Serra Pelada – O garimpo da ilusão
De madrugada a temperatura cai bastante e ninguém consegue dormir sem
cobertor. Uma espessa neblina encobre o garimpo quando esta estranha
cidade no meio da selva, que já chegou a ter mais de 80 mil habitantes,
começa a acordar para mais uma jornada. É sábado, um dia como outro
qualquer em Serra pelada, onde o fim de semana só começa ao meio-dia de
domingo.
O barulho das britadeiras moendo o cascalho nos barrancos; procissão de
vultos silenciosos caminhando para a cava; a rotina recomeçava. O zunido
dos pernilongos ainda está nos ouvidos, suplício apenas para os
forasteiros.
“Como é que se chama pernilongo aqui?”
“Carapanã que o senhor fala? Ah, não precisa chamar não. É só deixar a porta aberta que eles vêm sozinhos...”
Apesar das precaríssimas condições de vida e trabalho no garimpo, o bom
humor predomina, e é raro ouvir alguém se queixar da vida. Explica-se:
para a maioria deles, a vida lá fora era ainda mais dura, e sem qualquer
perspectiva de melhora. Aqui todos têm trabalho e comida, com direito a
sonhar.
Blefados ou bamburrados na loteria do garimpo
Quatro homens do barranco 26 jogam dominó. Libânio, Antônio, Vitorino e
Francisco vieram do Maranhão há menos de um ano. Três eram estudantes,
um trabalhava na roça. São meias-praças, vão ter direito a 5% do ouro
que for encontrado no barranco – o pedaço que lhes cabe no imenso
tabuleiro esculpido numa enorme cratera de 24.615 metros quadrados, com
1.200 metros de diâmetro e mais de 100 metros de profundidade – mas até
agora não encontraram nada. O dono do barranco mora em Belém. Só vem de
vez em quando para prover a turma de comida e óleo para a britadeira,
comprar alguma ferramenta que falta. Por que eles estão aqui?
“É mais a necessidade de aventurar alguma coisa”.
Eles agora estão jogando dominó em pleno dia de trabalho porque, quando
chegam as chuvas, o garimpo começa a ser desativado. Apenas uma pequena
parte da cava, não mais do que 10% ainda tem condições de continuar
funcionando. Dentro de poucos dias, eles irão embora para outro garimpo,
o de Cumaru.
“A gente chega lá e vai caçar patrão. Tem muito serviço lá”, explicava Libânio.
O maior garimpo a céu aberto do mundo
A cada dia, lotando caminhões que ligam esta ferida aberta na selva, 130
quilômetros a Sudoeste de Marabá, a 13 localidades do Pará, Maranhão e
Goiás, milhares de paus-de-arara do ouro vão deixando para trás, em meio
à poeira, o maior garimpo a céu aberto do mundo.
São os blefados, que deixam para trás também sua saúde, seus sonhos de
riqueza desfeitos. Nos teco-tecos e bimotores, que fazem a ponte aérea
Marabá – serra Pelada, vão embora também os bamburrados, aqueles 2% de
garimpeiros que ficam com 72% da renda de todo o ouro do garimpo
descoberto no início dos anos 80 e festejado como o tesouro que
resolveria os problemas do Brasil.
Homens enlameados até os cabelos, caminhando como formigas com sacos de
cascalho nas costas e cavando como tatus, levantando poeira ou barco
dentro de um grande buraco, o garimpo – esta é a paisagem humana que
encontrei quando vim aqui a primeira vez, está fazendo quase oito anos.
Naquele tempo, quase nenhum piloto se arriscava a ir para lá. Só os mais
malucos. Motivos não faltavam, mesmo para estes suicidas pilotos de
garimpo que topam qualquer serviço.
A pista improvisada no cabo de enxada era apenas uma tênue nesga de
terra rasgada no meio da mata, quase sempre escondida pela chuva, a
neblina ou a poeira. Cercada por morros, era também a principal e única
rua do garimpo, vivia coalhada de gente. Descer lá sem problemas era
como acertar sozinho na loto.
A imagem não é gratuita: Serra pelada sempre foi, desde o começo, um
jogo, um contrato de altíssimo risco. Ali, a distância entre a riqueza e
a miséria, a vida e a morte, a glória e o ridículo, o céu e a terra
sempre foi muito pequena, nem dá para notar lá do alto. Estávamos em
serra Norte, onde mais tarde viria nascer a República dos Carajás. O
piloto não inspirava nenhuma confiança. Era um refugiado angolano que
aceitava qualquer vôo e para ele tudo era lucro. Não sei o que me dava
mais medo, se era o piloto ou o aviãozinho dele, todo remendado.
