 1995].
Para apresentação das características mais detalhadas da estrutura cristalina das turmalinas, tomou-se, por base, a shorlita, cuja fórmula química é NaFe3Al6(Si6O18)(BO3)3(OH)3 OH. A Figura 1 apresenta essa estrutura no modelo de esferas rígidas, construído com os dados para as distâncias atômicas da WWW-MINCRYST - Crystallographic Database for Minerals (Card N. 4131) [Annon], com auxílio do programa Carrara Studio 3.0. Os raios iônicos e cristalinos foram tomados de (Shannon,1976).


Os silicatos, SiO4-, que formam hexágonos, são tetraedros quase regulares. As distâncias do silício para os oxigênios são: Si-O4 = 1,63 Å; Si-O5 = 1,64 Å; Si-O6 = 1,60 Å e Si-O7 = 1,61 Å. O4, O5 têm multiplicidade 3 e O6 e O7 têm multiplicidade 6. O6 é o oxigênio do ápice de cada tetraedro. Os O7 estão fortemente ligados aos seus pares dos hexágonos adjacentes, com distância de ligação O7-O7 de 1,38 Å. Esse fato se reflete no espectro de absorção do infravermelho, que apresenta três picos distintos para as ligações Si-O, de 900 a 1200 cm-1 (vide Figura 2).


Os BO3 são triângulos bem regulares, perpendiculares ao eixo c, formados por O2, O8 e O8, todos dentro da mesma célula unitária, com o boro no centro. As distâncias entre os oxigênios e o boro são: B-O2 = 1,37 Å, B-O8 = 1,38 Å, B-O8 = 1,38 Å. O2 é o oxigênio mais próximo do eixo c. Esses triângulos têm simetria de 120º em relação ao eixo c. Eles se encontram em um plano diferente dos tetraedros do silicato, distanciados 3,26 Å destes ao longo do eixo c. O boro exerce um papel importante na ligação entre as camadas de átomos ao longo do eixo c e na ligação com o alumínio da célula unitária adjacente. As ligações B-O são responsáveis pelo pico de absorção em torno de 1.250 cm-1 no espectro do infravermelho da turmalina.
O alumínio está ligado a 4 átomos da célula unitária à qual pertence (O6, O7, O8 e OH3) e a 2 átomos da célula unitária adjacente (O7 e O8). As distâncias entre o alumínio e seus vizinhos são as seguintes: dentro da mesma célula unitária, Al-O6 = 1,88 Å, Al-O7 = 3,41 Å, Al-O8 = 1,93 Å e Al-OH3 = 1,98 Å; dentro da célula unitária adjacente, Al-O7 = 3,59 Å e Al-O8 = 1,91 Å. Trata-se de um octaedro bastante distorcido. Devido à distância das ligações com os oxigênios, vê-se que as ligações com os anéis hexagonais de silicatos (Si-O7) têm caráter iônico e devem ser fracas. Entretanto a ligação com os O8, tanto da célula à qual pertence, quanto da célula adjacente, tem quase a mesma distância. Vê-se que o alumínio exerce o seu papel na ligação entre células adjacentes no plano perpendicular ao eixo c através da ligação Si-O8. As absorções em torno de 700 cm-1 no espectro do infravermelho são atribuídas à ligação Al-O.
O ferro também ocupa um octaedro. Porém ele se liga somente a átomos da célula unitária à qual pertence. Esses átomos e as respectivas distâncias do ferro são: Fe-O2 = 2,01 Å, Fe-O2 = 2,01 Å, Fe-O6 = 2,05 Å, Fe-O6 = 2,16 Å, Fe-OH1 = 2,07 Å, Fe-OH3 = 2,17 Å. Trata-se de um octaedro quase regular. O ferro é importante para a ligação entre as camadas de átomos ao longo do eixo c.
O sódio e o OH1 se alternam ao longo do eixo c. A distância entre eles é 4,03 Å dentro de uma célula unitária. Porém a distância do OH1 para o sódio, na célula unitária adjacente, é 3,16 Å. Essa distribuição não uniforme de cargas positivas e negativas ao longo do eixo c traz conseqüências para as propriedades elétricas da turmalina. AFigura 3 apresenta a distribuição de sódio e OH1 ao longo do eixo c. Os átomos de ferro também estão mostrados. Vê-se que eles impõem uma restrição aos movimentos do OH1 ao longo do eixo c, que tem mais liberdade para se aproximar do sódio da célula unitária vizinha. Com o aumento das vibrações térmicas, espera-se que a distância entre sódio e OH1, dentro de uma célula unitária, tenda a aumentar, enquanto que a distância entre o sódio e o OH1 de células unitárias adjacentes ao longo do eixo c tenda a diminuir.


