domingo, 28 de setembro de 2014

Cristais de rodonita

rodonita
Foto do Mineral Forma Cristalográfica
 
Cristais de rodonita
Direções ópticas e cristalográficas
Fórmula Química - (Mn,Ca,Fe)SiO3
Composição -
4,43 % CaO, 3,18 % MgO, 37,39 % Mn2O3, 11,35 % FeO, 47,44 % SiO2

Cristalografia -
Triclínico
        Classe -
Pinacoidal

Propriedades Ópticas -
Biaxial positivo

Hábito -
Tabular ou maciço
Clivagem - 
Duas direções, {110} e {1-10}
Dureza -
5,5 - 6,5

Densidade relativa -
3,4 - 3,7
Brilho -
Vítreo
Cor -
Vermelho, rosa ou castanha

Associação -
 Pode estar associada a outros minerais de manganês.

Propriedades Diagnósticas -
Cor e clivagem prismática.
Ocorrência -
Mineral gerado por metamorfismo de contato e regional.
Usos - Pedra ornamental e minério de Mn.

Chile mais um projeto no pipeline

Chile mais um projeto no pipeline



A mineração no Chile continua a avançar alavancada por inúmeros novos projetos que enriquecem a economia do país andino. Agora é a vez do Projeto Inca de Oro, uma joint venture entre a australiana PanAust e a chilena Codelco.

Inca de Oro é um jazimento de cobre sulfetado com 345Mt @ 0,47% de cobre, que vai produzir também ouro, prata e molibdênio.

O CAPEX a ser investido será de US$635 milhões. Isto permitirá uma produção anual de 50.000t de cobre e 40.000 onças de ouro ao longo dos dez anos de vida útil da mina.

Os estudos de viabilidade já foram concluídos em 2012 para um ROM de 12Mt/a em uma operação a céu aberto com processamento por flotação.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Roraima em pé de guerra

Roraima em pé de guerra

Padre italiano é acusado de ensinar tática de guerrilha a índios de Roraima e ficar com ouro e diamante extraídos nas reservas


No extremo norte do País, próximo à fronteira com a Guiana, há uma área rica em minérios, ouro e diamante, onde índios macuxis estão em pé de guerra contra os fazendeiros da região. Sob o comando do cacique Jacir e do padre italiano Giorgio Dall Ben, que vive no Brasil desde a década de 60, os índios têm invadido propriedades rurais. Durante anos, padre Giorgio formou dupla com outro cacique macuxi, Terêncio Luiz da Silva, da aldeia Ubaru, que dava as cartas no nordeste de Roraima. Bem afinados, os dois chegaram a ser recebidos juntos pelo papa João Paulo II. Mas há dois anos eles romperam. Enquanto o padre, com o apoio da Igreja Católica e da Fundação Nacional do Índio (Funai), insiste na defesa de uma demarcação contínua das reservas indígenas de Raposa e Serra do Sol, seu ex-aliado prega a criação de ilhas de preservação, proposta enfaticamente apoiada por fazendeiros, garimpeiros e pelo governo de Roraima. A dissolução dessa parceria acabou resultando em denúncias de utilização dos indígenas como massa de manobra numa guerra de interesses envolvendo o desvio de minério brasileiro pela Igreja Católica e o ensino de táticas de guerrilha aos índios. Em entrevista a ISTOÉ, o cacique Terêncio Luiz acusa padre Giorgio de ser o pivô dessa estratégia agressiva da Igreja. “Ele anda armado e usa os índios na exploração de ouro e no garimpo de diamante. Antes isso era feito com máquinas, e hoje o trabalho é todo manual, feito pelos índios”, conta Terêncio. O cacique afirma que o padre troca mantimentos e roupas com os índios por diamantes e ouro. “Enquanto estivemos juntos, sempre vi o padre pegando ouro e diamantes. Não sei o que ele fazia com aquilo, para onde mandava. Só sei que ficava com ele.”

