domingo, 14 de dezembro de 2014

O escafandrista e os diamantes

O escafandrista e os diamantes

Sonhando com pedras preciosas escondidas sob o leito do Rio Tibagi, no Paraná, garimpeiro recorre a uma invenção do século XIX, que resgatou de um ferro-velho, para mergulhar em busca de seu tesouro
Já era tarde da noite, porém a aglomeração às margens do Rio Apucaraninha era grande. Mais de cem pessoas, desesperadas, esperavam que os bombeiros tirassem do fundo do rio um jovem que se afogara enquanto brincava com os amigos. Sem visibilidade e com o oxigênio dos cilindros se esgotando, as buscas seriam encerradas e só recomeçariam na manhã seguinte. Choro. Pai e mãe não arredariam o pé da barranca enquanto o corpo do filho não fosse resgatado.
Assustado, Oanio Silva de Souza, 37 anos, o Aninho, abriu a porta de casa para receber alguns homens afoitos que pediam ajuda. Ele era o único em Tamarana – cidade de 10,8 mil habitantes a 60 quilômetros de Londrina – capaz de fazer o que os homens do Corpo de Bombeiros não conseguiram. Sem titubear, ele acordou seu pai e fiel companheiro, Joaquim Silva de Souza, 74, e foi buscar seus equipamentos guardados em um rancho perto do Tibagi, o maior rio da região.
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O dia mal havia clareado e a dupla de garimpeiros já estava em ação, mas desta vez para resgatar um corpo. “Na primeira descida, já encontrei o rapaz. Nunca fiquei tão impressionado na minha vida”, relembra Oanio, contando a primeira das várias histórias que relatou para a reportagem de Brasileiros. Essa do resgate se passou em 2005.
Encontramos Aninho e Joaquim na primeira vez que eles foram para o Rio Tibagi neste ano de 2008. As águas de março já se foram, a chuvarada passou. E é tempo de rio baixo e corredeiras mais mansas. Todo ano é a mesma coisa: abril é o mês ideal para voltar a mergulhar em busca de um sonho: o de encontrar um diamante. Em outubro volta a chover e aí o mergulho se complica outra vez.
A dupla de pai e filho, que só achamos depois de muito perguntar, se diferencia de tudo o que se vê pelos garimpos. Chama atenção o fato de eles trabalharem solitários, o que não é comum. Sempre que há notícia de diamante, ouro ou qualquer outro metal precioso em algum lugar, os garimpeiros surgem como formigas atrás de doce. Para explicar tal fato, Aninho é direto: “O nosso ponto está longe de ser o mais produtivo do Tibagi”. “Os melhores diamantes estão rio acima. Nós somos os últimos da fila. Até o final da década de 1980 tinha mais de 50 garimpeiros por aqui, agora somos apenas nós”, completa Joaquim.
Porém, o que mais impressiona é o equipamento que Oanio usa para descer até o fundo do rio, em profundidades que chegam a 12 metros: um escafandro, um dos mais primitivos equipamentos de mergulho inventados pelo homem. Para se ter uma idéia, a invenção do escafandro é creditada ao alemão Augustus Siebe, que fez o primeiro equipamento em 1839. Já faz tempo que os garimpeiros estão utilizando recursos mais modernos. Hoje em dia, há algo que eles chamam de “chupeta”, que faz o ar chegar direto à boca do mergulhador e ser bombeado por compressores mecânicos movidos a combustível ou eletricidade. No mergulho esportivo e comercial usam-se cilindros de oxigênio, que permitem ao mergulhador sentir-se como um peixe. A roupa usada hoje, então, nem se fala, é um conforto só em comparação com o escafandro.
Pesadão e desajeitado, o equipamento de Oanio foi utilizado em larga escala na primeira metade do século XX, mas agora virou peça de museu, literalmente. Na cidade que leva o mesmo nome do rio do garimpo, Tibagi, já na região central do Paraná, os escafandros estão expostos no museu que conta a história dos achados de diamantes no rio que, desde 1754, é chamado de “Eldorado” pelos garimpeiros. Aliás, na região da cidade de Tibagi, que fica rio acima em relação a Tamarana, o garimpo sempre foi intenso e continua sendo até hoje.