Há quatro hidroxilas na fórmula da turmalina. Uma delas, denominada OH1, ocupa o sítio W e se encontra no eixo c, como visto anteriormente. As outras três hidroxilas, denominadas OH3, ocupam o sítio V e formam um triângulo em torno do eixo c. Elas fazem parte, simultaneamente, dos octaedros do ferro e do alumínio. Na Figura 2, os picos entre 3500 e 3600 cm-1 são atribuídos às OH3 e os picos entre 3620 e 3700 cm-1 às OH1.

3. A piroeletricidade na turmalina
Em um meio dielétrico anisotrópico (monocristal), a relação linear entre a indução (D) e a intensidade do campo elétrico (E) é [Landau e Lifshitz,1971]:
Di = Doi = eik . Ek
(1)
onde  é um vetor constante. O conjunto das grandezas eik forma um tensor de segunda ordem - tensor de permeabilidade dielétrica (ou tensor dielétrico). A maioria dos tipos de simetria cristalina não admite a presença de um vetor constante. A presença desse termo significa que o dielétrico está espontaneamente polarizado, mesmo na ausência de um campo elétrico exterior. Esses corpos são chamados piroelétricos. Entretanto a grandeza dessa polarização é sempre muito pequena em relação aos campos moleculares. Se ela fosse grande, levaria ao aparecimento de intensos campos dentro do cristal, o que não é favorável do ponto de vista energético e, assim, não corresponderia ao equilíbrio termodinâmico.
O efeito piroelétrico só é possível para algumas simetrias de cristais. Como para qualquer transformação de simetria as propriedades do cristal não devem se modificar, é evidente que somente cristais com uma direção invariável sob todas as transformações de simetria podem ser piroelétricos. É nessa direção que estará apontando o vetor constante . Apenas os grupos de simetria com um só eixo e dois planos de simetria que passam por esse eixo satisfazem essa condição, que é o caso do grupo espacial da turmalina, R3m.
Em condições ordinárias, os cristais piroelétricos não possuem momento dipolar elétrico total, embora a polarização dentro desses cristais não seja nula. Isso se dá porque, em um dielétrico polarizado espontaneamente, o campo  é diferente de zero. Como a condutividade elétrica da amostra, mesmo pequena, não é nula, a presença desse campo produz uma corrente elétrica que pode existir até que a aparição de cargas livres na superfície do corpo conduz ao desaparecimento do campo dentro da amostra. Os íons do ar se depositam sobre a superfície da amostra, favorecendo esse efeito. Podem-se observar as propriedades piroelétricas através de aquecimento dos corpos, quando o valor da sua polarização espontânea se altera e se observa essa variação.
No caso da turmalina, o vetor  só pode apontar na direção do eixo c, onde se encontram as hidroxilas OH1 e o sódio (vide Figura 2), respectivamente, posições X e W. As vibrações anarmônicas impostas ao sítio W pelos cátions nos sítiosY fazem com que o campo elétrico espontâneo, em torno de uma partícula de turmalina, tenda a crescer com a temperatura. Provavelmente seja essa a explicação para a piroeletricidade da turmalina. Note que, com as vibrações anarmônicas provocada pelo aumento da temperatura, a distância entre os sítios X e W tende a crescer dentro de uma célula unitária e a diminuir entre células unitárias adjacentes. Um cálculo de campo eletrostático demonstra que, quanto maior a diferença entre as distâncias dos sítios X e W, ao longo do eixo c, maior será o campo elétrico espontâneo da turmalina. Como já visto, Donnay G [1] observou vibrações anarmônicas no sítio W.

