domingo, 1 de junho de 2014

Níquel : uma Riqueza de Goiás

Níquel : uma Riqueza de Goiás





Resumo: O níquel, conhecido desde a Antiguidade, é um metal que por suas propriedades é amplamente utilizado pelo Homem Moderno. A recuperação da economia mundial e o desenvolvimento da China são responsáveis por uma substancial demanda e aumento do preço desse metal. Isto tem levado mundialmente a aplicação de vultosos investimentos privados na pesquisa, implantação e expansão de unidades de produção de níquel. Neste contexto, Goiás por ser o maior produtor de níquel com 82% da produção nacional e deter 74% das reservas brasileiras, tem um incremento substancial em sua receita e balança de exportação, e  é alvo privilegiado do investimento de mais de 3,0 bilhões de reais no Pólo Mínero-Metalúrgico de Niquelândia-Barro Alto e na Província Niquelífera do Oeste Goiano.

Palavras-Chave: níquel, minério  de níquel, produção de níquel, usos do níquel, reservas de níquel, Pólo Mínero-Metalúrgico de Niquelândia-Barro Alto. 

I – Introdução

O níquel (Ni), encontrado em alguns minerais, é um elemento químico, metálico, cuja concentração na superfície terrestre é da ordem de 0,008%. Tem uma cor  branco-prateado, e suas características como ductibilidade, maleabilidade, elevado ponto de fusão, 1453º C,  grande resistência mecânica à corrosão e a oxidação atribuem-lhe  uma diversidade de usos.
O uso do níquel pelo homem é conhecido desde a Antiguidade. A presença do níquel na composição de moedas japonesas de 800 anos A C., gregas de 300 anos A C., e em armamentos de  300 ou 400 anos A C. são  os primeiros registros de uso desse metal  pelo homem.
No entanto, a utilização do níquel no processo industrial verifica-se somente após a obtenção da primeira amostra de metal puro por Richter em 1804, e do desenvolvimento da liga sintética de ferro-níquel por Michael Faraday e associados em 1820. Em 1870, Fleitman descobre que a adição de uma pequena quantidade de magnésio tornava o níquel maleável, e em 1881 é cunhada a primeira moeda de níquel puro.
Estas conquistas definem o início de uma era industrial de uso e aplicação intensiva do níquel, tendo com base as ligas desse metal não só com ferro, mas com outros metais como cobre, magnésio, zinco, cromo, vanádio e molibdênio.
Paralelamente ao desenvolvimento dessas ligas e usos, pesquisas de fontes minerais de suprimento de níquel (jazidas minerais), bem como de processos de beneficiamento mineral e refino (metalurgia) tem sido exaustivamente desenvolvidos. Assim, desde a Antigüidade, o níquel é objeto de estudo e pesquisa quanto as suas propriedades químicas e físicas e ampliação do seu campo de aplicação.
Atualmente a presença e o uso do níquel é cada vez maior na vida do homem moderno. É utilizado em diversas ligas, como o aço inoxidável, em galvanização, fundições, catalisadores, baterias, eletrodos e moedas, figuras 1 e 2. Dessa forma, o níquel está presente em materiais, produtos e equipamentos de transporte, bélicos, equipamentos eletrônicos, produtos químicos, equipamentos médico-hospitalares, materiais de construção, equipamentos aeroespaciais, bens de consumo duráveis, pinturas, e cerâmicas.
Figura 1
Principais aplicações do Níquel
Figura 2
Uso de Níquel na indústria




Diante dessa enorme diversidade de usos industriais a que se serve, fica evidente que o níquel é um metal imprescindível à sociedade industrial moderna e de uma importância estratégica para muitos países.
II – Contexto Mundial do Níquel
2.1 – Reservas Mundiais
O níquel  é encontrado em minerais sulfuretos, silicatados, arsenetos e oxidados. O teor de níquel no mineral e a concentração desse mineral em uma área bem definida e relativamente pequena na crosta terrestre definem os depósitos minerais que são explorados de acordo com suas reservas, e dessa forma constituem fontes de suprimento das demandas existentes. 
As reservas mundiais de níquel em 2003 foram definidas por depósitos minerais que ocorrem em vários países. Neste contexto Austrália, Cuba e Canadá representam 46% do total das reservas mundiais  atualmente conhecidas. Segue a esses, países  como Brasil, Colômbia China, Grécia, Indonésia, Nova Caledônia, África do Sul e Rússia, Quadro 1.

Quadro 1
 Reservas e Produção Mundial
Discriminação
Reservas
Produção (t)
Países
2003
%
2002
2003(1)
%
Brasil
8.300
5,90
44.928
45.160
3,20
Austrália
27.000
19,30
211.000
220.000
15,70
Cuba
23.000
16,40
73.000
75.000
5,40
Canadá
15.000
10,70
178.338
180.000
12,90
Indonésia
13.000
9,30
122.000
120.000
8,60
Nova Caledônia
12.000
8,60
99.650
120.000
8,60
África do Sul
12.000
8,60
38.546
40.000
2,90
Rússia
9.200
6,60
310.000
330.000
23,60
China
7.600
5,40
54.500
56.000
4,00
Filipinas
5.200
3,70
26.532
27.000
1,90
República Domincana
1.000
0,70
38.859
39.000
2,80
Colômbia
1.000
0,70
58.196
65.000
4,60
Botwana
920
0,70
20.005
18.000
1,30
Outros Países
4.780
3,40
64.446
64.840
4,60
TOTAL
140.000
100,00
1.340.000
1.400.000
100,10
Fonte: Mineral commodity Summaries - 2004



Notas: (1) Inclui reservas medidas e indicadas, em níquel contido, (2) Dados de produção de Ni contido no minério, (r) Revisão, (p) Preliminar