Disfarçado de mulher – Padre Giorgio tornou-se uma figura lendária em Roraima. Transformou a aldeia Maturuca em um verdadeiro bunker, onde só permite o acesso da Funai, de missionários e de representantes de Organizações Não-Governamentais, especialmente as estrangeiras. Protegido pelos índios que o seguem, há anos não é mais visto pelos fazendeiros da região, que o teriam jurado de morte. Há cerca de um ano, em uma de suas últimas aparições, foi reconhecido saindo rapidamente de um posto de gasolina na capital do Estado, Boa Vista, pelo vereador Jordão Mota Bezerra, do município de Uiramutã. No Interior, contam que Giorgio chega a disfarçar-se de mulher quando precisa passar por alguma das cidades da área de conflito. Nas vezes em que se sente ameaçado em território brasileiro, atravessa a fronteira e se esconde na Guiana. O fazendeiro Wilson Alves Bezerra endossa as denúncias do cacique contra padre Giorgio: “Além de ensinar táticas de guerrilha, ele faz com que os índios garimpem ouro e diamante, que, depois, são enviados para a Itália.” Wilson, que tocava as dez maiores fazendas do Estado, das quais três eram de sua propriedade, foi anfitrião de Giorgio durante seis meses, em 1975. Depois, viu seu hóspede, com o apoio da Igreja, de ONGs e até da Funai, comandar os índios nas invasões contra nove das fazendas que administrava. Na última propriedade que lhe restou, Wilson continua extraindo diamantes e conta, para se defender de invasões, com a ajuda de outros índios que não seguem a cartilha do padre. “Se eu perder essa última fazenda e topar com o padre, eu acabo com ele”, ameaça Wilson.


ISTOÉ tentou encontrar o misterioso padre Giorgio Dall Ben, mas não conseguiu localizá-lo. No sábado 15, a reportagem da revista foi procurá-lo na aldeia Maturuca, mas foi barrada pelos índios, que exigiram uma autorização da Funai para o desembarque. Antes de ir para a aldeia, os repórteres de ISTOÉ foram à casa que serve de sede da Funai em Boa Vista, mas não encontraram sequer um funcionário para dar a autorização. Dez dias antes, a casa havia sido invadida por índios contrários à posição da Funai e da Igreja Católica na demarcação das terras indígenas. Nessa guerra pela demarcação que divide brancos e índios, o padre Giorgio está no olho do furacão. Com sua defesa de uma ampla e contínua reserva que englobe as principais e cobiçadíssimas jazidas minerais do Estado, conseguiu arregimentar um verdadeiro exército de índios estimado pelos adversários em dois mil soldados. Na esteira das operações militares que expulsaram os garimpeiros da região, essa tropa invadiu fazendas e aumentou na marra o tamanho da área controlada pelos índios.

O projeto original do governo federal previa a demarcação contínua com o argumento de que os índios são nômades. Com essa postura, agrada aos organismos internacionais, às Organizações Não-Governamentais e à Igreja Católica, que lutam pela preservação do hábitat natural dos índios. Em Roraima, porém, a resistência à execução desse projeto é muito grande. Hoje, as reservas indígenas tomam cerca de 43,12% do Estado, a maior parte na região noroeste, fronteira com a Venezuela e divisa com o Estado do Amazonas. Se a demarcação da área a nordeste for contínua, os índios tomarão mais 18% de Roraima.