4. A emissão de infravermelho distante na turmalina
A teoria clássica para oscilações dos sistemas com vários graus de liberdade [Landau e Lishitz, 1971], no caso das vibrações anarmônicas, prevê que, às freqüências das oscilações normais próprias do sistema, de freqüênciawa ..., wb, se superpõem oscilações suplementares, de freqüência wa ± wb (entre elas as freqüências duplicadas e a freqüência nula, esta última correspondente a uma elongação constante). Ora, o espectro do infravermelho da turmalina revela oscilações da hidroxila OH1, no sítio W, entre 3628 e 3700 cm-1. Isso nos dá uma estimativa parawa - wb de aproximadamente 2.1012 s-1, com comprimento de onda de cerca de 0,1 mm, na faixa limite entre o infravermelho distante e as microondas, ou seja, pela mecânica clássica, espera-se de fato uma emissão pelos cristais de turmalina de ondas eletromagnéticas de freqüência da ordem de 2.103 GHz. Entretanto esse é um fenômeno de segunda ordem e deve ser de pequena intensidade. São necessárias medidas experimentais para se estimar a sua grandeza, de tal forma a justificar o seu emprego industrial.
Pela mecânica quântica, a solução da equação de Schrödinger para um oscilador anarmônico deve ser feita com auxílio da teoria das perturbações. Nesse caso, os níveis de energia para esse oscilador são [Landau e Lifshitz,1971]:
(2)
Para um oscilador harmônico, as diferenças entre os níveis de energia será sempre um múltiplo inteiro de hw. Porém, para um oscilador anarmônico, essa expressão mostra que, na medida em que n cresce, as transições entre os níveis energéticos se tornam menores, desde que b < 2a2/(3mw2), ou seja, um oscilador anarmônico terá transições de energia do tipo fn,n-1.hw, onde 0 < fn,n-1 < 1 e é decrescente com o aumento de n. Ele deve apresentar um espectro de freqüências que incluirá, desde a freqüência nula até freqüências próximas das suas oscilações normais. Esperam-se, portanto, emissões de infravermelho distante na turmalina, devido às oscilações anarmônicas no sítio W. Porém a intensidade dessas emissões deve ser pequena, porque as emissões estão distribuídas por todo o espectro eletromagnético com freqüências menores que as oscilações normais e os valores de a e b, devem ser pequenos. Da mesma forma, medidas experimentais são necessárias para estimativa da grandeza dessas emissões.

5. Conclusão
A construção de um detalhado modelo de esferas rígidas para a estrutura cristalina da turmalina revela que os sítios X e W estão, ao longo do eixo c, mais próximos entre si, quando estão em células unitárias adjacentes do que quando estão dentro da mesma célula unitária. Os cátions nas posições Y impõem oscilações anarmônicas ao sítio W, o que faz com que essa diferença entre os espaçamentos se torne ainda mais pronunciada com o aumento da temperatura. Isso explica, teoricamente, a piroeletricidade da turmalina e a emissão de infravermelho distante. Porém, esses são fenômenos de segunda ordem. Medidas são necessárias para verificar se as grandezas desses fenômenos podem explicar os usos industrias do pó de turmalina.

Prospecção aluvionar aplicada a alguns minerais gemológicos de Minas Gerais: diamante, crisoberilo e topázio*

Prospecção aluvionar aplicada a alguns minerais gemológicos de Minas Gerais: diamante, crisoberilo e topázio*

Mario Luiz de Sá C. Chaves
Prof. do IGC/UFMG e Pesq. do MHN/UFMG
E-mail: mchaves@igc.ufmg.br
Joachim Karfunkel
Prof. do IGC/UFMG e Pesq. do MHN/UFMG
Adolfo Baeta de Medeiros
Geólogo, Mestrando no IGC/UFMG
Ricardo Scholz
Geólogo, Doutorando no IGC/UFMG


Resumo
Prospecção aluvionar foi efetuada em drenagens de reconhecida ocorrência de três minerais gemológicos (diamante, crisoberilo e topázio), visando a contribuir para o conhecimento de suas associações mineralógicas e tendências de distribuição no meio aluvionar. Sob condições semelhantes, observou-se uma "taxa de dispersão" relativa para cada um dos três minerais, com provável decréscimo do diamante para o topázio. Essa técnica prospectiva, combinada com métodos analíticos modernos, é considerada uma ferramenta de importância fundamental na detecção e avaliação de áreas aluvionares mineralizadas.
Palavras-chave: prospecção mineral em aluviões, diamante, crisoberilo, topázio.
Abstract
Alluvial prospecting carried out in drenages in which three gem minerals (diamond, chrysoberyl and topaz) are mined, aimed to contribute to the knowledge of mineral associations and to the distribution trends in the fluvial systems. Under similar conditions, a "dispersion rate" relative to each mineral has been found, showing probably decreasing values from diamond to topaz. This technique, if improved by modern analytics, is of primary importance for determining and evaluating alluvial mineralized areas.
Keywords: alluvial mineral prospecting, diamond, chrysoberyl, topaz.


