sábado, 2 de maio de 2015

ECONOMIA – Minerais Abrigo de imensas riquezas minerais

                ECONOMIA – Minerais


A partir da década de 70, o Pará descobriu que abrigava, em seu subsolo, a maior província mineral da Terra, localizada na Serra dos Carajás, explorada pela Companhia Vale do Rio Doce(CVRD), através do programa Grande Carajás. A descoberta do imenso potencial mineral do Estado ocorreu após a implantação do Projeto Radambrasil pelo ministério das Minas e Energia, considerado o maior projeto de levantamento integrado de recursos naturais do planeta. Através de Radar, aerofotogrametria e outros recursos, incluindo pesquisas de campo, foi elaborado um perfil geológico, pedológico e florestal de algumas regiões brasileiras, entre as quais a Amazônia. O conhecimento detalhado das riquezas minerais visava racionalizar seu aproveitamento econômico. Antes mesmo da descoberta de minas como Serra pelada, o Pará já produzia ouro de aluvião, extraído de terrenos sedimentares recentes, formados nas eras terciária e quaternária, existente nos leitos de alguns de seus principais rios, como Tapajós e Jari. A extração era feita por habitantes da própria região, e também por moradores das "Guianas", que entravam em território paraense através do Rio Jari. As maiores concentrações minerais do Pará estão nas serras dos Carajás e Pelada, e nos vales dos rios Trombetas, Jari e Tapajós. Os maiores destaques ficam nos municípios de Parauapebas(jazidas de ferro), Oriximiná(de bauxita) e Itaituba (de ouro e calcário). Hoje, a produção de apenas três minerais- ferro, alumínio e manganês- é responsável por 92,4% da arrecadação do Estado no setor mineral. Em janeiro deste ano, a Rio Doce Geologia e Mineração(DOCEGEO), empresa que realiza pesquisas para a vale do Rio Doce, anunciou a descoberta, em Serra Leste, município de Curionópolis, de uma enorme jazida de ouro há mais de 400 m de profundidade. Segundo a empresa, a jazida tem capacidade para produzir mais de 150 toneladas de ouro. Alvo de conflito entre garimpeiros(que sustentam estar a jazida em Serra Pelada, e não na Serra Leste) e a CVRD, que detém o direito de lavra na região, a jazida só entrou em fase de exploração após 1988, devido à necessidade de continuação das pesquisas, para delimitar com precisão sua área de ocorrência e implantar a infra- estrutura necessária para a retirada do minério.



Valor da Produção Mineral da Amazônia Legal (veja tabela)

O estado do Mato Grosso é o terceiro, com 7,6% de participação no VPM da AML. Mais de 90% de sua produção se concentra em duas substâncias nobres: ouro (61%) e diamante (31%), produzidos pelos garimpos e por duas principais empresas; na produção do ouro se destaca a Mineração Santa Elina e na de diamante a Cia. Administradora Morro Vermelho.

O estado do Amapá participa com 7% do VPM da AML, com produção de manganês (15%) explorado pela Icomi; ouro (20%), proveniente dos garimpos e das empresas Yoko Yoshidome e Novo Astro e, mais recentemente, de cromita (9%) pela Cia de Ferro-Ligas do Amapá; além de caulim (56%), pela Cadam.

Rondônia participa com 2,7% do VPM da AML, sua produção mineral é representada pelo estanho (55%) produzido por empresas dos grupos Paranapanema e Best; e do ouro (44%), originário dos garimpos. O restante é representado por materiais de construção.

Até o ano de 1992, o Acre não figurava nas estatísticas minerais do Brasil, entretanto, o estado apresenta produção de minerais de usos direto na construção civil, além da produção de ouro, proveniente dos garimpos. Roraima ainda está implantado seu sistema de controle do setor mineral, através do estabelecimento de um distrito do DNPM, no estado.

A produção dos estados do Tocantins e Maranhão é pouco significativa, chegando a menos de 1% do VPM da AML. Essa produção, em ambos os estados, é baseada na exploração de ouro, pelos garimpos; e por materiais de uso direto na construção civil, por pequena empresas locais. No estado do Maranhão se destaca o grupo João Santos, com a produção de argila e calcário para a produção de cimento.

De forma similar ao estado do Mato Grosso, Roraima, que participa com 1% do VPM da AML, destaca-se pela produção de ouro (61%) e diamante (38%), cuja produção é integralmente originária de atividades garimpeira; o restante (1%) por materiais de construção por pequenas empresas locais.

Todos os estados da AML, exceto o Acre, apresentam produção de ouro (Pará e Mato Grosso respondem por 90% da produção regional), que já corresponde a 48% da produção nacional. A maior parte da produção de ouro ainda é proveniente dos incontáveis garimpos existentes na região, não obstante a produção empresarial vir apresentado forte crescimento.

"A exploração garimpeira na região do Tapajós (no Pará) começou em 1958, nesse tempo todo, o ouro secundário - aquele que fica misturada a sedimentos como areia e barro na superfície da terra - foi praticamente exaurido. O que resta agora é a exploração dos filões de ouro- o chamado ouro primário - que demanda muito dinheiro e tecnologia. No Pará, em 1994, de todo o ouro extraído, 15 toneladas vieram dos garimpeiros e 7,5 das empresas; em 1995 empresas e garimpos produziram, cada um, 10 toneladas; enquanto a produção empresarial cresceu 56%,a  dos garimpos caiu em 35%". (O Liberal 23/10/97).

Conforme podemos constatar através da análises das reservas e produção mineral, a produção efetiva da AML, está muito aquém do potencial já identificado. Importantes reservas, como as de níquel (16%), tungstênio (67%), zircônio (57%), fluorita (93%), gipsita (42%), leucita (84%) e potássio (66%), dentre outros, não estão sendo exportadas.

Sistema deficiente de infra-estrutura regional, escassez de mão-de-obra capacitada, limitadas externalidades positivas, vastas áreas proibidas à exploração mineral, ausência de investimentos em ciências e tecnologias, além da falta de uma política articulada para estimular investimentos na AML são grandes desafios a serem superados para efetiva utilização dessas reservas na região.

2.6 Amazônia, Globalização e atividade Mineral

Não se pode faltar de mineração na Amazônia sem mencionar o crescente processo de globalização que vive a economia mundial - entendido coma a expansão de uma rede sistemática com forte interdependência nas relações comerciais, financeiras e tecnológicas entre países - onde a eficiência econômica e a produção especializada são os critérios básicos para o intercâmbio de bens e serviços no mercado mundial.

Compreender o processo de globalização, no contexto da região Amazônica, é importante, primeiramente, porque por sua natureza e escala, os projetos minerais estão inseridos desde sua origem, na lógica. Em segundo lugar, porque a região é foco dos mais divergentes interesses globais, dentre os quais dois merecem destaque: um que vê a Amazônia, enquanto a "ultima fronteira de exploração de recursos na expansão da economia mundial"e , portanto, privilegia uma abordagem de ocupação do espaço para acumulação de capital; e outro que a vê como uma das últimas reservas de biodiversidades, privilegiando uma visão conservacionista dos recursos naturais. Estas abordagens têm profundas implicações nas propostas de desenvolvimento regional.
Vejamos a primeira razão: a evolução e dinâmica do crescimento do setor mineral na Amazônia, historicamente, tem respondido a essa lógica global. Conforme já destacamos, as principais descobertas minerais da AML ocorreram a partir de pesquisas de grupos estrangeiros, entretanto, muitos projetos não foram implementados em virtude de mudanças no mercado mundial de bens minerais; o aproveitamento econômico das principais jazidas, somente foi viabilizado para as substancias primordialmente voltadas ao mercado exportador, por joint-ventures ou grupos estatais.

Conforme já frisamos anteriormente, os projetos da indústria mineral estão localizados na AML, pela óbvia razão da rigidez locacional de suas jazidas, porém a grande maioria destina sua produção exclusivamente ao mercado externo. Eles só estão sendo explorados porque apresentam vantagens comparativas expressas pela dimensão e qualidade das jazidas que, numa relação custo/beneficio, tem compensado a falta das "economias externas" (expressas por infra-estrutura adequada, ambiente empresarial, mão-de-obra qualificada, facilidades proporcionada pela proximidade dos centros urbanos, tais, como hospitais, escolas, farmácias, supermercados, atividades culturais e recreatividades, dentre outros), que são extremamente limitadas na região.


Empreendimentos da indústria mineral na Amazônia Legal (veja tabela)

Em decorrência disso - além do distanciamento dos grandes centros consumidores,d as grandes distâncias e difícil acessibilidade existente no próprio interior da região -, os projetos minerais existentes na AML, ou são atividades marginais, como é o caso do garimpo. Portanto, excluindo-se a mineração dos chamados minerais de classe II, destinados a construção civil próximo às áreas urbanas, praticamente inexiste pequena e média empresa de mineração na Amazônia.

Esta configuração tem profundas implicações no desenvolvimento do segmento mineral na Amazônia, a partir da concepção de complexos industriais, uma vez que grande parte das pré-condições necessárias para o desenvolvimento dos complexos não estão presentes na região pois esses setores produtivos apresentam reduzidos efeitos propulsores à montante e à jusante da empresa, o que historicamente tem limitado a capacidade de dinamização da renda interna.

Numa economia global, direcionada pelos interesses da acumulação, não devemos esquecer também que o mercado é e será, por muito tempo, o elemento determinante das decisões de investimento. Por exemplo, com a nova abertura da economia nacional, agora sem as limitação legais, possibilitadas pela reforma constitucional de agosto de 1996 e pelo novo Código de Mineração de novembro de 1996, o capital estrangeiro está redirecionado seus investimentos para a Amazônia, entretanto, não está interessado nos minerais tradicionais, para os quais, além de estoque garantido por longo prazo, as  projeções dos preços refletem queda ou, quando muito, estabilidade, dado as mudanças estruturais por qual o setor mineral tem passado. Os investimentos estrangeiros estão voltados para o projeto de rápido retorno e mercado garantido como os metais nobres, principalmente.

A Segunda razão é decorrente da localização espacial dos projetos que, na região Amazônia, tem sido alvo de especulações globais de dupla origem: a economia, que ressalta a inquestionável base de recursos de valor econômico, conhecido e desconhecido; e a ambiental,que privilegia sua preservação. Essa dicotomia revela apenas os interesses divergentes em torno do desenvolvimento da Amazônia.

Nos anos 80, predominaram as teses que indicavam a Amazônia como a última fronteira de expansão capitalista nacional. Nos anos 90, tem se consolidado a visão de que a preservação ambiental na Amazônia é uma questão prioritária, especialmente entre os segmentos formadores da opinião pública global, dentre os quais podemos destacar: Banco Mundial, organizações ambientalistas não-governamentais e agora a Comunidade Européia, através do PPG-7- Programa de Proteção das Florestas Tropicais Subsidiado pelos 7 países mais ricos do mundo (Canadá, EUA, França, Itália, Inglaterra, Alemanha, Japão).

Os argumentos para transformar a Amazônia numa espécie "APA global" (área de preservação ambiental) partem do pressuposto de que a região constitui um recursos global que precisa ser preservado, pois acredita-se que nela estão contidos metade das espécies vegetais e animais globo, e 1/3 das árvores do planeta, além de que, 20% das águas que deságuam nos mares provém da Amazônia. Portanto, as ações determinadas para a Amazônia são de vital importância para o status e o futuro da região, uma vez que 2/3 de suas áreas  estão em território brasileiro.

Quer velada, ou abertamente, a região ainda convive com esse impasse econômico/ecológico. A questão de como as empresas de mineração existentes tem lidado com essa dicotomia, depende da escala em que atuam. As grandes empresas exportadoras têm adotado uma política ambiental pró-ativa, do tipo polluter preventer (Carajás, MRN, etc.). Por seus produtos majoritariamente destinarem-se ao mercado externo, suas práticas não poderiam deixar de ser aliadas da questão ambiental. Essas empresas, em especial a indústria extrativa, têm ao seu redor extensas área ambientalmente protegidas, sob a forma de APA', Flona'S (florestas nacionais), Rebio's (reservas biológicas), reservas indígenas etc.

