Efeito Indonésia: chineses compram minas de bauxita na África
O efeito das proibições da Indonésia já se fazem sentir. Os preços do
níquel atingem níveis recordes, os concentrados de cobre começam a
faltar com a iminente paralisação da Newmont Indonésia, e as compras de
jazimentos pelos chineses afetados, são alguns dos reflexos da política
de Jakarta.
Em função do desaparecimento da bauxita da Indonésia a chinesa Hongqiao,
a maior produtora não estatal de alumínio da China, está comprando
jazidas na África. A Hongqiao assinou um contrato de compra de
jazimentos de bauxita na Guiné por US$120 milhões. A mina deverá
produzir 2,2 milhões de toneladas por 25 anos.
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quarta-feira, 4 de junho de 2014
Australianos preocupados com o preço do minério de ferro. Será o fim do ciclo?
Australianos preocupados com o preço do minério de ferro. Será o fim do ciclo?
No estado de Western Australia, onde se concentram as principais minas de minério de ferro do país, a cada dólar que o preço do minério cai é criado um prejuízo de US$49 milhões na arrecadação. Uma situação como essa só pode assustar o governo, afinal o minério de ferro já caiu mais de US$40 nos últimos meses afetando dramaticamente a arrecadação e os planos dos governantes.
Eles dizem não estar entrando em “pânico”, mesmo com os preços atingindo US$92/t...
A oposição já solicitou uma explanação pelo erro de previsão que o governo fez (US$125/t) que está causando a rápida erosão dos recursos do estado e poderá inviabilizar o orçamento e os projetos futuros.
Enquanto isso as mineradoras começam a cortar custos e iniciam as demissões. A BHP demitiu 100 funcionários do departamento de minério de ferro do seu escritório de Perth. Novas demissões são esperadas nas minas de Pilbara e na operação de alumina. A BHP considera, também, a venda de sua operação Nickel West. Este processo de demissões e vendas poderá se alastrar às outras operações e mineradoras colocando um fim no boom da mineração australiano.
Foto: trem das minas de Brockman carregando minério de ferro
No estado de Western Australia, onde se concentram as principais minas de minério de ferro do país, a cada dólar que o preço do minério cai é criado um prejuízo de US$49 milhões na arrecadação. Uma situação como essa só pode assustar o governo, afinal o minério de ferro já caiu mais de US$40 nos últimos meses afetando dramaticamente a arrecadação e os planos dos governantes.
Eles dizem não estar entrando em “pânico”, mesmo com os preços atingindo US$92/t...
A oposição já solicitou uma explanação pelo erro de previsão que o governo fez (US$125/t) que está causando a rápida erosão dos recursos do estado e poderá inviabilizar o orçamento e os projetos futuros.
Enquanto isso as mineradoras começam a cortar custos e iniciam as demissões. A BHP demitiu 100 funcionários do departamento de minério de ferro do seu escritório de Perth. Novas demissões são esperadas nas minas de Pilbara e na operação de alumina. A BHP considera, também, a venda de sua operação Nickel West. Este processo de demissões e vendas poderá se alastrar às outras operações e mineradoras colocando um fim no boom da mineração australiano.
Foto: trem das minas de Brockman carregando minério de ferro
terça-feira, 3 de junho de 2014
Diamante variedade carbonado na serra do Espinhaço (MG/BA)
Diamante variedade carbonado na serra do Espinhaço (MG/BA) e sua enigmática gênese
RESUMO
Carbonado, uma variedade policristalina do diamante, tem sua gênese alvo de intensas controvérsias. A discussão das principais hipóteses propostas para a questão, em associação com o enquadramento geológico das sequências pré-cambrianas que portam o material na serra do Espinhaço, parece favorecer uma dessas hipóteses. Na mesma, os microcristais que compõem o carbonado se formariam ordinariamente no manto, seriam trazidos para a crosta junto com os diamantes monocristalinos encontrados nessas sequências e, em estágio posterior, se agregando num ambiente sedimentar rico em material radioativo.
Palavras-chave: diamante, carbonado, serra do Espinhaço.
ABSTRACT
Carbonado, a polycrystalline diamond variety, has a very controversial genesis. The geologic setting of the carbonado-bearing precambrian sequences in the Serra do Espinhaço, and other aspects regarding the genesis, seem to favor one specific hypothesis: the mycrocrystals that make up the carbonado could have been formed by the "usual" way within the mantle and were brought up to the crust together with large diamond crystals found in the same sequences; in a later stage, the mycrocrystals formed aggregates in a radioactive-rich sedimentary environment.
Keywords: diamond, carbonado, Espinhaço range.
1. Introdução
Depósitos diamantíferos secundários, contendo juntamente diamante (monocristalino) e sua variedade policristalina carbonado, são típicos da serra do Espinhaço em Minas Gerais (região de Itacambira-Grão Mogol) e Bahia (região da Chapada Diamantina). Tal associação, longe de ser fortuita, indica condições anômalas e especiais de gênese desses diamantes. Os principais modelos atualmente propostos para explicar a formação dos carbonados são conflitantes, baseando-se em dados teóricos e/ou laboratoriais, sem levar em conta o condicionamento geológico de suas regiões de ocorrência. Dessa maneira, através da discussão sobre tais modelos genéticos, em associação com o enquadramento geológico das seqüências sedimentares originais onde eles se depositaram (Supergrupo Espinhaço), pretende-se nesse artigo contribuir para a definição de qual deles poderia ser melhor aplicado ao problema em questão1.
2. Contexto geológico
A unidade litoestratigráfica principal que sustenta o espigão serrano do Espinhaço é o Supergrupo Espinhaço (Figura 1), definindo uma grande província diamantífera onde a mineralização se depositou junto com seqüências rudáceas das formações Sopa-Brumadinho (Espinhaço Meridional), Grão Mogol (Espinhaço Central) e Tombador (Chapada Diamantina). Embora tais seqüências não sejam exatamente crono-correlatas (ver discussões em Uhlein & Chaves, 2001), é interessante ressaltar que todas elas situam-se em porções basais do Supergrupo Espinhaço nas respectivas regiões.
A deposição do Supergrupo Espinhaço ocorreu entre 1,75-1,30 Ga (Paleo/Mesoproterozóico), em bacia do tipo rift ensiálico encaixada na borda leste (caso do Espinhaço Meridional/Central) ou internamente (caso da Chapada Diamantina) ao núcleo arqueano definido pelo Cráton do São Francisco; dobramento e metamorfismo em fácies xistos verdes verificaram-se durante o Ciclo Brasiliano no Neoproterozóico (e.g. Dussin & Dussin, 1995). Na Chapada Diamantina, encontram-se os mais importantes depósitos contendo carbonados de todo mundo, onde a relação diamante/carbonado varia em torno de 90/10 podendo em alguns locais atingir até 50/50 (Leonardos, 1937). No Espinhaço Central mineiro, carbonados ocorrem na região de Itacambira-Grão Mogol, associados à mesma unidade. Karfunkel et al. (2001) mencionam também a provável existência de carbonado no Grupo Macaúbas (Neoproterozóico), porém, como parte dessa seqüência glaciogênica formou-se às custas de contribuições terrígenas do Supergrupo Espinhaço, considera-se pouco relevante discutir sua fonte na mesma.
3. Caracterização mineralógica
Carbonados são diagnosticados como diamantes desde a década de 1840, quando começaram a ser lavrados nos depósitos aluvionares da Chapada Diamantina, Bahia (Leonardos, 1937). Nas décadas seguintes, o interesse econômico pelo material fez que, por diversas vezes, sua produção significasse 60-70% de toda a produção brasileira de diamantes. Em 1905, foi encontrado em Lençóis o maior de todos os carbonados, pesando 3.167ct. Designado de "Carbonado do Sérgio", ele é o maior diamante já encontrado no mundo, com peso superior em 61ct ao famoso "Cullinan" da África do Sul (3.106ct), de modo geral considerado o primeiro.
Carbonados ocorrem como indivíduos granulares, mais ou menos porosos e geralmente de coloração preta/cinzenta, amarronzada ou avermelhada, devido a uma fina película (pátina) que recobre os grãos (Figura 2). Constituem agregados policristalinos (indivíduos na faixa de 0,01-0,001mm, Orlov, 1973), mostrando dimensões totais inconstantes até 8cm de diâmetro, como no "Carbonado do Sérgio". A superfície de fratura de um carbonado revela, mesmo sob baixos aumentos, os cristalitos de diamante e os poros abundantes presentes (Figura 3). A densidade de amostras da Chapada Diamantina/Rio Macaúbas varia entre 3,10-3,40, inferior à do diamante monocristalino cujo valor (teórico) é 3,515. Essa densidade baixa é devida a sua porosidade maior (até 5%), como também pela riqueza de inclusões "leves", tais como quartzo, ortoclásio e caulinita, junto a outras menos abundantes como rutilo, zircão, óxidos de ferro, fosfatos e ligas metálicas complexas.
Estudos descritivos sobre a morfologia do carbonado (e.g., Fettke & Sturges, 1933, Kerr et al., 1948), assim como sobre sua estrutura e inclusões minerais, indicaram uma possível origem a partir de processos de sinterização, de modo semelhante aos materiais cerâmicos (Trueb & Butterman, 1969, Trueb & De Wys, 1969). Nesse modelo, carbonados seriam formados em altas temperaturas, quando impurezas adsorvidas se deslocariam para as bordas dos cristalitos, e recristalização parcial causaria a agregação destes. Entretanto nenhum processo geológico foi sugerido como causador do fenômeno.
Hall (1970) conseguiu experimentalmente a formação de possíveis "carbonados" sintéticos a partir de matéria grafitosa sob altas temperaturas. Robinson (1978) especulou que tais processos poderiam ocorrer em zonas de subducção pela infiltração nas mesmas de material rico em carbono, hipótese essa que se tornou a primeira proposta genética de conotação geológica. Novamente, porém, não se especulou como os carbonados poderiam atingir depois os níveis crustais.
4. Modelamentos genéticos
Além da "sugestão" precursora de Robinson (1978), quatro principais modelamentos mais elaborados quanto à gênese do carbonado são encontrados na literatura, detalhados a seguir.