2.2 – Reservas Brasileiras
No Brasil as reservas de níquel aprovadas  pelo DNPM encontram-se nos estados de  Goiás (74,0%), Pará (16,7%), Minas Gerais ( 5,1%) e Piauí (4,2%). O recente desenvolvimento de projetos de pesquisa mineral em novos alvos, como também em depósitos minerais conhecidos, não só nesses estados, mas também em Mato Grosso, segundo o DNPM, é responsável pelo aumento das reservas brasileiras de níquel e sua elevação para 8a posição no ranking mundial, Quadro 2.
Quadro 2
Reservas Brasileiras de Níquel (Medidas)
UF
Minério (t)
Ni Contido
Teor (%)
GO
228.415.454
3.380.549
1,48
PA
45.560.000
797.148
1,83
PI
20.007.510
314.118
1,57
MG
9.034.016
140.027
1,55
Total
301.016.980
4.631.842
1,61
Fonte: DNPM – Sumário Mineral - 1999
2.3 – Produção Mundial
Segundo dados do Mineral Commodity Summaries de 2004, a produção mundial de níquel em 2003 foi da ordem de 1.400.000 toneladas de Ni contido no minério, representando um aumento de 6,2% em relação a 2002, Quadro 1. A Rússia é o maior produtor, seguida pelo Canadá. O desenvolvimento de processos mais rentáveis e eficientes de beneficiamento mineral do chamado minério laterítico tem sido responsável por novos patamares na produção de níquel na Austrália principalmente, e em outros países como o Brasil. Neste contexto, a produção brasileira, 9a no ranking dos produtores mundial, foi de 45.600 mil toneladas de níquel contido em ligas de ferro-níquel, níquel eletrolítico e matte de níquel produzidas pela Cia Níquel Tocantins,  Codemin S.A e Mineração Serra de Fortaleza.
2.4 –Mercado Mundial (Exportação e Importação)
O consumo mundial de níquel ultrapassou 1,0 milhão de toneladas em 2003. Os maiores consumidores desse metal em todas as suas formas são  Noruega, Alemanha, Finlândia, Estados Unidos, Alemanha e o Japão. Os países da América do Norte e da Europa consomem 43% do total mundial, enquanto os países do sudeste asiático participam com 38,6% do consumo mundial.  O Japão é o maior consumidor mundial, e a Coréia do Sul, Taiwan e China vêm apresentando crescimento significativo no consumo de níquel.
O consumo brasileiro de níquel, segundo o Balanço Mineral Brasileiro 2001,  atingiu em 2000 cerca de 14 mil t/ano, ou 1,5% do níquel consumido no mundo. Em 2003, o país importou semimanufaturados de níquel da Rússia, Finlândia, Cuba, Alemanha, e manufaturados de níquel dos Estados Unidos, Canadá, Suécia, Alemanha e Reino Unido.
2.5 – Preço & Valor da Comercialização
A diversidade e a importância estratégica  do uso do níquel,  aliados ao crescimento atual da demanda determinada pela recuperação da economia mundial e principalmente pelo processo industrial da China são responsáveis pelo  crescente  e consistente aumento no preço desse metal.   Dessa forma a cotação da tonelada de níquel passa de 4 mil dólares em  1998 para 15 mil dólares em julho de 2005, figura 3.

Considerando o preço da tonelada de níquel entre  12,0  a 18,0 mil dólares, em 2003, segundo a cotação da London Metal Exchange (LME), figura 3, e a produção neste mesmo ano de 1,4 milhão de toneladas de níquel, segundo  Mineral Commodity Summaries de 2004, Quadro 1, a comercialização desse metal atingiu entre 16,8 bilhões a 25 bilhões de dólares. No Brasil considerando a produção de 45.160 toneladas de níquel, neste mesmo ano, estima-se um  faturamento da ordem de 542 milhões a 812 milhões de dólares.
Figura 3
Preço do Níquel


 
III –Níquel em Goiás

As dimensões das reservas de níquel (74% das reservas brasileiras(, da produção e o valor da comercialização de níquel no estado de Goiás constituem um dos pilares do desenvolvimento da industrial extrativa mineral e importante elo da cadeia produtiva brasileira do níquel e da siderurgia nacional. Atualmente a comercialização  da produção de níquel em Goiás alcançou mais de 39 milhões de reais neste primeiro semestre de 2005, representando assim o primeiro item da pauta de exportações da indústria extrativa mineral do estado.

3.1 -  Reservas

As reservas de minério de níquel em Goiás são da ordem de aproximadamente 300 milhões de toneladas, a um teor médio de 1,48 % de níquel metálico, Quadro 3. Localizam-se tanto no norte como no oeste do estado, constituindo o Pólo Mínero-Metalúrgico de Niquelândia-Barro Alto e Província Niquelífera do Oeste respectivamente, figura 4. Estas reservas são objeto de uma pujante mineração no  Pólo Mínero-Metalúrgico Niquelândia-Barro Alto e de pesquisa mineral e implantação de projeto de mineração na Província Niquelífera do Oeste.
Figura 4
Localização das Minas e Principais Depósitos de Níquel de Goiás


Quadro 3
Reservas de Níquel em Goiás (medidas)
Município
Minério (t) x 103
Teor (%)
Americano do Brasil
22,66
0,69
Barro Alto
855,92
1,89
Iporá
198,95
1,47
Jaupaci
176,45
1,31
Jussara
795,81
1,48
Montes Claros
944,35
1,26
Niquelândia
1.215,32
1,56
Total
3.312,37
-