Introdução
A prospecção no meio aluvionar de minerais pesados com interesse econômico tem se revelado um importante instrumento na descoberta de novos depósitos, de modo particular em regiões intertropicais como a nossa, onde, em geral, o manto intempérico é bastante espesso. A aplicação dessa técnica, no entanto, é quase restrita a empresas que prospectam diamante, ouro, cassiterita e poucos outros bens minerais, limitando, assim, sua difusão na literatura geológica. Pesquisas efetuadas durante as décadas de 1970-80 mostraram, também, a utilidade dessa técnica em estudos, com ênfase nos minerais pegmatíticos de Minas Gerais (e.g., Cassedanne, 1972, Cassedanne & Baptista, 1984). No presente trabalho, através da amostragem sistemática de aluviões contendo minerais com interesse gemológico, objetivou-se conhecer as suas distribuições ao longo das drenagens atuais, bem como os seus comportamentos "relativos" na evolução do registro geológico.

Metodologia de estudo
A prospecção aluvionar tem por fim a obtenção de um resíduo mineral pesado, por bateiamento de sedimentos inconsolidados aprisionados em armadilhas naturais presentes no leito vivo dos rios. Objetivando futuras comparações, a mesma quantidade de material deve ser coletada nos pontos de amostragem (Cassedanne, 1972). No estudo, em cada ponto, 20 litros de aluvião foram amostrados e lavados, para retirada do material argiloso, e, logo após, peneirados a 2mm (com determinação à vista desarmada dos grãos mais grossos) e o resíduo fino foi concentrado em bateia. O pó mineral resultante, ou "fundo-de-bateia", foi utilizado para posterior estudo qualitativo e semi-quantitativo.
Em laboratório, esses minerais foram novamente peneirados e a fração entre 0,25-0,50mm foi submetida a tratamento com bromofórmio (d=2,89) para eliminação do material leve. As distintas populações foram separadas com lupa binocular, sendo os minerais de identificação duvidosa estudados por microssonda eletrônica. No tratamento estatístico dessas populações, utilizou-se a seguinte convenção de percentagens, seguindo a metodologia proposta em Chaves, (1997): Abundante (A): 75-100%, Comum (C): 25-75%, Raro (R): 1-25% e Muito raro (M): <1%.

Minerais pesados pesquisados
O estudo foi dirigido a três minerais gemológicos, ocorendo nas porções leste/nordeste de Minas Gerais (Figura 1) - diamante, crisoberilo e topázio. Foram visadas as áreas de cabeceiras de drenagens, onde a prospecção e/ou lavra desses minerais tem sido importante, em termos comerciais, ao longo das últimas décadas.

Figura 1 - Áreas onde foram desenvolvidos os trabalhos de prospecção aluvionar no centro-nordeste de Minas Gerais. 1) Alto/Médio Rio Jequitinhonha, 2) Ribeirão Santa Cruz e Rio Marambaia e 3) Ribeirão Maracujá.

Minerais pesados nos aluviões diamantíferos do rio Jequitinhonha
O rio Jequitinhonha nasce na serra do Espinhaço a leste de Diamantina, percorrendo um longo caminho pelo norte do Estado de Minas Gerais rumando para nordeste. Da nascente até a vila de Mendanha, o Jequitinhona desenvolve o seu alto curso, onde os vales são apertados, com freqüência formando canyons e sumidouros ao atravessarem domínios formados por quartzitos do Supergrupo Espinhaço (Mesoproterozóico). A partir de Mendanha (Figura 2), fora do Espinhaço, os vales tornam-se progressivamente mais abertos, aparecendo, em suas bordas, antigos terraços e extensa planície de inundação (Chaves & Uhlein, 1991).

Figura 2 - Esboço geológico (segundo Chaves 1997) e áreas de prospecção aluvionar no Rio Jequitinhonha ao norte de Diamantina.

Diamantes são lavrados nessa bacia desde suas cabeceiras até próximo de Grão Mogol, quase 600km rio abaixo, tanto por processos de garimpagem (no alto curso), como por dragas de grande porte (no médio curso), definindo a principal atividade econômica regional. Os diamantes do rio Jequitinhonha caracterizam-se por constituir populações onde os cristais são predominantemente pequenos (média de 0,20-0,30ct de peso), porém, bem formados e livres de jaças e/ou inclusões. Tipos geminados, agregados e borts são muito raros, denunciando o elevado grau de selecionamento dessas populações.
Nos depósitos aluvionares do rio Jequitinhonha, deu-se preferência às amostragens dos rejeitos de garimpos, mais ricos em minerais pesados. Como em geral as áreas de garimpagem envolvem trechos extensos ao longo da drenagem, em cada ponto o material foi sempre coletado em dois ou até em cinco locais diferentes. Apresentam-se as diversas espécies determinadas na Tabela 1. O diamante, por ser uma fase de extrema raridade (improvável de "aparecer" em uma prospecção desse tipo), não foi encontrado no estudo.