4.1 A hipótese de Smith e Dawson (1985)
Segundo esses autores, carbonados se formariam pelo metamorfismo de impacto sobre rochas crustais contendo carbono orgânico ou grafita, pela queda de corpos extraterrestres durante o Pré-Cambriano. Tal proposta baseou-se: (a) na presença de inclusões tipicamente crustais, além da ausência de fases indicadoras kimberlíticas; (b) no conteúdo de carbono "leve" (¶13C @-28), típico de rochas carbonosas crustais, enquanto diamantes kimberlíticos possuem taxas médias muito mais altas; (c) na grande probabilidade de terem ocorrido tais impactos sobre tais rochas carbonosas, baseando-se na observação de crateras na lua e planetas próximos; (d) na presença de diamante e lonsdaleíta nas crateras de impacto de Ries (Alemanha) e Popigai (Sibéria, Rússia). Polkanov et al. (1973, in Kaminsky, 1991) sugeriram que os agregados diamante-lonsdaleíta de aluviões da Ucrânia poderiam resultar de estruturas semelhantes.
Smith e Dawson (1985), no entanto, desconsideraram o fato de que carbonados estão sempre associados a diamantes monocristalinos nos depósitos de pláceres (ou paleopláceres), como na serra do Espinhaço e na República Centro-Africana (CAR), omitindo o fato extremamente improvável de ocorrerem duas fontes distintas que supririam tais depósitos com diamantes e carbonados, em locais distantes entre si. Também foi mal esclarecido o fato de que, pelo bombardeio meteorítico pressuposto, enormes massas de quartzo teriam se transformado nos polimorfos coesita e stishovita, fases não encontradas nos pláceres em questão ou como inclusões nos carbonados.
4.2 A hipótese de Kaminsky (1991)
Estudos desse pesquisador russo levaram a uma considerável evolução sobre os processos de formação dos carbonados. De início, foi reconhecida a existência de dois tipos essencialmente distintos em termos de composição, propriedades e modo de formação: (i) carbonado comum, designado "Brazilian type" e (ii) "yakutita", uma nova variedade (Tabela 1). Na variedade yakutita, cuja composição química incluiria o polimorfo lonsdaleíta, estariam os agregados conhecidos em aluviões da Yakutia (Rússia). Esse material já havia sido descrito como "diamante hexagonal" (Bundy e Kasper, 1967) e "carbonado com lonsdaleíta" (Orlov & Kaminsky, 1981), cuja gênese se daria pelo impacto de meteoritos sobre rochas crustais (Hanneman et al. 1967 - as três últimas citações em Kaminsky, 1991). Nessa categoria, também estariam os agregados encontrados em pláceres da Ucrânia.
Dessa maneira, Kaminsky (1991) argüiu contrariamente as idéias de Smith e Dawson (1985) sobre uma origem extraterrestre para a questão, assim como as de Hall (1970) e Robinson (1978), considerando que os carbonados sintéticos são diferentes dos seus congêneres naturais, desde o tamanho dos cristalitos (muito maiores nos sintéticos) até as características dos deslocamentos estruturais. Nos carbonados naturais, verifica-se uma alta densidade de deslocamentos, sendo tais feições orientadas irregularmente e nunca mostrando poligonalização (ao contrário dos sintéticos). Como essas últimas características são típicas de altas temperaturas, e carbonados não as apresentam, foi especulada uma possível influência de radioatividade para causar a agregação "fria" dos cristalitos.
Tendo como base pesquisas sobre películas de diamantes ultrafinas, a energia de superfície dos cristais recém-formados é um potencial termodinâmico independente e de direção oposta em relação ao potencial químico. Assim, quando o tamanho dos cristalitos é pequeno (r>100nm), o diagrama de equilíbrio grafita-diamante não difere do "tradicionalmente" conhecido. Entretanto, quando esse tamanho é muito mais reduzido (r<10nm), a superfície de equilíbrio de fases declina notavelmente para o domínio de baixa pressão. A agregação dos cristalitos no carbonado sob baixas pressões foi ainda apoiada no estudo de Breger (1964, in Kaminsky, 1991), que encontrou "diamond-like clusters" em rochas uraníferas do Colorado (EUA), explicando tal fenômeno devido à radioatividade do meio.
4.3 A hipótese de Ozima et al. (1991) e Kagi et al. (1991, 1994)
Após Kaminsky (1991) ter especulado que carbonados poderiam se formar na crosta, a partir de carvão exposto a U-Th, sem a existência de altas temperaturas e/ou pressões, Ozima et al. (1991) identificaram produtos de fissão espontânea nas composições isotópicas de gases nobres contidos nesses materiais. De modo semelhante, Kagi et al. (1991), ao observarem carbonados através de fotoluminescência induzida a laser, encontraram marcas de bombardeio por exposição à radioatividade; entretanto a conexão com rochas carbonosas, proposta por Kaminsky, foi considerada mera sugestão.
Novos estudos sobre carbonados da RCA levaram Kagi et al. (1994) a uma proposta genética complexa, onde a radioatividade teria um importante papel na agregação dos cristalitos de diamante, os quais, porém, teriam uma origem "ordinária" no manto. Da mesma forma que nos outros modelos, no entanto, esses autores não especificaram quais os possíveis mecanismos geológicos de geração dos microcristais de diamantes, nem seus modos de emplacement ou ambientes de agregação na crosta. Em síntese, propôs-se que os cristalitos se formaram no manto, com base na forma de ocorrência do nitrogênio contido nos cristalitos formando pequenas lamelas (platelets) por recozimento, comportamento típico de uma gênese mantélica. Posteriormente, na crosta, os microcristais seriam expostos a partículas-a emitidas por U/Th sob temperaturas e pressões moderadas. Tal processo resultaria na formação dos centros de cor bombardeados pela radiação e na "supercolagem" dos microcristais. Finalmente, esses sofreriam corrosão por fluidos hidrotermais, que ocasionariam também a dissolução do U e parte dos elementos terras-raras contidos nas inclusões, além da incorporação de minerais de origem crustal.
4.4 A hipótese de Haggerty (1995)
Nesse modelo, aspectos interessantes do carbonado foram ressaltados, como a cor geral cinza-escura com tonalidades variáveis até preta-azeviche, marrom e avermelhada; a pátina externa implicando fusão e rápido resfriamento; a porosidade alta, embora a permeabilidade seja extremamente baixa; e a ausência de inclusões "verdadeiras", pois as inclusões conhecidas representam materiais infiltrados entre os grãos. A partir desses dados e pelo fato de sua distribuição ser muito restrita, porém aparecendo em quantidades apreciáveis no Brasil e na República Centro-Africana, Haggerty (1995) especulou que algum mecanismo exótico deveria ser requerido para a síntese do material.
A hipótese procurou mostrar que um stress hidrodinâmico gerado acusticamente poderia ocorrer sob temperaturas (>5000ºC) e pressões (acima de 1 Mbar) superelevadas. Tais condições se dariam durante a cavitação momentânea (de micro- a picosegundo) de microbolhas em colapso e implosão, as quais excedem largamente as mínimas requeridas para a formação de diamantes. Embora a cavitação tivesse sido previamente sugerida para a cristalização do mineral em kimberlitos (Galimov, 1973), considerou-se tal processo pouco plausível nessas rochas, pois a formação de bolhas é um fenômeno de baixa pressão de confinamento, estando em desacordo com a presença comum de inclusões de pressão alta a muito alta nos diamantes.
O material de "partida", proposto neste modelo, seria a água molecular tridimensional na forma de gelo (clatrato), de ocorrência natural nas margens continentais dos oceanos. Os clatratos constituem estruturas cristalinas porosas (verdadeiras "gaiolas"), onde gases estão aprisionados; seus tipos "I" e "II" são cúbicos, os últimos possuindo simetria estrutural do diamante, além de versatilidade para hospedar moléculas de gases de pequeno e grande diâmetros. Haggerty (1995) afirmou que o metano, comum nos clatratos naturais, seria o gás preferencial sugerido. Na presença de água, são conseguidas altas proporções H:C causando protonação (i.e., hidrogênio) e a adesão requerida para a colagem do diamante, processo semelhante ao de deposição a vapor para síntese de filmes ultrafinos de diamantes sob baixas pressões e altas temperaturas no estado de plasma.
Assim, a cavitação acelerada balisticamente poderia justificar a porosidade, os gases nobres detectados, as pátinas de fusão e a própria colagem. A fonte sônica, desconhecida, teve algumas suposições: atividade sísmica intensa, explosões sônicas associadas a vulcanismo explosivo, choque e irradiação transmitidos pelo som devido ao impacto de meteorito ou cometa, etc. Haggerty (1995) finalizando, deixou a questão: a formação dos carbonados teria então ocorrido em evento único, arqueano, quando Brasil e República Centro-Africana seriam territórios contíguos? Assim, caso o processo for relacionado ao impacto de corpos extraterrestres, a cratera Chicxulub, do limite K-T na Península de Yucatan (México), poderia ser um ambiente ideal de formação (e procura) de carbonados.
5. Discussão sobre o problema na serra do Espinhaço
Os modelamentos genéticos previamente discutidos, com soluções complexas, díspares, e nenhuma delas apoiada em dados geológicos de campo, fazem crer que o problema da gênese dos carbonados ainda está longe de uma resposta final. Entretanto, a partir do conhecimento geológico sobre a região do Espinhaço, deve-se ressaltar que:
6. Conclusão
Embora, na atualidade, a definição da gênese do diamante tenha atingido um adiantado grau de compreensão, a variedade policristalina carbonado ainda carece de conhecimento adequado. Muitos pesquisadores, em particular japoneses e russos, procuram o entendimento de tal mecanismo genético, visando a objetivos comerciais de produzir diamantes sintéticos a custos inferiores. No presente estudo, procurou-se demonstrar que o equacionamento de tal questão deve, de modo obrigatório, passar pela contextualização geológica, a qual foi sempre relegada a segundo plano, e que análises ainda mais sofisticadas que as atualmente disponíveis fazem-se necessárias para tal compreensão. Não obstante, acredita-se que, entre os modelos explicados, a hipótese de Kagi et al. (1994) parece a que mais está adequada ao conhecimento geológico disponível para os depósitos brasileiros. Nesse contexto, as capas verdes se formaram nos diamantes monocristalinos e os carbonados se agregaram conjuntamente, em um mesmo ambiente sedimentar aqui designado de "camada-X".
