sábado, 3 de janeiro de 2015

Cabeça, o dono do maior garimpo de Alta Floresta

Cabeça, o dono do maior garimpo de Alta Floresta

Mais de 20 mil garimpeiros extraíram 66 toneladas (t) de ouro na Pista do Cabeça, entre 1982 e 85. Quem controlava essa área de 19 mil hectares era o paraibano Eliézio Lopes de Carvalho, o Cabeça, que recebeu 12 t de ouro em pagamento por remédios, gasolina, bebidas, mulheres, alimentos e transporte em seus aviões que fornecia aos garimpeiros. Os donos das pistas de garimpo na Amazônia Legal faziam chover e acontecer. Cabeça foi um deles e tinha sob seu poder a segurança, saúde, as regras sociais e a economia dos milhares de garimpeiros de todos os cantos do Brasil que viviam a aventura do ouro na sua pista localizada na calha do rio Teles Pires, em Alta Floresta. A agora desativada Pista do Cabeça ficava a 75 km de Alta Floresta. À época não havia estrada e o meio de acesso era o avião. Cabeça promoveu 36 shows nacionais para animar as noitadas dos garimpeiros. Amado Batista, Waldick Soriano, Donizete e Suzamar foram algumas dessas atrações. Dona Maria Odete Brito de Miranda fez show por lá e na madrugada rebolou Conga la Conga para o anfitrião. Essa senhora é Gretchen, a rainha da preferência nacional.

A redescoberta do Garimpo do Botica

A redescoberta do Garimpo do Botica

   O Garimpo do Botica, localizado próximo de Itaituba é sem dúvida um dos exemplos mais claro do que está acontecendo nos garimpos do alto tapajós. Paralisado por muitos anos, o garimpo do Botica ficou estagnado por mais de vinte anos, e só agora com alta do preço do metal é que ele foi redescoberto como uma região muito promissora para garimpos do tipo filonianos, como é um garimpo particular, pouca gente tem acesso a esse lugar. Garimpos como esse que ficou estagnado por muitos anos  são diversos no alto tapajós, o difícil é acreditar que, por causa de fazendeiros inescrupulosos o governo transformou quase tudo em área de proteção integral prejudicando o pequeno garimpeiro que desde o ano de 1958 sobrevivia da garimpagem nessa região.


Febre de extração de ouro toma conta de Viseu

Febre de extração de ouro toma conta de Viseu

Em um mês, 350 garimpeiros já se instalaram no manguezal da ilha de Samaúma à procura do metal

A ‘fofoca’ começou há pouco mais de um mês. De lá para cá, cerca de 350 pessoas, entre homens, mulheres e crianças, dividem espaço no manguezal da ilha de Samaúma em busca de ouro. A atividade garimpeira aos poucos começa a transformar a rotina do município de Viseu, no nordeste paraense, que corre o risco de ver a ‘febre do ouro’ tomar conta da cidade.

Pelo menos 200 maranhenses já fincaram barracos no mangue em busca do metal. Garimpeiros de primeira viagem e gente que já se viciou em pular de garimpo em garimpo. No município, o assunto é tratado com cautela. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente já notificou o Ibama sobre a atividade garimpeira no mangue. O Ibama prometeu vistoriar o local em agosto.

O prefeito Cristiano Vale (PR) diz que é preciso ter muito cuidado com o garimpo. “A cidade não tem estrutura para suportar a vinda de muita gente para cá”, afirma. “É garimpo de gente pobre”, diz o microempresário J. Maia, minimizando a atividade. Maia, no entanto, já fincou um barraco no local.

FAVELA RIBEIRINHA

A ilha de Samaúma fica distante cerca de uma hora de Viseu, em barco do tipo popopô. Todos os dias, dezenas deles saem do porto do Mangueirão, uma favela às margens do rio Gurupi. Levam o rancho para passar até uma semana no garimpo. Outros vão e voltam todos os dias.