Fonte: DNPM – Sumário Mineral - 1999

3.2 – Produção

O estado de Goiás produziu em 2004 no Pólo Mínero-Metalúrgico de Niquelândia-Barro Alto 26.356 toneladas de níquel contido em ligas de ferro-níquel e carbonato de níquel, Quadro 4, representando em torno de 82% da produção nacional de níquel contido.
Quadro 4
Produção e Comercialização do Níquel – Goiás
Ano
Produção (t)
Comercialização (t) **
Valor da Comercialização
 R$ x 103
2003
24.564
24.662
197.506
2004
26.360 *
26.517
291.687 ***
Fonte: DNPM/Seplan-Go-Sepin – 2005
* Preliminar    ** Níquel contido na liga de ferro-níquel  *** estimativa considerando o valor médio de US$ 11 mil / t
Os primeiros registros da ocorrência de níquel no Pólo Mínero-Metalúrgico de Niquelândia-Barro Alto remontam de 1908, com a descoberta por dois prospectores, Helmut e Freimund Brockes, do minério laterítico na região da Serra da Mantiqueira em Niquelândia.
As atividades de extração do minério e produção metalúrgica neste Pólo só iniciaram a partir de 1980, após as pesquisas minerais nas décadas de 60 e 70. Atualmente são responsáveis por toda atividade de mineração e metalurgia do níquel no Pólo Mínero-Metalúrgico de Niquelândia-Barro Alto duas empresas de grande porte, Cia Níquel Tocantins-CNT e a Codemin S.A.
A CNT, do Grupo Votorantin, produz em Niquelândia-GO o carbonato de níquel que é totalmente processado em São Miguel Paulista-SP para a obtenção do níquel eletrolítico. Deste processo, além do níquel eletrolítico é obtido o cobalto eletrolítico. Em 2004 a  CNT produziu um total de 19.741 toneladas de níquel eletrolítico, sendo dessa forma o maior produtor nacional, Quadro 5.
Quadro 5
Produção Goiana de Níquel (t) por empresa
Empresa
2003
2004
Variação (%)
Codemin (1)
6.408
6.492
1,3
Cia Níquel Tocantins (2)
18.155
19.741
8,7
Total
24.563
26.223
6,3
Fonte: ABAL/ABRAFE/SNIEE in: Brasil Mineral, nº 240
A CODEMIN S.A., empresa do Grupo AngloAmerican, produz em Niquelândia-GO ligas de ferro-níquel, que em 2004 alcançou 6.492 toneladas de níquel contido nesta liga, Quadro 5.
3.3 – Mercado Consumidor e Comercialização
As exportações brasileiras de níquel, em sua maior parte oriunda de Goiás e incluindo ferro-níquel, ligas de níquel em forma bruta, mattes de níquel, sinters de óxido de níquel, catodos de níquel e  resíduos de níquel são realizadas principalmente com a Alemanha, Japão, Bélgica, Finlândia, Estados Unidos. Outros compostos químicos, incluindo aqui óxido niqueloso, hidróxido de níquel e sulfato de níquel, têm como mercados a Bélgica, Alemanha, Espanha, Estados Unidos e Argentina.  Nos últimos anos, essas exportações têm rendido entre 150 a 200 milhões de dólares de divisas ao país.
No mercado interno, constituído predominantemente pelos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, o níquel é consumido na forma de ferro-níquel e de níquel eletrolítico. A siderurgia é o setor de maior demanda pelo metal, consumindo 80% da produção que se destina à fabricação de aço inoxidável. O restante é destinado ao fabrico de outros tipos de aços, a artefatos como galvanoplastia, alpacas (ligas metálicas) e outros produtos, Quadro 6.

Quadro 6 –
Principais Estatísticas/Brasil

Discriminação
2001(r)
2002 (r)
2003(P)
Produção:
Minério / Níquel contido
(t)
3.916.210/45.456
3.876.687/44.928
3.827.096/45.160
Ni contrido no carbonato
(t)
17.063
18,1
18406
Ni contido no Matte
(t)
10.183
6289
5962
Ni eletrolítico
(t)
17.663
17676
189155
Ni contido em liga Fe-Ni
(t)
5.768
6011
6409
Importação
Semi + manufaturados
(t)
9.781
13845
16514

(10³ U$$-FOB)
83,954
98,97
150,753
Compostos químicos
(t)
1509
1237
1021

(10³ U$$-FOB)
3,063
2577
2851
Exportação
Bens Minerais (concentrado)
(t)
0
0
192

(10³ U$$-FOB)
0
0
10
Semi + Manufaturados
(t)
32.481
28.990
26.375

(10³ U$$-FOB)
112,885
114,015
146,525
Compostos químicos
(t)
310
468
295

(10³ U$$-FOB)
309
438
389
Níquel  contido
(t)
10.314
15.255
20.916
Preço Médio
Ferro Níquel*
(U$$/t-FOB)
1,870.93
1,954.13
2595,14
Níquel Eletrolítico*
(U$$/t-FOB)
6,316.83
6,734.47
10,251.90
Sinters de óxido de níquel*
(U$$/t-FOB)
5,655.57
5,812.67
8,529.76
Fonte: DNPM-DIRIN, SECEX- D.T.I




Notas: (1) Produção+Importação-Exportação, foi utilizado com base de cálculo em 2003: Produção: 30.777 t

Importação: 16.514t (exceto compostos químicos por não obter dados de Ni contido);
Exportação: 26.375t (sendo 18.241 t oriundo das empresas: Cia Níquel Tocantins 11.349 t, Codemin 1.000 t e Min.  Serra da Fortaleza 5.892 t)
(*) Preço médio base exportação
(r) Revisão (p) Previsão.
Em Goiás considerando os dados de comercialização de níquel contido na liga de ferro-níquel e carbonato de níquel apresentados pelo DNPM e uma média de preços por toneladas da LME, os valores estimados em relação a 2003 e 2004, são da ordem de 197,506 milhões de reais e 291,687 milhões de reais respectivamente, Quadro 4.
3.4 – Investimentos & Perspectivas de Desenvolvimento em Goiás
Diante do cenário mundial de forte demanda de consumo por níquel e cotação recorde de seu preço na Bolsa de Metais de Londres a partir de 1998, figura 3, a produção de níquel é atualmente um dos principais focos mundiais de investimentos privados no segmento de commodities minerais. Neste contexto, Goiás por suas reservas, características do minério, localização, logística e política estadual para o setor mineral, é o estado brasileiro com um dos maiores investimentos privados, mais de 3,0 bilhões de reais, em  pesquisa, implantação e expansão da produção brasileira de níquel.
A maior parcela desses investimentos está sendo aplicada no Pólo Mínero-Metalúrgico Niquelândia-Barro Alto, figura 4. A Codemin S.A., no projeto da mina de Barro Alto, tem programado investimentos da ordem de R$ 2,23 bilhões, multiplicando em oito vezes sua capacidade de produção em 2007. A Cia Níquel Tocantins tem como investimentos R$ 900 milhões em sua jazida de Niquelândia, sendo R$ 300 milhões direcionados a uma nova logística para a lavra, ampliação da jazida e modernização do sistema de abastecimento do minério, objetivando o aumento da produção para 23 mil toneladas em 2007, o que representa um incremento de 24% na produção. Os R$ 600 milhões restantes serão destinados à implantação do projeto ferroníquel também em Niquelândia.
A Província Niquelífera do Oeste, conjunto de depósitos minerais de níquel conhecido desde as décadas de 60 e 70, e uma das maiores reserva do país, figura 4, é palco de pesquisas minerais visando à pré-viabilidade e implantação de exploração do minério por parte de empresas de grande porte. A implantação do Projeto Americano do Brasil pela Prometálica Mineração Ltda marca o início da exploração das reservas de níquel nesta província. Este projeto orçado em 62 milhões de reais, iniciou suas obras em 2004 e o começo das operações de produção está previsto para o primeiro semestre de 2006.
Em relação aos outros depósitos dessa Província, desde de 2003 importantes projetos de pesquisa e reavaliação de suas reservas de níquel estão sendo desenvolvidos por empresas de mineração de grande porte, que têm aportado vultosos investimentos nesta fase de risco. A Cia Vale do Rio Doce, depois de 20 anos ausente de Goiás, vem desenvolvendo a reavaliação das reservas do depósito de Santa Fé que, juntamente ao Projeto do Vermelho em Carajás (PA) e São João do Piauí (PI), deverá constituir o programa de produção de níquel desta companhia.
De forma semelhante, os depósitos de níquel de Jussara, Montes Claros e Iporá são objeto de reavaliação e pré-viabilidade visando à implantação de unidades de produção de níquel pela empresa canadense Teck-Cominco, e pela Cia Níquel Tocantins do Grupo Votorantin. A se confirmar a viabilidade da exploração dessas reservas, a região será palco de investimentos privados e geração de renda e postos de trabalho semelhantes aos que ocorrem no Pólo Mínero-Metalúrgico de Niquelândia-Barro Alto.
Este cenário de investimentos recentes, mais de 3,0 bilhões de reais, constitui um singular e expressivo incremento de indução do processo de interiorização do desenvolvimento econômico e social do estado propiciado singularmente pela mineração, mais especificamente às regiões onde ocorrem as minas e os depósitos minerais de níquel como o  Pólo Mínero-Metalúrgico de Niquelândia-Barro Alto e Província Niquelífera do Oeste.
Está indução é comprovada hoje em Niquelândia onde a atividade mínero-metalúrgica, que teve início na década de 80, é responsável, atualmente, pelos elevados índices de IDH, PIB Municipal e renda per capita em relação ao conjunto dos municípios do estado de Goiás. Além desses indicadores, a mineração é a responsável também pela criação de dezenas de micro empresas prestadoras de serviços, tais como oficinas, montadoras, tornearias, lojas de materiais, de peças, além de criação de cursos de nível médio profissionalizante em mecânica, elétrico-eletrônica e química.