RESUMO
Carbonado, uma variedade policristalina do diamante, tem sua gênese alvo de intensas controvérsias. A discussão das principais hipóteses propostas para a questão, em associação com o enquadramento geológico das sequências pré-cambrianas que portam o material na serra do Espinhaço, parece favorecer uma dessas hipóteses. Na mesma, os microcristais que compõem o carbonado se formariam ordinariamente no manto, seriam trazidos para a crosta junto com os diamantes monocristalinos encontrados nessas sequências e, em estágio posterior, se agregando num ambiente sedimentar rico em material radioativo.
Palavras-chave: diamante, carbonado, serra do Espinhaço.
ABSTRACT
Carbonado, a polycrystalline diamond variety, has a very controversial genesis. The geologic setting of the carbonado-bearing precambrian sequences in the Serra do Espinhaço, and other aspects regarding the genesis, seem to favor one specific hypothesis: the mycrocrystals that make up the carbonado could have been formed by the "usual" way within the mantle and were brought up to the crust together with large diamond crystals found in the same sequences; in a later stage, the mycrocrystals formed aggregates in a radioactive-rich sedimentary environment.
Keywords: diamond, carbonado, Espinhaço range.
1. Introdução
Depósitos diamantíferos secundários, contendo juntamente diamante (monocristalino) e sua variedade policristalina carbonado, são típicos da serra do Espinhaço em Minas Gerais (região de Itacambira-Grão Mogol) e Bahia (região da Chapada Diamantina). Tal associação, longe de ser fortuita, indica condições anômalas e especiais de gênese desses diamantes. Os principais modelos atualmente propostos para explicar a formação dos carbonados são conflitantes, baseando-se em dados teóricos e/ou laboratoriais, sem levar em conta o condicionamento geológico de suas regiões de ocorrência. Dessa maneira, através da discussão sobre tais modelos genéticos, em associação com o enquadramento geológico das seqüências sedimentares originais onde eles se depositaram (Supergrupo Espinhaço), pretende-se nesse artigo contribuir para a definição de qual deles poderia ser melhor aplicado ao problema em questão1.
2. Contexto geológico
A unidade litoestratigráfica principal que sustenta o espigão serrano do Espinhaço é o Supergrupo Espinhaço (Figura 1), definindo uma grande província diamantífera onde a mineralização se depositou junto com seqüências rudáceas das formações Sopa-Brumadinho (Espinhaço Meridional), Grão Mogol (Espinhaço Central) e Tombador (Chapada Diamantina). Embora tais seqüências não sejam exatamente crono-correlatas (ver discussões em Uhlein & Chaves, 2001), é interessante ressaltar que todas elas situam-se em porções basais do Supergrupo Espinhaço nas respectivas regiões.
A deposição do Supergrupo Espinhaço ocorreu entre 1,75-1,30 Ga (Paleo/Mesoproterozóico), em bacia do tipo rift ensiálico encaixada na borda leste (caso do Espinhaço Meridional/Central) ou internamente (caso da Chapada Diamantina) ao núcleo arqueano definido pelo Cráton do São Francisco; dobramento e metamorfismo em fácies xistos verdes verificaram-se durante o Ciclo Brasiliano no Neoproterozóico (e.g. Dussin & Dussin, 1995). Na Chapada Diamantina, encontram-se os mais importantes depósitos contendo carbonados de todo mundo, onde a relação diamante/carbonado varia em torno de 90/10 podendo em alguns locais atingir até 50/50 (Leonardos, 1937). No Espinhaço Central mineiro, carbonados ocorrem na região de Itacambira-Grão Mogol, associados à mesma unidade. Karfunkel et al. (2001) mencionam também a provável existência de carbonado no Grupo Macaúbas (Neoproterozóico), porém, como parte dessa seqüência glaciogênica formou-se às custas de contribuições terrígenas do Supergrupo Espinhaço, considera-se pouco relevante discutir sua fonte na mesma.
3. Caracterização mineralógica
Carbonados são diagnosticados como diamantes desde a década de 1840, quando começaram a ser lavrados nos depósitos aluvionares da Chapada Diamantina, Bahia (Leonardos, 1937). Nas décadas seguintes, o interesse econômico pelo material fez que, por diversas vezes, sua produção significasse 60-70% de toda a produção brasileira de diamantes. Em 1905, foi encontrado em Lençóis o maior de todos os carbonados, pesando 3.167ct. Designado de "Carbonado do Sérgio", ele é o maior diamante já encontrado no mundo, com peso superior em 61ct ao famoso "Cullinan" da África do Sul (3.106ct), de modo geral considerado o primeiro.
Carbonados ocorrem como indivíduos granulares, mais ou menos porosos e geralmente de coloração preta/cinzenta, amarronzada ou avermelhada, devido a uma fina película (pátina) que recobre os grãos (Figura 2). Constituem agregados policristalinos (indivíduos na faixa de 0,01-0,001mm, Orlov, 1973), mostrando dimensões totais inconstantes até 8cm de diâmetro, como no "Carbonado do Sérgio". A superfície de fratura de um carbonado revela, mesmo sob baixos aumentos, os cristalitos de diamante e os poros abundantes presentes (Figura 3). A densidade de amostras da Chapada Diamantina/Rio Macaúbas varia entre 3,10-3,40, inferior à do diamante monocristalino cujo valor (teórico) é 3,515. Essa densidade baixa é devida a sua porosidade maior (até 5%), como também pela riqueza de inclusões "leves", tais como quartzo, ortoclásio e caulinita, junto a outras menos abundantes como rutilo, zircão, óxidos de ferro, fosfatos e ligas metálicas complexas.
Estudos descritivos sobre a morfologia do carbonado (e.g., Fettke & Sturges, 1933, Kerr et al., 1948), assim como sobre sua estrutura e inclusões minerais, indicaram uma possível origem a partir de processos de sinterização, de modo semelhante aos materiais cerâmicos (Trueb & Butterman, 1969, Trueb & De Wys, 1969). Nesse modelo, carbonados seriam formados em altas temperaturas, quando impurezas adsorvidas se deslocariam para as bordas dos cristalitos, e recristalização parcial causaria a agregação destes. Entretanto nenhum processo geológico foi sugerido como causador do fenômeno.
Hall (1970) conseguiu experimentalmente a formação de possíveis "carbonados" sintéticos a partir de matéria grafitosa sob altas temperaturas. Robinson (1978) especulou que tais processos poderiam ocorrer em zonas de subducção pela infiltração nas mesmas de material rico em carbono, hipótese essa que se tornou a primeira proposta genética de conotação geológica. Novamente, porém, não se especulou como os carbonados poderiam atingir depois os níveis crustais.
4. Modelamentos genéticos
Além da "sugestão" precursora de Robinson (1978), quatro principais modelamentos mais elaborados quanto à gênese do carbonado são encontrados na literatura, detalhados a seguir.
4.1 A hipótese de Smith e Dawson (1985)
Segundo esses autores, carbonados se formariam pelo metamorfismo de impacto sobre rochas crustais contendo carbono orgânico ou grafita, pela queda de corpos extraterrestres durante o Pré-Cambriano. Tal proposta baseou-se: (a) na presença de inclusões tipicamente crustais, além da ausência de fases indicadoras kimberlíticas; (b) no conteúdo de carbono "leve" (¶13C @-28), típico de rochas carbonosas crustais, enquanto diamantes kimberlíticos possuem taxas médias muito mais altas; (c) na grande probabilidade de terem ocorrido tais impactos sobre tais rochas carbonosas, baseando-se na observação de crateras na lua e planetas próximos; (d) na presença de diamante e lonsdaleíta nas crateras de impacto de Ries (Alemanha) e Popigai (Sibéria, Rússia). Polkanov et al. (1973, in Kaminsky, 1991) sugeriram que os agregados diamante-lonsdaleíta de aluviões da Ucrânia poderiam resultar de estruturas semelhantes.
Smith e Dawson (1985), no entanto, desconsideraram o fato de que carbonados estão sempre associados a diamantes monocristalinos nos depósitos de pláceres (ou paleopláceres), como na serra do Espinhaço e na República Centro-Africana (CAR), omitindo o fato extremamente improvável de ocorrerem duas fontes distintas que supririam tais depósitos com diamantes e carbonados, em locais distantes entre si. Também foi mal esclarecido o fato de que, pelo bombardeio meteorítico pressuposto, enormes massas de quartzo teriam se transformado nos polimorfos coesita e stishovita, fases não encontradas nos pláceres em questão ou como inclusões nos carbonados.
4.2 A hipótese de Kaminsky (1991)
Estudos desse pesquisador russo levaram a uma considerável evolução sobre os processos de formação dos carbonados. De início, foi reconhecida a existência de dois tipos essencialmente distintos em termos de composição, propriedades e modo de formação: (i) carbonado comum, designado "Brazilian type" e (ii) "yakutita", uma nova variedade (Tabela 1). Na variedade yakutita, cuja composição química incluiria o polimorfo lonsdaleíta, estariam os agregados conhecidos em aluviões da Yakutia (Rússia). Esse material já havia sido descrito como "diamante hexagonal" (Bundy e Kasper, 1967) e "carbonado com lonsdaleíta" (Orlov & Kaminsky, 1981), cuja gênese se daria pelo impacto de meteoritos sobre rochas crustais (Hanneman et al. 1967 - as três últimas citações em Kaminsky, 1991). Nessa categoria, também estariam os agregados encontrados em pláceres da Ucrânia.