Sem divergências – Coincidentemente, as áreas indígenas já demarcadas e sob litígio são justamente as de maior produção de ouro e diamantes identificadas em um levantamento feito pela Nasa, a agência aeroespacial americana, que está em poder da CPI da Funai, instalada na Câmara há um ano. Os políticos de todas as tendências em Roraima esquecem as divergências e se unem em defesa de uma demarcação por ilhas que preserve as áreas onde estão localizadas as aldeias indígenas e não comprometa o desenvolvimento do Estado. “Não sou contra que se preservem as áreas indígenas, só não posso aceitar uma medida que leve o Estado à falência”, explica o governador Neudo Campos (PPB). O chefe do Executivo e a bancada parlamentar de Roraima apresentaram suas restrições ao presidente Fernando Henrique Cardoso, que mandou o Gabinete de Segurança Institucional reexaminar o projeto do governo. No Palácio do Planalto está sendo gestada uma solução intermediária com o propósito de satisfazer os dois lados em conflito.
A nova proposta governamental mantém no extremo norte do Estado a demarcação contínua na serra do Sol, onde os índios são mais arredios a contatos com os brancos. Em compensação, a reserva de Raposa seria fragmentada de maneira a assegurar terras aos índios e permitir o funcionamento de cidades e fazendas já existentes na área. “Essa é uma solução que pode reduzir em mais de 90% os conflitos na região”, aposta o deputado Antônio Feijão (PST-AP), relator da CPI da Funai. Segundo o parlamentar, com isso haveria uma volta da mineração da região, desde que previamente autorizada pelas comunidades indígenas, que receberiam royalties e outras vantagens com a exploração de ouro, diamante e demais minérios abundantes na região. Feijão também é inimigo declarado do padre Giorgio Dall Ben, “uma espécie de general de campo do Conselho Indigenista Missionário”. Ele conta que vários depoentes disseram à CPI da Funai que o padre Giorgio sempre recebeu uma parte do ouro e do diamante recolhidos pelos índios em troca de mantimentos, utensílios e até de cabeças de gado: “O que ele faz com essa riqueza ainda não conseguimos apurar.”

Cofre suspeito – As desconfianças de que a Igreja Católica tem participação no contrabando de ouro e pedras preciosas de Roraima é antiga. Datam de abril de 1988, quando agentes encapuzados do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI) e o então secretário de Segurança de Roraima, coronel Menna Barreto, invadiram a casa do arcebispo dom Aldo Mongiano, na expectativa de apreender provas de seu envolvimento com movimentos considerados subversivos. No cofre da arquidiocese foram encontrados um saco com 615 gramas de diamante e dois quilos de ouro. ISTOÉ localizou um dos participantes da operação, que pediu para não ser identificado, mas se disse disposto a depor na CPI. Ele assegura que o material apreendido foi enviado a Brasília, mas desapareceu. Na queixa que fez à polícia sobre a invasão de sua residência, dom Mongiano não registrou o sumiço de ouro e diamante, mas apenas de uma papelada que incluía documentos da Arquidiocese, cartas e bilhetes e extratos bancários.

O interesse pela riqueza mineral na Amazônia atrai a cobiça interna e externa. Mesmo com todas as restrições à exploração em áreas indígenas, empresas estrangeiras continuam mapeando o subsolo da região. Os estrangeiros canadenses alugaram três aviões no Brasil, equiparam as aeronaves com aparelhos de rastreamento de minério, que nas últimas semanas sobrevoaram as zonas de maior concentração mineral de Roraima. Essa não é única interferência internacional. De acordo com o relatório da CPI da Funai, 151 áreas indígenas serão demarcadas na Amazônia Legal até o final de 2002, financiadas por uma agência alemã e pelo Banco Mundial com a contrapartida do governo brasileiro. No mesmo relatório, a CPI registra a “evidente e forte influência de Organizações Não-Governamentais na formulação dos laudos que esticam os limites das áreas indígenas a seu bel-prazer: a Funai, por depender de recursos externos para realizar essas demarcações, torna-se refém de ONGs nacionais ou estrangeiras”. Os missionários das mais variadas Igrejas também têm presença maciça na Amazônia. Segundo levantamento da CPI, nas aldeias há quatro religiosos para cada funcionário da Funai e um missionário para cada grupo de 52 índios no Brasil.