Tabela 1 - Freqüências dos minerais pesados nos aluviões diamantíferos do rio Jequitinhonha. 1, Almandina; 2, Anatásio; 3, Andalusita; 4, Cianita; 5, Crisoberilo; 6, Diásporo; 7, Estaurolita; 8, Euclásio; 9, "Favas" (fosfatos); 10, Hematita; 11, Ilmenita; 12, Lazulita; 13, Magnetita; 14, Monazita; 15, Ouro; 16, Pirita; 17, Rutilo; 18, Sillimanita; 19, Turmalina; 20, Xenotímio; 21, Zircão (A=abundante, C=comum, R=raro, M=muito raro).

Na região, o conhecimento dos minerais pesados teve como principal objetivo a caracterização de granadas supostamente relacionáveis a intrusões ultrabásicas, conforme aceito por diversos geólogos prospectores que atuam na serra do Espinhaço. Essa suposição não foi confirmada, pois as granadas estudadas apresentam quimismo incompatível com rochas ultrabásicas (25 grãos em WDS-Microssonda Eletrônica resultaram ser almandinas, de origem ácida). Entretanto diversos outros minerais quase desconhecidos, em termos regionais, como andaluzita, crisoberilo, diásporo e estaurolita, foram identificados no estudo (Tabela 1).

Crisoberilo (e topázio) nos minerais pesados dos rios Santa Cruz e Marambaia
A região de Catugi, ao norte de Teófilo Otôni (Figura 1), é cortada pelo ribeirão Santa Cruz, afluente do rio Marambaia. Este último é um tributário do rio Mucuri. Tal região, pouco estudada em termos geológicos, apresenta um grande número de depósitos aluvionares ricos em crisoberilo (localmente alexandrita), incluindo ainda outras drenagens importantes (do ponto de vista da presença desse mesmo mineral), tais como o ribeirão Faísca e o rio Americaninhas (Figura 3).

Figura 3 - Esboço geológico (segundo Fontes et al. 1978) e áreas de prospecção aluvionar no Ribeirão Santa Cruz e no Rio Marambaia a leste de Catugi.

Ao sul de Catugi, predominam rochas de natureza gnáissica, que constituem colinas extensas, localmente entrecortadas por morros altos com formas de pão-de-açúcar, as quais denunciam a presença de intrusões graníticas. O embasamento regional, gnáissico, é de idade pré-cambriana, mas ainda necessita de determinações geocronológicas mais acuradas, sendo constituído de gnaisses, gnaisses granitóides e migmatitos, além de charnockitos.
O "Complexo Gnáissico-Migmatítico" (Fontes et al., 1978) apresenta associações mineralógicas de grau metamórfico médio-alto, onde se deram intensos processos tectônicos e granitizantes. Gnaisses kinzigíticos mostram bandamento característico, com alternâncias de bandas leucocráticas, na maioria das vezes boudinadas, e bandas mesocráticas, com predomínio de minerais máficos. A granada almandina está quase sempre presente nos níveis félsicos, junto a quartzo, feldspatos e biotita. Como acessórios ocorrem cordierita, sillimanita e grafita. Rochas charnockíticas ocorrem intimamente associadas a esse complexo.
Os granitos, intrusivos nas rochas anteriores, são porfiríticos, isotrópicos e de granulação grossa, nos quais salientam-se cristais centimétricos de feldspato branco, determinado como albita, ou, ainda, feldspato rosado, potássico. A matriz é constituída de quartzo, feldspatos, biotita e, mais raramente, granada. Os pegmatitos podem ser considerados incomuns nessa região e os poucos observados são do tipo homogêneo, os quais não apresentam zoneamento interno.
Os rios da área possuem larguras variáveis entre 5-20m, com cascalhos basais que podem atingir mais de 1m de espessura. Apesar de os serviços de garimpagem também ocorrerem nos depósitos aluvionares, pela maior facilidade de lavra deu-se preferência aos depósitos coluvionares, que estão nas proximidades dos rios. Corpos pegmatíticos em lavra não foram considerados no estudo. A Tabela 2 relaciona os minerais encontrados na prospecção aluvionar.