A lavra tem sido feita de forma manual, obedecendo o ciclo das marés. É que o ouro está misturado à lama do mangue. Quando a maré seca os garimpeiros tomam conta do espaço. Ao final do dia, muitos obtêm alguns gramas do metal.

Jurandir Gomes de Almeida, 43 anos, havia conseguido 3 gramas depois de uma manhã inteira de trabalho. Já estava há três dias no local, vindo de Godofredo Viana, uma localidade do Maranhão. Nos últimos 12 anos, Jurandir corre atrás da ‘fofoca’, como os garimpeiros chamam a boataria de que um novo garimpo apareceu. “Tá no sangue”, diz ele.

“É uma coisa linda de se ver, o tal do ouro”, diz João Edmilson, 45 anos. Apoiando-se numa muleta, desde que perdeu um dos pés para um tétano, João experimenta a sensação de ser garimpeiro depois de ter dedicado a vida à pesca e à lavoura. É ele quem está tentando articular os garimpeiros para que criem uma associação. “A papelada já tá caminhando em Viseu”, diz ele.

João é morador antigo da ilha de Samaúma. É ele quem conta a história que vem se transformando em lenda a respeito da origem do garimpo. “Há 25 anos uma balsa encostou aqui e o pessoal começou a procurar ouro. De repente eles abandonaram tudo. Foram embora e não levaram nada. Devem ter achado muito ouro, era o que todo mundo pensava. Será que ainda tem? Essa era a indagação que se fazia. E de repente começou do nada de novo”, conta.

Bastou que um aparecesse com alguns gramas de ouro para que a notícia se espalhasse. “Já viu né, o pessoal sente o cheiro de longe”, diz João Edmilson.

>> No acampamento de Samaúma, mulheres e crianças trabalham

Os garimpeiros dizem que a extração tem sido toda feita de forma manual. Não entram máquinas, como as “chupadeiras”, que fazem o trabalho mais rápido e nem é usado o azougue, que contém o temido mercúrio, bom para limpar as impurezas do ouro, mas péssimo para rios. “Chegou máquina a gente nem deixa encostar”, diz Raimundo Mesquita de Oliveira, 62 anos. Oliveira deixou a roça na mão da mulher e foi com filho, irmão e sobrinho tentar a sorte no Garimpo do Samaúma. “Não sou profissional”, diz ele. Mas como a notícia faz brilhar e ferver os olhos de homens embrutecidos, há duas semanas Mesquita armou o barracão de lona no mangue. “A gente tá com fé de que vai achar uma coisinha boa”, diz.

Ao contrário de muitos outros garimpos, no Samaúma as mulheres têm voz e braços ativos. Zilmar da Silva tem 44 anos e há 19 é garimpeira. Começou acompanhando o pai, que não queria de jeito e maneira que ela se enfurnasse em garimpo. Adiantou? “Nada”, diz ela. Zilmar começou cozinhando para os homens. Foi olhando daqui, prestando atenção ali, que começou a tentar usar a bateia. Não parou mais. “Um serviço desse aqui não tem ninguém para ficar te mandando”, diz ela, enquanto mostra no fundo da bateia o ouro que achara pela manhã.

Carmem Lúcia Tavares, 46 anos, acompanha o marido. A comida vem pronta. “Quem pensa que é fácil tá é enganado. É complicado esse serviço”, diz ela. Os filhos, de 12 e 14 anos, ajudam. Só o de 14 sabe “bateiar”. Já achou ouro, inclusive. “Segunda-feira eles vêm, mas não porque começa a aula”, tenta convencer.

>> Brasileiros que fizeram de sua vida a corrida pela sorte

A história de Francisco de Assis Alves, 52 anos, pode ser contada a partir dos garimpos onde foi tentar bamburrar. Começou em 1979, no garimpo de Peixoto do Azevedo, em Mato Grosso. Em 1983 estava em Serra Pelada. Passou por Bom Futuro, em Rondônia, e estava em terras ianomâmi em 1988 quando o então presidente Fernando

Collor mandou explodir a pista clandestina de pouso, para afugentar os garimpeiros. “Onde tem a fofoca eu vou”, diz ele.