Dessa maneira, Kaminsky (1991) argüiu contrariamente as idéias de Smith e Dawson (1985) sobre uma origem extraterrestre para a questão, assim como as de Hall (1970) e Robinson (1978), considerando que os carbonados sintéticos são diferentes dos seus congêneres naturais, desde o tamanho dos cristalitos (muito maiores nos sintéticos) até as características dos deslocamentos estruturais. Nos carbonados naturais, verifica-se uma alta densidade de deslocamentos, sendo tais feições orientadas irregularmente e nunca mostrando poligonalização (ao contrário dos sintéticos). Como essas últimas características são típicas de altas temperaturas, e carbonados não as apresentam, foi especulada uma possível influência de radioatividade para causar a agregação "fria" dos cristalitos.
Tendo como base pesquisas sobre películas de diamantes ultrafinas, a energia de superfície dos cristais recém-formados é um potencial termodinâmico independente e de direção oposta em relação ao potencial químico. Assim, quando o tamanho dos cristalitos é pequeno (r>100nm), o diagrama de equilíbrio grafita-diamante não difere do "tradicionalmente" conhecido. Entretanto, quando esse tamanho é muito mais reduzido (r<10nm), a superfície de equilíbrio de fases declina notavelmente para o domínio de baixa pressão. A agregação dos cristalitos no carbonado sob baixas pressões foi ainda apoiada no estudo de Breger (1964, in Kaminsky, 1991), que encontrou "diamond-like clusters" em rochas uraníferas do Colorado (EUA), explicando tal fenômeno devido à radioatividade do meio.
4.3 A hipótese de Ozima et al. (1991) e Kagi et al. (1991, 1994)
Após Kaminsky (1991) ter especulado que carbonados poderiam se formar na crosta, a partir de carvão exposto a U-Th, sem a existência de altas temperaturas e/ou pressões, Ozima et al. (1991) identificaram produtos de fissão espontânea nas composições isotópicas de gases nobres contidos nesses materiais. De modo semelhante, Kagi et al. (1991), ao observarem carbonados através de fotoluminescência induzida a laser, encontraram marcas de bombardeio por exposição à radioatividade; entretanto a conexão com rochas carbonosas, proposta por Kaminsky, foi considerada mera sugestão.
Novos estudos sobre carbonados da RCA levaram Kagi et al. (1994) a uma proposta genética complexa, onde a radioatividade teria um importante papel na agregação dos cristalitos de diamante, os quais, porém, teriam uma origem "ordinária" no manto. Da mesma forma que nos outros modelos, no entanto, esses autores não especificaram quais os possíveis mecanismos geológicos de geração dos microcristais de diamantes, nem seus modos de emplacement ou ambientes de agregação na crosta. Em síntese, propôs-se que os cristalitos se formaram no manto, com base na forma de ocorrência do nitrogênio contido nos cristalitos formando pequenas lamelas (platelets) por recozimento, comportamento típico de uma gênese mantélica. Posteriormente, na crosta, os microcristais seriam expostos a partículas-a emitidas por U/Th sob temperaturas e pressões moderadas. Tal processo resultaria na formação dos centros de cor bombardeados pela radiação e na "supercolagem" dos microcristais. Finalmente, esses sofreriam corrosão por fluidos hidrotermais, que ocasionariam também a dissolução do U e parte dos elementos terras-raras contidos nas inclusões, além da incorporação de minerais de origem crustal.
4.4 A hipótese de Haggerty (1995)
Nesse modelo, aspectos interessantes do carbonado foram ressaltados, como a cor geral cinza-escura com tonalidades variáveis até preta-azeviche, marrom e avermelhada; a pátina externa implicando fusão e rápido resfriamento; a porosidade alta, embora a permeabilidade seja extremamente baixa; e a ausência de inclusões "verdadeiras", pois as inclusões conhecidas representam materiais infiltrados entre os grãos. A partir desses dados e pelo fato de sua distribuição ser muito restrita, porém aparecendo em quantidades apreciáveis no Brasil e na República Centro-Africana, Haggerty (1995) especulou que algum mecanismo exótico deveria ser requerido para a síntese do material.
A hipótese procurou mostrar que um stress hidrodinâmico gerado acusticamente poderia ocorrer sob temperaturas (>5000ºC) e pressões (acima de 1 Mbar) superelevadas. Tais condições se dariam durante a cavitação momentânea (de micro- a picosegundo) de microbolhas em colapso e implosão, as quais excedem largamente as mínimas requeridas para a formação de diamantes. Embora a cavitação tivesse sido previamente sugerida para a cristalização do mineral em kimberlitos (Galimov, 1973), considerou-se tal processo pouco plausível nessas rochas, pois a formação de bolhas é um fenômeno de baixa pressão de confinamento, estando em desacordo com a presença comum de inclusões de pressão alta a muito alta nos diamantes.
O material de "partida", proposto neste modelo, seria a água molecular tridimensional na forma de gelo (clatrato), de ocorrência natural nas margens continentais dos oceanos. Os clatratos constituem estruturas cristalinas porosas (verdadeiras "gaiolas"), onde gases estão aprisionados; seus tipos "I" e "II" são cúbicos, os últimos possuindo simetria estrutural do diamante, além de versatilidade para hospedar moléculas de gases de pequeno e grande diâmetros. Haggerty (1995) afirmou que o metano, comum nos clatratos naturais, seria o gás preferencial sugerido. Na presença de água, são conseguidas altas proporções H:C causando protonação (i.e., hidrogênio) e a adesão requerida para a colagem do diamante, processo semelhante ao de deposição a vapor para síntese de filmes ultrafinos de diamantes sob baixas pressões e altas temperaturas no estado de plasma.
Assim, a cavitação acelerada balisticamente poderia justificar a porosidade, os gases nobres detectados, as pátinas de fusão e a própria colagem. A fonte sônica, desconhecida, teve algumas suposições: atividade sísmica intensa, explosões sônicas associadas a vulcanismo explosivo, choque e irradiação transmitidos pelo som devido ao impacto de meteorito ou cometa, etc. Haggerty (1995) finalizando, deixou a questão: a formação dos carbonados teria então ocorrido em evento único, arqueano, quando Brasil e República Centro-Africana seriam territórios contíguos? Assim, caso o processo for relacionado ao impacto de corpos extraterrestres, a cratera Chicxulub, do limite K-T na Península de Yucatan (México), poderia ser um ambiente ideal de formação (e procura) de carbonados.
5. Discussão sobre o problema na serra do Espinhaço
Os modelamentos genéticos previamente discutidos, com soluções complexas, díspares, e nenhuma delas apoiada em dados geológicos de campo, fazem crer que o problema da gênese dos carbonados ainda está longe de uma resposta final. Entretanto, a partir do conhecimento geológico sobre a região do Espinhaço, deve-se ressaltar que:
- Carbonados
ocorrem na matriz de rochas metassedimentares rudáceas,
juntamente com diamantes monocristalinos, nas regiões da Chapada
Diamantina (BA) e do Espinhaço Central (MG), em seqüências
proterozóicas designadas de Formação Tombador e Formação Grão
Mogol, respectivamente. No Espinhaço Meridional (também em MG),
nunca foi constatada a presença de carbonados nos conglomerados
diamantíferos (Formação Sopa-Brumadinho). É interessante observar
que as duas unidades portadoras de carbonados são
crono-correlatas e situam-se sobre a Formação Sopa-Brumadinho
(Chaves et al., 1999, Uhlein & Chaves, 2001). Assim, parece que a
época de maior aporte de carbonados é algo posterior à fase rift inicial, datada entre 1,75-1,70 Ga (e.g.
Dussin & Dussin, 1995, Uhlein & Chaves, 2001), quando
houve o suprimento dos sedimentos formadores da base do
Supergrupo Espinhaço a partir de uma área-fonte a oeste, no
Cráton do São Francisco.
- Considera-se
improvável que, na área-fonte dos sedimentos que alimentaram a
bacia Espinhaço, houvesse, ao mesmo tempo, intrusões ultrabásicas
kimberlíticas/lamproíticas e o choque cataclísmico de algum
bólido espacial com a Terra (como proposto nas hipóteses de Smith
& Dawson, 1985, e de Haggerty, 1995), para gerarem quase
simultaneamente diamantes monocristalinos e carbonados. Dessa
maneira, essas duas hipóteses parecem estar bastante prejudicadas
frente ao contexto geológico verificado no Espinhaço. Além
disso, Chaves (1997) considerou as populações de diamantes
(monocristalinos) encontradas no Espinhaço Meridional/Central como
muito semelhantes, sugerindo, assim, uma provável origem comum para
ambas.
- De
outro modo, a hipótese de Kaminsky (1991), aperfeiçoada com os
estudos de Ozima et al. (1991) e Kagi et al. (1991, 1994),
indicou que os carbonados se formaram em níveis provavelmente
sedimentares ricos em U e Th, onde microdiamantes mantélicos
teriam condições de se agregar em baixas temperatura e pressão.
Nesse contexto, salienta-se que uma das características das populações
de diamantes da serra do Espinhaço é a presença conspícua
de cristais com "capa verde", cuja gênese é atribuída à
radioatividade emanada a partir de minerais e/ou soluções ricas
em U e Th (e.g. Vance et al. 1973, Chaves et al. 2001).
- Embora
desconhecido, tal ambiente gerador da agregação dos
microdiamantes em carbonados, responsável pela formação das capas
verdes nos diamantes monocristalinos e cujas rochas já foram
erodidas durante o próprio processo de evolução da bacia do
Espinhaço, deve ter sido intracratônico, pós-emplacement das
rochas fontes primárias, além de sin- a pós-rifteamento gerador
da bacia do Espinhaço. Esse ambiente sedimentar, aqui designado
de "camada-X", foi provavelmente continental e de calmaria
tectônica, recebendo a contribuição de rochas graníticas
cratônicas, ricas em minerais radioativos.