Terras ‘indígenas’ reivindicadas por ongs estrangeiras acompanham fonte de minérios Reservas demarcadas em Roraima são as minerais

Terras ‘indígenas’ reivindicadas por ongs estrangeiras acompanham fonte de minérios
Reservas demarcadas em Roraima são as minerais
Juíza exclui da demarcação da Raposa / Serra do Sol a faixa da fronteira “até que seja convocado o Conselho de Defesa Nacional” e o Parque Nacional Monte Roraima “comprovadamente rico em ouro e diamantes”
Em decisão divulga da no último dia 13, a desembarga dora federal Selene Maria de Almeida, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, resolveu “excluir da área indígena Raposa / Serra do Sol, até julgamento final da demanda” a “faixa da fronteira, até que seja convocado o Conselho de Defesa Nacional” e a “área da unidade de conservação ambiental Parque Nacional Monte Roraima”.
Além disso, a desembargadora manteve a “decisão agravada para o efeito de manter excluídas os municípios, as vilas e as respectivas zonas de expansão; as rodovias estaduais e federais e faixas de domínio e os imóveis com propriedade ou posse anterior ao ano de 1934, e as plantações de arroz irrigados no extremo sul da área indígena identificada”. 
OURO E DIAMANTE 
Em sua decisão a desembargadora federal diz que “o trabalho das Comissões do Congresso é claro, preciso e aponta duas questões que não foram objeto da ação popular, mas que conheço de ofício, pois se trata de questão de ordem pública envolvendo a soberania e a defesa do Estado brasileiro em área de fronteira. A outra questão é relativa à existência de reserva indígena em Parque Nacional onde existem comprovadamente minas de ouro e diamante”.
Já foi constatada também que na área Raposa / Serra do Sol há a existência de grandes quantidades de minério, como diamante, zinco, ouro, caulim, ametista, cobre, diatomito, barita, molibdênio, titânio, calcário, nióbio. Há indícios também de urânio e tório, segundo a Companhia de Pesquisas e Recursos Minerais (CPRM), órgão do Ministério de Minas e Energia. Veja ao lado o mapa que consta do relatório da Comissão Externa da Câmara dos Deputados criada para analisar a questão da reserva.   
Em abril, o juiz federal Helder Girão Barreto havia concedido liminar proibindo a homologação da portaria 820/98, atendendo a uma ação popular interposta pelos advogados Silvino Lopes, Alcides Lima Filho e Rittler Lucena.
O relatório da comissão de peritos instituída pelo juiz Helder Girão para averiguar as questões relativas à demarcação da reserva Raposa / Serra do Sol registra que o Parque Nacional Monte Roraima “trata-se de área de fronteira com a República da Guiana, um lugar remoto, de serra, no qual os índios não habitam. Todavia, é uma área rica em ouro e diamantes. Se a região não é habitada por índios, é área de fronteira e constitui um Parque nacional. O Monte Roraima deve ser excluído da área da reserva indígena. Quanto às riquezas minerais (ouro e diamante) que estão no subsolo do Parque, a União Federal, no futuro, cuidará de sua exploração como for conveniente aos interesses nacionais”.
Os peritos consideram que “a Funai conseguiu apresentar uma quantidade extraordinária de irregularidades, num mesmo processo de demarcação. Talvez movida pela vontade fora do comum de servir a nobre causa de defesa dos interesses das comunidades indígenas, em comum acordo com as teses ‘políticamente corretas’ defendidas internacionalmente por organismos governamentais e não governamentais”.
O estudo “A Questão Minerária na Amazônia: a Coincidência das Áreas Indígenas”, do vice-governador de Roraima, Salomão Cruz, e do economista Haroldo Amoras, aponta a relação entre as áreas demarcadas ou pretendidas pela Funai com os minérios.
“Apesar de entidades desmistificarem a tese que a demarcação de terras indígenas não são efetivadas considerando os veios minerais que lhes percorrem o subsolo, suas ligações com ONGs e as ligações destas com financiadores externos, as coincidências levam a crer o contrário, basta analisar a ampliação destas e a possibilidade de existência de minérios apontadas pelo Projeto Radam no final dos anos 80”, diz o estudo. 
VEIOS MINERAIS 
Os autores citam como exemplo o ocorrido na Gleba Noroeste (37) na Área Yanomami; “É visível o caminho percorrido buscando a sinuosidade apresentada pelos veios minerais, sendo notória a área pretendida Raposa / Serra do Sol e as curvas sofridas pela ampliação da Área Yanomami - Gleba Noroeste (37). Parte desta gleba estava fora da área pretendida pela Funai e após a descoberta de fosfato pela CPRM, a reserva foi ampliada, excluindo 27 propriedades rurais, a maiorias detentoras de título definitivo ou posse”. 
NIÓBIO 
A reserva Yanomami é uma das mais ricas reservas minerais do planeta. É nela que se encontram as maiores jazidas conhecidas de nióbio do mundo, metal considerado de alto valor estratégico. Segundo o relatório da Comissão Externa da Câmara, o nióbio é “mais leve que o alumínio, quando adicionado ao aço, sua resistência é muito superior à de chapas blindadas de aço cromo-niquelado, o que explica o grande interesse da indústria bélica por esse mineral. Ele é usado na construção de cosmonaves e satélites, por ser resistente ao frio cósmico e ao impacto de pequenos meteoritos, além de ser um grande condutor: um arame com espessura de um fio de cabelo tem a mesma condutividade de um cabo de cobre de uma polegada”.
A homologação de terras indígenas na área Raposa / Serra do Sol, estipulada pela portaria 820/98 do Ministério da Justiça, tem sido alvo de debate no Senado e na Câmara, que já encaminharam ao presidente Lula relatórios nos quais deixam claro que a homologação deve ser feita de forma descontínua.
O relatório da Comissão Externa do Senado aponta que “todas as instituições políticas do Estado de Roraima estão em harmonia quanto à posição contrária à homologação da terra indígena de forma contínua”.