Esse tipo de atitude é bem distinta da mineração em larga escala das regiões Sul/Sudeste, onde so conflitos sócio-ambientais são, em geral, os principais problemas da mineração, não é um problema tão grave nas regiões Sul/Sudeste quanto na Amazônia. Naquelas regiões, há uma concentração espacial de outras complementares- complexo industriais - que potencializam a capacidade de dinamização da renda proveniente da mineração em prol do desenvolvimento regional.

No que se refere às conseqüências  dessas abordagens, para se pensar o desenvolvimento dos complexos industrias na Amazônia, a partir da mineração, deveremos considerar as atuais tendências:

• As empresas instaladas ou a ser "ecologicamente corretas", sob pena de estarem fadadas ao fracasso. Exemplos: refluxo das guseiras no corredor de Carajás - o projeto de implantação inicial previa a construção de dezoito usinas, atualmente estas foram reduzidas para apenas seis (duas no Pará e quatro no Maranhão), em função do descaso com o meio ambiente;

• O mercado global tem direcionado seu interesse para minerais nobres - a exemplo do ouro -, daí o novo ciclo de projetos a serem instalados na região. É necessário, portanto, um posicionamento dos tomadores de decisão quanto às novas tendências dos investimentos estrangeiros, no sentido de agilizar o processo de regulamentação da Lei Complementar, que limita os prazos para concessão de lavra, e propor critérios definidos de partilha, como, por exemplo, investimento de parte dos lucros no desenvolvimento regional para dinamizar outros setores econômicos.

• Há resistências ao desenvolvimento de cadeias produtivas integradas que impliquem na verticalização do complexo mineral; os critérios serão mais seletivos para implantação de novas indústrias complementares, especialmente, por parte das instituições financeiras internacionais. A fase de maior agregação de valor é também a fase de maiores impactos ambientais (daí surgirem as dúvidas a respeito de como se comportará a correlação de forças). Neste particular a opinião pública internacional não vê com bons olhos a industrialização da Amazônia.

Considerado as variáveis economias e ambientais, ao "Estado Estruturante" cabe a tarefa fundamental de administração entre interesses potencialmente divergentes - exploração econômica e preservação ecológica - sem  se esquecer do componente social. O  Estado deve se posicionar do ponto de vista da população local, historicamente desconsiderada dos planos de desenvolvimento regionais, uma vez que já é consensual a idéia de que apenas a força motriz da globalização não é capaz de dar respostas aos problemas sociais.

Conforme destaca um membro da comissão que dirige a União Européia, Ricardo Petrelle (FSP), "não estamos no início da hegemonia liberal; nossa tarefa é construir uma sociedade pós-liberal, já que o liberalismo não é um tipo estável de sociedade, mas um choque, uma transição, uma destruição dos modos não-econômicos de gestão da economia. Uma vez alcançado seu objetivo, geralmente com uma eficácia brutal, é preciso reconstruir a sociedade a partir dos conceitos de justiça e integração, sendo este o principal dever do sistema político".


Reservas Minerais da Amazônia Legal (veja tabela)

A AML apresenta reservas de 32 substâncias minerais. Dentre os minerais com expressão internacional, na faixa de 1% a 12% das reservas mundiais, destacam-se 08 substâncias, por ordem decrescente: bauxita metalúrgica (11%), caulim (6%), fluorita (2.3%), minério de ferro (2,0%), zicôrnio (1,7%) cobre (1,4%) e potássio (1,3%).
Representando mais de 20% das reservas nacionais destacam-se 17 substâncias, por ordem decrescente: fluorita (bauxita metalúrgica (88%), estanho (86%), leucita (84%), caulim (80%), zicôrnio (72%), tungstênio (67%), cobre (67%), pirocloro (nióbio) (51%), manganês (47%), bauxita refratária (46%), ouro (45%), gipsita (42%), columbita (33%), gás natural (25%) cromo (24%) e ferro (22%).

Adicionalmente, a vastidão territorial da AML e a escassez de estudos geológicos com maior nível de detalhe, de um lado, e a retração dos investimentos em pesquisa mineral, de outro, tanto por parte do Estado, quanto pela iniciativa privada, indicam que o verdadeiro potencial mineral da AML é ainda desconhecido e, provavelmente, muito superior às informação oficiais divulgadas.

A necessidade de melhor conhecer esse potencial está manifestada no Plano Plurianual para o Desenvolvimento da Mineração Brasileira (DNPM, 1994). No plano foram selecionadas 33 províncias de interesses especial para o programa de pesquisa geológica, dessas, 50% localizam-se na AML. Das 20 províncias classificadas como de primeiro prioridade, 8 estão na AML.

ECONOMIA - Minerais                       


De forma similar á dinâmica do desenvolvimento da Amazônia, a trajetória do crescimento da atividade mineral na região tem sido determinada por interesses e fatores exógenos, resultantes do comportamento do mercado global de commodities minerais (como demanda derivada, o consumo de minérios depende dos rumos dos setores industriais demandantes), das políticas industriais e macroeconômicos do Estado para o setor mineral e do próprio destino do crescimento da economia nacional.
De fato, o interesse econômico pela exploração dos recursos minerais da região Amazônica, em bases empresarias, é anterior ao seu processo de integração nacional, ocorrido nos anos 60. Nos anos 40 , o grupo Bethehein Steel descobriu o manganês no Amapá que passou a ser efetivamente exportado pela Indústria e Comércio de Minérios S/A - Icomi em 1957. Nos anos 60, houve uma verdadeira corrida de empresas estrangeiras para a região, estimuladas pelo aumento da demanda e dos preços dos bens minerais, muitos dos quais considerados "estratégicos", a exemplo de: em 1966, a bauxita metalúrgica no Trombetas, pela Alcan; o manganês em Carajás, pela Union Carbide; em 1967 o ferro e o manganês em Carajás, pela United States Steel; em 1969, o titânio em Maraconaí, pela Codim e em 1970 a bauxita metalúrgica em Paragominas, pela RTZ.
Embora a vinda desses grupos tenha resultado na descoberta de importantes reservas minerais, devido às mudanças no cenário internacional, as jazidas só foram aproveitada economicamente pela ação de grupos estatais, como a CVRD, ou a partir de empresas joint- ventures, como a Mineração Rio do Norte - MRN.
Nos anos 80, devido aos problemas do balanço de pagamentos, o governo federal criou uma série de incentivos ao setor exportador. O setor mineral na Amazônia, passou a ser um potencial gerador de divisas, daí toda uma campanha para criação do famoso e etéreo Programa Grande Carajás (que não avançou além dos projetos que já estavam implantados).
Ainda nos anos 80, intensificou-se a mineração sob a forma do garimpo, em função do elevado preço do ouro, do incentivo governamental (a exemplo de Serra Pelada), do agravamento da crise social e da falta de oportunidade de trabalho e renda, principalmente, dos trabalhadores da renda, principalmente, dos trabalhadores da região nordeste do Brasil que se constituem na maior parcela da população garimpeira da região.  Dissociada de um modelo endógeno de desenvolvimento, a configuração da atividade mineral na região está segmentada: garimpo e grande empresa.
A grande empresa veio para a região atraída pelas vantagens comparativas proporcionadas pela dimensão e qualidade de sua jazidas. O garimpo resultou como uma atividade econômica alternativa que, embora utilize grande contingente populacional, a maior parte dos garimpeiros vive em precárias condições.
Essa segmentação deve-se, em grande parte, ao modelo mineral vigente, viabilização através dos políticas minerais dos anos 70 e 80, desenhadas para apoiar grandes projetos minerais, que tiveram como objetivo obter divisas para pagar a dívida externa, e responder aos interesses de segmentos específicos do setor privado. A falta de política pública de fomento ao pequeno minerador contribuiu para a exclusão do garimpo do setor mineral formal da região, e para a marginalização de milhares de pequenos produtores.
Partindo desse referencial, nesse capítulo nosso objetivo é fazer uma breve caracterização da AML, do ponto de vista: espacial, populacional e socioeconômico, identificando os principais eventos que contribuíram para o crescimento da mineração, bem como destacando o potencial mineral da região, me termos de reservas e produção efetiva.






O governo brasileiro pretende atrair investimentos de até US$ 200 milhões por ano das grandes gigantes mundiais do setor mineral. O Ministério das Minas e Energia (MME) começará a divulgar no mercado internacional, na próxima semana, seu primeiro passo para atingir essa meta, o Programa de Levantamento Aerogeofísico da Amazônia (PLAA). O Programa deve servir de base para montagem do maior banco de dados já conhecido sobre a Amazônia - região rica em ouro, cobre, estanho e outros. O Programa, a ser apresentando ao mercado investidor em road show no Canadá, de 5 a 10 de março, terá participação de empresas privadas especializadas em levantamento geofísico. Para isso, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) - braço executivo do MME - promoverá 12 licitações até 2003. A primeira delas, realizada em janeiro, foi vencida pela Geomag, empresa brasileira associada à holandesa Fugro. Na etapa inicial do mapeamento, a Geormag fará o levantamento da Cabeça do cachorro um área de 150 mil quilômetros quadrados, no extremo oeste da Amazônia. A próxima concorrência está prevista para o final de março e início de abril e analisará área na divisa entre Pará e Amapá. A CPRM prevê gastos do governo federal de R$ 50 milhões nessas licitações. O secretário de Minas e Metalurgia do MME, Luciano Borges, afirma que o Programa ajudará a inserir o Brasil no circuito mundial do setor, hoje dominado por países como Canadá e Austrália. Nesses países a atividade mineradora recebe investimentos anuais da ordem de US$ 700 milhões. Idealizado pela CPRM, o Programa fará até 2003 o mapeamento topográfico e geofísico de 700 mil quilômetros quadrados no chamado escudo Amazônia Legal. O presidente da CPRM, Umberto Costa, explica a importância do levantamento pela necessidade de redução de riscos para os investidores privados. "Quanto mais informações de caráter técnico, menor o risco dos investimentos e maiores as perspectivas de atração de recursos", justifica o dirigente, lembrando que o último programa de grandes proporções para coleta de dados no País foi o chamado projeto Radam, no início da década de 80, executado pelo próprio Ministério. Ao contrário do Radam, no entanto, o novo Programa será realizado por empresas privadas das nacionais e estrangeiras, contratadas por licitação. Os dados do primeiro levantamento deverão estar disponíveis para a CPRM entre julho e agosto próximos. Pelos termos do contrato, as empresas vencedoras terão de se comprometer a preservar a confidencialidade dos dados. Caberá somente à CPRM divulgar as informações a companhia mineradoras, mediante contratos de compra. "Esse programa viabilizará finalmente o aproveitamento econômico da região amazônica, o que não ocorreu ainda justamente por causa da falta de informações técnicas precisas", comenta Umberto Costa. Luciano Borges, secretário de Minas e Metalurgia, informa que a Amazônia representa 62% do território brasileiro, mas apenas 15% de sua área é conhecida. Mesmo com os poucos dados disponíveis, revela, já foi possível constatar na região a presença de minerais como ouro, cobre, níquel, diamante, estanho, ferro e manganês. Ele comenta que, ao ritmo atual, o trabalho de monitoramento da região só seria concluído em dois séculos. Com o PLAA, estará concluído em apenas meia década. A respeito da questão ambiental em torno do aproveitamento econômico da Amazônia, Borges, afirma que o Programa observará o conceito de desenvolvimento sustentável- pelo qual a exploração do potencial econômico se dá com mínimos impactos ambientais. Mesmo assim, admite que o Governo está preparado para uma verdadeira batalha em nome da preservação do santuário amazônico, por esbarrar  o PLAA em tema caro não só a movimentos ambientalistas, mas também para as Forças Armadas. Sob o ponto de vista da ideologia da segurança nacional, comenta o secretário, a região sempre foi tratada como um banco de riquezas minerais e biológicas, cujas informações não poderiam estar disponíveis a grupos estrangeiros. " Hoje isso mudou, com a conscientização de que a essência da soberania nacional é a informação. Pode-se até pode impedir a empresas estrangeiras o conhecimento dos recursos da região, mas não haverá soberania sem informações precisas sobre o território. A melhor maneira de proteger seu patrimônio é Ter conhecimento total sobre ele". Justifica Borges. Ao contrário do garimpo, caracterizado pelo extrativismo indiscriminado, diz ainda, a mineração empresarial constitui-se em atividade ambientalmente sustentável com dimensão social, que pode ser comprovada pela geração de empregos. A expectativa da Secretaria é de que, no segundo trimestre do ano, já se sintam efeitos da participação brasileira no road show do Canadá, marcado para próxima semana. A missão brasileira será formada por 35 representantes do governo e da iniciativa privada. A equipe participará, entre os dias 5 e 8, de encontro do Prospectors and Developers Association of Canada (PDAA), evento anual que reúne os principais investidores do setor minerador. As aplicações canadenses em investimentos de risco na mineração mundial 69% do total. Também está prevista a participação brasileira no Fórum Mundial de Ministério de Minas, nos dias 9 e 10 de março. 