Meia hora depois, só céu e mata, quando já deveríamos estar chegando a
Serra Pelada, o angolado começou a mostrar sinais de preocupação.
Constatou simplesmente que estava perdido, a rota não era aquela. Tenta
contatar outro avião pelo rádio, e nada. Para encurtar a agonia, depois
de mais meia hora o homem conseguiu descobrir onde estava e
gloriosamente vislumbramos o garimpo. Pela primeira vez na vida, e por
pouco a última, ouvi um avião buzinando para pousar. O pessoal não saiu
da pista, o angolano teve que dar uma arremetida toda torta e quase
batemos num carro.
Quem mandava ali por todos os seus prepostos à paisana ou fardados era o
Exército. Mais precisamente, o garimpo era comandado pelo major Curió
(anos mais tarde, ele se elegeria deputado federal com os votos dos
garimpeiros). Em poucas semanas, aquele pedaço de fim de mundo perdido
na selva amazônica seria transformado num retrato três por quatro em
branco e preto deste lugar do mundo chamado Brasil.
Quase meio milênio após a chegada dos descobridores portugueses,
repetiam-se as mesmas cenas de devastação, depredação das riquezas
naturais e humanas, o vale tudo na terra de ninguém. E reuniam-se
novamente em busca do tesouro os senhores, os feitores e os escravos,
aqui chamados de formigas, os homens expulsos de outras terras que
chegaram ao fim da linha e tentavam sobreviver carregando sacos de terra
molhada do garimpo até as máquinas dos seus proprietários, onde os
sonhos passariam pela peneira.
Mas muita água correria pelo leito natural do igarapé da grota Rica,
onde o filho de um certo Zezinho, protegido de Genésio Ferreira da
silva, o antigo dono das terras da Serra Pelada, encontrou alguma coisa
brilhando junto a uma bica d’água, em fevereiro de 1980, até se chegar
aos confrontos entre os garimpeiros e a Polícia Militar do Pará sobre a
ponte de Marabá, no final de 1987.
Da constatação de que se tratava de ouro o que o menino viu à invasão da
fazenda, foi como um raio. Correm na Serra Pelada também outras lendas e
versões. Uma delas dá conta de que o próprio Genésio encontrou ouro ao
cavar um buraco para fazer cerca. Há quem garanta que quem encontrou
ouro primeiro foi um tal de Pedrão, que limpava juquira (roçava o mato)
para Genésio.
A lei do garimpo é desafiar a sorte
José Mariano dos Santos é um dos milhares aventureiros da Serra Pelada.
Fiquei sabendo de sua história aos poucos, até ele ganhar a confiança da
minha amizade. Na época, quando Marabá naufragou, levada nas enchentes,
o garimpeiro José, o Índio, viu na televisão a notícia de que acharam o
ouro em Serra Pelada. Pegou uma carona de caminhão até o KM 16 da
estrada PA-150, que liga Marabá a Serra dos Carajás. Ali hoje é o
entroncamento da estrada de terra que liga a rodovia asfaltada a Serra
pelada, mas naquele tempo só havia um jeito: enfrentar a selva.
Índio já bamburrou e ficou blefado várias vezes, na gangorra das
riquezas e misérias de Serra Pelada. Apesar de tudo, não se arrepende de
ter largado a família na Baixada Maranhanse, onde trabalhava de terça
na terra dos outros, ou seja, entregava ao dono da fazenda um terço do
que produzia sua roça de arroz, milho, feijão, mandioca, o de sempre.
“A Serra para mim foi uma mãe” ia sempre me repetindo, sem ninguém perguntar.
Com outros trinta homens e uma máquina de lavar cascalho na cabeça,
encarou o garimpo do ouro prometido, caminhando das seis da manhã às
seis da tarde. Depois de passar dois dias com fome, vendeu a muda de
roupa para conseguir comida, ajeitou-se num pedacinho de barranco da
grota Rica e dali pára cá, “animei com o negócio, já tava lá dentro
mesmo... era obrigado a passar fome, o que eu ia fazer? Não ia voltar”.