Tabela 2 - Freqüências dos minerais pesados nos aluviões ricos em crisoberilo dos rios Santa Cruz e Marambaia. 1, Almandina; 2, Anatásio; 3, Andalusita; 4, Cordierita; 5, Coríndon; 6, Coríndon (safira); 7, Crisoberilo; 8, Crisoberilo (alexandrita); 9, Espodumênio; 10, Estaurolita; 11, Hematita; 12, Ilmenita; 13, Magnetita; 14, Monazita; 15, Ouro; 16, Pirita; 17, Rutilo; 18, Sillimanita; 19, Topázio; 20, Turmalina; 21, Xenotímio; 22, Zircão.

Nas amostragens, efetuadas ao longo dos rios Santa Cruz e Marambaia (Figura 3), verificaram-se minerais pesados com diferentes graus de arredondamento (mesmo os da mesma espécie), indicando processos de reciclagem, porém as espécies não apresentaram diferenças significativas entre si nos diversos pontos. Como os pegmatitos são raros na região e os minerais encontrados, como crisoberilo, coríndon (safira) e zircão, são bastante resistentes ao transporte fluvial, acredita-se que suas áreas-fontes situem-se à razoável distância e que os processos de concentração devem estar associados a retrabalhamentos de depósitos coluvionares sub-recentes.

Minerais pesados do ribeirão Maracujá
O ribeirão Maracujá tem as suas nascentes na serra do Rodrigo Silva, que integra o complexo metamórfico do Quadrilátero Ferrífero, constituindo uma das cabeceiras da bacia do Rio das Velhas. O longo período de colonização, iniciado no século XVII com a descoberta de aluviões auríferas (atualmente exauridas), deixou as encostas desnudas, aumentando as taxas de assoreamento no sistema aluvial, de direção geral N-S, perpendicular à estruturação E-W das seqüências metamórficas (Figura 4).

Figura 4 - Esboço geológico (segundo Dorr II 1969) e áreas de prospecção aluvionar no ribeirão Maracujá nas cercanias de Cachoeira do Campo.

O alto curso do ribeirão é desenvolvido sobre várias unidades de metamorfitos, datadas do Arqueano ao Paleoproterozóico, pertencentes respectivamente aos supergrupos Rio das Velhas e Minas. Em seus médio e baixo cursos afloram rochas do complexo basal arqueano, na região designado de "Complexo do Bação" (Dorr II 1969). Essa unidade na área é composta por gnaisses com estruturas migmatíticas e, raramente por rochas de composição granítica mais homogêneas, pouco ou não orientadas, que cortam os migmatitos mostrando contatos intrusivos.
O Supergupo Rio das Velhas, principal fonte do ouro aluvionar da região, aflora em discordância angular sobre o embasamento cristalino, sendo na área constituído por xistos e filitos intensamente meteorizados. O Supergrupo Minas ocorre em discordância angular sobre esta última unidade, sendo formado, na base, por uma estreita faixa do Grupo Caraça (quartzitos e xistos quartzosos), na porção intermediária, pelo Grupo Itabira com suas formações Cauê (itabiritos) e Gandarela (filitos e rochas metacarbonáticas) e, no topo, por uma extensa porção de rochas do Grupo Piracicaba (filitos com intercalações de quartzitos).
A prospecção aluvionar na região do Quadrilátero Ferrífero torna-se prejudicada pela abundância de óxidos de ferro nos concentrados, podendo constituir mais que 95% deles. Mesmo nas porções do ribeirão Maracujá que estão acima do nível itabirítico (Formação Cauê), a presença de óxidos é abundante pela presença de lentes de quartzitos ferruginosos intercaladas no Grupo Piracicaba. A existência desses minerais tornou mais demorado o processo de separação dos concentrados no laboratório.
A amostragem, em seis pontos ao longo da drenagem (Figura 4), indicou a presença de topázio, comum na cabeceira, diminuindo progressivamente em direção aos outros pontos. O euclásio assim como cinábrio são acompanhantes raros do topázio na área, só encontrados nas partes altas. Isto indica que a rocha-fonte está na serra do Rodrigo Silva, não havendo novas contribuições a partir dos subafluentes. Interessante ainda observar que o topázio desaparece de todo a curta distância (±10km), devendo refletir seu esfacelamento na clivagem basi-pinacóide perfeita. O ouro é um outro mineral característico da área (Tabela 3).