O processo de reformulação da estrutura de governo responsável pelo setor mineral já começou e terá apoio técnico do Banco Mundial (Bird). Nos próximos dias, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) deslanchará o Programa de Demissão Incentivada (PDI), pelo qual pretende reduzir de 1,7 mil para 1,3 mil o contigente de funcionário do órgão. Espécie de braço executivo da Secretaria de Minas e Metalurgia do Ministério das Minas e Energia, a CPRM terá seu nome modificado para Serviço Geológico do Brasil (SGB) e será convertida em agência executora dos segmentos de mineração e hidrologia. O planos do MME, que não se limitam à futura SGB, incluem, ainda, a transferência da empresa para Brasília. A mudança tem por objetivo permitido o acompanhamento mais detalhado, pelo Ministério, do dia-a-dia da hoje CPRM. Na capital federal, a empresa estará mais próxima, também, do Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) - como ela, órgão vinculado à Secretaria -,que será transformado em agência reguladora do setor, passado a deter as mesma atribuições das Agências Nacionais do Petróleo (ANP) e de Energia Elétrica (Aneel). Fontes ligadas ao Governo explicam que a reformulação tem o claro objetivo de conferir maior importância ao setor mineral brasileiro, relegado a segundo plano nos últimos anos até por conta de amarras constitucionais. Até 1995, a Constituição brasileira limitava o capital estrangeira a participação minoritárias em empreendimentos capitaneados por companhias nacionais. Definido como prioridade pelo Ministro das Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, o setor minerador deverá receber investimentos da ordem de US$ 200 milhões por ano, a partir de 2003, caso se confirmem expectativas de Luciano Borges, secretário de Minas e Metalurgia, Luciano Borges. Tudo dependerá, segundo o secretário, do sucesso do programa destinado à captação de investimentos estrangeiros no setor, iniciando com o levantamento geofísico da região amazônica. A importância conferida pelo Governo federal ao setor minerador é indicada pela análise da dotação orçamentária de 200. A CPRM terá à disposição, este ano, um total de R$ 125 milhões, disponíveis principalmente para o Programa de Levantamento Aerogeofísico da Amazônia (PLAA) e para financiar o PDI. Tanto o presidente da CPRM, Umberto Costa, quanto o secretário de Minas e Metalurgia do MME, Luciano Borges, não quiseram das detalhes do PDI. Sabe-se, no entanto, que o programa será desenvolvido até o final deste mês.

ECONOMIA - Minerais                


O potencial mineral do Brasil, país de grande diversidade geológica e extensão territorial, está longe de ser avaliado com precisão. Isso acontece mesmo no caso da província mineral de Carajás, que dispõe  das maiores reservas mundiais de ferro e importantes concentrações de manganês, cobre, estanho, níquel, bauxita e ouro. Ainda assim, no período de 1950 a 1989, o valor da produção mineral brasileira passou de USS 230 milhões para USS 9 bilhões, em valores constantes em dólar de 1989.
As jazidas minerais ocorrem, geralmente, em regiões até enfio  desprovidas de qualquer infra-estrutura para a operação da mina e o escoamento da produção. A mineração funciona, portanto, como um fator de deslocamento de investimentos, uma vez que induz a extensão da rede de transporte e energia elétrica. A atividade de mineração, quando mal conduzida, pode ser geradora de sérios impactos ambientais.
No caso dos projetos na Amazônia, a fragilidade do ecossistema tropical toma a região ainda mais vulnerável, exigindo cuidados complementares. Nesse sentido, a obrigatoriedade de proteção das reservas indígenas deveria condicionar a implantação da mina, estradas e barragens.
A mineração junto a áreas urbanas, também freqüente no Brasil, traz impactos decorrentes de poeira, barulho e vibrações. Impõem-se medidas de proteção do meio ambiente na concepção ou operação de empreendimentos minerais, tais como a recomposição de área minerada, a eliminação de poluição atmosférica pelo carregamento de poeiras no transporte de minérios, as barragens de decantação para armazenamento dos rejeitos de beneficiamento e a substituição de ustulação por processos mais modernos e limpos.
A mineração no Brasil envolve ainda um amplo segmento informal de garimpo. Trata-se de atividade intensiva em mão-de-obra e de baixo volume de investimento.
Na primeira metade deste século não houve expansão da atividade garimpeira. Entre as décadas de 1950 e 1960, porém, desenvolveram-se duas importantes áreas de garimpo: Rondônia e Tapajós (estado do Pará), que marcaram o início da atividade em larga escala na região Amazônica.
Até a década de 1960 prevalecia a prática garimpeira semimecanizada. A partir de então, alteraram-se as características do garimpo devido à descoberta dos mananciais auríferos na Amazônia e à
incorporação de novos equipamentos, ocasionando mudanças sociais e tecnológicas que o afastaram de seu sistema tradicional.
A rápida expansão e a acelerada mecanização dos garimpas trouxeram conseqüências que hoje estigmatizam esta atividade: degradação ambiental, conflitos comas populações indígenas e a mineração organizada, condições precárias de trabalho, descaminho do ouro, depredação dos depósitos. Os impactos ambientais da atividade garimpeira derivam principalmente da lavra desordenada, da falta de prévio conhecimento da geologia regional, da disposição indiscriminada de rejeitos, do assoreamento de drenagens naturais, da dispersão do mercúrio metálico usado na amalgamação e da falta de recuperação de áreas degradadas.
Estima-se, segundo dados oficiais, a existência de 1.854 garimpas de produção de ouro, pedras preciosas e outros bens minerais, distribuídos em toda a extensão do território nacional, nos quais trabalha
uma população calculada em 300 mil pessoas.




EXPORTAÇÕES MINERAIS PARAENSES/1997
BEM MINERAL
VOLUME (MIL t)
VALOR Milhões
- Ferro
40.494,0
727,0
- Ouro
        11,6*
124,0
- Alumínio
     357,0
553,0
- Bauxita
  4.267,0
100,0
- Caulim
     755,0
  83,0
- Manganês
     583,0
  30,0
- Silício
       26,0
  28,0
- Alumina
     326,0
  64,0
- Outros
-
  53,0
           1.762,0


O Estado do Pará é o segundo produtor brasileiro de minérios, com francas possibilidades de atingir, nos próximos anos, o topo da produção nacional, uma das maiores do Ocidente. Em 1997, o valor de sua produção mineral foi US$ 2,149 bilhões. E as exportações – a maioria de minério beneficiado – alcançaram US$ 1,762 bilhão, ou cerca de 80% do total das exportações do Estado.
No território paraense está a maior jazida mundial de ferro, que apresenta alto teor de Fe203, e responde por 31% das reservas brasileiras, com 17,4 bilhões de toneladas. O Pará detém a terceira concentração mundial de bauxita, com 2,4 milhões de toneladas, ou 80% das reservas existentes no país. É o maior produtor nacional de ouro (30%), com reservas estimadas em 300 toneladas. Possui as maiores reservas nacionais do cobre (77%), gipsita (43%), caulim (43%) e participação expressiva nas de manganês (36%), níquel (16%) e tungstênio (33%). Apresenta, ainda, importantes concentrações de estanho (41,8 milhões de m³) e calcário (1,7 bilhão de toneladas). Seu mapa gemológico identifica 256 ocorrências – diamante, água marinha, ametista, berilo, calcedônia, citrino, cristal de rocha, fluorita, granada, malaquita, opala, quartzo, rutilo, turmalina, topázio, entre outras.
A produção mineral paraense está concentrada em poucas empresas, há intensa atividade garimpeira e minas que operam sobre depósitos superficiais (fase que antecede a lavra de jazidas subterrâneas). As cinco áreas de extração garimpeira de ouro perfazem cerca de 100 mil km². A mais importante é a região do Tapajós, no Oeste do Estado, explorada desde 1958 e é a maior produtora aurífera do país. Entre 1980 e 1997, os garimpos tapajônico responderam por 46,8% das 308,9 toneladas de ouro extraídas do solo paraense. Nesse período, a produção do Pará representou 1/3 da brasileira, que ficou em 927 toneladas. Ou seja: o Tapajós foi responsável por 15,6% da produção aurífera nacional. Hoje, seis empresas estrangeiras, algumas delas com larga tradição em prospecção, lavra e beneficiamento de ouro, efetuam pesquisa geológica no Estado.
Nem só o ouro porém, oferece excelentes oportunidades de investimentos: o Governo do Estado incentiva, também a exploração de fosfato, calcário, gipsita, pedras ornamentais, cobre, zinco níquel e Wolfrâmio. A idéia é verticalizar a produção, através da criação de pólos industriais, para internalizar riqueza, além de articular o setor com o projeto global de desenvolvimento do Estado. O Pará produz 13 substâncias minerais: água, areia, argila, bauxita, calcário, caulim, diamante, ferro, gemas (ametista, opala, topázio, turmalina), manganês, ouro, pedras britadas e ornamentais e quartzo (silício metálico).
A produção é basicamente alicerçada em sete projetos de extração e beneficiamento, capitaneados por pessoas da indústria nacional e internacional como, por exemplo, a Companhia Vale do Rio Doce, Grupo Cadam, Albras/Alunorte e Camargo Corrêa Metais. Juntos, esses projetos correspondem a investimentos em torno de US$ 6 bilhões.

Pólo Joalheiro – Segundo maior produtor nacional de gemas, o Pará prepara-se, agora, para aproveitar esse imenso potencial, através da criação de três pólos joalheiros, em Belém, Itaituba (oeste do Estado) e Marabá (no sudeste). O Plano Diretor para a criação desses pólos é o resultado de uma parceria entre o Governo do Estado – através das Secretarias de Indústria, Comércio e Mineração (Seicom) e do Trabalho e Promoção Social (Seteps) – com o Sebrae, Escola Técnica e Universidade Federal do Pará. Já em implantação, sua primeira fase consistiu no incentivo ao associativismo entre os joalheiros do Estado, visando a formação de cooperativas. O segundo passo será o aperfeiçoamento da tecnologia de produção.
“Estamos melhorando o design e o acabamento das pedras, para atender às exigências do mercado internacional”, informa o diretor de Mineração da Seicom, Alberto Rogério Benedito da Silva. Com a mesma finalidade, Governo e empresariado apostam inclusive, na criação de um “apelo amazônico” para incrementar o comércio da produção local. Esse apelo deverá se traduzir na utilização da pedraria regional para a confecção de jóias temáticas, a partir das lendas, mitos, flora e fauna da Amazônia. “Queremos entrar no mercado”, acentua Rogério, “não para disputar com os indianos e italianos, que dispõem de um know-how de centenas de anos. Mas para correr uma faixa, com um produto novo”.
A excelente qualidade das gemas produzidas no Pará tem impulsionado os preços no mercado internacional – a ametista de Pau D’Arco, por exemplo, é considerada a melhor do mundo. Os empresários que estiverem interessados em participar da criação dos pólos joalheiros, devem, antes de mais nada, ter experiência no ramo e um certo domínio do funcionamento do mercado. A partir daí, é procurar a Seicom, que os encaminhará às associações existentes, para negociações.