Rondônia: Índios e garimpeiros 'reabrem' garimpo de diamantes na reserva Roosevelt

Rondônia: Índios e garimpeiros 'reabrem' garimpo de diamantes na reserva Roosevelt
Há dez anos, 29 garimpeiros foram assassinados na região em meio a desentendimentos com os índios

Fotos Ilustrativas
 
Numa porção da floresta Amazônica onde pode estar uma importante jazida de diamantes, índios e garimpeiros refizeram uma lucrativa parceria para extrair e vender as pedras de maneira ilegal.

A atividade foi retomada no fim do ano passado na Terra Indígena Roosevelt, uma área que se estende por Rondônia e Mato Grosso.  Há dez anos, 29 garimpeiros foram assassinados na região em meio a desentendimentos com os índios por causa do tesouro que aflora nessas terras.

O que sai da região tem um destino conhecido de autoridades: o comércio internacional ilegal de diamantes.  As suspeitas são de que as pedras de Roosevelt acabem chegando às mãos de compradores na Bélgica, Emirados Árabes Unidos, EUA, Índia e Israel, centros de lapidação e comércio de diamantes.  É uma longa cadeia ilícita, da qual em geral participam doleiros, contrabandistas, empresas de fachada e, por vezes, agentes da lei.

A situação de Roosevelt é delicada para o Brasil.  O país é participante do Sistema de Certificação do Processo Kimberley, que regulamenta, com a chancela da ONU, o comércio internacional dos diamantes brutos e exige de seus signatários medidas para garantir que suas pedras sejam extraídas somente de áreas legalizadas.  Diamantes brutos só podem sair do país com certificado Kimberley, emitidos pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).  Se forem de áreas não legalizadas, não são, em tese, certificados.

Autoridades brasileiras veem Roosevelt com dupla preocupação.  Primeiro porque mineração em terra indígenas é proibida no país e o caso expõe a dificuldade do Estado de evitar que parte dos diamantes brasileiros continue sendo extraída e comercializados de maneira ilícita.  A segunda preocupação é com a segurança.