Tabela 3 - Freqüências dos minerais pesados nos aluviões topazíferos do ribeirão Maracujá. 1, Almandina; 2, Anfibólio; 3, Cianita; 4, Cinábrio; 5, Estaurolita; 6, Euclásio; 7, Goethita; 8, Hematita; 9, Ilmenita; 10, Magnetita; 11, Monazita; 12, Olivina; 13, Ouro; 14, Óxido de manganês; 15, Pirita; 16, Pirita limonitizada; 17, Rutilo; 18, Topázio (imperial); 19, Turmalina; 20, Zircão.

Discussões
Os minerais pesados de interesse econômico constituem fases acessórias em rochas ígneas, metamórficas e sedimentares. Sua ocorrência e dispersão nos sedimentos varia em função das condições de intemperismo da área-fonte e dinâmica de transporte. Da maior importância, ainda, são os teores e as granulometrias originais dos minerais na fonte e, principalmente, da resistência física e química deles aos agentes naturais. Logo, a identificação das espécies presentes em certo sedimento permite não só conhecer sua(s) fonte(s), como também os diversos estágios da evolução do registro sedimentar, visto que tal evolução atua no sentido da eliminação progressiva dos tipos menos resistentes. Pettijohn (1957) apresentou uma escala de estabilidade química, destacando zircão e rutilo como as fases mais estáveis in situ (Tabela 4), desconsiderando, porém, os fatores que agem no transporte aluvionar.

Tabela 4 - Séries de estabilidade de alguns minerais pesados em função do ataque de agentes químicos em sedimentos in situ (Pettijohn, 1957).

Os dados obtidos sobre a distribuição dos minerais estudados trouxeram importantes deduções a respeito da formação dos depósitos onde se encontram. Dessa maneira, as propriedades físicas e químicas particulares do diamante, tais como dureza inigualável e alta estabilidade química (que o fazem resistir aos processos intempéricos e metamórficos), permitem que esse mineral sobreviva continuamente ao longo do registro geológico. Entretanto existe uma sistemática redução no tamanho médio dos cristais a partir de sua área-fonte, como resultado do transporte fluvial. Tal redução no tamanho, porém, é acompanhada pela melhoria gemológica dos diamantes, visto que os tipos de qualidade inferior são destruídos (Sutherland, 1982).
Assim, depósitos de diamantes economicamente viáveis podem ocorrer em locais a centenas de quilômetros desde sua área-fonte primária e o rio Jequitinhonha é um bom exemplo de tal fato. O único fornecedor do mineral para este rio é o Conglomerado Sopa, do Supergrupo Espinhaço. No entanto, tal rocha já é um "paleo" sedimento aluvionar e, provavelmente, sobreveio antes desse outros ciclos sedimentares (Chaves, 1997, Chaves et al., 1998). Ao longo do Jequitinhonha, os teores médios de diamante decrescem de 0,5-1,0ct/m3 nas cabeceiras até cerca de 0,008ct/m3 na zona de dragagem da Cia.Tejucana, quase 100km abaixo de Mendanha. Conforme mostrado no estudo, nenhum outro possível mineral cogenético sobreviveu aos múltiplos processos de erosão e sedimentação ocorridos.
Em relação ao crisoberilo, os estudos demonstraram que tal mineral, apesar de sofrer arredondamento, é muito mais resistente do que já descrito. Sua ocorrência no Médio Jequitinhonha, a dezenas de quilômetros das áreas de afloramento de rochas graníticas ácidas (Complexo Basal da região de Gouveia), onde não se conhecem pegmatitos mineralizados, faz supor que essas últimas rochas foram em grande parte erodidas preteritamente à sedimentação cenozóica. Deve ser destacado, que, nas zonas mais próximas ao Complexo Basal, tem sido encontrado euclásio (Chaves & Karfunkel, 1994), outro mineral gemológico de fonte pegmatítica, que, possuindo várias direções de clivagem perfeita, é facilmente pulverizado durante o transporte fluvial.
Ao longo dos rios Santa Cruz e Marambaia, o mesmo processo se verifica. Embora as zonas pegmatíticas mineralizadas nessa região terem sido em grande parte erodidas (Cassedanne & Baptista, 1986), o crisoberilo (e sua variedade alexandrita) ocorre em depósitos economicamente importantes em muitas áreas, pois numerosos afluentes drenaram ou drenam as suas (paleo) áreas-fontes. Essa proximidade relativa da(s) fonte(s) é corroborada pela existência comum de topázio (incolor/azul), inclusive em seixos rolados, além de outros minerais "frágeis", como xenotímio e outros fosfatos.
No conhecimento da distribuição de topázio no ribeirão Maracujá, a prospecção aluvionar mostrou-se também de grande utilidade. Na zona serrana do alto curso desse rio, ocorre sua rocha-fonte entre as formações Cercadinho e Fecho do Funil (Gandini, 1994). Os depósitos aluvionares mais ricos no mineral estão concentrados até o sopé da serra, sendo, inclusive, verificados pequenos serviços de garimpagem clandestina (as áreas são de concessão para pesquisa e/ou lavra de mineradoras de ferro). Entretanto, em espaço bastante curto, a mineralização desaparece, indicando que não existem novos aportes de topázio a partir dos afluentes.