Já Valdenio Monteiro Soares, 40 anos, vive a primeira experiência em garimpo. Segurança de um gerente de banco em Viseu, diz que tem esperança de achar um metalzinho. “Quem sabe a sorte não bate? Tem de ter fé”, argumenta.

Nos dentes de Flávio de Oliveira, 40 anos, há a lembrança de outros garimpos. O ouro reluz na frente da dentadura. Oliveira passou pelo Suriname. “O garimpo de lá já foi bom, mas os morenos não gostam muito dos brasileiros”, diz ele.

Os olhos azuis de José Benedito

Lira piscam desconfiados. Para ele, todo mundo é espião do Ibama. Benedito vive em garimpos desde 1986. Mas traz também

outra marca. É irmão de Quintino Lira, o lendário líder posseiro que criou fama nos anos 80, antes de ser assassinado pela polícia. “Me diga uma coisa, moço... não somos brasileiros? Então por que não

deixam a gente trabalhar?”, questiona. Logo em seguida vai até o barco e traz uma bandeira brasileira. “É aqui que eu vou fincar ela. E vou achar meu ouro”, diz

Ouro na Volta Grande do Xingú

Exploração de minério: o surgimento de um novo Carajazão. Ouro na Volta Grande do Xingú

“É o maior empreendimento de mineração de ouro a céu aberto do país e deverá retirar 50 toneladas de ouro no prazo de 12 anos.  Um prazo curtíssimo”, constata o pesquisador.
O projeto Belo Sun, a ser executado no estado do Pará, “é o maior empreendimento de mineração de ouro a céu aberto do país e deverá retirar 50 toneladas de ouro no prazo de 12 anos”, informa Rogério Almeida, em entrevista à IHU On-Line, concedida por e-mail.
Segundo ele, a empresa Belo Sun “tomou posse dos antigos garimpos Grota Seca, Galo e Ouro Verde, que existem desde os anos 1940. Isso já provoca estranheza num cenário marcado pela desordem fundiária, onde a maioria das terras é tutelada pela União. As áreas pertenciam a Oca Mineração ltda e Mineração Alterosa ltda, de Altamira. Ali vivem os povos indígenas Juruna e Arara e outros povos isolados, além de lavradores, extrativistas e pescadores que sofrem com a espoliação e a expropriação promovidas pela Belo Monte”.
Almeida relata que há seis meses os garimpeiros estão “impedidos de operar nas antigas áreas”, e a empresa prometeu reassentar mais de mil famílias. No entanto, ressalta, “na Ressaca e na Ilha da Fazenda, que ficam bem próximas, o clima é de incerteza e insegurança. As populações já socializam a desordem que a usina de Belo Monte provoca. É ali que o Xingu terá a sua vazão reduzida em perto de 80%. É um impacto absurdo e tem implicações no deslocamento das pessoas, nas fontes de recursos que a natureza possibilita. As pessoas não sabem informar sobre o reassentamento. Parte da Ressaca é de projeto de assentamento da reforma agrária”.
Rogério Almeida é graduado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Maranhão e mestre em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido pela Universidade Federal do Pará, com a dissertação intitulada Territorialização do campesinato no sudeste do Pará, a qual foi laureada com o Prêmio NAEA/2008. Atualmente leciona na Faculdade de Tecnologia da Amazônia.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Em que consiste a atividade da Belo Sun e desde quando a empresa atua no Brasil?
Rogério Almeida – Tomei conhecimento da existência da Belo Sun no Brasil agora, em visita às comunidades da Vila da Ressaca e da Ilha da Fazenda, que serão impactadas pelo projeto da hidrelétrica de Belo Monte, na Volta Grande do Xingu, no território do município de Senador José Porfírio.
Conforme o Relatório de Impacto Ambiental – RIMA apresentado à Secretaria de Meio Ambiente do Pará – SEMA, trata-se de uma subsidiária brasileira da Belo Sun Mining Corporation, pertencente ao grupo Forbes & Manhattan Inc., um banco mercantil de capital privado que desenvolve projetos de mineração em todo o mundo.
