domingo, 15 de março de 2015

Berilo

Berilo


:: BERILO (BERYL) :: Be3Al2Si6O18 :: Sistema Hexagonal :: Ciclossilicatos ::

Berilo (variedade água-marinha) com quartzo - Tenente Ananias, Rio Grande do Norte, Brasil 

Mineral acessório em rochas ígneas ácidas, pegmatitos e rochas metamórficas (micaxistos e gnaisses). É a principal fonte de berilo (Be) para a indústria, além de apresentar variedades gemológicas como: esmeralda (verde); goshenita (incolor); morganita (rosa); heliodoro (amarelo); água-marinha (azul) e bixyíta (vermelho).

Na 'Suíça do Piauí', opala rende até R$ 60 mil no mês a garimpeiros

Na 'Suíça do Piauí', opala rende até R$ 60 mil no mês a garimpeiros

Mas, para encontrar pedra preciosa, é preciso sorte e dedicação.
Mineral é encontrado apenas em Pedro II e na Austrália.


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Na pequena cidade de Pedro II, no norte do Piauí, a opala extra, pedra encontrada apenas nessa região e no interior da Austrália - que faz o mineral ser considerado precioso e chega a custar três vezes mais que o ouro - é o que move a economia local. Por ano, a cidade vende perto de 400 quilos de joias feitas com a pedra para os mercados interno e externo.
Processo de mineração da Mina do Boi Morto, em Pedro II, no Piauí. (Foto: Divulgação/Sebrae)Processo de mineração da Mina do Boi Morto, em Pedro II, no Piauí. (Foto: Marcelo Morais/Sebrae)

Tamanho é o valor do mineral que um garimpeiro chega a “achar” - com sorte e muita insistência - até R$ 60 mil em pedras em um mês. Normalmente, o ganho não atinge essa cifra com tanta frequência. No entanto, segundo José Cícero da Silva Oliveira, presidente da cooperativa dos garimpeiros de Pedro II, a atividade tem se desenvolvido, e o setor vem mantendo boas expectativas de crescimento - sustentável. Hoje, são explorados, legalmente, cerca de 700 hectares, o equivalente a 7 milhões de metros quadrados.

Na chamada Suíça piauiense, devido às temperaturas mais amenas, que não castigam a cidade, diferente de muitos municípios do Nordeste, Pedro II tem cerca de 500 famílias, entre garimpeiros, lapidários, joalheiros e lojistas que vivem da opala, de acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) do Piauí. A população de Pedro II, segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 37.500 pessoas.
“A exploração não é mais desordenada. Todos os trabalhadores da cooperativa trabalham em áreas regulares, com licenciamento, com equipamento de segurança. Sempre recebemos a visita de fiscais de vários ministérios”, afirmou. No regime de cooperativa, 10% de tudo o que se ganha em vendas é dividido entre os 150 associados. “Mas se um encontra uma pedra maior, por exemplo, fica para ele. Se não fosse assim, não daria certo, né?”, ponderou.
Opala bruta (E) e anéis feitos com a pedra, em Pedro II. (Foto: Carlos Augusto Ferreira Lima/Sebrae)Opala bruta (esq.) e anéis feitos com a pedra, em Pedro II. (Foto: Carlos Augusto Ferreira Lima/Sebrae)


Pedro II tem se consolidado, nos últimos anos, como um polo de lapidação de joias. “Além da opala, também usamos pedras de outros estados do Sudeste, do Sul. Compramos essas pedras, lapidamos e fazemos as joias”, contou a presidente da Associação dos Joalheiros e Lapidários de Pedro II, Surlene Almeida. Esse tipo de atividade é desenvolvida há cerca de oito anos.

Em relação ao tempo em que as minas de opala são exploradas, a transformação das pedras em joias é recente, mas está evoluindo. Na cidade, já foi instalado um centro técnico de ensino de lapidação, design e joalheria, segundo Surlene. “É como se fosse um curso técnico mesmo, onde as pessoas se especializam nessa atividade.”

Apesar de o forte da economia de Pedro II ser a mineração, a cidade também vive da agricultura familiar. Durante o inverno, que tem períodos mais chuvosos, muitos garimpeiros migram para esse outro tipo de sustento.