Conclusão
O estudo procurou demonstrar que, principalmente em função de suas propriedades físico-químicas, cada mineral vai possuir a sua "taxa de dispersão" própria e que o conhecimento dessa taxa pode definir critérios para a pesquisa aluvionar. Assim, corroborando outros estudos (e.g. Chaves, 1997; Chaves et al., 1998), o diamante é registrado em locais onde inexistem rochas-fontes, o crisoberilo pode apresentar fontes longínquas e o topázio só ocorre em sítios com área-fonte próxima. A prospecção enfocando bens gemológicos em regiões onde suas ocorrências são bem conhecidas, é uma técnica de grande utilidade, não só visando determinar a distribuição espacial da mineralização, como também, em províncias minerais onde achados "casuais" são freqüentes, para ser aplicada na busca sistemática de novos depósitos. Deve-se, ainda, salientar que a mesma técnica pode também servir na cubagem dos depósitos, bastando o adensamento da malha dos pontos de amostragem de campo.


As minas de diamante e o meio ambiente

As minas de diamante e o meio ambiente
Por Pedro Jacobi 
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A primeira coisa que um    visitante vê, na maioria das minas de diamantes a céu aberto, é o tamanho    impressionante da cava. A lavra de um kimberlito deixa uma profunda e feia    cicatriz na superfície da Terra, que penaliza a mineração como um todo. A    imagem ao lado é da mina Mir na Sibéria, com 525 metros de profundidade e que    produzia duas toneladas de diamantes por ano. Mir foi fechada em 2001 e desde    então nada foi feito para mitigar o impacto ambiental causado.
Foi    pensando nesse impacto que várias empresas de mineração se engajaram em    programas de recuperação ambiental. Na maioria das vezes é preciso trabalhar    uma área bem maior do que a área da cava para poder compensar pela cicatriz    que, possivelmente, será eterna.
Foi assim que a De Beers criou um programa    chamado de Diamond Route, que visa recuperar o meio ambiente e preservar a    biodiversidade dentro das áreas dos direitos minerais. Como as áreas legais    são muito maiores do que as áreas ocupadas pelas minas, a De Beers está se    propondo a mantê-las indefinidamente através do programa Diamond Route.
  Farão parte do projeto as áreas de:


• The Ezemvelo Nature reserve perto de    Johannesburg
• Kimberley
• Dronfield
• Rooiport Nature Reserve
•    Namaqualand
• Tswalu Kalahari Reserve perto de Korannaberg Mountains
•    Venetia Limpopo Nature Reserve
• Benfontein

A De Beers estará    engajando as comunidades locais e várias entidades que irão fornecer    treinamentos e cursos aos interessados em participar na conservação.
Um    projeto similar está sendo feito pela Rio Tinto na recuperação de Argyle, sua    mina australiana que é a maior mina de diamantes do mundo. Em Argyle as    operações receberam o certificado ISO14001 de gerenciamento ambiental. As    operações visam mitigar e remediar os impactos ambientais através de

•    Uso e conservação da água e da energia
• Proteção do meio ambiente e das    espécies vegetais e animais
• Gerenciamento de espécies exóticas e    erradicação de espécies não nativas
• Cursos de consciência ambiental entre    trabalhadores
• Proteção dos locais indígenas

               

martha
foto da   recuperação de uma barragem de rejeitos em mina onde foram minimizados   os impactos consideravelmente
 
 


A recuperação de minas é um assunto importante e deve    fazer parte do orçamento da lavra aprovado pelo Ministério de Minas e Energia.    Neste relatório a empresa deve informar especificamento qual o plano de    recuperação dos estragos ambientais feitos durante a vida útil da mina.    Possivelmente a empresa deverá ter que recuperar uma área bem maior do que    aquela afetada.