Contam-se centenas de garimpeiros. “Aqui tem muita gente mergulhando, mas ninguém se mete a besta com o escafandro. Esse já foi superado, ficou pra trás”, diz um ex-garimpeiro que se identifica como João, 84 anos. João do quê? “Do rio, filho, só isso”, respondeu-nos o matuto, fugindo da foto. “Isso aí não presta”, justificou para o fotógrafo, apontando a câmera. Pelo jeito, Aninho é o último garimpeiro no Paraná e talvez no Brasil que insiste no escafandro. “Pode ser que lá pro ‘nortão’ do país tenha mais alguém fazendo isso. Por aqui eu garanto que não tem”, destaca o pai do escafandrista.
Oanio e Joaquim são bons de conversa e ligeiros no serviço. Quando se fala de escafandro, pode-se falar também em peso. Só o capacete de bronze pesa 15 quilos. As peças de chumbo nele penduradas somam 60 quilos. Ao todo, Oanio submerge com 80 quilos além do peso de seu corpo. Isso sem falar da bomba manual, que fica na margem do rio: quase 100 quilos. Eles vão ajeitando tudo e conversando numa boa. Joaquim nem parece ter 74 anos. Ele vence os 50 metros de picada no mato entre o rancho e o Tibagi, carregando peso, sem nem ficar ofegante.
O resgate
O remendo com cola rápida feito no capacete de bronze denuncia a reforma. A história do escafandro de Oanio é interessante. O equipamento todo, incluindo a bomba, foi comprado na década de 1940 pelo administrador de uma pequena usina hidrelétrica que fica no Rio Apucaraninha, o mesmo onde Oanio resgatou um corpo.
O escafandro serviu para que mergulhadores fizessem reparos em uma rachadura na barragem da usina. Terminado o conserto, o tal administrador presenteou um garimpeiro do lugar com o escafandro e a máquina de bombear. Esse garimpeiro era Américo Silva de Souza, pai de Joaquim e avô de Oanio, um dos muitos e muitos baianos que foram parar nas margens do Tibagi em busca de diamantes. Contudo, Américo nunca usou o escafandro. “Ele era do garimpo de baixio, aquele que é feito em lugares onde não é preciso mergulhar”, recorda Joaquim.
O capacete seu Américo deixou guardado em casa e a bomba foi parar no meio do mato, junto com um monte de ferro-velho. Só em 1998, Oanio, que já andava garimpando nos barrancos do rio, ficou sabendo, por intermédio de um amigo de seu avô, da herança que estava escondida no matagal. Daí para virar mergulhador – e mergulhador de escafandro – foi fácil. Recuperou o capacete que estava aos cuidados de sua avó, consertou as rachaduras com cola rápida, tirou a máquina do ferro-velho e também providenciou reformas, bem à sua maneira, improvisando o necessário – uma lata de tinta, por exemplo, substituiu a camisa de refrigeração que já estava bem danificada. “Se não tem essa lata com água dentro para refrigerar o ar bombeado, o oxigênio chega lá embaixo quente demais, aí fica difícil respirar”, explica Aninho.
As peças de chumbo, usadas para que o mergulhador afunde, tinham sumido. Ele forjou novas e também refez a camisa de lona que é acoplada ao capacete. Só faltava aprender a mergulhar com aquele “trem”. Oanio levou tudo para a beira do rio, pôs o pai na bomba de ar e aprendeu a mergulhar sozinho. Ele também arranjou timburi, uma madeira especial para a confecção de barcos, e fez o bote que é utilizado para ir de um lado para o outro dentro do rio. Estava tudo certo, era só começar a garimpagem.
A vida por um parafuso
O garimpo de diamantes em um rio profundo como o Tibagi é muito interessante, ainda mais quando é feito de escafandro. O mergulhador desce até o fundo munido de sacos, os quais enche com o cascalho. Enquanto isso, quem fica na bomba não pode parar de girar a máquina nem um segundo. A vida de Oanio depende do ar que sai dali e é levado por uma mangueira até o capacete de seu escafandro. Joaquim sabe que não pode dar bobeira.
Antes de descer, Aninho se preocupa com o parafuso da braçadeira que prende a mangueira à máquina. “Isso aqui garante a vida do peão. Se é colocado de mau jeito e solta enquanto estou lá embaixo, tchau…” É a vida por um parafuso. Ter o próprio pai na bomba garante a Oanio um grande sossego para mergulhar.