6. Conclusão
Embora, na atualidade, a definição da gênese do diamante tenha atingido um adiantado grau de compreensão, a variedade policristalina carbonado ainda carece de conhecimento adequado. Muitos pesquisadores, em particular japoneses e russos, procuram o entendimento de tal mecanismo genético, visando a objetivos comerciais de produzir diamantes sintéticos a custos inferiores. No presente estudo, procurou-se demonstrar que o equacionamento de tal questão deve, de modo obrigatório, passar pela contextualização geológica, a qual foi sempre relegada a segundo plano, e que análises ainda mais sofisticadas que as atualmente disponíveis fazem-se necessárias para tal compreensão. Não obstante, acredita-se que, entre os modelos explicados, a hipótese de Kagi et al. (1994) parece a que mais está adequada ao conhecimento geológico disponível para os depósitos brasileiros. Nesse contexto, as capas verdes se formaram nos diamantes monocristalinos e os carbonados se agregaram conjuntamente, em um mesmo ambiente sedimentar aqui designado de "camada-X".
Diamantes, lama e sangue
Diamantes, lama e sangue
O glamour das joalherias esconde as atrocidades cometidas em nome dessa pedra. Se fôssemos julgar o diamante, ele seria um criminoso brilhante, um sujeito jóia ou só um cara durão?
Ocorre que esses átomos inertes estão perigosamente vinculados a uma série de crimes. A acusação mais grave é a de assassinato: gemas contrabandeadas pagaram o envio de 20 mísseis SA-8 e 200 foguetes BM-21 para uma organização paramilitar de direita da Colômbia. Como prova incontestável do delito, há um e-mail interceptado em 2001, do negociante de armas israelense Simon Yelnik. Não é só isso: a ficha desse brilhante réu é comprida e inclui desde concorrência desleal até a manutenção de trabalho escravo nas minas. Como argumento de defesa, pode-se dizer que diamantes são sujeitos jóias que já salvaram muitas vidas. Serras diamantadas são empregadas em ranhuras no asfalto de autopistas européias, o que previne acidentes. Bisturis de diamante são usados em delicadas cirurgias oftalmológicas. Diamantes também fazem a ciência progredir: a coleta de amostras do solo marciano pelos veículos exploradores Spirit, em 2004, foi feita com instrumentos de diamante. Graças à pedra, a Nasa encontrou traços de água no planeta vermelho.
Quando não bancam o bandido ou o herói, diamantes são caras literalmente durões, que podem ser úteis em tarefas casca-grossa. Todo vidraceiro sabe disso – não há outro material que corte vidros como o diamante. Até na gastronomia ele mete a colher. Na Barilla, fabricante de massas da Itália, o diamante é usado para cortar o macarrão.
Será que, pesando os argumentos, vale a pena continuar a contar com o diamante? Como dá para ver, não é uma sentença fácil.
ANTECEDENTES
O diamante é feito de carbono puro e foi forjado no interior da terra
há pelo menos 3,3 bilhões de anos – a temperaturas de 1 200 ºC e
pressão de 58 mil atmosferas. Existem minerais mais raros do que ele,
como a painita, encontrada em quantidades ínfimas. Outros são mais
valiosos, como o tório e o ítrio, usados em reatores nucleares. A sua
história – ou a história do homem com ele – começou há uns 5 mil anos.
Naquele tempo, na Índia e na Mesopotâmia, ninguém revendia diamantes com
vistas a ter lucros astronômicos. Diamantes eram usados em artefatos
rituais. Principalmente pelos homens, para ressaltar a virilidade (não
há nada mais duro na natureza, daí o seu nome, do grego adamas,
“invencível”).Até a Renascença, o interesse comercial pelo diamante permaneceu adormecido. No século 15, porém, começou um frenesi pelo mineral que não terminou até hoje. Em 1477, foi dado o primeiro anel de noivado de diamante de que se tem notícia na história, à duquesa francesa Maria de Borgonha. Em 1725, o Brasil desbancou a Índia da posição de maior fornecedor de diamantes no mundo.
A indústria do diamante chegou à maturidade quando, em 1919, o matemático francês Marcel Tolkowsky criou um jeito de ressaltar ao máximo a cor e a claridade da pedra, frutos da dispersão da luz no diamante. A essa fórmula de lapidação – 57 facetas polidas, 33 na metade superior (chamada de coroa) e 24 na metade inferior (o pavilhão) – Tolkowsky deu o nome de brilhante. A beleza, e o valor, do diamante nascem de 4 fatores: a sua cor, claridade, tamanho (e peso) e lapidação. São os famosos “4 Cs” da indústria diamantífera: em inglês, color, clarity, carat e cut. Diamantes azulados ou rosados são raros e, por isso, muito valiosos. Já os amarelados são mais comuns. Uma marca do diamante autêntico – e a primeira coisa que o distingue de falsificações grosseiras, como as de zircônio – é a sua leveza. O Koh-i-Noor, da Coroa Britânica, tem quase o tamanho de uma bola de pingue-pongue e não chega a 22 gramas.
Nem todo diamante tem brilho. Aliás, esses são exceção. Quase todas as pedras extraídas das minas são opacas e pequenas. Elas são usadas na indústria, principalmente como instrumento de corte, de perfuração e como abrasivo.
Acusação nº1 - Servidão e maus-tratos
Minas de diamantes nunca foram locais agradáveis para se trabalhar.
Principalmente depois que nós, brasileiros, entramos nesse negócio, em
Minas Gerais dos idos de 1700. O nosso know-how de brutalidade foi logo
copiado na África do Sul. Em 1879, o engenheiro sul-africano T.C. Kitto
escreveu uma carta endereçada a seus patrões em Londres: “Os pretos
[escravos brasileiros] são instalados em currais, que são fechados à
corrente (...). Acho que sob supervisão européia os nossos pretos podem
se tornar quase tão bons quanto os brasileiros”. Quando suspeitos de
roubo, os trabalhadores das minas brasileiras eram trancados e
acorrentados nus por dias a fio, num cubículo sem luz ou ventilação, sem
água ou comida. Depois, inspecionavam-se os seus excrementos, em busca
dos diamantes.Hoje em dia, na África do Sul, os funcionários das minas passam todos os dias pelo raio X. Em Kimberley, o aparelho funciona mal – não distingue um diamante de um amendoim – e um funcionário, em 1993, acabou na mesa de cirurgia para extrair um diamante inexistente, uma mancha em sua radiografia. A poeira causa câncer de pulmão e outros problemas respiratórios. “Só enxergamos 1 metro à nossa frente”, contou um mineiro a Janine Roberts, autora do livro Glitter & Greed (“Brilho & Cobiça”, inédito no Brasil).
Acusação nº2 - Superfaturamento
Um quilate de diamante custa entre 2 e 15 dólares para ser extraído –
de leitos de rios, do fundo do mar, de regiões geladas no Canadá e
Sibéria, ou de minas subterrâneas na África e Austrália. Anualmente, 26
mil toneladas – ou 130 bilhões de quilates – de diamante são mineradas. E
vendidas a 9 bilhões de dólares. Até aí, o lucro das mineradoras já é
fantástico. O pulo-do-gato, porém, ainda está por vir: desse total, 20%
são transformados em 70 milhões de peças de jóias por ano, no valor de
58 bilhões de dólares. “O que custa caro numa jóia é o polimento e a
lapidação”, disse um joalheiro da rua 47, de Nova York, a Janine Roberts
em Glitter & Greed. Curiosamente, boa parte das pedras hoje é
polida e lapidada na Índia, por garotos de até 12 anos que ganham 23
centavos de dólar por quilate trabalhado. Mãos pequenas e olhos afiados
são valiosos nessa indústria.
Acusação nº3 - Monopólio
Dado estarrecedor: 80% do comércio de diamantes em estado bruto do
mundo está nas mãos de dois negociantes, a mastodôntica sul-africana De
Beers e o milionário russo Lev Leviev. Como eles conseguem isso? Ora,
comprando quase toda a produção mundial direto das minas. No mundo dos
diamantes, os grandes mineradores são excelentes amigos de governos e
governantes. Nos EUA, Maurice Templesman, representante da De Beers, é
freqüentador da Casa Branca desde os tempos de John Kennedy. A ex-Dama
de Ferro inglesa, Margareth Thatcher, promovia recepções no luxuoso
escritório da família Oppenheimer, atual dona da De Beers. Lev Leviev,
que detém a exclusividade de exploração das pedras angolanas, tem laços
mais que suspeitos com o presidente russo Vladimir Putin.Os dois gigantes revendem as pedras para apenas um seleto grupo de 150 negociantes, que os revendem para outras empresas, concentradas nas bolsas de diamantes – distritos de altíssima segurança localizados em Londres (Inglaterra), em Antuérpia (Bélgica), em Tel-Aviv (Israel), Mumbai (Índia), Hong Kong (China) e Tóquio (Japão). Desses distritos saem os diamantes polidos que são vendidos às milhares de joalherias em todo o mundo.
Em Ramat Gan, o distrito dos diamantes de Tel-Aviv, 900 câmeras monitoram o movimento das 15 mil pessoas que ali circulam todos os dias. Quando uma dessas pessoas não registra a saída ao término do expediente, é caçada por um batalhão de seguranças. Para que ninguém precise sair ao “mundo exterior”, existem bancos, cabeleireiros, academias de ginástica e restaurantes no complexo. A justiça em Ramat Gan tem uma dinâmica peculiar. Em caso de desavença entre dois negociantes – fato raríssimo –, tudo se resolve dentro da própria bolsa. “Não deixamos advogados entrar aqui”, disse Benzion Fouzailoff, negociante israelense, ao jornalista brasileiro Ariel Finguerman, no livro Retratos de uma Guerra.