"O momento é o pior possível.  Talvez até pior do que era há dez anos, no auge do garimpo", disse na sede do Ministério Público Federal em Porto Velho o procurador da República em Rondônia, Reginaldo Pereira Trindade.

"O contexto de violência em Roosevelt ainda está presente como naquela época das mortes, mas como a questão parece ter esfriado o governo está muito mais desinteressado".  Para ele, o risco é de novos conflitos levarem índios e garimpeiros a se matarem por causa dos diamantes.  "Basta que alguém risque um palito de fósforo para que esse barril de pólvora, que está aí latente, exploda."

Um intermediário na venda de diamantes contou à reportagem, sob a condição de não ter seu nome divulgado, que viu em janeiro no garimpo, índios armados e um ambiente hostil com os garimpeiros que trabalham e dormem no garimpo.  "O clima estava estranho", definiu ele.

Desde 2004 - quando em abril os 29 corpos foram encontrados -, a Polícia Federal mantém vigilância no entorno de Roosevelt para evitar a entrada de máquinas e garimpeiros e para garantir a paz na terra indígena e nas cidades próximas.  Em dez anos, a Operação Roosevelt reduziu, mas nunca barrou de vez a extração ilegal de diamantes na região.

A Terra Indígena Roosevelt é uma das quatro áreas reservadas aos índios cinta-larga entre o sudeste de Rondônia e o noroeste do Mato Grosso.  Roosevelt tem 230,8 mil hectares.  Todo o território cinta-larga, 2,7 milhões de hectares - o equivalente ao Estado de Sergipe.  São entre 2.000 a 2.500 índios.  A Operação Roosevelt tem menos de 60 homens e seis bases no entorno da terra.

O Valor esteve na última semana de janeiro em uma das principais aldeias dos cinta-larga: a aldeia Roosevelt.  De Cacoal, no sudeste de Rondônia, até lá são quatro horas de viagem.  O cacique é Daniel Rondon, quase 50 anos, sisudo e com português carregado de sotaque de sua língua materna, o tupi mondé.


A corrida aos diamantes de Roosevelt começou em 1999.  Entre 2003 e 2004, de 4 mil e 5 mil homens trabalharam na clareira


"A cada 15 a 20 dias, cada família [que controla um pedaço de terra nas margens do igarapé Lajes, onde está a clareira do garimpo ] recebe R$ 10 mil, R$ 15 mil.  É mais ou menos 20% das vendas", explicou ele na varanda de um casa de alvenaria espaçosa e muito simples a poucos metros das margens do Rio Roosevelt.

De 20% a 25% sobre a venda dos diamantes são o que, em geral, os índios têm recebido por "liberar" a mineração em Roosevelt para garimpeiros, segundo Rondon e outros cinta-larga.

A aldeia Roosevelt parece um pequeno e pobre bairro rural.  Não tem ocas, mas 40 casas padronizadas com paredes pintadas de branco e manchadas de terra e outras poucas construções.  Tudo com verba do governo federal.  Nas cidades próximas à Roosevelt, o relato frequente é que algumas poucas lideranças ficam com o grosso do dinheiro dos diamantes e que o desperdiçam em noitadas, bebida, prostitutas e motos e carros.

Em 2010, a Fundação Nacional do Índio (Funai) firmou uma parceria com os cinta-larga para encerrar a atividade garimpeira.  À Funai caberia reforçar as ações de ajuda à população de Roosevelt além de pagar a cada família que atuasse como polícia indígena, para impedir o garimpo.  O valor pago a cada indígena pelo Projeto Lajes chegou a R$ 1.500 por mês.  Com o acordo, o garimpo foi "oficialmente" fechado pelos índios em 2010.  Em 2012, houve um repique e a PF destruiu com explosivos máquinas no garimpo.