'Monopólio' brasileiro do nióbio gera cobiça mundial, controvérsia e mitos

'Monopólio' brasileiro do nióbio gera cobiça mundial, controvérsia e mitos

Com 98% das reservas, Brasil não tem política específica para o mineral.
Exportações cresceram 110% em 10 anos e somaram US$ 1,8 bi 


Um metal raro no mundo, mas abundante no Brasil, considerado fundamental para a indústria de alta tecnologia e cuja demanda tem aumentado nos últimos anos, tem sido objeto de controvérsia e de uma série de suspeitas e informações desencontradas que se multiplicam na internet – alimentando teorias conspiratórias e mitos sobre a dimensão da sua importância para a economia mundial e do seu potencial para elevar o Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Trata-se do nióbio, elemento químico usado como liga na produção de aços especiais e um dos metais mais resistentes à corrosão e a temperaturas extremas. Quando adicionado na proporção de gramas por tonelada de aço, confere maior tenacidade e leveza. O nióbio é atualmente empregado em automóveis, turbinas de avião, gasodutos, em tomógrafos de ressonância magnética, na indústria aeroespacial, bélica e nuclear, além de outras inúmeras aplicações como lentes óticas, lâmpadas de alta intensidade, bens eletrônicos e até piercings.
Abaixo, o G1 explica a polêmica sobre o mineral, em reportagem produzida por sugestão de leitores (se você também quer sugerir uma reportagem, entre em contato pela página http://falecomog1.com.br/.)
Arte Nióbio - anglo american (Foto: Editoria de Arte/G1)
O mineral existe no solo de diversos países, mas 98% das reservas conhecidas no mundo estão no Brasil. O país responde atualmente por mais de 90% do volume do metal comercializado no planeta, seguido pelo Canadá e Austrália. No país, as reservas são da ordem de 842.460.000 toneladas e as maiores jazidas se encontram nos estados de Minas Gerais (75% do total), Amazonas (21%) e em Goiás (3%).
Segundo relatório do Plano Nacional de Mineração 2030, o Brasil explora atualmente 55 substâncias minerais, respondendo por mais de 4% da produção global, e é líder mundial apenas na produção do nióbio. No caso do ferro e do manganês, por exemplo, em que o país também ocupa posição de destaque, a participação na produção global não ultrapassa os 20%.
Tal vantagem competitiva em relação ao nióbio desperta cobiça e preocupação por parte das grandes siderúrgicas e maiores potências econômicas, que costumam incluir o nióbio nas listas de metais com oferta crítica ou ameaçada. É isso também que alimenta teorias de que o Brasil vende seu nióbio “a preço de banana”; que as reservas nacionais estão sendo “dilapidadas”; e que o país está “perdendo bilhões” ao não controlar o preço do produto.
A chamada “questão do nióbio” não é um assunto novo. Um dos seus porta-vozes mais ilustres foi o deputado federal Enéas Carneiro, morto em 2007, que alardeava que só a riqueza do mineral seria o suficiente para lastrear toda a riqueza do país. O nióbio já chegou a ser relacionado até com o mensalão, após o empresário Marcos Valério afirmar na CPI dos Correios, em 2005, que o Banco Rural conversou com José Dirceu sobre a exploração de uma mina de nióbio na Amazônia.
Em 2010, um documento secreto do Departamento de Estado americano, vazado pelo site WikiLeaks, incluiu as minas brasileiras de nióbio na lista de locais cujos recursos e infraestrutura são considerados estratégicos e imprescindíveis aos EUA . Mais recentemente, o nióbio voltou a ganhar os holofotes em razão da venda bilionária de uma fatia da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), maior produtora mundial de nióbio, para companhias asiáticas. Em 2011, um grupo de empresas chinesas, japonesas e sul coreana fechou a compra de 30% do capital da mineradora com sede em Araxá (MG) por US$ 4 bilhões.
Independente do debate muitas vezes ideológico por trás da questão e dos mitos que cercam o mineral (veja quadro abaixo), o fato é que o quase ‘monopólio’ da oferta ainda não resultou numa política específica para o nióbio no Brasil ou programa voltado para o desenvolvimento de uma cadeia industrial que vise agregar valor a este insumo que praticamente só o país oferece.
Nióbio - mitos e fatos (Foto: Editoria de Arte / G1)
mitos nióbio 1 (Foto: Editoria de Arte/G1)
FATO: Trata-se de um mineral nobre e encontrado em poucos países, mas o preço está muito distante do valor do ouro. Segundo estatísticas oficiais, a liga ferro-nióbio foi comercializada em 2012 pelo preço médio de US$ 26.500 a tonelada. Já cotação média da onça do ouro (31,10 gramas) foi de US$ 1.718.
mitos nióbio 2 (Foto: Editoria de Arte/G1)
FATO: O Brasil é o maior produtor mundial, respondendo por mais de 90% da oferta, seguido pelo Canadá e Austrália. O país detém mais de 98% das reservas conhecidas de nióbio no mundo, mas o mineral também é encontrado em países como Egito, Congo, Groelândia, Rússia, Finlândia e Estados Unidos.
mitos nióbio 3 (Foto: Editoria de Arte/G1)
FATO: Sua utilização garante alta performance em setores relacionados à siderurgia, sobretudo na produção de aços de alta resistência. Hoje, o nióbio já pode ser considerado um insumo essencial para indústria aeroespacial, de óleo e gás, naval e automotiva. Mas não se trata de uma fonte de energia primária ou de alto nível de consumo como o petróleo.
mitos nióbio 4 (Foto: Editoria de Arte/G1)
FATO: O metal possui uma série de vantagens competitivas na produção de aços mais leves e ligas especiais. Quando adicionado na proporção de gramas por tonelada, confere maior resistência ao aço. Hoje é empregado em automóveis, turbinas de avião, gasodutos, tomógrafos entre outras aplicações. O nióbio possui, entretanto, concorrentes equivalentes como o vanádio, o tântalo e o titânio.
mitos nióbio 5 (Foto: Editoria de Arte/G1)
FATO: O quase monopólio brasileiro da produção desperta a cobiça e a preocupação de outros países, pois ninguém gosta de depender de um único fornecedor. Documento do Departamento de Estado americano, vazado em 2010 pelo WikiLeaks, inclui as minas brasileiras na lista de locais considerados estratégicos para a sobrevivência dos EUA. Em 2011, um grupo de companhias chinesas, japonesas e sul coreanas adquiriram por US$ 4 bilhões 30% do capital da brasileira CBMM.
mitos nióbio 6 (Foto: Editoria de Arte/G1)
FATO: O preço médio de exportação de ferro-nióbio subiu de US$ 13 o quilo em 2001 para US$ 32 em 2008. Em 2012, a média ficou em US$ 26,5 o quilo. Como os preços não são negociados em bolsas e como as produtoras possuem subsidiárias em outros países, existem suspeitas não comprovadas de subfaturamento. Segundo as empresas e especialistas, uma grande alta no preço poderia incentivar a substituição do nióbio por produtos concorrentes e até uma corrida pela abertura de novas minas.
mitos nióbio 7 (Foto: Editoria de Arte/G1)
FATO: Somente a CBMM, em Araxá, explora jazidas com durabilidade estimada em mais de 200 anos, considerando a demanda atual. As reservas conhecidas no país são da ordem de 842.460.000 toneladas e, segundo o governo, não existe previsão de início de produção em outras áreas do país com reservas lavráveis conhecidas como Amazonas e Rondônia.
mitos nióbio 8 (Foto: Editoria de Arte/G1)
FATO: apesar do nióbio ser encontrado em regiões de fronteira, onde ocorrem pequenos garimpos, em razão das difíceis condições de produção e transporte para os países consumidores o governo considera infundadas as suspeitas de contrabando.
mitos nióbio 9 (Foto: Editoria de Arte/G1)
FATO: O fato de possuir mais de 98% das reservas conhecidas deve garantir ao Brasil por muitos anos praticamente o monopólio da oferta, mas, apesar do crescimento da intensidade de uso do nióbio e das inúmeras possibilidades de aplicações, a relevância e valorização do mineral ainda não se compara ao ouro ou ao petróleo.
mitos nióbio (Foto: Editoria de Arte/G1)
FATO: O governo não prevê qualquer abordagem específica para o nióbio dentro das discussões sobre o novo marco regulatório da mineração. A oferta de nióbio está praticamente toda nas mãos das duas gigantes privadas que operam no país, sem a articulação de uma política de desenvolvimento de um parque industrial nacional consumidor de nióbio. Por outro lado, as exportações de ferro-nióbio contribuem para o superávit da balança e o metal é hoje o 3º item mais importante da pauta mineral de exportação.