Mineração de opala pode gerar a R$ 50 mil

Mineração de opala pode gerar a R$ 50 mi

A mineração da pedra preciosa opala, que varia entre R$ 20 e R$ 300 o grama bruto, ainda pode ser mais bem explorada no Brasil. A afirmação, feita por especialistas no setor, indica que com um investimento de R$ 100 milhões nas minas do Piauí o rendimento da pedra, que hoje soma R$ 4,8 milhões no ano, poderia crescer 10 vezes, atingindo R$ 50 milhões em cinco anos.
“O mundo possui uma grande carência da gema que poderia ser suprida pelas minas brasileiras”, afirmou Marcelo Morais, especialista na questão da opala pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM) estima que um terço do volume de produção de gemas – com exceção do rubi, do diamante e da safira – vem do Brasil.
De acordo com o especialista, a única mina no mundo que possui a extração da pedra está na Austrália, onde já há um desgaste bem maior do que o encontrado nas minas brasileiras. “O movimento na Austrália, por ser muito mais antigo, já está em fase de finalização. Números indicam que mais de 80% da mina deles foi explorada; já a nossa exploração é recente”, afirmou Morais.
Aproveitando esta possível lacuna dentro do setor, o professor de Arqueologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Carlos Antônio Monteiro argumenta que seria necessário um investimento na casa de R$ 100 milhões para que a pedra no Brasil fosse usada com mais qualidade. “Esse investimento, que seria em equipamentos, aumento de mão de obra, profissionalização e estudos profundos, traria um retorno de até dez vezes em cinco anos para as minas piauienses.”
Segundo números do Sebrae, o Piauí possui 30 minas descobertas que possuem opala. Todas ficam localizadas na cidade de Pedro II, a 222 quilômetros da capital, Teresina, e somam 700 hectares de terreno, o que representa sete milhões de metros “Trata-se de um espaço de potencial elevadíssimo, com condições de trabalho e mão de obra disponível”, afirmou Monteiro.
Para o geólogo do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) David Fonseca falta delimitação do minério na área, algo que deveria ser feito por mapeamento geológico para que o total da reserva seja calculado. “Gemas se localizam em bolsões nas rochas, portanto, precisam de estudo específico”. Fonseca explica que a geologia de Pedro II é errática, ou seja, de difícil localização e que as minas são exploradas de maneira muito rústica, o que acarreta em desperdício.
Existem três tipos de opala no Brasil. A opala-de-fogo, que é encontrada no Piauí, Rio Grande do Sul e em outros estados. A opala comum, presente em vários estados, e a nobre, que há somente no Piauí e é considerada a variedade mais preciosa e procurada.
Exportação
Quando o assunto é exportação, tanto Morais quanto Monteiro concordam: o Brasil possui um potencial extremamente amplo para o fornecimento da pedra no mundo. De acordo com números da Associação Gemológica da Austrália, o país da Oceania é responsável por 90% do abastecimento mundial, número que deverá ser alterado, caso o Brasil melhore sua produção. Em 2010, o total de exportações brasileiras do setor de gemas e metais preciosos atingiu R$ 2.269 bilhões, segundo dados do IBGM.
Atualmente, a cidade produz cerca de 500 quilos de joias por ano, de acordo com a Associação dos Joalheiros e Lapidários de Pedro II (Ajolp). Deste número, apenas 6% são exportados. “Nossos principais mercados estão na Europa. Com destaque para Alemanha, Bélgica e França”, afirmou Antônio Mário de Oliveira Lima, presidente da maior fabricante de joias da região, o Ateliê de Prata.
Para a presidente da Ajolp, Surlene Almeida, a exportação tem crescido, acompanhando o crescimento da região. “Prevemos um aumento na casa de 20% este ano, no sentido de alta nas exportações. Isso porque a Opala está caindo cada vez mais no gosto dos estrangeiros, e os modelos brasileiros também agradam”, afirmou.
Conforme avalia a diretora executiva da feira Bijoias, Vera Masi, a riqueza das opalas do Piauí é inestimável, pois possuem um grau de dureza ideal para a lapidação. “Um quilate bruto do produto chega a custar U$ 100, enquanto 100 kg de ametista custam U$ 10 mil”, afirmou a diretora, que atende lojistas há 25 anos.
Associação
Para organizar os ganhos com Opala na cidade, a cooperativa dos garimpeiros de Pedro II, presidida por José Cícero da Silva Oliveira, vem trabalhando para crescer de forma sustentável. “Hoje, somos 150 trabalhadores e podemos arrecadar por mês até R$ 60 mil, no máximo”, afirmou.
Depois da organização da cooperativa, Oliveira afirma que já houve na região um processo de formalização que antes não acontecia. “A exploração não é mais desordenada. Todos os trabalhadores da cooperativa trabalham em áreas regulares, com licenciamento, com equipamento de segurança. Sempre recebemos a visita de fiscais de vários ministérios”, afirmou. No regime de cooperativa, 10% de tudo o que se ganha em vendas é dividido entre os 150 associados.
Os números do Sebrae apontam ainda que na chamada Suíça piauiense, devido às temperaturas mais amenas tem cerca de 500 famílias, entre garimpeiros, lapidários, joalheiros e lojistas que vivem da opala.
A população que reside em Pedro II, segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 37.500 pessoas.
“O município recebeu autorização legal para extração da pedra em 2005, antes disso, era tudo feito de forma muito crua” afirmou Monteiro.
O presidente da cooperativa explica também que em função desse mau uso da mina nos últimos 30 anos muita pedra foi jogada fora.
“Sem estrutura, os mineradores descartavam partes das rochas pois não achavam importantes os pequenos pedaços da pedra. Hoje, trabalhamos com toda a parte descartada, que chamamos de rejeito.”