Lendas ou não, tem muita gente da região de Tibagi que conta sobre mergulhadores de escafandro que morreram sem ar no fundo do rio porque os colegas da superfície simplesmente pararam de bombear. Segundo os causos, as mortes aconteciam por ambição. O mergulhador enche os sacos com cascalho e esses vão sendo içados por cordas até a superfície, onde o material é lavado e separado. Quando acontecia de subir um diamante junto com o cascalho podia acontecer também de o pessoal da superfície resolver deixar o mergulhador sem ar, afinal seria um a menos para rachar a grana da pedra preciosa.
Prestes a começar a garimpar pra valer na temporada 2008, Oanio e Joaquim ainda não escolheram quem vai ser o parceiro que vai ficar responsável por puxar o saco para cima. Em outras temporadas, o terceiro membro da equipe chegou a ser dona Maura, a matriarca da família. “Já fizemos uns garimpos muito doidos aqui: a mãe na bomba, o pai no saco e eu no mergulho”, diverte-se Aninho, cheio de bom humor e fazendo pose com o chapéu sobre o capacete do escafandro.
Enquanto não formam a equipe pra valer, pai e filho cuidam de ajeitar a balsa que levam para o meio do rio, onde fixam todos os equipamentos, facilitando o trabalho. O mergulhador chega a passar até uma hora na profundidade das águas, que às vezes estão bem geladas, com visibilidade quase zero. Só em dias de água muito limpa é possível ver alguma coisa. O serviço é feito praticamente pelo tato. A solidão é total e o medo existe, sim. “O meu maior medo é alguma pedra do barranco do rio se desprender e me esmagar lá no fundo. Também tenho medo de perder a escada que me ajuda a voltar para a superfície”, revela Oanio, sem esconder a tensão.
O que garante que pode haver algum diamante misturado ao cascalho são as “pedras informes”. Os nomes são interessantes: campina azul, amendoim-roxo, lacre, ferragem de bronze, ferragem de jabuticaba, granada… Aos olhos de um leigo não passam de pedras, mas aos olhos dos homens do garimpo são a esperança da fortuna.
Cigarro de 10 mil-réis
Formados pela “faculdade da realidade”, os homens da família Souza sustentam a tradição do garimpo, mas nenhum deles foi apenas garimpeiro na vida. Américo, o baiano precursor, abriu no enxadão as estradas de terra de Tamarana. Joaquim sempre foi da lavoura e do diamante. Oanio faz de tudo um pouco. É eletricista, mecânico, pedreiro, marceneiro, pescador profissional e até se meteu a montar a antena da única rádio da cidade, coisa que ninguém mais tinha conseguido fazer.
No bate-papo na varanda do rancho, foi impossível deixar de perguntar sobre as pedras encontradas. Afinal, esse garimpo de escafandro rende ou não rende algum dinheiro? “Sobre o garimpo se fala, mas sobre o que produz não se fala. No nosso caso, posso dizer que é apenas um esporte”, rebate Oanio, sem esconder que lhe faltam as devidas licenças do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) para pesquisar diamantes. No entanto, ele tem uma permissão do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) para tal atividade.
Por sua vez, Joaquim revela que os diamantes o ajudaram a criar os seis filhos, porém nunca achou nada de excepcional. Mas já teve gente que achou. “Lá se vão algumas décadas que um amigo meu achou um veio de diamante que deu pra encher uma garrafa de 1 litro com as pedras, mas ele ficou doido, fazia cigarro com notas de 10 mil-réis. Esbanjou todo o dinheiro”, recorda.
Já voltando para casa, mesmo sem ver diamante algum, o que se pode dizer é que a paisagem que cerca os garimpeiros solitários de Tamarana é um verdadeiro tesouro. Pertinho deles, um salto do Rio Apucaraninha enche os olhos com seus 110 metros de queda-d’água. Ao redor do rio onde garimpam, montanhas e chapadões de pedra encantam quem é acostumado a ver somente concreto. Não é à toa que eles se declaram felizes.