A Belo Sun passa a integrar a aquarela de grandes corporações de mineração que operam no estado do Pará, competindo com a Vale, a estadunidense Alcoa, a suíça Xstrata, a francesa Imerys, a Reinarda, subsidiária da australiana Troy Resourses, a norueguesa Norsk Hydro e a chilena Codelco.
IHU On-Line – O que é o projeto Belo Sun?
Rogério Almeida – É o maior empreendimento de mineração de ouro a céu aberto do país e deverá retirar 50 toneladas de ouro no prazo de 12 anos. Um prazo curtíssimo. Localiza-se numa região que será profundamente impactada pela usina de Belo Monte. A Belo Sun tomou posse dos antigos garimpos Grota Seca, Galo e Ouro Verde, que existem desde os anos 1940. Isso já provoca estranheza num cenário marcado pela desordem fundiária, onde a maioria das terras é tutelada pela União. Ali vivem os povos indígenas Juruna e Arara e outros povos isolados, além de lavradores, extrativistas e pescadores que sofrem com a espoliação e a expropriação promovidas pela Belo Monte. O futuro das pessoas que moram na Volta Grande do Xingu é incerto pelo conjunto de impactos que os dois projetos irão produzir. A mineração do ouro usa cianeto, dragas e dinamite, e deixará uma montanha de resíduos ali. Externalidades negativas é uma matriz da mineração. O projeto aprofunda ainda mais a condição econômica da Amazônia como uma grande província exportadora de recursos naturais. Uma colônia baseada em commodities. Há perto de 500 pedidos de prospecção protocolados junto ao Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM somente na Volta Grande do Xingu, e, desse total, 228 possuem foco no ouro.
IHU On-Line – Como está ocorrendo a exploração de minério no Pará?
Rogério Almeida – O minério é o principal item da balança comercial do estado, responde por quase 100% do Produto Interno Bruto – PIB. Em todo o território existe minério, de seixo a ouro. O ferro da província de Carajás, explorada desde a década de 1980, continua sendo o principal. O estado é duplamente saqueado, por conta da renúncia fiscal da Lei Kandir (lei complementar federal nº 87, de 13 de setembro de 1996). Ela desobriga as empresas de recolher o Imposto de Circulação de Mercadoria e Serviço – ICMS dos produtos primários e semielaborados. Literalmente fica somente o buraco.
Ao longo dos anos da mineração em Carajás, os péssimos indicadores socioeconômicos não sofreram alteração. A fronteira agromineral consolidou o sul e o sudeste do Pará como os que mais desmatam, mais assassinam camponeses na luta pela terra no Brasil, e com municípios nos primeiros lugares entre os mais violentos do país e de vulnerabilidade para a população jovem. Nenhum município tem renda per capita que alcance um salário mínimo por mês. O município vizinho da mina de Carajás, Curionópolis, tem a renda per capita de R$ 108,15, quase a mesma da pequena Palestina do Pará, R$ 106,64.
IHU On-Line – Quem são os garimpeiros da Vila da Ressaca? Como eles atuavam antes da entrada da Belo Sun no Pará?
Rogério Almeida – Conforme informações da cooperativa dos garimpos da Vila Ressaca, são perto de 600 garimpeiros. Eles trabalham em condições marcadas pela precariedade, sem vínculo empregatício. Ficavam somente com 20% do ouro encontrado. O “patrão”, o dono do local da exploração, bancava com máquinas e combustível o processo, e ficava com 80%.
IHU On-Line – Em que consiste o conflito deles com a Belo Sun?
Rogério Almeida – Há seis meses os garimpeiros estão impedidos de operar nas antigas áreas. Eles explicitam que perderam a principal fonte de renda. A vila, hoje, tem um aspecto de cidade fantasma. As áreas foram negociadas com a Belo Sun, como falei antes, num ambiente marcado pela ilegalidade fundiária.
IHU On-Line – Qual é a proposta de reassentamento das famílias da Vila Ressaca, Galo e Ouro Verde, feita pela Belo Sun?