Área em Belo Monte com vestígio de ouro é concretada pela Norte Energia

Área em Belo Monte com vestígio de ouro é concretada pela Norte Energia
Empresa afirma que apenas vestígios de ouro foram encontrados na área.
Uma turbina dentre 18 previstas no projeto está sendo construída no local.
1ª Turbina Belo Monte Casa de Força Usina Hidrelétrica Pará (Foto: Divulgação/Norte Energia)
Local onde está sendo instalada a primeira turbina da Usina de Belo Monte foi concretado após serem encontrados vestígios de ouro (Foto: Divulgação/Norte Energia)
A Norte Energia, empresa responsável pela construção da Usina Hidrelétrica em Belo Monte, localizada em Vitória do Xingu, no sudoeste do Pará, confirmou na manhã desta sexta-feira (20) que foram encontrados vestígios de ouro nas escavações das obras da UHE.
"Logo no início das escavações foi detectada a presença de ouro, após análise de amostras de solo que foram extraídas, mas era uma quantidade muito pequena, nem valia a pena explorar. Então o local foi concretado", informou Delorge Kaiser, gerente de comunicação da Norte Energia, lotado em Altamira.
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O local onde foram encontrados os vestígios de ouro fica no sítio Belo Monte, onde vai funcionar a principal casa de força da UHE. Na área vão ser abrigadas 18 turbinas, responsáveis pela maior parte da energia que será gerada pelo empreendimento.
Segundo Kaiser, a primeira das 18 turbinas já começou a ser instalada no local exato onde foi encontrado o filamento de ouro. Outras seis turbinas serão construídas no sítio Pimental. "Não era uma mina, eram vestígios. Os engenheiros que estavam no comando das operações localizaram esses vestígios durante uma escavação", completou Kaiser.
Ainda segundo a Norte Energia, por ser uma quantidade pequena de ouro, o que foi encontrado não tinha viabilidade econômica de exploração.
Obra polêmica
A usina hidrelétrica de Belo Monte está sendo construída no rio Xingu, no Pará. Segundo a Norte Energia, o custo total do empreendimento é R$ 25,8 bilhões.
O projeto sofre oposição de ambientalistas, que consideram que os impactos para o meio ambiente e para as comunidades tradicionais da região, como indígenas e ribeirinhos, serão irreversíveis.
A obra também enfrenta oposição do Ministério Público Federal, que alega que as compensações às comunidades atingidas pela hidrelétrica não estão sendo feitas da forma devida. Para os procuradores da República, Belo Monte pode gerar um problema social na região do Xingu.