Acusação nº4 - Fomento de guerra
Muitas das minas diamantíferas africanas ficaram na última década nas
mãos de ditadores e de líderes guerrilheiros da África, como Jonas
Savimbi, em Angola, e Foday Sankoh, em Serra Leoa. “Diamantes são como
uma moeda. Eles pagam empréstimos internacionais, pagam propinas,
compram armas... em alguns casos são melhores que dinheiro vivo”, afirma
o negociante Mark von Bockstael, de Antuérpia, Bélgica. Nesses países, a
riqueza dos diamantes se transforma numa fonte quase inesgotável para a
compra de armas – as transações são intermediadas por mercenários como
Victor Bout, ex-agente da KGB, ou o israelense Simon Yelnik, ex-agente
do Mossad.O dinheiro do diamante também patrocinou o terrorismo. Charles Taylor, ditador da Libéria, vendeu pedras para ninguém menos que Osama Bin Laden. “Dois compradores que negociavam com Taylor a partir de 1998 eram membros do alto escalão da rede do bilionário saudita”, escreve Greg Campbell, autor de Blood Diamonds (“Diamantes de Sangue”, inédito no Brasil), obra que esmiuça o tráfico internacional de diamantes. Suspeita-se que as pedras da Al Qaeda tenham sido derramadas na Europa num negócio de 20 milhões de dólares, entre 1998 e 2001. Até que não é muito, mas, como diz Alex Yearsley, da ong Global Witness (“Ttestemunha Global”, que milita contra o tráfico de diamantes), “é assustador que os ataques de 11 de Setembro tenham custado só 500 mil dólares. Quantos outros ataques os diamantes da Al Qaeda ainda não podem financiar?” Alex não é o único a alardear a conexão terror-diamantes: “Muitos dealers não se importam com a procedência das pedras, quando elas têm alto valor”, diz o ativista de direitos humanos Henrik Turlsson. Segundo uma estimativa da New African (revista de assuntos africanos editada na Europa), a centenária De Beers comprou em 1991 entre 500 milhões e 800 milhões de dólares de diamantes de mercadores independentes, muitos deles “laranjas” de sanguinários ditadores africanos.
Considerações finais
É provável que a indústria diamantífera tradicional esteja com os
dias contados. Já existem máquinas que reproduzem as condições de
temperatura e pressão altíssimas capazes de fabricar diamantes a partir
de carbono – entramos na era do diamante sintético. Com o aumento da
oferta, espera-se, entre outras coisas, que o diamante substitua o
silício como material-base dos chips de computador. É o que aposta
Hideyo Okushi, do Instituto de Ciência e Tecnologia Industrial Avançada
do Japão, que pesquisa os chips de diamante, que podem funcionar
tranqüilamente numa temperatura de até 1 000 ºC, enquanto que os atuais
de silício emperram ao atingir mornos 150 ºC. Ainda existem empecilhos
para isso: um, ironicamente, é a pureza do diamante, que atrapalha a
condução de eletricidade. Cientistas como Okushi investigam formas de
agregar impurezas ao diamante para torná-lo um condutor melhor.Enquanto isso, a indústria dos diamantes se move para diminuir os seus descalabros humanos. Em 2002, os maiores produtores mundiais assinaram na Suíça o Processo de Kimberley, um acordo que padroniza e controla a emissão de certificados de procedência dos diamantes, o que na teoria evitaria o contrabando de pedras. Em 2003, foi sancionada pelo Congresso dos EUA a Ata para o Comércio Limpo de Diamantes (CDTA, na sigla em inglês), que monitora o movimento de pedras não lapidadas no mundo.
Acuados, nem sempre os barões das pedras aceitam pacatamente essas medidas: “Querem fazer com a gente o que fizeram com os casacos de pele”, disse Nikki Oppenheimer, presidente da De Beers, lembrando que protestos de ongs ecologistas quase arruinaram o comércio de estolas e afins. Ninguém aposta, nessa indústria, que os diamantes de laboratório venham a substituir as gemas naturais. Ironicamente, são as pequenas imperfeições vindas de elementos como o nitrogênio – impurezas na composição do diamante – que geram a cor, o brilho e, enfim, o fascínio da pedra. Um jornalista britânico comentou sobre os diamantes sintéticos, feitos 100% de carbono: “É como um rosto humano cujos traços não tivessem a mínima imperfeição. É um andróide, como esses personagens de computação gráfica”. Um diamante sintético tem tanta graça quanto um vinho produzido num laboratório de química.
O destino mais incerto de todos é o da maior vítima da indústria diamantífera: a África. As atrocidades que assombraram o mundo nos anos 90 ainda são uma sombra que paira sobre o continente. Os maiores carniceiros africanos, como Mobutu, Savimbi, Taylor e Sankoh estão ou mortos ou encarcerados. Mas muita coisa precisa melhorar. “A CDTA ainda possui muitos furos, e as negociações para o controle de diamantes oriundo de áreas de conflito não parecem ter evoluído desde 2003”, afirma Nathaniel Raymond, diretor de comunicação da Oxfam America, entidade de combate à pobreza mundial. Outros, como a ativista de direitos humanos Janine Roberts, vão mais além: “Não é apenas o tráfico de diamantes que deve ser banido”, diz. “Os salários escandalosamente baixos pagos aos trabalhadores africanos, ou o trabalho infantil, realizado em condições precárias, também têm de sumir para sempre”.
Essa é uma saga que ainda está longe de terminar. E declarar o diamante culpado ou inocente seria de um simplismo grosseiro – o julgamento depende de que face da pedra você está olhando.
Diamantes do médio rio Jequitinhonha, Minas Gerais:
Diamantes do médio rio Jequitinhonha, Minas Gerais: qualificação gemológica e análise granulométrica
RESUMO
Os depósitos aluvionares da bacia do Rio Jequitinhonha, em Minas Gerais, constituíram a fonte da maior parte dos diamantes produzidos no Brasil desde 1714 até meados da década de 1980. Essa importância histórica e econômica motivou a apresentação dos dados quanto à granulometria e qualificação gemológica dos diamantes nas áreas de concessão das mineradoras Tejucana e Rio Novo. Em adição, a amostragem adquirida em 14 pontos ao longo do rio é instrumental para a composição de um banco de dados, tendo em vista a identificação da origem de populações de diamantes. No mega-lote estudado, constituído por 186.052 pedras (17.689 ct), merece ser destacada a grande proporção (82,2%) de diamantes gemológicos.
Palavras-chave: Rio Jequitinhonha, diamante, distribuição granulométrica, qualidade gemológica.
ABSTRACT
The Jequitinhonha River basin alluvial deposits, in Minas Gerais, were the source of most of the Brazilian diamond production since 1714 until the last middle eighties. This historical and economical importance is in itself a reason to publish grain-size and gemological quality data concerning the diamonds of the Tejucana and Rio Novo mining companies concession areas. In addition, extensive sampling (186,052 stones or 17,689 ct) on 14 locations along the river can contribute to create an important database to identify the origin of different diamond populations. Among other observations, the high proportion (82,2%) of gem diamonds should be stressed.
Keywords: Jequitinhonha River, diamond, grain-size distribution, gemological quality.
1. Introdução
Diamantes foram descobertos no Brasil nas proximidades de Diamantina, centro-norte de Minas Gerais, ao início do século XVIII. Nesse contexto, a bacia hidrográfica do rio Jequitinhonha se destaca por sua importância, não só histórica, como também comercial, uma vez que a maior parte dos diamantes daquele distrito foram produzidos sobre tal bacia, nas suas porções superior e média. No médio curso do rio Jequitinhonha, os aluviões são mais largos, permitindo a operação de grandes dragas de alcatruzes, como as das mineradoras Tejucana e Rio Novo, ao contrário do que ocorre no seu alto curso. O objetivo do presente trabalho é apresentar os dados quanto a granulometria e qualidade comercial referentes à produção de diamantes do Médio Jequitinhonha. Além disso, busca-se compor um banco de dados que apóie o desenvolvimento de um modelo para a identificação da origem de diferentes populações de diamantes.
2. Depósitos diamantíferos do rio Jequitinhonha
Na porção superior do rio Jequitinhonha, os vales são apertados, freqüentemente formando canyons entalhados sobre as rochas quartzíticas da serra do Espinhaço. Nessa área, como a largura dos aluviões raramente excede os 20 m, somente atividades garimpeiras são viáveis. A partir da localidade de Mendanha (Figura 1), o rio ganha o seu médio curso, desenvolvendo aluviões mais largos, muitas vezes com o flat alcançando 1.000 m de largura, onde as companhias Tejucana (atualmente com os serviços interrompidos) e Rio Novo operam diversas dragas de alcatruzes, acompanhadas, respectivamente, de dragas de sucção (Figura 2). No processo minerador, a draga de sucção segue à frente retirando o capeamento arenoso, estéril, enquanto a draga de alcatruzes, em seguida, escava, recolhe e trata o cascalho basal do depósito, rico em diamantes (ouro também é recuperado como subproduto).
A lavra de diamantes aluvionares do rio Jequitinhonha abrange exclusivamente sua calha atual, de idade recente a sub-recente. A fonte desses diamantes está concentrada nos conglomerados proterozóicos intercalados na Formação Sopa-Brumadinho, aflorantes em porções altas da serra do Espinhaço nas cabeceiras do rio e sua margem oeste (Figura 1), constituindo, assim, um novo ciclo geológico de erosão-deposição. A forte queda no gradiente do rio, com altitudes entre 1.200-1.500 m no espigão serrano para 700-600 m na área da jazida, fez com que os diamantes fossem reconcentrados nesse trecho aluvionar estudado (Figura 3-A). Na área de concessão da Mineração Rio Novo, mais ou menos na parte central do depósito (em termos longitudinais), a espessura média do cascalho mineralizado é de 4 m, para uma cobertura estéril que, em geral, alcança porte similar (Figura 3-B).
3. Identificação da fonte de lotes de diamantes
Desde quando foi percebido que a produção diamantífera de certos países africanos, como Angola, Serra Leoa e Congo, estava atrelada ao financiamento de grupos engajados em guerras civis locais (os chamados conflict diamonds, também conhecidos em português como "diamantes-de-sangue"), uma campanha internacional patrocinada pela ONU tem procurado impor sanções à importação de material desses países. Além disso, a comunidade consumidora, sentindo-se moralmente abalada por tais acontecimentos, estimulou a pesquisa de propostas científicas visando a conhecer a real procedência dos lotes de diamantes, para evitar que essa produção chegasse aos grandes centros lapidadores. Entretanto, logo ficou claro que inexistiam metodologias científicas seguras capazes de identificar tal procedência (Janse, 2000; Shigley, 2002).