Fortuna e miséria na trilha do ouro
Como bichos, comendo e defecando no mesmo pedaço de terra, milhares de
homens como Índio lançavam-se na grande aventura de ficarem ricos da
noite para o dia. Para falar bem a verdade, a grande maioria nem sonhava
tão alto, estava ali apenas para tentar sobreviver, longe da família e
de qualquer resquício de vida, digamos, civilizada. Eram quase todos
antigos lavradores, posseiros, homens que foram sucessivamente sendo
expulsos das suas terras no Maranhão, no Paraná, em Minas, no Pará.
Índio chegou a ficar um ano e sete meses sem sair do garimpo, andando só
de calção. “Já tava ficando doido. Mulher que conhecia era só a minha
mãe...” resolveu ir para Belém. “Nunca tinha visto tanto dinheiro na
minha vida, nem sabia como funcionava banco”. A esta altura, ele estava
só no mundo. Sua mulher, Ângela Maria, com quem teve dois filhos, o
havia abandonado depois de três anos de casamento. “Ela fugiu com outro,
um motorista de caminhão. Eu era um braçal, ele era motorista, ela quis
melhorar de vida...”
Ao bater com a picareta numa pepita de 13 quilos de ouro, Índio tinha
ficado rico, mas agora já era tarde demais. A mulher e os filhos estavam
longe, não tiveram paciência para esperar o resultado da loteria. A
primeira coisa que fez em Belém foi o que fazem todos os garimpeiros
bamburrados comprou um carro zero quilômetro. Como não sabia dirigir,
contratou um motorista. Ele queria apenas um carro novo, mas logo
descobriu que com o dinheiro do ouro daria para comprar 30 carros
novos...
“Tanto dinheiro... Eu achava que era o homem mais rico do mundo. O carro
era azul-metálico, todo mundo ficava olhando”. O motorista Domingos
que, arrumou para roubá-lo nos oito dias em que dirigiu, conseguiu
comprar dois táxis.
Mas Índio parecia conformado; dizendo que “o primeiro dinheiro que a gente pega, joga fora. Depois acaba aprendendo”.
Um estádio de futebol escavado a mão
Nem sempre isso é verdade. No garimpo, é como se não houvesse amanhã. O
dinheiro corre rápido, assim como entra, sai. O que explica a
multiplicação de bordéis, que depois se transformam em vilarejos em
torno de Serra Pelada (até há dois anos, era proibida a entrada de
mulheres no garimpo). Quem nunca perde nada é o Posto Serra Pelada. Bem
em frente ao posto está instalado o depósito de gás engarrafado. O dono
de tudo é um advogado paranaense, Milton Gatti, um dos pioneiros de
Serra Pelada, que chegou a ter mais de 300 homens trabalhando nos seus
barrancos.
Com o prazer de quem vai mostrar sua própria casa ao visitante, benedito
Evaristo, paulista de São José do rio Preto, conhecido por Adão, seu
nome artístico de cantor de música sertaneja, me lva até a cava, uma
cratera do tamanho do Estádio do Morumbi escavado a mão! Em torno dela
corre um riacho formado pelas águas do fundo do tilim, a parte mais
baixa do garimpo, bombeadas por duas dragas. É a periferia do garimpo,
lugar onde trabalham os requeiros.
Vizinho ao barranco de Adão, três paulistas fazem hora para bagere, o
almoço no garimpo. Um bancário, um químico e um comerciante, que
largaram tudo, estão há 60 dias sem sair daqui e não se queixam: “ouro
tem, é só a gente ter paciência que encontra”. E se divertem com as
histórias do garimpo. “Sabe como é que a gente fazia rabo-de-galo (pinga
com vermute) aqui no garimpo? Era álcool com Biotônico Fontoura. Mas,
agora, até o hospital ta proibido de usar álcool e as farmácias não
podem mais vender biotônico...”, confidenciou-me o bancário.
Passado alguns anos, voltei lá, voltei outras vezes e dava para ver a
olho nu que a degradação da natureza acompanhava a degradação humana, na
mesma proporção – a revolta silenciosa e profunda se espelhando nos
rostos de homens que já não tinham mais volta, que já tinham deixado
tudo para trás e agora se apegavam ao buraco feito náufragos sem
esperança de chegarem à terra, mas reunindo as últimas forças para se
segurarem no barco virado.
Na terceira visita à Serra assisti uma cena trágica que não abandona.