Governo nega que riqueza seja negligenciada
Embora seja enquadrado pelo governo federal como um mineral estratégico, o Ministério de Minas e Energia (MME) informa que não há previsão de “uma abordagem específica para o nióbio” dentro das discussões sobre o novo Marco Regulatório da Mineração, que deverá ser encaminhado em breve para o Congresso Nacional.
O Brasil detém praticamente todo o nióbio do planeta, mas este potencial é desaproveitado"
Monica Bruckmann, professora do Departamento de Ciência Política da UFRJ
“O Brasil detém praticamente todo o nióbio do planeta, mas este potencial é desaproveitado”, afirma a pesquisadora Monica Bruckmann, professora do Departamento de Ciência Política da UFRJ e assessoria da Secretaria-Geral da Unasul (União de Nações Sul-Americanas). “O que se esperaria é que o Brasil tivesse uma estratégia muito bem definida por se tratar de uma matéria-prima fundamental para as indústrias de tecnologia de ponta e que pode ser vista como uma fortaleza para a produção de energias limpas e para o próprio desenvolvimento industrial do país”, emenda.
Para o pesquisador Roberto Galery, professor da faculdade de engenharia de minas da UFMG, o Brasil deveria usar o nióbio como um trunfo para atrair mais investimentos e transferência de tecnologia. “Se o Brasil parasse de produzir ou vender nióbio hoje, isso geraria certamente um caos”, afirma.
O governo rechaça, entretanto, as críticas de que o país estaria negligenciando esta riqueza. “O atual nível de produção de nióbio no Brasil somente foi viável devido aos investimentos no desenvolvimento de tecnologia nacional de produção e na estrutura do mercado para o uso desse metal”, afirmou o MME, em resposta encaminhada ao G1.
“Consideramos que o país tem aproveitado adequadamente o nióbio extraído do seu subsolo, se considerarmos que o minério é convertido em ferro-liga e exportado com um maior valor agregado, por outro lado, na medida em que o parque siderúrgico brasileiro se desenvolver, a utilização de nióbio para a produção de aço poderá aumentar”, acrescentou o ministério.
Desde a década de 70, não há comercialização do minério bruto ou do concentrado de nióbio (pirocloro) no mercado interno ou externo. O metal é vendido, sobretudo, na forma da liga ferro-nióbio (FeNb STD, com 66% de teor de nióbio e 30% de ferro), obtida a partir de diversas etapas de processamento. Segundo o governo, as exportações de ferro-liga de nióbio atingiram em 2012 aproximadamente 71 mil toneladas, no valor de US$ 1,8 bilhões.
Somente dois produtores no Brasil
Toda a produção brasileira de nióbio está concentrada nas mãos de duas empresas: a CBMM, controlada pelo grupo Moreira Salles – fundadores do Unibanco – e a Mineração Catalão de Goiás, controlada pela britânica Anglo American.
Vista aérea das instalações da CBMM, em Araxá, e da Anglo, em Catalão (Foto: Divulgação )Vista aérea das instalações da CBMM, em Araxá, e
da Anglo American, em Catalão (Foto: Divulgação )
A CBMM é a empresa líder do mercado de nióbio, respondendo por cerca de 80% da produção mundial. Em seguida, estão a canadense Iamgold, com participação de cerca de 10%, e a Anglo American, com 8%, que só possui operação de nióbio no Brasil.
O comércio global de nióbio se deve em grande parte aos esforços e pioneirismo destas companhias no processamento do mineral. “Com as descobertas de significativas reservas de pirocloro no Brasil e no Canadá, e com a sua viabilidade técnica, principalmente pelos esforços tecnológicos e comerciais da CBMM, houve uma transformação radical nos aspectos de preços e disponibilidade dessa matéria-prima para a obtenção de nióbio, o que foi fundamental para a conquista do mercado mundial pelo Brasil”, afirma o ministério.
A CBMM informa estar presente hoje em todos os países produtores de aço, com destaque para a China, Japão, Estados Unidos, Coreia, Índia, Alemanha, Rússia e Inglaterra. “O programa de desenvolvimento de mercado da CBMM tem 50 anos. Nesse período, a companhia adquiriu legitimidade para desenvolver tecnologia do nióbio com os usuários finais e clientes diretos”, afirmou a empresa em mensagem enviada ao G1.
Em 2012, a companhia informou ter registrado lucro líquido de R$ 1,454 bilhão, uma alta de 18% na comparação com o ano anterior, segundo balanço publicado em jornais de Minas Gerais. O mercado internacional foi responsável por 95% do faturamento total da empresa no ano passado, quando o montante chegou a R$ 3,898 bilhões.
Procurada pelo G1, a empresa não atendeu ao pedido de entrevista com um porta-voz e de visita às suas instalações, se limitando a responder a perguntas encaminhadas por e-mail.
“A CBMM comercializa produtos de nióbio acabados e, portanto, não é exclusivamente mineradora. A etapa de mineração é a primeira de 15 etapas em seus processos produtivos que contam com tecnologia própria totalmente desenvolvida por ela no Brasil. O desenvolvimento tecnológico de processos, produtos e aplicações da CBMM é reconhecido internacionalmente. A empresa possui mais de 100 projetos com clientes e usuários finais", informou a companhia.
nióbio gráfico (Foto: Editoria de Arte/G1)
Crescimento da demanda por nióbio
Segundo o diretor de assuntos minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Marcelo Tunes, o aumento da demanda se deve, sobretudo, à conquista de novos clientes no mundo. “Essas empresas sempre tiveram um comportamento no sentido de criar mercados e nos últimos 10 anos atuaram fortemente na Europa e na China”, afirma o especialista.
Tunes explica que o nióbio possui concorrentes no mercado de insumos para ligas especiais como o tântalo, o vanádio e titânio, e que a farta oferta brasileira é o que vem garantindo a o aumento do consumo e da penetração do nióbio na indústria mundial. “O fato do nióbio ser praticamente um monopólio traz uma limitação de mercado, pois ninguém gosta de ficar na mão de um único produtor. Mas o mundo hoje já está mais confiante que tenha suprimento garantido”, afirma.
A demanda mundial por nióbio tem crescido nos últimos anos a uma taxa de 10% ao ano. O maior salto ocorreu a partir de 2004, puxado principalmente pelo aumento do apetite chinês por aço.
As estatísticas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram que o volume de ferro-nióbio exportado cresceu 110% em 10 anos, passando de 33.688 toneladas em 2003 para 70.948 em 2012. O maior pico foi registrado em 2008, quando as vendas somaram 72.771 toneladas.
3º mineral mais exportado