Rogério Almeida – Em documento formal a empresa afirma que promoverá o reassentamento de mil famílias. No entanto, na Ressaca e na Ilha da Fazenda, que ficam bem próximas, o clima é de incerteza e insegurança. As populações já socializam a desordem que a usina de Belo Monte provoca. É ali que o Xingu terá a sua vazão reduzida em perto de 80%. É um impacto absurdo e tem implicações no deslocamento das pessoas, nas fontes de recursos que a natureza possibilita.
As pessoas não sabem informar sobre o reassentamento. Parte da Ressaca é de projeto de assentamento da reforma agrária.
IHU On-Line – Qual a atual situação da exploração mineral em Carajás?
Rogério Almeida – Carajás vivencia uma grande inflexão com o desenvolvimento do maior projeto de mineração da Vale ao longo dos seus 40 anos de vida, o Projeto de Mineração da Serra Sul (S11D), localizado no município de Canaã dos Carajás, e que vai explorar ferro. O S11D desponta no cenário atual como uma representação do Grande Carajás no século XXI.
Um novo Carajazão, como o foi a primeira versão da década de 1980. O mesmo consiste em profundas alterações nos cenários econômicos, sociais e políticos em Carajás, que compreende desde a mina até o porto, em São Luís, no Maranhão, pressionando reservas ambientais, vilas, territórios ancestrais e projetos de assentamentos rurais. O S11D encontra-se nos limites dos municípios a sudeste do Pará, Canaã dos Carajás e Parauapebas.
Com o projeto, a mineradora vai incrementar a produção de ferro em 90 milhões de toneladas por ano, mas com capacidade de dobrar a produção. O mercado asiático tem sido o destino do minério de ferro de excelente teor das terras dos Carajás, em particular a China e o Japão. A previsão é que a usina inicie as operações até 2016. A iniciativa, que inclui mina, duplicação da Estrada de Ferro de Carajás – EFC, ramal ferroviário de 100 km e porto, está orçada em US$ 19,5 bilhões.
Os recursos estão distribuídos da seguinte forma: a logística consumirá US$ 14,1 bilhões; US$ 8,1 bilhões serão usados na mina e na usina; enquanto US$ 2 bilhões serão usados durante o ano.
Como em outros empreendimentos na Amazônia, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES é o responsável por parte dos recursos, ao lado do banco japonês Japan Bank International Cooperation – JBIC. O projeto é maior ou equivalente à primeira versão do Programa Grande Carajás – PGC, iniciado há quase 30 anos.
O minério que sairá da Serra Sul é considerado ainda de melhor teor que o extraído da Serra Norte, avaliado como excelente. O teor da S11D é de 65%. A Vale é, atualmente, a líder mundial no mercado de ferro, responsável por 310 milhões de toneladas por ano. Como em outros casos registrados na região, o início do projeto mobiliza uma série de alterações na cidade que abriga a mina e em municípios do entorno.
IHU On-Line – Fala-se de um possível aumento de conflitos no Pará por conta da exploração de ouro. O senhor vislumbra algo nesse sentido?
Rogério Almeida – Faz-se necessário uma leitura sobre o contexto dos grandes projetos na Amazônia, em consonância com obras de infraestrutura do estado para que os mesmos possam ser viabilizados. Esse conjunto coloca em oposição populações locais e as grandes corporações. É uma luta desigual, marcada pela derrota dos primeiros, que ao longo dos séculos são os penalizados com todo tipo de desrespeito, expropriação, espoliação e morte. Não tem ocorrido nenhuma alteração.
IHU On-Line – Como o estado do Pará se manifesta diante da atuação da empresa na região?
Rogério Almeida – Ele garante as condições para o empreendedor detentor de capital, ou que se capitaliza com os recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, que se constitui como o principal financiador das grandes corporações na Pan-Amazônia.
Soma-se a isso um xadrez no campo jurídico que busca fragilizar algumas garantias das populações consideradas tradicionais, como indígenas e quilombolas, entre outras. Para não falar nos bastidores das negociatas típicas de vésperas de pleitos eleitorais.