Destruídas as famílias e os sonhos perdidos, só filhos dos que foram
aventurar-se em Serra Pelada perambulavam pelas ruas de marabá, de
Imperatriz de muitas cidades. Meninas bonitas, que fariam sucesso nas
colunas sociais, se tivessem dentes, se fossem bem cuidadas,
ofereciam-se a qualquer um, para que as levassem junto, para qualquer
lugar. Seus pais chegaram aqui buscando riqueza. Pois agora, as filhas
imploram para sair de lá.
Com pás e picaretas, carregando sacos de terra nas costas, eles tiraram
do mapa um morro com mais de cem metros de altura e, em seu lugar,
cavaram um enorme buraco com o mesmo tanto de profundidade por trezentos
metros de largura. Em volta, a mata cedeu lugar a mais uma favela, um
monstruoso favelão sem futuro, porque mais dia, menos dia, chega a
temida mecanização do garimpo.
Serra Pelada sempre foi, desde o início até as revoltas mais recentes
que fizeram o governo se lembrar da sua existência, um jogo em que
poucos ganharam muito, alguns se arrebentaram e a imensa maioria apenas
lutou para sobreviver, por absoluta falta de opção de vida, trabalhando
para comer em condições que fazem lembrar as minas dos garimpeiros
escravos do século XVIII. Homens enlameados até a raiz dos cabelos,
caminhando como formigas com sacos de cascalho nas costas, levantando
poeira ou barro de um grande buraco, enquanto uns poucos viviam como
reis.
Estradas foram rasgadas na selva, algumas até asfaltadas, chegaram os
fliperamas, a televisão e telefones, e já não se depende do aviãozinho
do angolano para descobrir o que se passa naqueles grotões do Brasil.
Nem o angolano nem seu teco-teco existem mais: dias depois daquela
primeira viagem, uma pequena notícia de pé de página informava que ele
havia se espatifado com três passageiros na cabeceira da pista de Serra
Norte, a mesma de onde decolamos.
Ninguém saberá dizer ao certo quantos morreram nesta aventura. Foram
centenas, com toda certeza – o trágico resultado de uma guerra de vida e
morte pelo sonho do ouro.
O processo de extração
O processo inicia-se no fundo da cava com pá e picareta. Entre as
escadas adeus-mamão os trabalhadores retiram o cascalho do barranco de
seu dono – um dos 3200 quadrados de terra que compõem o tabuleiro de
xadrez de Serra Pelada. Como cada barranco pertence a um proprietário
diferente, a progressão na escavação é desigual, criando às vezes
enormes desníveis que podem provocar desabamentos. Mais como segurança
psicológica do que física, os cavadores usam cordas de nylon (azuis)
amarradas no corpo na tentativa de evitar a queda junto com a terra.
Durante uma das visitas dos autores ao garimpo, um desses
desmoronamentos matou instantaneamente 13 garimpeiros, paralizando a
extração por três dias.
Os formigas carregam os sacos de terra para fora da cava. Antes de
subir, passam pelo controle do apontador de baixo que controla as saídas
de cada homem da cava para conferir mais tarde a chegada da carga com o
apontador de cima e executar o pagamento por viagem.
Quando o barranco cai no ouro, os sacos ficam estocados embaixo e são
retirados apenas no fim da tarde ou de noite por motivos de segurança.
Nestes casos uma caminhonete do proprietário do barranco fica esperando o
transporte dos sacos para levá-los diretamente para sua refinadora.
No processo de refino o material bruto é primeiro triturado em
britadeiras. A terra com ouro escorre sobre uma calha recoberta com
mercúrio; que se liga quimicamente apenas ao ouro, formando a amálgama.
Para separação final da mistura ouro-mercúrio da terra, o garimpeiro
utiliza a baleia, que faz o papel de uma centrífuga primitiva. É nessa
operação que pode ocorrer a contaminação dos rios da região pelo
mercúrio excedente, que por descuido ou negligência é arrastado pela
água. O manuseio sem proteção do mercúrio pode intoxicar o próprio
garimpeiro, provocando seqüelas congênitas e distúrbios nervosos com a
acumulação do metal no organismo.
Na etapa final do refino a amálgama é aquecida, vaporizando o mercúrio e
deixando o ouro limpo. As pepitas (pequenos pedaços de ouro) são
levadas ao barracão da Caixa Econômica federal onde são fundidas na
presença do proprietário em um lingote que será vendido à própria Caixa.