Segundo o Ibram, o nióbio respondeu por 4,68% das exportações minerais brasileiras em 2012. O nióbio tem sido nos últimos anos o 3º item mais importante da pauta mineral de exportação, ficando atrás apenas do minério de ferro e do ouro, cujas exportações no ano passado somaram, respectivamente, US$ 30,9 bilhões (80,06%) e US$ 2,3 bilhões (6,06%).
Em 2012, a produção total de nióbio no país foi de 61 mil toneladas – mas em 2007 chegou a quase 82 mil toneladas. O Ibram prevê que até 2015 a produção anual chegará a 100 mil toneladas.
A Anglo American estima um crescimento de 6% ao ano no mercado de nióbio. Já a CBMM afirma que o objetivo da companhia é aumentar a demanda em 50% até 2020.
Embora o consumo de ferro-nióbio esteja diretamente relacionado ao mercado siderúrgico, a demanda pelo produto tem crescido a um ritmo superior ao da produção de aço. Levantamento do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) mostra que entre 2002 e 2007 a taxa média de crescimento do consumo de ferro-nióbio foi de 15% ao ano, ao passo que o crescimento médio da indústria siderúrgica foi de 2% ao ano.
“A intensidade do uso vem crescendo na siderurgia o que faz com que o aumento da demanda por nióbio seja muito mais pronunciado”, afirma Ruben Fernandes, presidente da unidade de negócios Nióbio e Fosfato da Anglo American.
Nióbio é extraído a céu aberto na mina da Anglo American em Catalão (GO) (Foto: Divulgação)Nióbio é extraído a céu aberto na mina da Anglo American em Catalão (GO) (Foto: Divulgação)
Preocupação com a sustentabilidade abre mercados
As empresas apostam numa maior adesão ao produto no mundo, especialmente devido à demanda por matérias-primas mais eficientes e à preocupação com a sustentabilidade. O ferro-nióbio pode ajudar, por exemplo, a produzir estruturas e veículos mais leves, que consomem menos energia e combustível.
A indústria chinesa, por exemplo, é um dos setores que ainda usam aço com uma porção pequena de nióbio, diferentemente do que já ocorre em mercados como EUA, Europa e Japão, onde as siderúrgicas costumam fazer adições de 80 a 100 gramas do minério por tonelada de aço. Na China, esse índice de uso é de cerca de 25 gramas por tonelada de aço.
“A China e diversos outros países começam a enxergar os benefícios do uso do nióbio em obras de infraestrutura, para a construção de estruturas mais leves, que não se degradam no tempo e com um impacto ambiental menos intenso”, diz o executivo da Anglo American.
Consideramos que o país tem aproveitado adequadamente o nióbio extraído do seu subsolo, se considerarmos que o minério é convertido em ferro-liga e exportado com um maior valor agregado, por outro lado, na medida em que o parque siderúrgico brasileiro se desenvolver, a utilização de nióbio para a produção de aço poderá aumentar"
Ministério de Minas e Energia
As empresas que atuam no Brasil afirmam possuir capacidades instaladas para atender ao atual ritmo de crescimento da demanda mundial. A CBMM avalia que suas reservas em Araxá são suficientes para garantir a produção de nióbio por mais de 200 anos.
A Anglo estima em 40 anos o tempo de vida útil de suas jazidas e anunciou neste ano que irá investir US$ 325 milhões até 2016 na ampliação da capacidade de produção da sua planta em Catalão (GO), com o objetivo de elevar a produção anual do patamar de 4.400 toneladas de nióbio para 6.500 toneladas.
Política de preços
É diante desta perspectiva de aumento da demanda mundial e de concentração de mercado que os críticos do atual modelo de exploração do nióbio cobram uma maior atuação do governo federal, defendendo o controle do preço de comercialização do produto e em alguns casos até mesmo a estatização da produção.
“Quem consome nióbio são empresas transnacionais superespecializadas. É de se imaginar, portanto, que exista uma enorme pressão de fora para ter um produto que eles precisam a um preço acessível”, avalia o pesquisador Roberto Galery, professor da faculdade de engenharia de minas da UFMG.
Para Adriano Benayon, economista e autor do livro “Globalização versus Desenvolvimento”, com a produção restrita a dois grupos econômicos no Brasil é “evidente” que o interesse é exportar o nióbio do Brasil “ao menor preço possível”.
Pelos cálculos do pesquisador, autor de vários dos artigos sobre nióbio que circulam na internet, o Brasil poderia ganhar até 50 vezes mais o que recebe atualmente com as exportações de ferro-nióbio, caso ditasse o preço do produto no mercado mundial e aumentasse o consumo interno do mineral.
“A nacionalização impõe-se, porque ao Brasil importa valorizar o produto externamente e investir, com os recursos da exportação valorizada, em empresas para produzir com crescente incorporação de tecnologia e crescente valor agregado bens que elevem a qualidade dos empregos e o quantum da renda nacional”, argumenta Benayon.
'Não há uma diretriz política para estatização, diz ministério
Questionado pelo G1 sobre o tema, o MME afirmou que “não há uma diretriz política para estatização de minas de qualquer bem mineral”.
Metal é comercializado na forma de liga ferro-nióbio, obtida a partir de diversas etapas de processamento (Foto: CBMM/Divulgação)Metal retirado do solo e é comercializado na forma
de liga ferro-nióbio (Foto: CBMM/Divulgação)
“Quanto às vendas de reservas, considerado aqui como futuras aquisições, as mesmas são estabelecidas entre empresas privadas, sem a intervenção direta do governo federal”, acrescentou o ministério.
As estatísticas oficiais apontam para uma relativa estabilidade nos preços do nióbio nos últimos anos. O último grande salto ocorreu em 2007, quando o preço médio de exportação da liga ferro-nióbio subiu de US$ 13 para US$ 22 o quilo, chegando a US$ 33 em 2008, devido, principalmente, ao aumento da demanda. Em 2012, o preço médio ficou em cerca de US$ 27 o quilo, segundo dados do MDIC.
Como os preços são negociados diretamente entre o comprador e o vendedor, e não em bolsas, os valores de cada venda acabam sendo confidenciais, o que costuma levantar suspeitas de subfaturamento.
“Para saber o preço efetivo e os ganhos reais das empresas que controlam o mercado, precisar-se-ia confrontar não os preços de importação, mas sim os preços de venda no mercado desses países [compradores], praticados pelas empresas importadoras do mesmo grupo das exportadoras”, diz Benayon.
Segundo as empresas, tais suspeitas não têm fundamento. “Nossa carteira de pedidos vai diretamente para o cliente final. Não vendemos para nenhuma das subsidiárias da Anglo, vendemos para as siderúrgicas que aplicam o nióbio nos seus aços. Não temos nenhuma operação de venda de nióbio fora do Brasil”, afirma Fernandes, da Anglo American. “Apesar de não estar listado em bolsa, o preço do nióbio obedece a clássica lei de oferta e demanda”, emenda.