Participação dos principais minerais da Amazônia no total
do Brasil, em milhões de toneladas


Mineral
Amazônia
Brasil
%


Alumínio
2.011.501
2.442,839
82


Caulim
   915,433
1.104,234
83


Cobre
1.219,979
1.355,051
90


Estanho
   398,087
   403,567
99


Ferro
4.815,801
19.628,716
25


Fert. Potássicos
   990,418
 1.514,330
65


Níquel
    388,091
    427,111
91


Ouro
    370,700
  1.450,432
26


Prata
    161,355
     178,279
91


Obs: Dados de 1989, referentes à Amazônia Legal, que incluem os estados do Acre, Amazonas, Amapá, Goiás, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Os números exprimem a soma das reservas medidas mais as indicadas (reservas comprovadas). A prata aparece em associação com outros metais. Nas reservas medidas, existem 534.409 quilos de ouro.
Fonte: CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais)

JAZIDAS MAIS SIGNIFICATIVAS DA REGIÃO NORTE (EM MILHÕES DE TONELADAS)
Minerais
Amapá
Amazonas
Pará
Rondônia
Total
Alumínio
  61,775

2.570,092

2.631,867
Calcário

116,694
1.728,381
226,581
2.071,656
Cobre


1.290,033

1.290,033
Caulim
364,800

  669,931

1.034,731
Cromo
    7,065



      7,065
Estanho

123,162
  49,207
212,235
  384,604
Ferro

    5,130
   17.667,860

   17.672,990
Fert. Potássicos

    1.140,638


     1.140,638
Gipsita

570,254


  570,254
Manganês
  55,015

  89,820

  144,835
Níquel


  80,725

    80,725
Ouro
    8,745

  98,147
  38,628
  145,520
Sal-gema

 481,098


  481,098
Tungstênio


   2,062

      2,062
Obs: As reservas medidas de ouro no Amapá são de 11.558 quilos (teor de 3,27 gramas de metal por tonelada de minério); no Pará, de 21.860 quilos (teor de 0,5 grama por tonelada). A quantidade de ouro extraída nos garimpos é de difícil avaliação. Fonte: MDRV/ Anuário Mineral Brasileiro. MDN/M, do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral). Dados relativos a 1989.




A elevada acidez dos solos de cerrado torna indispensável a aplicação de calcário para garantir êxito da atividade agrícola. Na pratica tem sido utilizada a aplicação de 5 a 6 toneladas de calcário por hectare.
O Estado do Pará, possui amplas ocorrências de rochas calcárias em todos os seus quadrantes. Algumas destas, já a nível de depósito, têm características químicas adequadas para a utilização como corretivo de solo, ou seja, apresentam percentagem de Cão + Mg de 38%, conforme padrões estabelecidos pelo Ministério da Agricultura.
Suas principais ocorrências segundo pesquisa do IDESP e CVRD em 1976, estão no município de Monte Alegre, Marabá, Itaituba, Santana do Araguaia e outros.
A existência de jazidas de rochas calcárias adequadas para o uso agrícola, nos municípios de Marabá, Curionópolis e Santanas do Araguaia, ainda sem exploração, e das indústrias do norte de Goiás, a 42 km de Conceição do Araguaia, em funcionamento normal, tranqüiliza a região quanto a abastecimento deste importante insumo, que deverá ser utilizado em larga escala para correção dos solos ácidos do cerrado.


RESERVAS MINERAIS DE CALCÁRIO NO ESTADO DO PARÁ

Município
Localização dos Depósitos
Reserva Medida (t)
Composição
Requerente
% CaO
% MgO
Monte Alegre
Mulata
Serra Itamajuri
  17.639.000
  20.000.000
ND
46,47
ND
1,43
Caima (J. Santos)
CAEMI
Capanema
Pirabas
152.000.000
ND
ND
CIBRASA
Itaituba
Laranjo
Jibóia
Capitoã
Arixi
  55.000.000
600.000.000
360.000.000
360.000.000
45,4
49,4
41,6
40,4
1,0
1,5
5,8
4,6
J. Santos
CICOAL
J. Santos
J. Santos
Marabá
Palestina
    5.000.000
35,4
12,5
SILICAL
Sta.M. Barreira
Campo Alegre
ND
ND
ND
TRETEX
TOTAL
                              1.529.639.000
Fonte: Paraminérios                                                        Obs: Volume correspondente à 49,3% da Reserva Nacional




No Pará, crescimento econômico virou sinônimo de verticalização e de internalização de capital. A passos firmes, empreendimentos privados voltados para a transformação e a diversificação da produção estão chegando ao estado e, com eles, a perspectiva de redesenho, no médio e longo prazos, da balança comercial paraense, historicamente sustentada pela exportação de commodities.
A expansão da verticalização das cadeias mineral, da agroindústria e do ecoturismo faz parte de uma estratégia de crescimento adequada, de um lado, ao comportamento globalizador dos mercados, que valorizam a agregação de valor como diferencial indispensável. De outro, encara dois do maiores desafios do estado: elevar o nível de renda da população e reduzir as profundas desigualdades sociais.
Com uma balança comercial superavitária que só se perde, no País, para Minas Gerais, na classificação por saldo cambial, o Pará é uma terra de contradições. Em 1998, exportou mais de US$ 2,2 bilhões e importou US$ 254,2 milhões – um saldo positivo, portanto, de US$ 1,95  bilhão. Essa riqueza, contudo, é muito pouco distribuída no bolo social.
O estado, com Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 15 milhões e 6 milhões de habitantes, ainda registra baixa renda per capita, de apenas R$ 2,5 mil por ano.  A explicação: a superavitária pauta de exportações restringe-se a pouco mais de 40 itens e as commodities minerais ainda respondem por 72% dos produtos embarcados.
É por isso que o papel de “almoxerifado” de matérias-primas, no qual tudo se extrai e pouco se beneficia, estaria próximo do fim. Uma empresa do estado, por exemplo, já transforma em cabos elétricos parte da produção de alumínio primário da Albrás, quase toda destinada ao mercado externo.



Localização estratégica, moderna infra-estrutura e disponibilidade de áreas para arrendamento têm sido os principais atrativos para a instalação de empresas na região de influência do porto de Vila do Conde, no município de Barcarena. Nessa área, com cerca de 360 hectares, estão instalados grandes empreendimentos da cadeia produtiva de alumínio e, mais recentemente, de caulim.
O complexo Albrás-Alunorte é um dos negócios de maior sucesso no ainda tímido setor industrial paraense, constituído por apenas 15 empresas de grande porte. No ano passado, as duas empresas movimentaram, no estado, R$ 510 milhões só em compras, energia elétrica, salários, despesas portuárias e impostos, sem considerar as exportações.
Perto das fontes – A história do porto de Vila do Conde está diretamente relacionada à instalação da Alumínio Brasileiro S.A. (Albrás), fabricante de alumínio primário que é transformado em produtos finais por outras empresas. Na escolha da localização da fábrica, no distrito de Vila do Conde, pesou, especialmente, a relativa proximidade das fontes dos principais insumos – bauxita do rio Trombetas e a energia elétrica de Tucuruí. A bauxita, minério rico em hidróxido de alumínio, é a matéria-prima usada para extração do alumínio e ficou conhecida popularmente pela referência na música Bye, Bye Brasil, de Roberto Menescal e Chico Buarque de Holanda, composta em 1979 para o filme homônimo de Cacá Diegues: “Em março vou para o Ceará/Com a benção do meu orixá/Eu acho bauxita por lá/Meu amor”.
Outro fator importante para a instalação da indústria foi a possibilidade de construção de um porto que permitisse a atracação de navios de até 40 mil toneladas. Ainda hoje, a principal atividade do porto é o embarque do alumínio produzido pela Albrás, o recebimento de insumos e o embarque da produção excedente da refinadora Alumina do Norte do Brasil S.A. (Alunorte), coligada da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). O porto atende, além do complexo de produção de alumínio, a outras necessidades de transporte de cargas da região.
  

ECONOMIA – Carajás

Siderurgia está de volta
Vale vai garantir matéria-prima e facilitar o escoamento

Quase duas décadas depois de ter deixado de lado o Programa Grande Carajás (PGC), que previa, até o ano 2000, produção anual de 3,5 milhões de toneladas de ferro-gusa e 10 milhões de toneladas de aço em siderúrgicas instaladas ao longo da Estrada de Ferro de Carajás (EFC), a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) voltou a apostar na expansão do pólo siderúrgico. A exemplo do PGC, a empresa não deve participar de nenhum empreendimento como sócia, mas com oferta de logística de transportes – ferrovia e porto – às usinas interessadas em instalar-se no Distrito Industrial de Marabá.
Em pelo menos um episódio, o da Siderúrgica Carajás, a Vale deixou claro que, pelo menos na Amazônia Ocidental, não deseja ter participação acionária em usinas siderúrgicas.
Mas, além de garantir o abastecimento de minério de ferro e facilidades e o escoamento pela EFC e pelo porto de Ponta da Madeira, em São Luís (MA), a Vale lançou edital para contratação de serviços de consultoria nas áreas do meio ambiente, tecnologia e aproveitamento econômico de carvão vegetal. E vai usar, junto ao Banco Mundial, um dos seus maiores capitais – a credibilidade – para trazer recursos para a área de produção de carvão.
A expansão do pólo de ferrogusa marabaense é um dos compromissos assumidos durante o fórum de alternativas econômicas para o município, organizado recentemente pela Prefeitura local e a Vale. É também uma forma de compensação à não-definição do local onde será instalada a metalúrgica que vai ser abastecida com o cobre da jazida do Salobo, localizada em Carajás, em subsolo marabaense.
Os diretores da Vale na região temem que a compensação seja interpretada como um presente de grego. A indústria de ferro-gusa, considerada de baixo valor agregado, é malvista pelos ambientalistas e entidades de defesa dos direitos da criança. Ciente disso, a Vale vai ajuda-las a encontrar soluções ao carvoejamento tradicional, feito a partir do uso de mata nativa e resíduos de serrarias.
A Carajás Metais é a primeira empresa do setor a atender ao chamamento da Vale, que deseja elevar a produção anual de gusa de Marabá de 250 mil para 1 milhão de toneladas. Atualmente, as duas siderúrgicas do município, a Simara e a Cosipar, tem capacidade instalada, respectivamente, de 80 mil e de 170 mil toneladas. O terceiro alto-forno da Cosipar entrará em operação no segundo semestre, aumentando para 280 mil toneladas sua capacidade.
Ex-funcionário da Vale, o engenheiro metalúrgico Raul Rolim é um dos sócios da Carajás Metais. É também o consultor contratado pela Vale para atrair empresas de gusa ao Pará. Até agora, segundo informa, sete empresas o procuraram. Entre elas, a Metalúrgica Marabá (Abaram), a Ferro Gusa do Maranhão (Fergumar) e a Siderúrgica Pará. “Outras quatro empresas estão interessadas em vir, mas ainda não posso divulgar os nomes”.
A se confirmar o projeto delineado pela CVRD para a expansão do pólo de gusa da cidade que já é o principal pólo econômico do sul do Pará, Rolim acredita que os empreendimentos independentes do sistema Norte – siderúrgicos do Pará e do Maranhão localizadas ao longo da EFC – vão chegar ao ano 2000 exportando mais gusa do que as independentes do sistema Sul, formado por Minas Gerais e Espírito Santo.
Em 1997, a produção brasileira de gusa foi de 23,7 milhões de toneladas. As usinas integradas, que também produzem aço, responderam por cerca de 19 milhões de toneladas. As independentes, não têm aciarias, produziram 4,7 milhões de toneladas, de acordo com dados do Sindicato da Industria de Ferro de Minas Gerais (Sindiferro).
Desse total das independentes, 2,6 milhões de toneladas foram exportados, participando o sistema Sul com 1,7 milhão de toneladas. De acordo com o consultor da Vale, a tendência é de que o sistema Norte mantenha ou aumente a sua participação como exportação de ferro-gusa, uma vez que não há nenhuma aciaria na Amazônia.
Já as usinas do sistema Sul devem voltar-se mais para o abastecimento de aciarias e fundições de empresas do Centro-Sul que não produzem todo o gusa de que necessitam. Isso fica mais visível no caso de Minas Gerais: dos 3,4 milhões de toneladas de gusa produzidas pelas usinas independentes minerais, quase 60% destinaram-se a aciarias nacionais. No caso do Pará e Maranhão, nada menos do que 99% da produção foram para o mercado norte americano.