"No primeiro momento a gente avançou, mas depois a gente passou a não ter mais estrutura, dinheiro", disse Urariwe Suruí coordenador regional da Funai em Cacoal.  Houve também, disse, problemas entre os cinta-larga por conta de quem as lideranças escolhiam ou deixavam de escolher para a função remunerada a cada mês do Projeto Lajes.  "[O projeto] acabou em outubro passado.  Eles disseram que não queriam mais.  E aí o garimpo voltou com tudo", diz o jovem suruí.

Líderes cinta-larga usam um único argumento para justificar a extração ilegal de diamantes: o governo não os ajuda a ter projetos agrícolas rentáveis e sustentáveis e as famílias cinta-larga se envolvem com o garimpo para comprar alimentos, remédios, roupas, carros para transporte de doentes, combustível e também TV com canais por assinatura, celular, moto e tudo o que aprenderam a consumir desde os primeiros contatos com o mundo exterior nos anos 60.

"O que acontece é que tem tanta reunião, reivindicação e o governo demora para atender.  Aí os índios falam 'não vamos esperar mais o governo, não'", resume Nacoça Pio Cinta-Larga, de 55 anos, um dos líderes locais, ao falar da reabertura do garimpo.

Os garimpeiros usam resumidoras, um tipo de esteira para bater o cascalho, e bombas de água.  Rondon diz que o movimento no garimpo caiu um pouco.  "Tinha 30 máquinas e agora, 19."

A reportagem não chegou ao garimpo do Lajes, o principal de Roosevelt, que fica numa clareira que de ponta a ponta, segundo a PF, tem quatro quilômetros.  Uma ilha de lama no meio da floresta.  Da aldeia até lá são mais quatro horas.  Lideranças cinta-larga na aldeia não permitiram a visita da reportagem sob a alegação de que a estrada estava intrasitável.

A corrida aos diamantes de Roosevelt começou a ser notada em 1999.  Entre 2003 e 2004, de 4 mil e 5 mil homens trabalharam na clareira, segundo a Polícia Federal.  "Naquela época era muita gente.  Hoje, se tiver, são 100 e poucas pessoas", diz Marcelo Cinta-Larga, de 33 anos, citando um número sem confirmação de autoridades.  Rondon fala em menos de 100.


A Terra Indígena Roosevelt é uma das quatro áreas reservadas aos índios cinta-larga entre o sudeste de Rondônia e o noroeste do Mato Grosso.  Atualmente, os garimpeiros usam resumidoras, um tipo de esteira para bater o cascalho, e bombas de água.


Assim como Rondon e Pio, Marcelo diz que a relação com os garimpeiros que estão novamente em suas terras está tranquila.  Rondon diz os garimpeiros foram mortos porque estavam ameaçando de morte os índios.  Segundo a PF, desde 2007 não há mortes relacionadas aos diamantes.  Além dos 29, a polícia computa 20 assassinatos ocorridos antes e depois de 2004.

Ao falar sobre a venda das pedras, Rondon narra assim a rotina do negócio: "Tem um barracão lá no garimpo e os caras que compram vão lá para avaliar e comprar.  De 15 em 15 dias eles vêm comprar".  E acrescenta: "A gente não sabe quem é o comprador forte."  Ele e outros dizem que no passado tinham negócios com compradores de Minas Gerais, Mato Grosso e São Paulo.  Usando a palavra em tupi mondé que significa pedra branca e também diamante, Rondon diz que o "ikaxirá" mais caro que viu nos últimos tempos foi um de 8 quilates vendido por R$ 80 mil.

Um conhecedor do mercado de diamantes falou de uma pedra bem mais valiosa.  À reportagem, por telefone, ele afirmou que há quatro meses apareceu na mão de um comprador de Juína (MT) uma pedra recém-extraída de Roosevelt de 90 quilates vendida por R$ 450 mil.  E que há poucos dias, surgiu na cidade outra, também de Roosevelt, de 30 quilates.  Um quilate é o equivalente e 200 miligramas.