Há 100 anos, o garimpo ressurgia no Rio Tibagi

 Há 100 anos, o garimpo ressurgia no Rio Tibagi

"Diamante! Diamante! Era o brado que ecoava nas regiões do caudaloso Tibagi". O caudaloso Rio Tibagi, obra prima da natureza, ao cortar o interior do Paraná mostra a beleza de seus saltos, de suas praias e também a presença em seu leito dos "caldeirões" encachoeirados, contendo pedras preciosas magistrais, alento de uma população em constante busca de riquezas.



O Tibagi foi conhecido desde 1754 como El Dorado paranaense pelas descobertas que fizeram os paulistas, na Pedra Branca, das minas de diamante e ouro. Por isso, em várias épocas chegaram por aqui garimpeiros, faiscadores e aventureiros vindos de todos os lados e quadrantes do Brasil, ligando a cidades de Castro e Ponta Grossa por estradas carroçáveis, que substituíram os trilhos de tropas.



No ano de 1912, há exatamente cem anos, numa das grandes baixas de suas águas, o Tibagi viu ressurgir seus garimpos quase abandonados. Começou a ocorrer a afluência de novos garimpeiros, quase todos eles vindos do norte e nordeste do Brasil. Conhecedores dos serviços e ótimos mergulhadores a fôlego, trazidos às expensas de gente vivida em regiões mineiras e de alguma posse, entre elas os irmãos Santos (Augusto, Orlindo, Mário e Abílio), se estabeleceram comercialmente em vários locais do interior tibagiano, próximo do rio. Depois destes, muitos vieram de Minas Gerais, Mato Grosso e Bahia, atraídos pela tentadora notícia de grande mancha de diamantes graúdos e límpidos.



As margens do Rio Tibagi encheram-se de ranchos toscos cobertos de sapé, taquara trançada, madeira velha e folha de zinco. O garimpeiro era um eterno sonhador, vivia na expectativa de achar o diamante que trazia conforto pelo esforço; outros eram donos de modernas máquinas de escafandro de meio corpo, fabricadas e lançadas em São Paulo pela firma Charles Person e vendidas a preços accessíveis a grande número de gente interessada. Constituía-se o escafandro de um capacete de bronze de 15 quilos de peso, com duas lentes laterais fixas e uma frontal destacável, ligado em sua parte traseira por uma peça fixa, uma mangueira forte de borracha, entremeada de fibra e lona, de 20 metros de comprimento, capacete de bronze, camisa de lona, amarrado ao garimpeiro dois pesos de chumbo de 30 quilos cada um, que mantinham o escafandro no fundo do rio.