sábado, 14 de março de 2015

R$ 76 bilhões em ouro roubado do Tapajós

R$ 76 bilhões em ouro roubado do Tapajós

Em pouco mais de meio século de atividade, o total estimado de ouro retirado do Oeste paraense é de 782,9 toneladas, das quais apenas 313,2 toneladas saíram legalmente. O restante, correspondente a 60% da produção, foi descaminhado, como dizem os estudiosos, que evitam falar apenas em contrabando. Cotado a preço de hoje, 96 reais o grama, esse monumental volume de ouro estaria valendo algo em torno de 76 bilhões de reais. Com o descaminho, ficam cerca de 30 bilhões de reais que, pagando impostos e circulando legalmente na região e no País, quanto benefício poderia ter causado à população em geral e à economia local e estadual?

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O que a região do Tapajós ganhou, neste mais de meio século de avanço ensandecido sobre suas reservas auríferas?
SANTARÉM – A província garimpeira do Tapajós/Jamanxim e afluentes, a maior do Brasil com mais de 28 mil quilômetros quadrados, produziu entre os anos de 1980 e 1989 um total de 256,9 toneladas de ouro, sendo 76,9 toneladas comercializadas oficialmente, com notas fiscais, e 180 toneladas descaminhadas, ou pelo contrabando ou por negócios de pequeno e médio porte não contabilizados pelo fisco. O tamanho dessa área é o oficial, autorizado por lei federal, no entanto, a garimpagem se estende por cerca de 100 mil quilômetros quadrados, à revelia da lei, segundo estimativas confiáveis.
EVASÃO Estes negócios compreendem a evasão pura e simples, assim como a troca de poucas gramas por mercadorias, realizadas pelos trabalhadores garimpeiros, até a aquisição de objetos mais caros efetuados, em geral com volumes de ouro não muito significativos no varejo, mas representativos no volume geral do descaminho.
Tanto o contrabando como estes negócios laterais desviaram mais da metade de todo o ouro produzido a região sob influência do Rio Tapajós. Esta estimativa faz parte de pesquisa do Departamento Nacional de Produção Mineral, o DNPM, referente àquele período. Do total produzido nas grotas, barrancos e nos leitos dos rios e igarapés naquela década, percebe-se que a produção anual foi de cerca de 26 toneladas.
Com a queda acentuada dos preços do metal no mercado mundial, ao lado de medidas econômicas do governo brasileiro daquele período, os garimpos desta região amazônica tiveram uma redução drástica de suas atividades, que recomeçaram vorazmente de 2010 para cá, justamente na trila do aumento também acentuado da cotação do ouro, cujo grama está hoje (20 maio 2013) a 96 reais.
De janeiro de 2010 e agosto de 2012, a cotação do ouro no mercado internacional saltou de 900 dólares para 1.800 dólares a onça (uma onça/ouro equivale a 31 gramas). Aí está uma das explicações da entrada maciça da garimpagem industrial nas águas do Tapajós e seus afluentes.
SAÚDE PÚBLICA O geólogo Alberto Rogério da Silva, com larga experiência em consultoria de mineração, prestando serviços ao Instituto Brasileiro de Mineração, o IBRAM, ao Sindicato das Indústrias Minerais do Pará e à Reinarda Mineração Ltda., informa que, na região do Tapajós, existem atualmente 2.200 pontos de extração de ouro, 500 pistas de pouso para aviões e produção de cerca de 12 toneladas do minério por ano, sendo que a atividade garimpeira já é realizada no local desde 1958. No final do ano passado Alberto Rogério lançou um excelente livro, “A Indústria Mineral no Pará”, em que oferece um panorama do setor na região, do ponto de vista empresarial, ambiental, inclusive quanto à questão do emprego do mercúrio na lavra aurífera e as suas implicações para a saúde pública.