50 anos de garimpagem de ouro no Tapajós

50 anos de garimpagem de ouro no Tapajós


Cinqüenta anos de garimpagem de ouro no Tapajós
Dono de uma memória privilegiada, José Carneiro da Silva, conhecido como José Come Vivo abre a serie especial que o Jornal do Comércio publica a partir desta edição, a qual se estenderá até a última edição deste ano do cinqüentenário da garimpagem de ouro no Tapajós. Encerrando a série, na última edição de 2008, será publicada uma edição especial do JC, com a compilação das matérias publicadas ao longo dos próximos meses. Através deste projeto, resgata-se e preserva-se um importante pedaço da história de Itaituba e de toda esta região do Tapajós, da qual muita coisa já se perdeu.
José Carneiro da Silva é um dos principais personagens do início da garimpagem de ouro na região do vale do Tapajós. Ele chegou a esta região em novembro de 1958, quando Nilçon Pinheiro já se encontrava explorando alguns grotões e produzindo muito, mas muito ouro.
Nascido no interior do município de Breves, José Come Vivo cresceu trabalhando em seringais, seguindo os passos do pai. Mas, desde cedo ficou fascinado com as notícias do dinheiro fácil que podia ser ganho em garimpos. Seu primeiro contato com a garimpagem aconteceu quando ele foi para Macapá para trabalhar na Icomi, conhecida mineradora americana que explorava uma mina de manganês no Amapá.
Na referida empresa ficou apenas alguns dias, pois muitos trabalhadores foram demitidos, dentre os quais ele. Estabeleceu contato com alguns homens que estavam indo para um garimpo na região do Rio Araguari, sendo esse o começo de sua longa história de ligação com a exploração mineral. Ficou empolgado quando os ouviu dizer que, no garimpo, quem não faturasse 500 cruzeiros por dia não estava fazendo nada. Nessa época um trabalhador recebia dezessete cruzeiros por uma diária na cidade. Essa tentativa deu um resultado razoável; ele ganhou um bom dinheiro, tendo decidido voltar para Belém. É partir daí que José Carneiro começa seu relato, no qual conta toda sua trajetória pelo vale do Tapajós.
“Ao voltar para Belém ouvi notícias sobre a descoberta de garimpos de ouro no Tapajós. Só se falava em Jacareacanga naquela época. No mês de novembro de 1958 eu embarquei no navio Tavares Bastos, determinado a chegar ao garimpo e a encontrar ouro. Fiquei alguns dias em Santarém, de onde segui no mesmo navio para Itaituba, pois como era período de verão ele não chegava a São Luiz do Tapajós, o que só acontecia quando o rio estava cheio. Cheguei por volta do dia 20 de novembro, tendo permanecido aqui por vinte dias.
Os padres tinham um barco de nome “Cor Jesu”, no qual fomos para São Luiz do Tapajós, onde ficamos mais uma temporada, tendo passado Natal e Ano Novo lá. Nessa época o Nilçon Pinheiro, que foi o desbravador dessa região de garimpo, já estava tirando ouro. Ficamos parados em São Luiz por um bom tempo porque não havia transporte para a gente subir. Chegamos dia 5 de dezembro, permanecendo lá até o dia 2 de janeiro de 1959, quando finalmente subimos. Mais de cem homens querendo ir, mas só existiam duas lanchas pequenas que subiam o Tapajós. Uma era a Ida e a outra eu não lembro o nome. Quem ajudou a gente a conseguir embarcar foi o seu Vivaldo Gaspar, com o qual fizemos amizade. Era difícil falar com o velho Roque Pinto e o Zé Bonitinho, que comandavam o movimento comercial na época, os quais poderiam resolver logo o nosso problema.
Eu e mais três companheiros formávamos uma equipe. Pedro Paraíba, Pacheco e seu Manuel eram os outros três. Subimos com destino a São Martins, na Boca das Tropas. Nisso soubemos do início da fofoca no Cuiu-Cuiu e nós resolvemos ficar num lugar chamado Marrafo, em frente à boca do Crepuri. O Nilçon estava começando o trabalho no Cuiu-Cuiu e nós decidimos ir até lá; ele tinha encontrado as primeiras grotas. A gente quis ficar trabalhando com o Nilçon, mas ele disse que não nos queria por lá porque éramos garimpeiros mansos e todo garimpeiro manso era ladrão.
Pegamos um barco de nome Arruda Pinto e fomos para o lugar chamado São Martins, primeiro destino de nossa viagem. Lá encontramos um velho, conhecido por Portuguesinho, que era muito prestativo. Fomos sondar uma grota que havia lá, mas, que já tinha sido explorada pelo Nilçon Pinheiro. Essa foi a primeira exploração na qual ele acertou em cheio; foi onde tudo começou de fato a tirar ouro. Naquele lugar ele tirou ouro, muito ouro, ainda em 1958. De lá, em 1959 ele foi para o Cuiu.
No São Martins eu conversei com um seringueiro, que foi quem encontrou a primeira mina de ouro no Tapajós, o qual me contou como tudo tinha começado e quem começou a exploração do ouro. Segundo ele me contou, o Nilçon começou explorando na cabeceira do Rio Muiuçu, na região do Abacaxi, perto da fronteira do Pará com o Amazonas, conseguindo tirar um pouco de ouro. Mas, era um ourinho pouco, vinte gramas, trinta gramas. Nessa região havia muitos seringueiros, que eram pessoas que andavam muito. Foi através desses seringueiros que o Nilçon fez contato com Jacareacanga, onde passou a buscar seu rancho. A distância para a cidade era de mais ou menos um dia de viagem, de canoa.
Na primeira viagem que fez a Jacareacanga Nilçon conheceu Raimundo Ferreira um seringueiro que trabalhava num seringal, na Boca do Rio das Tropas. Esse seringueiro resolveu acompanha-lo até o garimpo, onde permaneceu por dez dias, observando como tudo acontecia. Ele conseguiu uma cuia e uma bateia e se mandou de volta para o seringal. No caminho ele passava, todos os dias, por dentro de uma grota, que ele cavou, botou a terra dentro da bateia, tendo encontrado pedaços de ouro de vários tamanhos. Aí, ele fez uma caixinha igual a que o Nilçon usava, chamada de lontona e começou a puxar terra e lavar, encontrando ouro com facilidade, que ele colocou dentro de latas de leite ninho. Encheu três latas e meia, somente de pedaços de ouro. Mas, ele não sabia como descarregar a lontona. Então ele foi lá com o Nilçon para que ele o ajudasse.
Quando o Nilçon viu o que o Raimundo Ferreira tinha conseguido, botou para comprar o garimpo. Na ocasião ele deu cem mil cruzeiros, que eu não faço a menor idéia de quanto seria hoje em dia, um motor penta 4,5 e um rádio Philco Transglobe. No Negócio, o Nilçon ficou com todo o ouro que o Raimundo Ferreira tinha conseguido. O Raimundo não fazia a menor idéia do valor do ouro. Achou que tinha feito um bom negócio.
Depois de comprar o garimpo Nilçon foi para Manaus para fazer compras, tendo voltado da capital do Amazonas num barco grande, comprado com o dinheiro apurado com a venda do ouro que tinha entrado no negócio com o Raimundo Ferreira. Como onde estava o ouro nesse garimpo que ele havia terminado de comprar não havia água para lavar a terra, Nilçon colocou mais de cem homens para carregar o material para a beira do Rio das Tropas em latas de querosene, de vinte litros. O ouro começou a aparecer em grandes quantidades. Eu mesmo não cheguei a ver, mas, ouvi muitos garimpeiros dizerem que nesse tempo o Nilçon conseguiu encher de ouro latas e latas de vinte litros.
A partir do momento em que começou a escassear o ouro das Tropas, o Nilçon mandou pesquisar a região do Cuiu-Cuiu. Não demorou para que fosse encontrado o minério no local. Pouco tempo depois que o Nilçon começou a trabalhar lá, eu cheguei, mas não fiquei, como já disse.
Por ocasião de nossa estada na Boca das Tropas eu conheci um seringueiro que trabalhava na região do Pacu. Por meio das informações desse seringueiro a gente seguiu com ele para o são José. Nossa equipe tinha cinco pessoas, à qual se juntaram mais um genro e um filho dele. Começamos a trabalhar e com oito dias já tínhamos mais de 800 gramas de ouro.
Havia muito ouro. A dificuldade era encontrar mercadoria para comprar. Por isso, poucos meses depois que começamos a trabalho pedimos para um dos companheiros, o Araújo, ir a Santarém para fazer uma grande compra, que permitiria que a gente pudesse trabalhar por um bom tempo. Escolhemos o Araújo por ter maior conhecimento de Santarém. Ele levou oito quilos de ouro.
Ao chegar Santarém ele se empolgou. Depois de beber algumas pingas, terminou se envolvendo numa briga, na qual ele atirou na perna de um cara. O Araújo foi preso e para sair gastou quase todo o ouro que tinha levado. Voltou sem quase nada. Isso gerou um atrito muito forte com outro companheiro de trabalho, o Pedro Paraíba. Os dois estiveram perto de se matar. A gente conversou e concordou que a melhor coisa a fazer era dividir a equipe. Assim foi feito. Dividimos a terra, que dava para todos trabalharem.
Depois da divisão, não demorou muito tempo para a gente fazer um bom ouro. Minha turma conseguiu uns dez quilos de ouro em nossa área. A essa altura eu resolvi que era hora de dar um pulo em Belém para visitar a família, que eu não via há mais de um ano. A minha parte nos dez quilos foi de um pouco mais de três quilos de ouro. Deixei um quilo de ouro guardado com o velho Roque, em São Luiz do Tapajós, deixei um quilo com a Dona Ditosa, esposa do seu Duarte, em Santarém e levei um quilo e 50 gramas para Belém, onde vendi o grama por 92 cruzeiros. Era o segundo semestre de 1960”.
Na próxima edição o leitor saberá o que se podia comprar com um grama de ouro nessa época da qual discorre José Carneiro, saberá da expansão das suas frentes de trabalho, de como começou o garimpo do Marupá, começo do trabalho com maquinário etc.