Nas produções maiores é utilizado um alto-forno. Finalmente o processo,
quase totalmente artesanal, está pronto, resultando na barra de ouro
puro. A última limpeza retira a fuligem que recobre o ouro. Este lingote
pesa 1,7 kg, resultado de uma tarde de extração depois de 2 anos
cavocando um barranco. O dono, José Aparecido, espera tirar 13 kg de
ouro desse barranco, para compensar seu investimento.
De acordo com os técnicos da DOCEGEO e do DNPM – Departamento nacional
de produção Mineral, o garimpo manual desperdiça em média 40% do ouro de
Serra pelada. A poluição do mercúrio e o alto índice de perdas são o
grande argumento dos que defendem a mecanização do garimpo.
As empresas envolvidas estimam um aumento de produção de pelo menos 30%
do ouro, que até hoje já rendeu 40 toneladas. Anualmente a produção vem
caindo, ocupando agora apenas 5.000 garimpeiros, muito abaixo dos 50.000
homens que trabalhavam na cava em 1983, o melhor ano da Serra.
Por outro lado criou-se uma verdadeira cidade em torno do buraco, que
resiste como pode contra a mecanização. Seria o fim do sustento para
milhares de garimpeiros, que consideram Serra Pelada a sua casa.
O dialeto do garimpo
CAVA: como é chamado o grande buraco do garimpo aberto à mão; a de Serra
Pelada tem hoje cerca de 100 metros de profundidade e o formato de um
feijão.
BARRANCO: pedaço de terra de dimensões variáveis, comprado dentro da
cava por um ou mais garimpeiros para ser explorado na busca do ouro.
CATA: sinônimo de barranco, onde os garimpeiros “catam” o ouro.
APONTADOR: empregado do dono do barranco que controla a quantidade de
sacos retirados pelos carregadores de terra e despejados fora da cava.
Têm direito a uma porcentagem da produção de ouro do barranco.
FORMIGA: carregador de sacos de terra e cascalho. São os bóias-frias do
garimpo, que recebem um pagamento correspondente aos sacos carregados
entre o barranco e o alto da cava.
MELEXETES: são os formigas sujos de barro.
ADEUS-MAMÃE: nome dado às escadas utilizadas pelas formigas para levar
os sacos de cascalho para a superfície. São verdadeiras estradas de
trânsito com mão própria de subida e descida. O nome vem dos freqüentes
acidentes fatais quando do desabamento das escadas com dezenas de
formigas sobre elas.
MEIA-PRAÇA: trabalhadores braçais que têm direito a uma porcentagem sobre o ouro encontrado no barranco do dono.
CAPITALISTA: dono do barranco, que normalmente vive fora do garimpo; financia as despesas com comida e equipamentos.
EMBARCADOR: indivíduo que coloca o cascalho com ouro na britdeira, onde o material é moído por um processo rudimentar.
COBRA-FUMANDO: “uma banheira de botar água para lavar cascalho e separar ouro”, na definição dos próprios garimpeiros.
MÁQUINA: sinônimo de cobra-fumando.
PASSADOR-DE-MÃO: indivíduo que procura separar à mão o ouro da terra, na qual está misturado.
CURIMÃ: rejeito mais nobre da separação do ouro, que geralmente passa por uma segunda lavagem.
BATEIA: instrumento em forma de peneira feito de chapa de metal,
utilizado para a purificação manual final da mistura de mercúrio com
ouro.
APURADOR: indivíduo que faz a separação do ouro utilizando-se de uma
bateia para lavar o amálgama mercúrio-ouro. O mercúrio liga-se
quimicamente ao ouro, facilitando a separação das impurezas.
REQUEIRO: fazer reque; procurar ouro nos rejeitos que correm nas águas, as migalhas que sobram.
DÍZIMO: porcentagem retirada da venda do ouro destinada à cooperativa
dos garimpeiros para efetuar melhoramentos e obras de estabilização da
cava.
BAMBURRADO: aquele que tirou a sorte grande no garimpo, encontrando um filão de ouro no seu barranco.
BLEFADO: garimpeiro que perdeu tudo, só é dono da roupa do corpo.
CUTIA: carregador de cascalho que fica com a pele vermelha.
ORELHA DE JEGUE: vale, adiantamento.