Sobre ouro e história

Sobre ouro e história

Enquanto o mercado internacional se revigora, o Brasil almeja se tornar, até 2017, o sétimo maior produtor mundial de ouro. O país ocupa, hoje, a 11ª posição.

Sobre ouro e história
Serra Pelada (PA). A descoberta de reservas de ouro no local, em 1979, desencadeou uma ávida corrida por esse metal. A produção nacional de ouro disparou, chegando, no fim da década de 1980, a mais de 100 toneladas anuais. (foto: Hallel/ CC BY-SA 3.0)
Os tempos áureos da mineração já se foram. Entre 1700 e 1850, o Brasil foi o maior produtor mundial de ouro. As coroas portuguesa e espanhola refestelaram-se com metais preciosos extraídos das terras coloniais, que adornaram igrejas, palácios e vestes da então pujante aristocracia europeia.
Também foi o ouro, entre os séculos 15 e 18, protagonista do momento que entrou para os livros de história sob o nome de metalismo – doutrina segundo a qual a riqueza econômica deve ser vinculada a reservas de metais preciosos. Estima-se em 16 toneladas a quantidade anual de ouro produzida nos idos de então.
Poucos sabem, mas nesses séculos que se passaram já era comum o emprego do mercúrio metálico nos processos de lavra. “Calcula-se que 200 mil toneladas desse metal foram emitidas para o ecossistema amazônico entre 1540 e 1900”, diz o biólogo Wanderley Bastos, da Universidade Federal de Rondônia (Unir).
Calcula-se que 200 mil toneladas de mercúrio foram emitidas para o ecossistema amazônico entre 1540 e 1900
Mas foi em 1979 que o Brasil experimentou seu maior ímpeto garimpeiro: a corrida do ouro iniciada com a descoberta das reservas de Serra Pelada (PA). Muitos enriqueceram. E muitos mais deixaram a vida na busca inglória do sonho dourado.
Nesse momento histórico – a produção nacional de ouro disparou de, em média, 20 toneladas por ano para atingir, aos fins da década de 1980, mais de 100 toneladas anuais.
Os anos 1990, porém, já não foram tão reluzentes. Houve declínio na produção e chegamos a 2003 com o índice mais baixo das últimas três décadas. Naquele ano, foram desenterradas ‘apenas’ 40 toneladas de ouro.Na verdade é que os geólogos acreditam que só no Pará, região do Rio Xingú, está concentrada talvez as maiores minas de ouro do mundo, por serem desconhecidas, virgens, pois em 1970/2000 os garimpos estavam concentrados em Marabá e no Tapajós, mas a geologia do rio Xingú, e região é muito rica e promissora.
Hoje, entretanto, o mercado internacional dá sinais de renovado vigor. Desde 2005, o Brasil tem produzido mais ano a ano. Foram 62 toneladas em 2010, e 65 em 2011 – recorde dos últimos tempos. (Lembrando, é claro, que são números oficiais. Ou seja, contabilizam apenas o ouro extraído sob os auspícios da lei).
Pepita de ouro
Pepita de ouro extraída de Serra Pelada.
Às cifras. Um grama do precioso minério custa, atualmente, cerca de R$ 120,00 – valor definido, segundo alguns, não necessariamente pelo jogo entre produção e demanda, mas sim por cálculos arbitrários dos princípios insólitos do comércio internacional. Assunto para economistas. O fato é que o preço do ouro dobrou desde 2008, devido, segundo as más línguas, à crise econômica mundial.
Seduzido por esse novo momento, o governo brasileiro tem dedicado especial atenção ao setor – investindo pesadamente para dobrar a produção nacional até 2017, o que faria do Brasil o 7º maior produtor mundial do minério. Hoje o país ocupa a 11ª posição, segundo dados do Serviço Geológico Americano. Encabeçam a lista China, Austrália, Estados Unidos, Rússia, África do Sul e Peru.