Seu Mané, o Paxá de Itaituba. No velho tempo dos descaminhos do ouro

Seu Mané, o Paxá de Itaituba. No velho tempo dos descaminhos do ouro


“Na segunda, na quarta e na sexta-feira sou de uma. Na terça, na quinta e no sábado sou de outra. No domingo é minha folga, fico solteiro”.
Charge J. Bosco, especial para o livro Ramal dos Doidos, 1998

Quase ninguém na cidade e em toda a região garimpeira de Itaituba sabe quem é Aldo Inácio, um paulista de 38 anos que aqui chegou em 1980, vindo de Porto Velho numa Kombi. Mas ninguém desconhece o Seu Mané. E por duas razões - ele é hoje um dos homens mais ricos da região e que não faz segredo sobre sua vida familiar. Casado com duas mulheres com as quais tem oito filhos, cria um outro cuja mãe é gerente de uma de suas firmas e, para quem quiser surpreender-se, todos - só não a gerente - vivem sob o mesmo teto, aliás dentro do palacete cujas suítes têm a visão do Tapajós. 

Sadako Sudo Inácio, 36 anos, uma nissei paulista, foi a primeira mulher com quem Seu Mané casou-se no civil. Ela deu-lhe seis filhos - três homens e três mulheres. 

Mais tarde, começou a gostar, ‘por fora’, de Francinete Demétrio, 37 anos, natural de Rondônia. “Eu mesmo comecei a fazer com que as duas se aceitassem, eu levava presentes para uma e dizia que era a outra que mandava”, conta ele. Depois, “nós três achamos que era melhor dividir o mesmo fogão e resolvemos morar juntos”, ainda em Porto Velho. 

Para proporcionar status social à segunda mulher, Seu Mané casou-se no católico com Francinete, transformando-a ainda em sua sócia nas empresas que possui “para dar a ela também os direitos sobre os meus bens e assim minhas duas esposas ficaram em pé de igualdade”. E o relacionamento amoroso? Ele responde: “Na segunda, na quarta e na sexta-feira sou de uma. Na terça, na quinta e no sábado sou de outra. No domingo é minha folga, fico solteiro”. Sadako e Francinete são senhoras de duas suítes espaçosas de frente para o rio Tapajós, uma bem ao lado da outra e nas quais não faltam conforto e luxo. 

Totalmente submissas ao marido comum, “elas são tão unidas como se fossem duas irmãs”, vangloria-se Seu Mané. Segundo ele, e conforme foi possível observar, uma cuida dos filhos da outra, aparentemente sem distinção. As tarefas da casa são repartidas e é possível deparar-se com ambas conversando perto do fogão ou lavando os pratos junto com as empregadas. “Vivo feliz e começaria tudo de novo; não me vejo diferente das outras mulheres”, é o que afirma Sadako, praticamente a mesma opinião de Francinete, para quem “não é o dinheiro dele que faz isso”, frisando que a convivência triangular começou há 15 anos, quando a situação era outra. 

“Dinheiro abafa” 
Hoje as duas esposas de Seu Mané podem ser vistas, juntas, indo às compras, ao cabeleireiro, ou os três, presentes a um acontecimento social como foi no sábado passado, por ocasião do casamento de Elgislane, filha de Francinete. No convite para a festa constava o nome do pai da noiva e de suas duas esposas. Silfarney, um rapaz de 18 anos, filho também de Francinete, mostra-se tranquilo com a situação de sua família e não esconde que o “dinheiro abafa a discriminação”. Ele conta que, por vezes, há algumas gozações na escola e que, em casa, as brigas entre os irmãos nunca são causadas pelo fato de terem pai comum e mães distintas. 

Aldo Makuto Inácio é filho de Sadako e tem 14 anos. Ele assegura que “não há diferença entre nós e nós olhamos uma e outra como nossa mãe”. E arremata: “Imagino fazer como o meu pai, pode ser até mais de duas”. Para Seu Mané, “é difícil um lar funcionar tão bem como o meu”, recordando que, quando chegou a Itaituba, há sete anos, pobre e numa Kombi velha, havia discriminação, “além da perseguição que sofri por ser pobre e porque tinha um bar”, logo depois de deixar a condição de camelô, “gritando aí nas portas das lojas”. 

O nome Seu Mané surgiu da denominação de seu bar, em homenagem a Garrincha. Preso várias vezes “porque era pobre”, conta ele, acrescentando que “hoje consegui ser respeitado pela máfia que domina Itaituba”. E o patrimônio amealhado nesses sete anos? Aldo Inácio dá um sorriso maroto, como quem não quer ouvir a pergunta. Mas não se furta à resposta: Recentemente vendeu seus cinco supermercados por 86 milhões de cruzados “que ainda não pude receber”, tem uma papelaria, um laboratório de revelação em cores, três aviões de aluguel, 800 mesas de bilharito espalhadas pelos garimpos, três mil hectares de terra no quilômetro 180 da Transamazônica, nove casas e 22 terrenos em Itaituba, mais de mil hectares no Cento e Quarenta, propriedades na Transgarimpeira e 12 casas em Moraes Almeida. 

Ele diz que está parado, presentemente, com os negócios com ouro, por causa do preço baixo. Mas afiança que em 1983 e 1984 chegou a comprar 70% do ouro produzido em Itaituba. Talvez por ter diversificado suas atividades, não se concentrando somente nos negócios com ouro, Seu Mané é um dos raros empresários considerados grandes, que apresenta relativa liquidez neste momento, quando alguns dos conhecidos barões da região enfrentam dificuldades. 

Muitos Manés
“Se o ouro passasse dos atuais 1.100 para 2 mil cruzados o grama, em três meses todo mundo pagava todo mundo e a crise passava”. Seu Mané garante que na presente temporada “só uns dois” estão bamburrando nos garimpos, extraindo cerca de 100 quilos por semana. A dificuldade, diz ele, é a falta de capital de giro que afasta os investimentos. A situação dele é menos desastrosa, “porque eu sempre trabalhei em cima de marketing”. Homem de pouco estudo, Seu Mané mostra-se uma pessoa bem educada e relativamente bem informado, desde a bolsa de Londres às oscilações do mercado de capitais. 

Na semana passada, enquanto dava andamento aos preparativos do casamento da filha (cerca de 5 milhões de cruzados com a festa que incluiu aviões para transportar convidados), ele se reportava à poluição do Tapajós que, na frente de sua casa, está com a cor amarelada pelos despejos dos garimpos: “A chamada civilização é assim mesmo”. A despeito de todos os problemas hoje vividos na região do ouro, Aldo Inácio está convencido de que tudo pode mudar para melhor “e ainda podem surgir centenas de Seus Manés por aqui”. 