Esses números são atualizações de observações empíricas que vêm do período do boom verificado mais ou menos entre 1980 e 1990. Muitos campos de pouso estão presentemente desativados ou muito pouco utilizados, assim como o total de pontos de garimpagem não significa que a atividade tipicamente artesanal ou semi-mecanizada esteja tão alastrada quanto naquela década. Mas a atividade retorna com muita força, com a introdução da garimpagem industrial que dispensa milhares de trabalhadores, os chamados peões de grota. A tecnologia avançou e os braços necessários para a lavra diminuem exponencialmente.
PRODUÇÃO ESTIMADA EM 54 ANOS DE ATIVIDADE GARIMPEIRA 
De 1958 a 1969 – cálculo empírico – 80 t = 7,2 t por ano
De 1970 a 1979 – cálculo empírico – 200 t = 20 t por ano
De 1980 a 1989 – 256,9 toneladas = 25,7 t por ano (estimativa do Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM).
Obs: Neste período, a produção oficial foi de 76,9 toneladas apenas. O descaminho por contrabando e outros negócios menores, foi de 180 toneladas na década).
De 1990 a 1999 – 120 t = 12 t por ano
De 2000 a 2009 – 90 t = 9 t por ano
2010 a 2012 – 36 t = 12 t por ano
Total em 54 anos – 782,9 toneladas 
Estes dados aqui expostos estão sujeitos a contestação e estimativas mais técnicas de correção, havendo muita possibilidade de alterações para mais ou para menos. A suposição, aqui, é que seja para quantias mais elevadas.
Os dados partem de vertentes diversas: a estimativa do próprio Departamento Nacional de Produção Mineral referente à década 1980-1989 e da presente estimativa do geólogo e um dos mais dedicados estudiosos do setor mineral do Pará, o paraense de Juruti, Alberto Rogério da Silva, consultor do Instituto Brasileiro de Mineração, o IBRAM.
OBSERVAÇÕES Há também as observações do autor desta reportagem referentes aos períodos em que acompanhou a atividade, como repórter de O Liberal, de Belém, e como correspondente do jornal O Estado de São Paulo, na cidade de Santarém. Durante longas conversas com empresários do ramo e com diversos pilotos de pequenos aviões que faziam e fazem a rota dos garimpos do Tapajós, quase sempre as estimativas de produção giram em torno de 500 a 700 toneladas de ouro neste mais de meio século.
Na primeira fase, final dos anos 1950 a 1969, a penetração rumo aos mananciais auríferos se fazia de barco, com semanas de viagem e, obviamente, resultando numa produção muito incipiente mas que, já no meado dos 1960, começava a deslanchar, atraindo aventureiros de várias partes do País e compradores locais de empresas paulistas, sobretudo. Começava a ser introduzido o garimpo semi-mecanizado e, obviamente, gerando produção cada vez mais elevada.
Na década seguinte, entre 1970 e 1979, a produção se acelera e um dos indicadores mais visíveis foi a penetração maciça de centenas de empresas de pequena aviação na região, o que transformou o aeroporto da cidade de Itaituba no mais movimentado do mundo nesse tipo de transporte aéreo. O boom estava instalado e se estenderia intenso por cerca de 20 anos.
Esse boom chegou ao seu auge na década seguinte, com a introdução maciça de balsas dotadas de dragas escariantes altamente agressivas ao leito dos rios. Aliado a esse processo deu-se início acelerado ao desmonte de centenas de quilômetros de barrancos às margens dos tributários do Tapajós, resultando no maior derrame de barro dentro do leito principal de um rio brasileiro. O imenso Tapajós, com seus 850 quilômetros de extensão desde a junção do Juruena e o Teles Pires, e que na foz tem 16 quilômetros de largura, mudou de cor – passando de verde-esmeralda a barrento. A poluição física, pelo barro, e o emprego maciço de mercúrio nas águas da região transformaram a natureza de vários rios e igarapés do coração da Amazônia. O medo das doenças provenientes do mercúrio se alastrou e algumas pesquisas foram realizadas pelo Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará, comprovando as hipóteses, em diversas amostras colhidas pelos pesquisadores, de que havia espécies de peixes, abundantes na região e alimento básico de largas faixas da população, impregnados com teores de mercúrio, transformado quimicamente, acima do que pode resistir o ser humano, segundo parâmetros da Organização Mundial de Saúde, a OMS.