No lugar denominado “Cachoeirão”, a máquina de Sérgio Pupo Ferreira, trabalhada por seus filhos achou rico serviço. Deu “mancha de diamantes”, como se dizia. Esta era, na sua maior parte, constituída de pedras de pequeno porte e peso, prevalecendo de um quarto a um quilate (quatro grãos equivalendo a uma grama). Para este local acorreram muitos garimpeiros, capangueiros, gente de todas as profissões. Mais de 20 máquinas de escafandro, juntaram-se num largo manso do rio que apresentava uma profundidade de 25 a 30 palmos, medida usada no garimpo, formando-se na margem corrutela de aproximadamente 150 ranchos de garimpeiros.



Alguns dos participantes deste ciclo econômico se tornaram conhecidos tibagianos, que por aqui se estabeleceram e constituíram famílias.

Na Terra dos Xavantes

Na Terra dos Xavantes



A região é rica em sítios arqueológicos com pinturas e gravuras representando figuras geométricas e formas humanas.





Povoada originalmente pelos Xavantes, Nova Xavantina faz parte da Serra do Roncador e sua história está ligada a Bartolomeu Bueno da Silva e Pires de Campos, expedicionários que estiveram ali no Século 17 em busca de ouro e índios.


"Para um naturalista o lugar era ideal, pois perto dali se ofereciam os mais diversos tipos de ambiente. Cerrado, buritizal, mata e rio - tudo estava relativamente à mão e continha todas as interessantes características de uma zona de transição, tanto em relação à fauna quanto à flora."

"As plantas do Cerrado, em sua maioria, possuem raízes fortes que mergulham na terra a vários metros e, em determinadas circunstâncias, alcançam depósitos de águas pluviais que se situam bem fundo."

Navegamos pelo Rio das Mortes guiados pelo Marcos, o Cocó, caseiro do sítio Ponte de Pedra e amigo do Maurinho do Roncador.
A mãe do Cocó, Dona Maria e os netinhos Júlia e Pietro saboreiam uma jaca colhida na hora.
Seu Luiz, pai do Cocó, além de cuidar de sua propriedade próximo ao sítio Ponte de Pedra, sai em voos lépidos pelos campos da imaginação.
No rio das Mortes começava o território indígena,tem diamante, ouro, rubi relata Helmuth Sick em seu livro Tukani, em 1945 durante a Expedição Roncador-Xingu e continua: "Tratava-se dos mal afamados Xavante, cujo reino até então indisputado estendia-se do rio das Mortes até as nascentes do Xingu.
Os Xavante se incluíam entre as tribos  que mais obstinadamente resistiram à civilização. Os próprios brancos, com sua brutalidade, provocaram a inimizade dos índios. Sob pressão feita por eles, os Xavante, na segunda metade do Século 18, abandonaram sua terra de origem, a leste do rio Araguaia, e retiraram-se para o outro lado do rio das Mortes, onde se estabeleceram nos campos secos que até então, para os brancos, eram inabitáveis. Aí viveram semque os molestassem, mas dando-se a ocasionais investidas contra tribos vizinhas e também contra os brancos; não toleravam nenhuma usurpação de seu território. O último conflito havia ocorrido em 1941, ou seja, quatro anos ante, e nele perderam a vida seis funcionários do SPI."
"O calor cingia a terra, erguendo-se dos matagais de escassa folhagem como um sopro de fogo. O chão pedregoso queimava através das botas. Nem a brisa mais leve se fazia sentir. Tinha-se a impressão de que um incêndio espontâneo ia ocorrer no campo. É um fato digno de nota que a época mais quente do ano, entre setembro e fevereiro, seja chamada no Mato Grosso de inverno.
Sem dúvida o calor é um dos principais fatores que levaram a formação do Cerrado como tipo peculiar de paisagem. A temperatura do ar chega a 45º C, na sombra, e ao nível do solo já foi registrada em 57º C. Em noites claras, por outro lado, a temperatura cai para 22º C e ainda menos, havendo uma variação térmica ao  longo do dia que supera em muito a variação existente entre as estações do ano."