1700 – A Lenda do Tesouro Enterrado no Rio Assungui

1700 – A Lenda do Tesouro Enterrado no Rio Assungui
Uma lenda criada nos sertões do Vale do Ribeira e Juquiá se refere ao tesouro de um padre da Companhia de Jesus chamado Maurício, que no final século XVII e início do século XVIII andava pelas trilhas do Ribeira e Juquiá catequizando índios e, com a ajuda destes, explorando ouro, como o faziam quase todos os padres desta Companhia.
No desenrolar desta história aconteceram fatos que levaram ao entendimento de um fabuloso tesouro em barras de ouro enterrado em um antigo sitio nas proximidades do atual Município de Sete Barras, que teve seu nome inspirado nessa lenda.
Conforme registro de um seu ancestral, Paulo de Castro Laragnoit escreveu em sua obra “Riquezas do Vale da Esperança” que a riqueza amealhada pelo jesuíta Mauricio foi muito bem enterrada na margem de um rio do Vale do Ribeira, chamado de Assungui, no caminho que vai para o Pilar (?), e, sua lenda mistura-se ao ouro enterrado e perdido nas proximidades de Sete Barras. Entretanto, no decorrer dos anos e séculos, varias expedições foram feitas, na tentativa de se descobrir a enorme riqueza. Todas elas foram fadadas ao fracasso.
Tudo se iniciou no Arraial (Iporanga), quando um espanhol que lá esteve bateando nas guapiaras, obteve sucesso em suas explorações. Este estrangeiro conseguiu, após árduo trabalho, juntar muitas pepitas de ouro, perfazendo o total de vários quilos do cobiçado metal. Fundiu-os, então, em sete barras de ouro de grande peso cada uma. Resolvendo voltar à sua pátria, levando a preciosa carga, ele descia o Ribeira, em canoa, quando no pouso que fez, no Sitio Goyantãhogoa, soube que havia se instalado um Registro, com um posto para pesagem do ouro, para o pagamento do quinto à Coroa de Portugal.
Resolvido a burlar a Coroa Portuguesa, o espanhol tratou de indagar se poderia chegar a Santos, sem passar pelo Registro. Para obter esta informação, desceu até a Barra do Rio Juquiá, tendo, antes disso, enterrado neste Sitio de Goyantãhogoa, todo o ouro da minas do Arraial, inclusive as sete barras do precioso metal.
Quando o espanhol chegou à Barra do Rio Juquiá, encontrou vários índios apaziguados que, interrogados, lhe disseram que saindo pelo Y-iquiá (Rio Juquiá) e pelo Caynhoiré (Rio São Lourenço) e Itariry, pelas cabeceiras deste último, era muito fácil atingir as praias do mar. Estava o espanhol resolvido a fazer a viagem por aquele itinerário e já pensava em voltar ao Sitio Goyantãhogoa, quando um dos índios lhe falou da quantidade de ouro existente no Rio Guyromby (Quilombo), no lugar denominado Rio Tarenconé (Travessão). Esta notícia tentou o espanhol para uma nova expedição. Sem voltar ao lugar onde enterrara o seu ouro, subiu o espanhol o Rio Quilombo e chegou ao Travessão, onde, sem muito trabalho, tirou grande quantidade de ouro.
Mas, era o espanhol metido a furar sertões, e tendo a notícia das minas ricas de um tal de Pero Vaz, resolveu voltar até as cabeceiras do Rio Assungui e ali entrar de parceria com o dito Pero Vaz. Entretanto, este não consentiu que o espanhol fosse seu sócio naquelas explorações. O estrangeiro deixou então o Assungui e voltou ao Sitio Goyantãhogoa para desenterrar o seu ouro. Baldados foram os seus esforços; nunca mais conseguiu encontrar o seu precioso enterro.
Depois de muitos dias de procura, sem nada encontrar, desanimado, o espanhol resolveu voltar à pátria, levando consigo o ouro que havia tirado do Travessão, que não era inferior em qualidade e quantidade àquele extraído do Arraial e agora completamente perdido, até alguém, de muita sorte, o encontrasse. Com muito pesar, o explorador resolveu abandonar Goyantãhogoa, com a intenção de não pagar o quinto da coroa portuguesa, no Registro. Seguindo pelos Rios Juquiá, São Lourenço e Itariri, chegou ele à Barra do Rio Piguary (Tigre), afluente pela esquerda do Rio Itariri.
Na Barra do Rio Piguary (no local onde hoje de encontra a estação de Pedro de Toledo), encontrou-se o espanhol com um frade conhecido por Frei Maurício, que se fazia acompanhar de muitos índios Cayuás, em viagem de volta para M’Boy, nos arredores de São Paulo. Este frade levava para o Convento de M`Boy dez surrões de ouro que extraíra das proximidades da Serra do Itatins. O espanhol, sempre tocado pela ambição, sufocou em seu peito a saudade da pátria distante, e, resolvido, foi novamente batear ouro, agora nas Minas de Aranzel. Aranzel havia sido um criminoso que se escondera na serra do Itatins e lá descobrira uma fabulosa lagoa, cujas areias continham grande proporção de ouro.
O espanhol seguiu para o Itatins e, como desconhecia aquela região, Frei Maurício destacou um índio para servir-lhe de guia até as cabeceiras do Rio Itaçaenduva, que é atualmente denominado Rio Bananal, com sua barra próxima ao atual Bairro Biguá. Para chegarem a esse rio, subiram pelo Rio Piguary (Tigre), galgaram a serra toda e, por um espigão do Itatins, entraram nas águas do Itaçaenduva. Percorrendo as margens de um pequeno córrego, chamado de Itajubá, que quer dizer rio de pedra amarela, eles foram ter a uma lagoa, de bonitas praias. As margens dessa lagoa, de difícil acesso, no meio da serra abrupta, estavam cheias de ouro, bastando, para extraí-lo, juntá-los com as mãos, sem auxílio de ferramenta nenhuma.
Desta maneira, foi fácil para o afortunado espanhol extrair ali muito ouro, que guardou em surrões de couro de anta e em canudos de taquarussú. Resolveu, então, seguir dali para Santos, a fim de tomar uma embarcação que o levasse de volta à Espanha, sua terra natal. Deixando as vertentes do Rio Itaçaenduva, procurou as vertentes do Rio N’daipiahy (Despraiado), para, descendo por este e passando pelo Igarapé Quarahú (Canal do Carvalho), ir pelo Rio Una do Prelado até a praia de Una e dali, passando o Rio Guarahú e outros, atingir Santos.
No Rio Itingussú construiu uma canoa e com ela começou a viagem para regressar à pátria. Na segunda noite, pernoitou no Porto de Una e, já de madrugada, sobreveio um grande temporal, com tal violência que a canoa se desgarrou do amarro e, ao largo do rio, afundou, levando consigo todo o ouro do aventureiro espanhol. No dia seguinte a canoa foi encontrada de fundo para o céu, mas do precioso carregamento nem sequer encontraram qualquer indício de pó. O fundo lodoso do Rio Una do Prelado guardou para sempre o cobiçado tesouro do mal-aventurado espanhol.
O estrangeiro, sabendo que havia perdido tudo que amealhara com o seu árduo trabalho, enlouqueceu e desapareceu em direção às cabeceiras do Rio Itaçaenduva, novamente em busca das Minas de Aranzel. Tempos depois, foi encontrado pelo Padre Maurício, à margem daquela “Lagoa Dourada”, um esqueleto encostado em uma grande pedra, tendo, nas mãos descarnadas, grandes pepitas de ouro. Era o esqueleto do espanhol! E, desde então, estranhos rumores, formas esquisitas, vozes, lamentações e gemidos são ouvidos por todo aquele que se atreve a demandar a cabeceira do Rio Itaçaenduva. Diz a lenda, que o espanhol continua a procurar ouro em todos aqueles rios!
Nessa lenda podemos também observar que um velho índio do Rio Piguary, que é afluente do Itariri, informa que o padre Mauricio estava sempre em contato com o espanhol avarento: na Barra do Rio Piguary (Tigre); cedendo um guia índio para que subissem o Rio Itaçaenduva (Bananal) e, finalmente, quando encontrou o esqueleto do espanhol no Itatins.
Toda a lenda se desenrola com os dois personagens sempre às voltas com o Vale do Juquiá. Além disso, já que nos referimos a um caso com fortes tendências lendárias vamos dar asas para a imaginação, pois esta lenda não foi acompanhada por versões sobre a idoneidade do Padre Maurício, da Companhia de Jesus. Esta Companhia era formada por jovens, em sua maioria, mas existiam entre eles alguns homens, já de certa idade, que orientavam os mais novos e que traziam uma vontade imensa e inquebrantável de catequizar os indígenas dos sertões por onde andavam. O gentio era considerado pagão e sem alma, e que deviam ser evangelizados.
Exemplo maior foi o Padre José de Anchieta; conhecido pelo “Poema à Virgem”, rabiscado por ele, com um pedaço de galho, nas areias de uma praia paulista, e que, há muitos e muitos anos, andara pela região, com a louvável missão de levar ao gentio as palavras de Deus, ao mesmo tempo em que ministrava ensinamentos medicinais e iniciava a indiarada, ainda pequena, nas primeiras letras, para que pudessem ler as Sagradas Escrituras e, assim, futuramente, espalhar entre os seus a Palavras do Senhor. Alguns destes padres pagaram com a própria vida o preço de sua extrema solidariedade.
Houve até um padre, de nome Sardinha, que havia sido devorado pelos índios antropófagos do litoral norte paulista. Existira um outro padre, de nome Leonardo, que acabou fundando um convento em Peruíbe, que por ora se encontra em ruínas, e era chamado pelos indígenas de “Abarebebê”, que significa padre voador, pois tamanha era a sua rapidez e facilidade de locomoção pelo meio dos sertões em visita a povoados e aldeias. Mas, entre esses mártires que vestiam surradas batinas, e que serviam à Companhia de Jesus, também existia, como em todas as instituições religiosas, gente esperta, sem escrúpulo e cheia de cobiça, que utilizava a poderosa força da Igreja para enriquecer de forma desonesta, servindo-se da obediência popular ou da lealdade dos índios catequizados, que neles encontravam proteção contra os europeus.
No centro oeste do Brasil, nas Minas Gerais, era costume dos moradores se dar a alguns tipos de jogos de lazer. Em alguns destes jogos, eram utilizadas pequenas pedras para se medir o saldo do ganhador no decorrer das partidas. Estes jogos, na maioria das vezes, ocorriam à noite e sob a luz tênue dos archotes ou candeeiros. Um dos jogadores, a cada vez que vencia a demanda puxava do interior de sua aljava uma pequena pedra esbranquiçada para medir cumulativamente o seu saldo, colocando-as sobre a mesa. Estas pedras, de valor ignorado, passavam a despercebido por todos os integrantes do jogo.
Mas um padre, ao assistir às pelejas, desconfiou das pequenas pedras e sorrateiramente apossou-se de uma delas, descobrindo-lhe o evidente valor. Indagando ao minerador onde as havia encontrado foi por este inocentemente informado que a beira de tal rio, nos sertões daquele serrado, há muitas léguas dali, elas existiam em profusão. Na manhã seguinte, o padre desapareceu misteriosamente do povoado e muito tempo depois se soube que ele descobrira nos sertões das Minas Gerais a maior quantidade de diamantes, jamais vista na colônia brasileira.
           
Foram os padres da Companhia de Jesus os maiores garimpeiros de ouro ou pedras preciosas da colônia. Quando viajavam acompanhados pelos índios catequizados e à sua disposição, que dirigiam os muares carregados de bugigangas, eram parados pela fiscalização da coroa portuguesa, que procurava ouro e pedras preciosas, de onde cobravam o devido quinto. Entretanto, tudo o que os almotacés encontravam com os padres eram figuras de grandes e pequenos santos, esculpidos em madeira que, segundo justificavam, eram presentes para esta ou aquela capela da região. Muitos anos se passaram, até que o golpe dos padres fosse descoberto.
           
Certa vez, numa dessas passagens, já liberada a carga pelos fiscais, a junta de asnos foi puxada rispidamente pelo índio que a conduzia. Os quadrúpedes, assustados, se alvoroçaram na manada, sacolejando a “inocente” carga, que foi chão, espatifando-se entre as pedras da estrada todo o carregamento de “santos”. O almotacé, diante da trágica cena, deu voz de prisão a todo o grupo, inclusive aos padres, exclamando estupefato: Santo do pau-ôco!
Vindo a carga ao chão, chocaram-se os madeiros esculpidos contra as pedras do calçamento. Ao romperem-se, deixaram às vistas de todos os que assistiam ao impasse diversas pedras de diamantes, com vários tamanhos, brotando em cascata do interior das estatuetas, que de santas não tinham nada. Diante destes prós e contras das virtudes sacerdotais é que existem versões sobre a possível inidoneidade de Padre Maurício, que poderia ser um religioso sem princípios e cheio de cobiças. Enfim, um verdadeiro “Santo-do-pau-ôco”. Dizem estas versões que o jesuíta do Juquiá enganava a todos os que acreditavam em sua posição sacerdotal e evangélica. A sua conduta perante o pobre garimpeiro espanhol, que morrera no Itatins, era assim explicada, da forma mais coerente possível.
Pois bem. Fazendo uma sintetize da formação moral e histórica da minoria dos jesuítas do Brasil daquela época, vamos aos devaneios curiosos. Padre Maurício não era um homem de ficar garimpando pelos rios de sua vida, acompanhado de um bando de índios cayuás.
O mais certo é que ele realmente havia catequizado alguns indígenas e, em companhia destes, perambulava pelos sertões em busca de alguma coisa de valor que lhe tirasse daquela vida de sertanejo sofredor. Conhecedor de todos os recantos da região do Juquiá, ele deveria saber quem e onde minerava fulano ou cicrano, e quando ou onde aconteciam as descobertas de alguma coisa de muito valor. Pois era padre! Pois participava de todos os anseios dos tementes a Deus. Ouvia todo tipo de confissões, e lhe eram confiados dos mais escabrosos casos até as grandes descobertas. Comia e bebia gratuitamente em qualquer lugar, tendo pernoite certo em qualquer morada e podendo, para isso, escolher as mais abastadas e confortáveis residências. Bastava, portanto, espalhar as suas bênçãos entre as obedientes ovelhas.
Mas tudo isso não evitaria o afastamento daqueles rincões desabitados e sem conforto nenhum, pois o dízimo para a Igreja era muito pouco, ou quase nada. O máximo que se conseguia era a doação de terrenos onde se construíam capelas, ou heranças de grandes áreas de terras, sem herdeiros, e que nada valiam. Entretanto, eis que nesta vida digna de lástima e compaixão, surge aos olhos do Padre Maurício um esbaforido estrangeiro que, vindo da Espanha, consegue para si grande quantidade de ouro, garimpando no Arraial.
O espanhol caíra dos céus, diretamente nas mãos do jesuíta. Querendo voltar à pátria, pernoitou em Goyantãhogoa e ali soube do registro de ouro e do “quinto”, da coroa portuguesa. O padre deve ter pensado quão mesquinho era o estrangeiro, pois, para não pagar o imposto, enterrou todo o seu ouro por ali mesmo. De posse destas informações, ditas por alguém em confissão, mandou ao encontro do garimpeiro um grupo de índios de sua confiança para convencê-lo a seguir ao Itariri e, de lá, escapar pela Serra do Itatins, até o mar. Precisava ganhar a confiança do espanhol, por isso mandou seus índios informá-lo que no Rio Travessão descobriria grande quantidade de ouro. O que realmente aconteceu.
Confiante, o espanhol abriu seu coração e seus segredos ao padre ambicioso, contando-lhe da riqueza enterrada e pensando que um religioso jamais daria importância ao seu ouro. Mas quando o estrangeiro voltou a Goyantãhogoa, com o ouro do Travessão, o padre, para se ver livre do espanhol e tranqüilamente desenterrar o ouro, convenceu-o das ricas minas de Pero Vaz. Enquanto o estrangeiro tentava, debalde, uma sociedade com Pero Vaz, o padre Maurício surrupiava-lhe as sete barras de ouro, destruindo qualquer possibilidade de identificação do local.
O espanhol voltou e, atônito, procurou por vários dias o seu tesouro que, estranhamente, nunca descobriu vestígio nenhum de sua localização. Mas, ele ainda tinha o ouro do Travessão, que não era de pouca monta. O jesuíta precisava, também, tomar posse deste valoroso quinhão. Quando o espanhol, na Barra do Rio Juquiá, tentava desviar do Registro, o padre apresentou-se a ele, informando-o do ouro de Aranzel, na Serra do Itatins. O espanhol, rompedor de sertões que era, não se fez de rogado e partiu para o Itatins, tendo em seu encalço o padre avarento e rapinador.
Com a nova quantidade de ouro retirada do Itatins, o espanhol decidiu descansar por uma noite no Porto de Una. O Padre Maurício, em seu encalço, aproveitou a tempestade daquela noite, retirou a riqueza da canoa, que, inadvertidamente, ficara sozinha, e a emborcou, dando a impressão que a culpa fosse dos rigores da variação atmosférica.
Na manhã seguinte, o espanhol descobriu que a desgraça sempre lhe acompanhava e julgou que o seu ouro havia se perdido no lodo do rio. Enlouquecido, embrenhou-se nos sertões atrás de mais ouro e, tempo depois, seu esqueleto fôra encontrado na margem de uma lagoa. Com grande “coincidência”, mais uma vez, quem o descobriu foi o padre Maurício. De posse de tão grande fortuna, e não querendo voltar ao Convento de M’Boy, em São Paulo, pois teria que entregar todo o precioso carregamento para a Companhia de Jesus, padre Maurício resolveu que aquela imensa riqueza lhe pertencia, por direito.