Margem de lucro alta
Os números e valores da receita da comercialização de nióbio informados nos balanços da Anglo American e da Iamgold – ambas de capital aberto – apontam que o preço médio do quilo de ferro-nióbio chegou a US$ 40 em 2012.
Não há nada insubstituível no mundo, o que há é economicidade no processo. Se o preço do nióbio brasileiro for elevado, outras jazidas no mundo todo entrarão em produção. Foi isso o que aconteceu recentemente com as terras raras na China"
Elmer Salomão, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM)
Segundo a Anglo American, a divisão de nióbio respondeu por uma receita de US$ 173 milhões em 2012 e gerou para a companhia um lucro operacional de US$ 81 milhões. Embora a exploração de nióbio tenha gerado uma margem de lucro superior a 40%, o mineral respondeu por apenas uma fração dos ganhos totais da companhia, que possui um amplo portifólio e registrou lucro global de US$ 6,2 bilhões no ano passado.
Já a canadense Iamgold reportou ter obtido em 2012 uma receita de US$ 190,5 milhões com a exploração de nióbio e uma margem de lucro de US$ 15 por quilo de nióbio vendido.
“O nióbio é bem competitivo, está bem posicionado, mas a rentabilidade depende muito do teor de nióbio contido no concentrado que é retirado da mina. O teor do nosso concorrente é muito maior. Já o dos novos projetos que estão sendo estudados no mundo tem teor muito menor”, explica o executivo da Anglo.
Atualmente estão sendo desenvolvidos novos projetos de exploração de nióbio no Canadá, no Quênia e em Nebrasca, nos Estados Unidos, que hoje importa 100% do nióbio que consome.
No Brasil, embora existam reservas conhecidas na região de fronteira e em áreas de reservas indígenas no Amazonas e em Roraima, o governo informa que não existe previsão de produção em novas minas ou novas concessões. “O nióbio de São Gabriel da Cachoeira (AM) carece ainda de tecnologia para permitir a sua extração com viabilidade econômica”, informou o ministério.
Consequências de uma eventual intervenção
O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM), Elmer Prata Salomão, alerta que uma eventual intervenção governamental na oferta ou no preço do nióbio representaria um grande tiro pela culatra.
Segundo Salomão, o fator determinante para o 'monopólio' brasileiro no nióbio é o custo de produção "praticamente imbatível". "Não há nada insubstituível no mundo, o que há é economicidade no processo. Se o preço do nióbio brasileiro for elevado, outras jazidas no mundo todo entrarão em produção. Foi isso o que aconteceu recentemente com as terras raras na China”, diz o especialista.
Anglo anunciou investimentos de US$ 325 milhões para ampliar vida útil de mina em Catalão (Foto: Anglo American/Divulgação)Anglo anunciou investimentos de US$ 325 milhões
para ampliar produção em Catalão
(Foto: Divulgação)
Ele lembra que o gigante asiático anunciou em 2011 uma redução de mais de 10% no volume de exportação de terras raras com o objetivo de atrair mais indústrias de tecnologia como fabricantes de tela de LCD para o país. “A China resolveu contingenciar e elevar o preço de terras raras e o que acontece é que já existem quase 50 projetos na área em fase de pesquisa e desenvolvimento no mundo”, afirma.
O diretor do Ibram também acredita que a elevação do preço do nióbio estimularia a busca por produtos substitutos. “A ambição de ganhar mais acaba sempre facilitando a entrada de concorrentes”, afirma Tunes. Ele explica que o nióbio apresenta hoje melhor vantagem em relação aos outros elementos químicos não apenas por suas propriedades, mas também por ser um metal com oferta abundante.
Nióbio gerou R$ 5,29 milhões em royalties em 2012
Segundo o governo, o controle da produção e venda de nióbio é feito atualmente pelo DNPM. O governo informa, entretanto, que o órgão não possui a competência de fiscalizar a produção e comercialização do ferro-liga de nióbio.
Segundo o DNPM, a exploração de nióbio garantiu em 2012 um recolhimento de CFEM (Compensação Financeira sobre a Exploração Mineral) de R$ 5,29 milhões – valor que foi distribuído entre União e estados e municípios produtores.
Pela legislação atual, a CFEM varia de 0,2% até 3% e incide sobre o valor do faturamento líquido obtido por ocasião da venda do produto mineral. No caso de minerais como o nióbio a alíquota é de 2%. O DNPM explica que como no caso do nióbio não ocorre a venda do mineral bruto, é considerado como valor para efeito do cálculo da CFEM a soma das despesas diretas e indiretas ocorridas antes da transformação da matéria-prima em ferro-nióbio. Ou seja, o valor arrecadado com a CFEM pouco reflete a valorização do ferro-nióbio no mercado mundial.
A China e diversos outros países começam a enxergar os benefícios do uso do nióbio em obras de infraestrutura, para a construção de estruturas mais leves, que não se degradam no tempo e com um impacto ambiental menos intenso"
Ruben Fernandes, Anglo American Brasil
A revisão das alíquotas dos royalties da mineração está entre os pontos que devem ser abordados pelo novo Código de Mineração, em discussão no governo. Está prevista a criação da Agência Nacional de Mineração, substituindo o DNPM, e Conselho Nacional de Política Mineral (CNPM), de forma a regulamentar os leilões de áreas públicas, nos mesmo moldes utilizados para o petróleo.
Embora não esteja prevista uma abordagem específica para o nióbio no novo marco regulatório, o MME reconhece que a legislação mineral vigente ainda “não possui instrumentos necessários para uma abordagem específica para minerais estratégicos”.
“O governo federal avalia que o país já possui a tecnologia necessária para a produção de ferro-nióbio, porém, é necessário que se avalie a capacidade de o parque industrial brasileiro possuir os demais fatores necessários para transferência de tecnologia de produção de manufaturados que contenham nióbio”, acrescentou o ministério.
Para Salomão, da ABPM, o setor mineral tem contribuído para os investimentos no país e para o superávit da balança comercial e não deve utilizado como combustível ideológico para políticas intervencionistas.
“Se o Brasil não está aproveitando hoje suas riquezas minerais como deveria é porque não tem uma política industrial nesse sentido”, afirma. “O que não podemos fazer é guardar toneladas de minério sem saber se no futuro isso será tecnologicamente utilizado ou não. Somos obrigados a aproveitar os nossos recursos minerais justamente devido à revolução tecnológica. A idade da pedra não acabou por causa da pedra, mas porque a pedra foi substituída por outra coisa”, conclui.