Desde longa data se tem percebido que diferentes depósitos diamantíferos, desde os primários, mostram particularidades específicas (Lewis, 1887). Nesse sentido, as médias de tamanho, valor ou qualidade gemológica, a freqüência relativa de formas cristalográficas, a presença de certas variedades, bem como outras propriedades químicas afins, poderiam ser relacionados com certos depósitos ou áreas diamantíferas. Estudos nesse sentido foram inicialmente propostos para alguns kimberlitos sul-africanos (Harris et al., 1975, 1979), norte-americanos (Otter et al., 1994) e para os pláceres costeiros da Namíbia (Sutherland, 1982). No Brasil, estudos semelhantes incluíram os diamantes da mina de Romaria - Triângulo Mineiro (Svisero & Haralyi, 1985), do rio Tibagi - Paraná (Chieregatti, 1989) e da serra do Espinhaço - norte de Minas Gerais (Chaves, 1997; Chaves et al., 1998).
Diversos autores (Chambel, 2000a,b; Chaves et al., 1998; Janse, 2000; Shigley, 2002) procuraram enfatizar que os diamantes de determinado depósito têm uma história geológica comum e, assim, devem possuir características que são "únicas" para cada depósito. Documentando tais características, elas poderiam conduzir à identificação do local de origem do lote de diamantes. Para isso, entretanto, precisa-se envolver análises estatísticas sobre populações de diamantes com grande número de indivíduos e os resultados precisam de ser compilados dentro de um programa de dados para cada área produtora de diamantes do mundo. Tal assinatura mineralógica, ainda que bastante fácil de se obter nas jazidas em fontes primárias, torna-se mais complicada em relação aos depósitos secundários, muitas vezes dispersos sobre grandes regiões. A apresentação dos dados referentes aos aluviões do rio Jequitinhonha pretende ser uma contribuição a tal proposta.
4. Discussão dos dados
Na área da Cia. Tejucana, os dados utilizados, no presente estudo, compõem-se de 14 parcelas correspondendo à produção mensal de cinco dragas (T1-T5), quando em plena operação nas décadas de 1980-90 (Figura 1, Tabela 1). Tal produção foi classificada originalmente pelos técnicos dessa companhia em termos granulométricos e comerciais, nos quatro grupos principais: (1) diamantes gemológicos de 1ª qualidade, (2) diamantes gemológicos de 2ª qualidade, (3) chips e (4) diamantes industriais. Os chips correspondem a diamantes de qualidade gemológica inferior, por apresentarem cristalização irregular ou geminada (Chaves & Chambel, 2003). Nesse trabalho, os diamantes de melhor qualidade (1ª/2ª) foram agrupados constituindo os diamantes "gemas", conforme referido nas Tabelas 3, 4 e 5.
Em relação aos estudos realizados na área de concessão da Mineração Rio Novo, somente duas amostragens foram utilizadas (janeiro e junho/1994), referentes a cerca da metade da produção mensal em porções distintas do setor de lavra conhecido como "Lagoa Seca" (jusante e montante), um distando do outro cerca de 1.000 m (Figura 1). Tal produção era proveniente de uma das duas dragas em operação pela companhia ("Maria Bonita"), pois, desde 1989, a mesma trabalhava também com a draga "Chica da Silva" (ou T1), adquirida da Mineração Tejucana. Para melhor entendimento das análises fornecidas, o trecho estudado do rio Jequitinhonha foi ainda dividido em dois setores, designados de "bloco montante" e "bloco jusante".
Há que se lamentar a falta de dados entre as localidades de Mendanha e Maria Nunes, onde os teores com certeza foram maiores por estarem logo à frente do espigão serrano (Figura 1). Sem dúvida, nesse trecho do rio Jequitinhonha, os serviços estavam concentrados na época da Coroa Portuguesa, a julgar pelos relatos de Mawe (1812) e Eschwege (1833). Com os dados fornecidos na Tabela 1, a impressão inicial é de que não existe correlação entre a distribuição das médias de peso/tamanho das pedras com o distanciamento de montante para jusante. Ainda que se verifique uma drástica diminuição desses valores desde o ponto 1 (resultando em 3 pedras para cada quilate) até o ponto 14 (19 pedras/ct), nos pontos intermediários os dados apresentam-se aparentemente caóticos.
Dessa maneira, poder-se-ia, em princípio, deduzir que as distribuições granulométricas, bem como os teores em diamantes, são bastante variáveis, provavelmente em dependência do posicionamento das cabeceiras dos tributários da margem esquerda do rio (Tabela 1 - Coluna 5). Produções (e teores) maiores determinariam o quanto de superfície tal sub-bacia teria drenado áreas de afloramento do Conglomerado Sopa. Entretanto, juntando-se os dados para trechos maiores do rio, conforme a coluna 6 da mesma tabela, observa-se uma notável regularidade na diminuição das médias de tamanho das pedras, desde 5,17 pedras/quilate na área de lavra da T3 - no início do bloco montante, até 19,36 p/ct na área da T4 - ao final do bloco jusante.
Em termos de granulometria (Tabela 2), a faixa preferencial, em função do peso dos diamantes (a qual se considera como a melhor maneira de se interpretar os dados), está concentrada no crivo [>12 <19], a qual inclui diamantes de peso médio de 0,33 ct, com a média geral de 35,3%. Interessante lembrar que tal classe, conhecida no meio comercial como 3/1 (três pedras por quilate), apresenta valores médios bastante apreciáveis de comercialização, pois ela é largamente utilizada na confecção de brilhantes de pequeno porte (@0,10 ct), os mais procurados em termos de "volume" de vendas em joalherias.
Em relação às qualidades gemológicas dos lotes (Tabelas 3, 4, 5), algumas observações se destacam: (1) em função do peso, a classe de granulometria [>12 <19] também apresenta amplo predomínio em termos de diamantes gemológicos de alta qualidade, variando entre 19,6-31,0%, com média de 26,5% para este crivo nos sete pontos do bloco montante, e 10,1-27,8% no bloco jusante (média de 20,2%); (2) a média total de diamantes lapidáveis (gemas + chips) atingiu o máximo de 93,5% (Ponto 3 - bloco montante), com média geral de 82,2% sobre o "mega-lote" (todos os 14 pontos), pesando 17.689 ct, com 186.052 pedras.
5. Considerações finais
As mineradoras Tejucana e Rio Novo representam raríssimas excessões no cenário nacional, no sentido de operações racionais e organizadas de lavras diamantíferas. O estudo dos dados de produção dessas empresas, por conseguinte, constitui uma excelente oportunidade de se trabalhar com dados precisos e confiáveis, para uma atividade em geral desorganizada e dominada por atividades garimpeiras. Ressalte-se também o fato de que ambas as mineradoras estão com suas reservas à beira da exaustão, tornando o estudo ainda mais premente. As populações de diamantes, ora estudadas, serão ainda úteis na criação de um grande banco de dados, visando a conhecer a proveniência geográfica de lotes de diamantes através de suas características mineralógicas.
Os diamantes do Médio Jequitinhonha, assim, embora de tamanhos médios bastante reduzidos e constituírem uma parcela ínfima da produção mundial (considerando uma produção mundial de 100.000.000 ct/ano e a produção do rio Jequitinhonha em 100.000 ct/ano - isto significaria 0,1% daquele montante), podem ser considerados bastante interessantes pelos seus conteúdos histórico e comercial. Afinal, a bacia desse rio foi por quase 160 anos, a maior produtora mundial de diamantes. Além disso, tal produção representa uma das maiores freqüências médias mundiais de diamantes gemológicos (82,2%, conforme demonstrado). Por isso, ainda atualmente a cidade de Diamantina constitui um importante pólo de comercialização de diamantes em termos internacionais.
RESUMO
Os depósitos aluvionares da bacia do Rio Jequitinhonha, em Minas Gerais, constituíram a fonte da maior parte dos diamantes produzidos no Brasil desde 1714 até meados da década de 1980. Essa importância histórica e econômica motivou a apresentação dos dados quanto à granulometria e qualificação gemológica dos diamantes nas áreas de concessão das mineradoras Tejucana e Rio Novo. Em adição, a amostragem adquirida em 14 pontos ao longo do rio é instrumental para a composição de um banco de dados, tendo em vista a identificação da origem de populações de diamantes. No mega-lote estudado, constituído por 186.052 pedras (17.689 ct), merece ser destacada a grande proporção (82,2%) de diamantes gemológicos.
Palavras-chave: Rio Jequitinhonha, diamante, distribuição granulométrica, qualidade gemológica.
ABSTRACT
The Jequitinhonha River basin alluvial deposits, in Minas Gerais, were the source of most of the Brazilian diamond production since 1714 until the last middle eighties. This historical and economical importance is in itself a reason to publish grain-size and gemological quality data concerning the diamonds of the Tejucana and Rio Novo mining companies concession areas. In addition, extensive sampling (186,052 stones or 17,689 ct) on 14 locations along the river can contribute to create an important database to identify the origin of different diamond populations. Among other observations, the high proportion (82,2%) of gem diamonds should be stressed.
Keywords: Jequitinhonha River, diamond, grain-size distribution, gemological quality.
1. Introdução
Diamantes foram descobertos no Brasil nas proximidades de Diamantina, centro-norte de Minas Gerais, ao início do século XVIII. Nesse contexto, a bacia hidrográfica do rio Jequitinhonha se destaca por sua importância, não só histórica, como também comercial, uma vez que a maior parte dos diamantes daquele distrito foram produzidos sobre tal bacia, nas suas porções superior e média. No médio curso do rio Jequitinhonha, os aluviões são mais largos, permitindo a operação de grandes dragas de alcatruzes, como as das mineradoras Tejucana e Rio Novo, ao contrário do que ocorre no seu alto curso. O objetivo do presente trabalho é apresentar os dados quanto a granulometria e qualidade comercial referentes à produção de diamantes do Médio Jequitinhonha. Além disso, busca-se compor um banco de dados que apóie o desenvolvimento de um modelo para a identificação da origem de diferentes populações de diamantes.