Juntando os seus índios, transportou tudo o que havia conseguido ilicitamente, às custas do pobre espanhol, para o Rio Assungui, no Juquiá, onde à margem deste leito, e, como dizem os historiadores “no caminho que vai para O Pilar”, enterrou o seu legado, cuidando em fazer um devido mapa num pedaço de couro de anta para que jamais perdesse o seu tesouro, como havia ocorrido com o espanhol. Mas, o único caminho do Pilar que existia na época era o da “Fazenda do Pilar”, na região de Sorocaba, que mais tarde se transformou na Vila e Município de Pilar do Sul. O município de Pilar do Sul possui a sua divisa com Tapiraí, e, por pouco, não a tem com Juquiá.
Padre Maurício tencionava voltar ao local, depois que as coisas acalmassem. Mas, por ironia do destino, foi chamado de volta para M`Boy, e, de lá, enviado para a Europa, de onde nunca mais pôde retornar. Até hoje o ouro continua no mesmo lugar à espera de quem o encontre. E, como já foi dito, o mapa, de alguma forma, teve o seu conteúdo devassado.
Várias expedições foram feitas e, como não podia deixar de ser, é claro, todas fracassaram. A última delas, que se tem notícia, ocorreu em 1932, com a participação de várias pessoas reconhecidas do Município de Miracatu: os primos Antonio Martins de Castro, Cássio Martins de Castro, Mário e Moacyr de Castro Oliveira, e outros, que quase pereceram, tentando vencer as águas e pedras daquele perigoso Rio Assungui juquiaense, que até hoje guarda aquelas fabulosas riquezas.
Essas lendas ou verdades foram esquecidas quando, precisando expandir a ocupação de terras para a implantação da agricultura, os habitantes de Iguape e das margens do Rio Ribeira lançaram os olhos para os sertões inóspitos e ainda não colonizados efetivamente. Como as terras, Xiririca acima, eram acidentadas e incultas, restou a esquecida bacia hidrográfica do Rio Juquiá, que se mantinha totalmente desprovida de povoados e precariamente habitada.
Já a primeira tentativa para colonizar o Vale do Juquiá acontecera em 1576, quando Pero Magalhães Mondavo, tentando convencer os seus leitores portugueses, descrevia sobre a fertilidade das terras do Juquiá, regada com mil cursos de água e florestas repletas de madeira de lei. Quanto aos indígenas que viviam na região do Itariri, Mondavo assim comentava:
“Se alguém vier para estas terras e consegue escravizar alguns índios, mesmo que não tenha nada que possa chamar de seu, arranja meios suficientes para manter a família com dignidade; pois um deles pesca, outro caça, outros, ainda, semeiam e colhem, tudo fazendo para o forasteiro e sem qualquer despesa de alimentação com ele próprio e com sua familia índia”.
Mediante este resumo de informações podemos afirmar, com certeza, que as primeiras descobertas de ouro do Brasil ocorreram nos territórios de Iguape, que, embora tivesse produção mediana ou baixa, desencadeou o ciclo do ouro na colônia, fazendo com que milhares de europeus aventureiros viessem ao Brasil em busca do cobiçado metal. Com a descoberta do ouro Ribeira acima, e com a partida de centenas de famílias de Iguape e Paranaguá embrenhando-se nos sertões inóspitos, fundaram-se pequenos agrupamentos humanos, que se transformaram em povoados, vilas, distritos e municípios; como são os casos de Apiaí, Curitiba, Eldorado (Xiririca) e Iporanga. Para controlar a exploração da mineração, o governo imperial, em fins do século XVII e início do século XVIII, decidiu montar um posto de vigilância para que pudesse cobrar o “quinto” da coroa, que era a taxação de 20% sobre todo o minério descoberto na Bacia do Ribeira. Dessa maneira, foi implantado o “Registro”, e o local de vigia, provavelmente onde hoje se localiza a Igreja de São Francisco Xavier, era comandado por um almotacé (almotacel). Esta autoridade era pessoa de confiança designada pela coroa para conferir pesos e medidas, cobrando o devido imposto.
Embora vários mineradores tenham se embrenhado pelos sertões em busca da cidade de Santos, para fugir do Posto do Registro Imperial, boa quantidade de ouro chegava até Iguape. Decidiu então o governo real implantar ali uma Casa de Fundição, onde, depois de passar pelo Registro e ser oficializado, o ouro era transformado em moedas, barras e similares e, posteriormente, vendido ou enviado a Portugal.
No final do século XVII foram descobertas grandes lavras de ouro nos sertões do interior do país. Este local passou a ser chamado de “As Minas Gerais do Império Brasileiro”, posteriormente conhecido por Minas Gerais. Estas descobertas causaram um grande fluxo de famílias inteiras do Vale do Ribeira e de todas as partes do Brasil para aquela região. Isso exigiu a formação de importante infra-estrutura no que se refere ao abastecimento do transporte animal, como o gado, que forneceria a carne para alimentar a grande massa de migrantes e como as mulas e cavalos. Estes últimos eram mercadorias escassas em terras paulistas e nas novas Minas Gerais.
Por outro lado, Dom Pedro Mendonza, que partiu da Espanha em 1534 para fundar Buenos Aires, trouxe consigo 75 cabeças de cavalos e éguas, que, alguns foragidos, se multiplicaram aos milhares nos campos marginais ao Rio do Prata, durante quase duzentos anos. Isso fez com que a região sul do Brasil passase a ter o maior rebanho muar de todo o império. Assim, intenso comércio de animais surgiu, com as tropas sendo adquiridas no sul do país e transportadas com grandes dificuldades, desde Viamão, no Rio Grande do Sul, passando por Curitiba e fazendo uma parada de descanso no local onde futuramente seria fundado Jacupiranga. Dali, as tropas prosseguiam pelo Vale do Ribeira afora até atingir o litoral. Dessa forma, iniciou-se a primeira rota terrestre colonial pelo Vale da Ribeira que ficou conhecida como “O Caminho do Gado”. Esse percurso era quase o mesmo que o utilizado atualmente pela atual linha ferroviária Santos-Juquiá e Rodovia BR-116; passando por terras do atual município de Cajati, fazendo parada e de descanso em Jacupiranga e seguindo posteriormente por terras dos atuais municípios de Registro, Juquiá, Miracatu, Pedro de Toledo e Itariri, alcançando o litoral, por Peruybe, e dali prosseguindo pela praia e atingindo a cidade de Santos, onde então subiam a serra e seguiam do planalto paulista para o interior do país.
O Vale do Ribeira, embora muito utilizado pelos primeiros desbravadores paulistas, desde a descoberta do Brasil, mas, por apresentar um relevo por demais acidentado, cheio de áreas alagadiças e cortado por centenas de córregos, ribeirões e rios, teve por essa razão o seu desenvolvimento sobremaneira prejudicado. Os tropeiros percebiam o grande prejuízo ocasionado pelo enorme tempo despendido neste percurso, além da grande perda de animais que trilhavam por veredas apertadas entre as árvores, e onde se perdiam, também, alguns homens das comitivas, que nessa travessia adquiriam moléstias variadas, entre elas a febre amarela, malária, tifo, câimbras de sangue e outras, perecendo muitas vezes pelos caminhos e ali sepultados. Dessa forma, optou-se por nova rota, menos acidentada e não tão pantanosa e mortal. Utilizando um novo caminho, as tropas vindas de Viamão seguiam até Curitiba e, de lá, desviando do Vale do Ribeira e do Juquiá, rumavam para o planalto paulista, formando os povoados de Ponta Grossa e Itapetininga, até atingir o local onde todos se reuniam para descansar e realizar permutas ou vendas de animais. Na parada de Biroçoiaba desenvolveu-se um importante ponto comercial (atual Sorocaba). Após descansarem neste povoado as tropas seguiam viagem para o centro-oeste.
Em detrimento do péssimo relevo e terrenos alagadiços do Vale do Ribeira e do Juquiá, os povoados de Ponta Grossa e Itapeva prosperaram lenta e progressivamente, enquanto Itapetininga e Sorocaba passaram a ser importantes centros de compras, venda, troca de animais e comércio de outras mercadorias, progredindo rapidamente e se transformando em grandes núcleos populacionais e comerciais. Posteriormente, com nova descoberta de ouro nos arredores do povoado de Curitiba e com a queda da produção deste minério no Vale do Ribeira, centenas de outras famílias abandonaram mais uma vez a região e para lá se dirigiram, contribuindo com o progresso daquela cidade. No final do século dezoito, a produção de ouro no Ribeira já havia caído drasticamente, exaurindo-se quase por completo a mineração.
Assim, os habitantes de Iguape, que não abandonaram a região em busca de melhor sorte, em fins do século XVIII começaram a voltar os olhos para a agricultura que ainda se mantinha como forte meio de comércio e grande lucro, instalando-se definitivamente à terra fértil e alcançando secular e grande produtividade na cultura do arroz, com produção que ultrapassava a 100.000 alqueires e cuja qualidade do cereal ficou conhecida no mundo todo. Assim, os habitantes de Iguape, que não abandonaram a região em busca de melhor sorte, em fins do século XVIII começaram a voltar os olhos para a agricultura que ainda se mantinha como forte meio de comércio e grande lucro, instalando-se definitivamente à terra fértil e alcançando secular e grande produtividade na cultura do arroz, com produção que ultrapassava a 100.000 alqueires e cuja qualidade do cereal ficou conhecida no mundo todo.
No início do século XIX a abertura do Valo Grande viria assorear o porto de Iguape, dificultando o comércio com o resto do Brasil. Os estaleiros e o porto, que fizeram o progresso da cidade, iniciaram forte declínio em sua movimentação. Mesmo diante de muitas dificuldades o município de Iguape continuou como principal centro comercial do Vale do Ribeira e de seu concorrido porto escoavam os produtos e materiais produzidos na região, ou para ele convergiam os comprados. Da tresloucada corrida ao ouro resultaram as vilas de Xiririca (Eldorado) e Iporanga, que estavam ligadas comercial e consanguinamente à litorânea cidade de Iguape, enquanto Apiaí fazia o seu comércio com o interior paulista.
Para se falar do início da ocupação do Vale do Juquiá, devemos lembrar que isso somente aconteceu graças à migração de famílias inteiras de “sem terras” que vieram de vários povoados e cidades às margens do Rio Ribeira para se instalarem na nova região de terras férteis e baratas. Se fizermos o regresso genealógico, pelo menos até o ano de 1830, podemos observar que as famílias se misturaram consanguinamente e esse fato pode até confundir os mais desavisados. Assim, a fundação da Vila de Santo Antonio de Juquiá se deveu às famílias advindas de Iguape e Xiririca (Eldorado), com menores reflexos migratórios oriundos de Cananéia, Apiaí e Iporanga.
Após a fundação de Juquiá, a primeira Freguesia da região, e com a formação do povoado de Prainha, o entrelaçamento consangüíneo ficou ainda mais restrito. Isso não impediu que ocorressem várias rusgas políticas e sociais entre os dois povoados que emergiam. Para se conhecer a origem dos antigos moradores do Juquiá é necessário citar um pouco da história dos municípios do Vale do Ribeira que forneceram grandes ondas migratórias de famílias para o lugar.