"Os diamantes de Roosevelt são totalmente distintos de qualquer diamante do Brasil.  São predominantemente pedras brancas, têm várias formas, mas muitas octaédricas [o que permite cortes valorizados na fase de lapidação], são pedras de alto teor de pureza, muito bonitas e grandes.  Eu já vi diamantes de lá de 50, 70, 80 quilates", disse, de Brasília, o geólogo do Serviço Geológico do Brasil, Valdir Silveira, que lidera um projeto para mapear áreas diamantíferas, o Projeto Diamante Brasil.

Segundo ele, há indicações seguras de que a terra dos cinta-larga está sobre corpos kimberlíticos com alto potencial diamantífero.  Mas por ser terra indígena, nunca nenhuma empresa prospectou nem lavrou a região.

O comércio mundial de diamantes brutos é afunilado em poucas cidades, entre elas Antuérpia, Dubai, Nova York, Mumbai e Tel-Aviv.  São centros de comércio e de lapidação de padrão internacional.  O preço de um diamante bruto pode ser multiplicado alguma vezes após lapidado.  Em tese, esses mercados movimentam apenas diamantes com origem legal.  Mas no setor, são ainda frequentes relatos sobre caminhos ilícitos para 'esquentar' pedras de áreas proibidas.  Para Valdir Silveira, esse é o caso dos diamantes de Roosevelt.

"O destino é ilegal, não tem como não ser, porque a produção de diamante lá é ilegal", diz.  "Com certeza, os diamantes de Roosevelt estão saindo do Brasil de forma clandestina, eles estão indo para a Venezuela ou Guiana ou outro país da região."  São rotas conhecidas onde os contrabandistas obteriam certificados Kimberley de forma mais fácil do que no Brasil.  Outra opção seria misturar pedras de Roosevelt em lotes de áreas regulares ou recorrer a pessoas que levam para o exterior pedras na roupa ou dentro do corpo.

Em sua sala na sede da Operação Roosevelt, em Pimenta Bueno (RO), o delegado Alexandre de Andrade Silva, chefe da base central da operação, diz que PF faz patrulhas nas estradas que dão acesso à terra indígena, mantém equipes nas seis bases no entorno da terra e eventualmente sobrevoa a região.  "O desafio da PF é chegar a quem está comprando, ao grande comprador, ao grande financiador."

Em 2010, a equipe de Silva junto com a PF no Mato Grosso tentaram ir além.  "A gente ficou um ano investigando tentando pegar a ponta, tentando alargar a teia para de repente pegar um cara que está lá na Rússia, Bélgica ou em Israel.  Mas não se evidenciou", disse o delegado.  "A PF continua empenhada em tentar chegar aos compradores finais.  Não desistimos, de jeito nenhum."

Em março de 2010, um homem foi detido no Aeroporto Internacional de Confins (MG), com um diamante de 28 quilates que policiais afirmaram ter saído de Roosevelt.  A pedra foi avaliada em R$ 200 mil.  Em abril do mesmo ano, um lote com 20 pedras, avaliado em R$ 100 mil, também da terra cinta-larga, segundo a PF, foi apanhado com outro homem em Confins.  Em 2004 e 2005, a PF já havia desmantelado dois esquemas de venda ilegal das pedras de Roosevelt para o exterior.

O Brasil exportou legalmente em 2013 US$ 6,1 milhões em diamantes brutos, 44,3 mil quilates, segundo dados preliminares do DNPM.  É insignificante para o mercado internacional.  Mas a produção vem aumentando desde 2009, quando encolheu pela crise financeira internacional.  Em 2009, a exportação brasileira foi de US$ 2 milhões, 35,9 mil quilates.  Minas e Mato Grosso são alguns exportadores.  Em Rondônia, segundo dados da superintendência local, havia em janeiro, 161 pedidos de pesquisa ou lavra de diamantes.  Legalmente, não há nenhum quilate sendo extraído no Estado.