Minas de ouro, diamante, rubi...em SC. Falta explorar

Minas de ouro, diamante, rubi...em SC. Falta explorar

Com pouco mais de 1% do território brasileiro, Santa Catarina abriga verdadeiros tesouros em seu território. Há minas de ouro em Gaspar e Ilhota e no Litoral Norte, mina de diamante em Lages, de rubi em Barra Velha, mármores e granitos em Jaraguá do Sul, bauxita em Correia Pinto, e muitos outros minerais.
Quem alerta sobre essas riquezas e a falta de uma maior exploração sustentável para incrementar a economia é o engenheiro civil e estudioso do tema, Fernando Camacho. Ele acredita que o recente curso de Geologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e trabalho de reunião de publicações e pesquisas sobre o tema pela Fapesc vão ajudar a chamar a atenção para esse potencial.
 Minerais e riqueza
O engenheiro Fernando Camacho cita como investimentos de ponta com base na exploração mineral do Estado a Cebrace, indústria de vidros de Barra Velha, que utiliza areia do município de Balneário Barra do Sul, e a Buschle&Lepper, de Joinville, que produz magnésio, produto utilizado em medicamentos, extraído da água do mar de Barra do Sul.
Segundo ele, entre os potenciais a serem explorados estão os granitos e mármores, que podem ser processados e utilizados na construção civil. Graduado na Escola Nacional de Engenharia do Rio, Camacho trabalhou na construção da BR-101 em 1969 e, depois, na sua duplicação, a partir de 1996. Ex-diretor da SDR de Joinville, hoje é consultor.

EM BUSCA DOS DIAMANTES

EM BUSCA DOS DIAMANTES
Ex-garimpeiro garante que o rio Pardo ainda tem pedras e pensa em lançar um livro