Petra Diamonds aumenta a produção de diamantes: lucros sobem

Petra Diamonds aumenta a produção de diamantes: lucros sobem
A mineradora Petra Diamonds viu, ontem, a sua ação subir 3,6%. O motivo por trás do otimismo é um significativo aumento na produção de diamantes, de 15% no trimestre. Neste período foram produzidos 743.424 quilates, o que projeta uma produção anual de 3 milhões de quilates. Espera-se um lucro líquido de US$143 milhões.
A Petra comprou alguns dos mais importantes kimberlitos do mundo, como o Premier, onde se encontra a Mina Cullinan, na África do Sul. Cullinan é famosa por ter produzido o maior diamante do mundo o Cullinan. A mineradora pretende expandir a sua produção anual para 5 milhões de quilates em 2019.

Minério de ferro: chineses cancelam contratos de longo prazo e compram minério barato no mercado spot

Minério de ferro: chineses cancelam contratos de longo prazo e compram minério barato no mercado spot
Aproveitando os preços baixos as siderúrgicas chinesas estão comprando no mercado spot e fazem a China bater novos recordes de importação. Em abril a China importou 83 milhões de toneladas de minério mais barato ao mesmo tempo em que cancelava as compras a mercado futuro.
Mesmo assim as grandes mineradoras continuam com seus planos de expansão devendo aumentar a produção em 40% nos próximos anos.

Pela primeira vez na história do minério de ferro a oferta está sendo maior que a procura. Daí os preços em queda e as histórias (não confirmadas) de que a China já recusou mais de 4 milhões de toneladas de minério de ferro em seus portos.

Esse fenômeno já era aguardado.

A partir deste momento só os mineradores competentes, que produzem com preços baixíssimos, permanecerão no mercado.

O que veremos será uma batalha titânica entre a Vale e as duas grandes concorrentes a BHP-Billiton e a Rio Tinto. A Vale, apesar do frete mais caro, tem um diferencial enorme: um minério de qualidade imbatível. Os australianos lidam com minérios de mais baixa qualidade que necessitam de um processamento para competir em igualdade com o da Vale.  Correndo por fora veremos os chineses liderados pela Ansteel que buscarão, de todas as formas, aumentar as reservas chinesas de qualidade através de aquisições globais.



Foto: minério de ferro em porto chinês- chinamining.org