2. Depósitos diamantíferos do rio Jequitinhonha
Na porção superior do rio Jequitinhonha, os vales são apertados, freqüentemente formando canyons entalhados sobre as rochas quartzíticas da serra do Espinhaço. Nessa área, como a largura dos aluviões raramente excede os 20 m, somente atividades garimpeiras são viáveis. A partir da localidade de Mendanha (Figura 1), o rio ganha o seu médio curso, desenvolvendo aluviões mais largos, muitas vezes com o flat alcançando 1.000 m de largura, onde as companhias Tejucana (atualmente com os serviços interrompidos) e Rio Novo operam diversas dragas de alcatruzes, acompanhadas, respectivamente, de dragas de sucção (Figura 2). No processo minerador, a draga de sucção segue à frente retirando o capeamento arenoso, estéril, enquanto a draga de alcatruzes, em seguida, escava, recolhe e trata o cascalho basal do depósito, rico em diamantes (ouro também é recuperado como subproduto).
A lavra de diamantes aluvionares do rio Jequitinhonha abrange exclusivamente sua calha atual, de idade recente a sub-recente. A fonte desses diamantes está concentrada nos conglomerados proterozóicos intercalados na Formação Sopa-Brumadinho, aflorantes em porções altas da serra do Espinhaço nas cabeceiras do rio e sua margem oeste (Figura 1), constituindo, assim, um novo ciclo geológico de erosão-deposição. A forte queda no gradiente do rio, com altitudes entre 1.200-1.500 m no espigão serrano para 700-600 m na área da jazida, fez com que os diamantes fossem reconcentrados nesse trecho aluvionar estudado (Figura 3-A). Na área de concessão da Mineração Rio Novo, mais ou menos na parte central do depósito (em termos longitudinais), a espessura média do cascalho mineralizado é de 4 m, para uma cobertura estéril que, em geral, alcança porte similar (Figura 3-B).
3. Identificação da fonte de lotes de diamantes
Desde quando foi percebido que a produção diamantífera de certos países africanos, como Angola, Serra Leoa e Congo, estava atrelada ao financiamento de grupos engajados em guerras civis locais (os chamados conflict diamonds, também conhecidos em português como "diamantes-de-sangue"), uma campanha internacional patrocinada pela ONU tem procurado impor sanções à importação de material desses países. Além disso, a comunidade consumidora, sentindo-se moralmente abalada por tais acontecimentos, estimulou a pesquisa de propostas científicas visando a conhecer a real procedência dos lotes de diamantes, para evitar que essa produção chegasse aos grandes centros lapidadores. Entretanto, logo ficou claro que inexistiam metodologias científicas seguras capazes de identificar tal procedência (Janse, 2000; Shigley, 2002).
Desde longa data se tem percebido que diferentes depósitos diamantíferos, desde os primários, mostram particularidades específicas (Lewis, 1887). Nesse sentido, as médias de tamanho, valor ou qualidade gemológica, a freqüência relativa de formas cristalográficas, a presença de certas variedades, bem como outras propriedades químicas afins, poderiam ser relacionados com certos depósitos ou áreas diamantíferas. Estudos nesse sentido foram inicialmente propostos para alguns kimberlitos sul-africanos (Harris et al., 1975, 1979), norte-americanos (Otter et al., 1994) e para os pláceres costeiros da Namíbia (Sutherland, 1982). No Brasil, estudos semelhantes incluíram os diamantes da mina de Romaria - Triângulo Mineiro (Svisero & Haralyi, 1985), do rio Tibagi - Paraná (Chieregatti, 1989) e da serra do Espinhaço - norte de Minas Gerais (Chaves, 1997; Chaves et al., 1998).
Diversos autores (Chambel, 2000a,b; Chaves et al., 1998; Janse, 2000; Shigley, 2002) procuraram enfatizar que os diamantes de determinado depósito têm uma história geológica comum e, assim, devem possuir características que são "únicas" para cada depósito. Documentando tais características, elas poderiam conduzir à identificação do local de origem do lote de diamantes. Para isso, entretanto, precisa-se envolver análises estatísticas sobre populações de diamantes com grande número de indivíduos e os resultados precisam de ser compilados dentro de um programa de dados para cada área produtora de diamantes do mundo. Tal assinatura mineralógica, ainda que bastante fácil de se obter nas jazidas em fontes primárias, torna-se mais complicada em relação aos depósitos secundários, muitas vezes dispersos sobre grandes regiões. A apresentação dos dados referentes aos aluviões do rio Jequitinhonha pretende ser uma contribuição a tal proposta.
4. Discussão dos dados
Na área da Cia. Tejucana, os dados utilizados, no presente estudo, compõem-se de 14 parcelas correspondendo à produção mensal de cinco dragas (T1-T5), quando em plena operação nas décadas de 1980-90 (Figura 1, Tabela 1). Tal produção foi classificada originalmente pelos técnicos dessa companhia em termos granulométricos e comerciais, nos quatro grupos principais: (1) diamantes gemológicos de 1ª qualidade, (2) diamantes gemológicos de 2ª qualidade, (3) chips e (4) diamantes industriais. Os chips correspondem a diamantes de qualidade gemológica inferior, por apresentarem cristalização irregular ou geminada (Chaves & Chambel, 2003). Nesse trabalho, os diamantes de melhor qualidade (1ª/2ª) foram agrupados constituindo os diamantes "gemas", conforme referido nas Tabelas 3, 4 e 5.
Em relação aos estudos realizados na área de concessão da Mineração Rio Novo, somente duas amostragens foram utilizadas (janeiro e junho/1994), referentes a cerca da metade da produção mensal em porções distintas do setor de lavra conhecido como "Lagoa Seca" (jusante e montante), um distando do outro cerca de 1.000 m (Figura 1). Tal produção era proveniente de uma das duas dragas em operação pela companhia ("Maria Bonita"), pois, desde 1989, a mesma trabalhava também com a draga "Chica da Silva" (ou T1), adquirida da Mineração Tejucana. Para melhor entendimento das análises fornecidas, o trecho estudado do rio Jequitinhonha foi ainda dividido em dois setores, designados de "bloco montante" e "bloco jusante".
Há que se lamentar a falta de dados entre as localidades de Mendanha e Maria Nunes, onde os teores com certeza foram maiores por estarem logo à frente do espigão serrano (Figura 1). Sem dúvida, nesse trecho do rio Jequitinhonha, os serviços estavam concentrados na época da Coroa Portuguesa, a julgar pelos relatos de Mawe (1812) e Eschwege (1833). Com os dados fornecidos na Tabela 1, a impressão inicial é de que não existe correlação entre a distribuição das médias de peso/tamanho das pedras com o distanciamento de montante para jusante. Ainda que se verifique uma drástica diminuição desses valores desde o ponto 1 (resultando em 3 pedras para cada quilate) até o ponto 14 (19 pedras/ct), nos pontos intermediários os dados apresentam-se aparentemente caóticos.
Dessa maneira, poder-se-ia, em princípio, deduzir que as distribuições granulométricas, bem como os teores em diamantes, são bastante variáveis, provavelmente em dependência do posicionamento das cabeceiras dos tributários da margem esquerda do rio (Tabela 1 - Coluna 5). Produções (e teores) maiores determinariam o quanto de superfície tal sub-bacia teria drenado áreas de afloramento do Conglomerado Sopa. Entretanto, juntando-se os dados para trechos maiores do rio, conforme a coluna 6 da mesma tabela, observa-se uma notável regularidade na diminuição das médias de tamanho das pedras, desde 5,17 pedras/quilate na área de lavra da T3 - no início do bloco montante, até 19,36 p/ct na área da T4 - ao final do bloco jusante.
Em termos de granulometria (Tabela 2), a faixa preferencial, em função do peso dos diamantes (a qual se considera como a melhor maneira de se interpretar os dados), está concentrada no crivo [>12 <19], a qual inclui diamantes de peso médio de 0,33 ct, com a média geral de 35,3%. Interessante lembrar que tal classe, conhecida no meio comercial como 3/1 (três pedras por quilate), apresenta valores médios bastante apreciáveis de comercialização, pois ela é largamente utilizada na confecção de brilhantes de pequeno porte (@0,10 ct), os mais procurados em termos de "volume" de vendas em joalherias.
Em relação às qualidades gemológicas dos lotes (Tabelas 3, 4, 5), algumas observações se destacam: (1) em função do peso, a classe de granulometria [>12 <19] também apresenta amplo predomínio em termos de diamantes gemológicos de alta qualidade, variando entre 19,6-31,0%, com média de 26,5% para este crivo nos sete pontos do bloco montante, e 10,1-27,8% no bloco jusante (média de 20,2%); (2) a média total de diamantes lapidáveis (gemas + chips) atingiu o máximo de 93,5% (Ponto 3 - bloco montante), com média geral de 82,2% sobre o "mega-lote" (todos os 14 pontos), pesando 17.689 ct, com 186.052 pedras.
5. Considerações finais
As mineradoras Tejucana e Rio Novo representam raríssimas excessões no cenário nacional, no sentido de operações racionais e organizadas de lavras diamantíferas. O estudo dos dados de produção dessas empresas, por conseguinte, constitui uma excelente oportunidade de se trabalhar com dados precisos e confiáveis, para uma atividade em geral desorganizada e dominada por atividades garimpeiras. Ressalte-se também o fato de que ambas as mineradoras estão com suas reservas à beira da exaustão, tornando o estudo ainda mais premente. As populações de diamantes, ora estudadas, serão ainda úteis na criação de um grande banco de dados, visando a conhecer a proveniência geográfica de lotes de diamantes através de suas características mineralógicas.
Os diamantes do Médio Jequitinhonha, assim, embora de tamanhos médios bastante reduzidos e constituírem uma parcela ínfima da produção mundial (considerando uma produção mundial de 100.000.000 ct/ano e a produção do rio Jequitinhonha em 100.000 ct/ano - isto significaria 0,1% daquele montante), podem ser considerados bastante interessantes pelos seus conteúdos histórico e comercial. Afinal, a bacia desse rio foi por quase 160 anos, a maior produtora mundial de diamantes. Além disso, tal produção representa uma das maiores freqüências médias mundiais de diamantes gemológicos (82,2%, conforme demonstrado). Por isso, ainda atualmente a cidade de Diamantina constitui um importante pólo de comercialização de diamantes em termos internacionais.
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