O garimpeiro usa a própria pressão da água para "ajeitar" as pedras em um círculo perfeito“Basta ter paciência”. Essa era a receita dada pelo saudoso professor Hélio Castanho de Almeida — morto em 1995 — para quem quisesse encontrar um diamante no rio Pardo. Dez anos antes de sua morte, Castanho era enfático ao garantir que, apesar de mais de 200 garimpeiros terem explorado o Pardo na década de 50, o rio ainda guardaria pedras.
Pode até ser. Mas se encontrar o diamante já é difícil, ainda pior é achar alguém que saiba procurá-lo: um garimpeiro “de verdade”. A prática tão comum em Santa Cruz do Rio Pardo há algumas décadas perdeu-se e as novas gerações pouco ou nada sabem sobre o assunto.
É por isso que Paulo Afonso dos Santos, 70 — mineiro de Jequitaí radicado em Santa Cruz há 20 anos — quer colocar em um livro as técnicas do garimpo que aprendeu com seu pai. Junto ao sonho de escrever o livro, Paulo cultiva outro há duas décadas: encontrar, nas águas do Pardo, um diamante. “Já sonhei diversas vezes que estava achando esse diamante. Quando acordo, fico triste de ser só sonho”, conta.
Paulo, assim como apostava o professor Hélio Castanho de Almeida, tem absoluta certeza de que ainda há diamantes no rio Pardo. Certeza que brotou de um comentário de um parente, quando ele ainda morava em Minas Gerais e estava prestes a se casar com uma santa-cruzense. “Você vai para Santa Cruz do Rio Pardo? Lá tem diamante no rio”, foi a observação feita pelo familiar.
A certeza foi aumentando quando, já instalado na cidade, Paulo passou a observar o cascalho que vem na areia grossa para reformas de casas. Chegando aqui, porém, o garimpeiro começou a trabalhar no ramo de calçados e deixou adormecer, por longos anos, o sonho do diamante. Mas a vontade de encontrá-lo e a certeza dessa possibilidade brotaram novamente depois que o ex-garimpeiro realizou pesquisas no rio Pardo, recolhendo cascalho para examinar o tipo de pedra que o compõe.
Paulo Afonso dos Santos mostra a ferramenta básica de qualquer garimpeiro: a peneiraCertos tipos de pedras costumam acompanhar o diamante e o bom garimpeiro sabe “ler” essa mensagem. Paulo aprendeu a garimpar ainda menino, por volta dos oito anos, em um Estado onde praticamente todos faziam isso — em alguns locais de Minas Gerais, aliás, o garimpo ainda é freqüente. Ele já praticou os três tipos de garimpo existentes: no leito do rio, de gupiara (fora do leito do rio) e de virada — quando se constrói uma barragem para desviar o curso do rio e facilitar o garimpo. Foi no garimpo de virada em Minas Gerais que Paulo, na época com apenas 20 anos, encontrou 126 diamantes. Renderam um bom dinheiro, que foi dividido com colegas. Sua parte, porém, gastou nos anos seguintes.
O tipo de garimpo mais praticado é o de leito de rio — talvez porque nessa modalidade o garimpeiro não tenha que pagar comissão a nenhum meieiro, o que ocorre no garimpo de gupiara e de virada. Mas é uma técnica trabalhosa.
O garimpeiro deve, em primeiro lugar, localizar a concentração de cascalho do rio. Paulo explica que o rio tem “bolsas” no fundo — o que nós chamamos de “fossos” do Pardo. Há dois tipos de bolsas: a fêmea, larga na boca e cheia de cascalho, e o macho, de boca larga, mas estreito no fundo. “A melhor para pegar cascalho é a fêmea”, ensina Paulo.
Para achar as bolsas, o garimpeiro precisa ir de barco pelo rio e usar uma sonda — uma barra de ferro comprida — para “medir” a profundidade. O local da bolsa também deve ser especial — não pode ser muito fundo, já que o garimpeiro deverá retirar cerca de 50 latas de cascalho.
Depois de encontrada a bolsa, o garimpeiro deve preparar o terreiro na margem, em um local sem barrancos. É preciso limpar e socar o terreno, deixando a terra nua e bem plana. Com as próprias mãos, o garimpeiro separa as pedras grandes do cascalho — não servem para nada. O que sobra é passado no ralo, um tipo de funil quadrado feito de ferro que separa mais uma parte de pedras grandes.
O que restou deve ser peneirado, dentro da água. Primeiro na peneira grossa, de aço, especial. O tamanho dos furos impede que as pedras maiores vazem para a peneira de baixo, a mais fina. O garimpeiro descarta novamente as pedras maiores — mas tomando o cuidado de verificar se nenhum diamante “enorme” ficou lá.
No terreiro, o "resumo": pedras maiores, inclusive o diamante, ficam sempre no centro do círculoQuando a peneira fina está com a quantia certa de pedras — coisa que o garimpeiro de verdade “sente” — começa a parte mais interessante. O garimpeiro passa a rodar a peneira, chocando-a de vez em quando contra a água para fazer pressão. Ao final de algumas rodadas e outras tantas batidas, ele vira a peneira de uma só vez no terreiro preparado, para fazer o “resumo” — o exame detalhado das pedras.
No chão, forma-se um círculo de cascalho perfeitamente desenhado: nas bordas, apenas umas pedras minúsculas, que podem ser amareladas ou cinzentas. O tamanho das pedras vai aumentando gradativamente e simetricamente em direção ao centro da peneira. Bem no meio fica o “caboclo”: as pedras maiores e escuras, pretas ou marrons, que durante o processo vão se aglutinando no “fundo” da peneira. Se houver diamante, estará ali. “No meio das pedras escuras, ele salta aos olhos. Não tem como não ver”, conta Paulo. A sensação de encontrar um diamante, segundo o ex-garimpeiro, é indescritível. Uma sensação que Paulo ainda espera vivenciar no Pardo. “Acho que tudo tem seu dia e sua hora”, comenta, cheio de esperança.