PESQUISAS Pesquisas sobre a contaminação mercurial existem, mas os diversos relatórios e artigos existentes estão pedindo uma consolidação e mais investimentos, já que as iniciativas, mesmo louváveis, ainda são mais pessoais ou de grupos sem recursos para aprofundar os estudos. Ressalve-se os esforços de pesquisadores do Instituto Evandro Chagas do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará.
Dos anos 1990 em diante houve um decréscimo acentuado na produção pelas razões expostas, como a queda dos preços do ouro no mercado internacional ao lado de medidas econômicas num período de elevada inflação no Brasil.
De 2010 para cá, no entanto, a atividade retorna com força, já com o emprego de tecnologias bem mais avançadas, como o emprego de dragas que custam até 2 milhões de reais, e que já seriam em número de 70 na bacia do Tapajós.
Há muitas questões a serem levantadas: ao revirar o leito do Tapajós e afluentes, essas dragas poderosas repetirão o desastre ambiental dos anos 1980/1990? Aquele processo foi estancado não por qualquer medida de prevenção ou repressão oficial, mas apenas em consequência do preço ouro, que despencou e por dificuldades econômicas do País naquele momento, retraindo os investidores.
QUESTÃO CENTRAL Outra questão, esta central: O que a região do Tapajós ganhou, neste mais de meio século de avanço ensandecido sobre suas reservas auríferas? O Estado Pará, que proveito tirou dessa monumental agressão ambiental? E uma conclusão: isto pode se repetir, com consequências ainda mais danosas à própria economia regional, especialmente ao Oeste do Pará, onde se implanta, ainda incipiente, uma indústria do turismo que tem Alter do Chão como ícone desta fase, com investimentos em hotéis, pousadas, lanchas, turismo receptivo de até 35 transatlânticos por temporada (novembro a março), afetando o emprego de milhares de pessoas nos municípios de Santarém, Aveiro (Fordlândia) e Itaituba. Quilômetros de praias e lagos podem voltar a ser enlameados como naquele período citado. E o pecado escassear.
É claro que resíduos dessa economia do saque ficaram na região. Itaituba, que ficou conhecida como a Cidade Pepita, e Santarém, obtiveram proveitos na circulação de uma riqueza que dinamizou o comércio local, porém uma riqueza infinitamente menos significativa diante das montanhas do ouro descaminhado. Aliás, esses benefícios foram largamente neutralizados pela avalanche da massa migratória, trazendo para a região milhares de trabalhadores para os quais, quando muito, ficaram ralos gramas do metal tão precioso.
Para a maioria desses trabalhadores ficaram a malária, o risco da contaminação pelo mercúrio, o mais venenoso metal líquido existente na natureza, e peixes contaminados para os ribeirinhos. Foram encher as periferias das duas cidades e engrossar as grotas de onde muitos nem mais saíram, seja pelas doenças ou vitimados pela criminalidade que, nos anos de boom, ceifou milhares de vidas de garimpeiros. Na frente de Itaituba está uma grande favela, às margens do rio que tanto ouro pariu neste meio século, a demonstrar a lógica dessa economia de terra e águas arrasadas.
Quando os empresários do ouro ouvem estas conversas, de imediato alegam que qualquer medida visando ao combate à agressão ambiental e humana resultará na queda da produção de ouro e redução dos empregos nas grotas. Ocorre que ao longo do Tapajós, abaixo das zonas agredidas, muito mais gente, inclusive os 78 mil ribeirinhos que vivem da pesca, podem ficar sem trabalho. Uma questão: ninguém quer que o ouro deixe de ser retirado do Tapajós, o que se pleiteia é a introdução de tecnologias não poluentes, já existentes.
O que precisa ter um basta é a atividade ilegal, aventureira, imediatista, como, aliás, é praxe na Amazônia, onde se chega para enriquecer rápido e cair fora, sem nenhum compromisso com o desastre deixado para trás. E isso vale tanto para o garimpo quando para as médias e grandes empresas mineradoras.