sábado, 2 de maio de 2015

Como funciona uma mina de diamantes?

Como funciona uma mina de diamantes?



Na maioria dos casos, máquinas gigantes escavam em busca das pedras preciosas, que são separadas do cascalho pelo peso e identificadas por um sofisticado sistema de raios x. As minas são criadas em regiões com alta concentração de um tipo de rocha, denominado pelos geólogos de kimberlito. Esse material é formado pelo resfriamento do magma, que chegou até a superfície há milhões de anos, carregando elementos de regiões profundas da Terra. Feitos de carbono submetido a altíssima pressão, os diamantes foram forjados até 200 km abaixo da superfície há pelo menos 3 bilhões de anos. O tipo mais comum de mina é o de poço aberto – como a representada no infográfico a seguir –, baseada na escavação do kimberlito, e a maioria delas está na África. No Brasil, a produção se concentra em minas formadas por erosão de kimberlito. As águas de rios e lençóis freáticos carregam pedras, que se concentram em áreas superficiais e passam a ser exploradas por mineradores. As 26 toneladas de diamante produzidas no mundo movimentam US$ 13 bilhões. O maior comprador é a China.
MUNDOESTRANHO-131-46
TRABALHO ÁRDUO
Supermáquinas, explosivos e alta tecnologia são usados para vasculhar toneladas de rocha.
Amaciando a terra
Após encontrar provas geológicas da presença de diamantes, os mineiros escavam o kimberlito. Mas a ferramenta deles não é picareta, não: os caras colocam explosivos em buracos de até 17 m de profundidade feitos pela perfuradora. O objetivo é fazer a rocha dura virar cascalho.
Trio parada dura
Três máquinas gigantes fazem o trabalho pesado: a perfuradora abre buracos na rocha para a colocação de explosivos, a escavadora movimenta até 50 toneladas de rocha por minuto e o caminhão mineiro leva 100 toneladas de material para o beneficiamento.
Buraco fundo
Com o avanço da escavação, o poço fica mais afunilado, chegando a centenas de metros de profundidade e a quilômetros de largura. A maior mina de diamantes em operação, com 600 m de profundidade e 1,6 km de diâmetro na parte mais larga, é a Argyle Diamond, na Austrália.
Plano B
Quando a escavação afunila demais, é preciso cavar um túnel paralelo ao poço. Do túnel principal, partem túneis perpendiculares para extrair a rocha mais profunda. No subterrâneo, são usadas versões menores das máquinas empregadas na superfície.
Coisa fina
O material extraído da mina vai para o processamento. O cascalho é triturado duas vezes, lavado e peneirado. Em seguida, as pedrinhas – de 1,5 a 15 mm – vão para um tanque de flotação. As pedras mais pesadas, com potencial de ser diamantes, ficam no fundo e as mais leves são descartadas.
Catando milho
Uma máquina de triagem equipada com raios X identifica os diamantes. Ao rolarem na esteira e serem atingidos pela radiação, eles ficam fluorescentes. Um sensor registra essa luz e aciona um jato de ar, que separa o que importa do restante das pedras. Por último, rola uma checagem manual.
Feitos para brilhar
Cerca de 30% dos diamantes são gemas, ou seja, têm características ideais para se tornar joias: cor, claridade, tamanho e possibilidade de lapidação. O restante é usado na indústria para a produção de peças de corte, como brocas, discos, serras e bisturis. Como transmitem calor rapidamente, diamantes também são usados em termômetros de precisão.
VALE QUANTO PESA
Cada tonelada de terra extraída rende 1 quilate de diamantes (0,2 g)
Valor de mercado
Um caminhão carregado rende até 20 diamantes de 1 g. Pedras usadas em joias valem, em média, US$ 1 mil/quilate. Para uso industrial, paga-se em torno de US$ 10/quilate.
Além do brilho
O valor do diamante é baseado em cor, claridade, tamanho e lapidação. Gemas azuis, laranja, vermelhas e rosa são raras. Brancas e amareladas são mais comuns (98% do total).
Joia da coroa
O maior dos diamantes foi extraído na África do Sul em 1905. A pedra bruta tinha 3,1 mil quilates e foi lapidada em nove. As duas maiores (Cullinan I e II) foram dadas à realeza britânica.
- Em 1714, foi encontrado o primeiro diamante no brasil, em um garimpo de ouro próximo a Diamantina, MG.
- O diamante mais caro do mundo foi leiloado em Londres por US$ 46 milhões. O Graf Pink pesa 24,78 quilates e tem coloração rosada.

Rondônia: Índios e garimpeiros 'reabrem' garimpo de diamantes na reserva Roosevelt

Rondônia: Índios e garimpeiros 'reabrem' garimpo de diamantes na reserva Roosevelt
Há dez anos, 29 garimpeiros foram assassinados na região em meio a desentendimentos com os índios
 

Fotos Ilustrativas
 
Numa porção da floresta Amazônica onde pode estar uma importante jazida de diamantes, índios e garimpeiros refizeram uma lucrativa parceria para extrair e vender as pedras de maneira ilegal.

A atividade foi retomada no fim do ano passado na Terra Indígena Roosevelt, uma área que se estende por Rondônia e Mato Grosso.  Há dez anos, 29 garimpeiros foram assassinados na região em meio a desentendimentos com os índios por causa do tesouro que aflora nessas terras.

O que sai da região tem um destino conhecido de autoridades: o comércio internacional ilegal de diamantes.  As suspeitas são de que as pedras de Roosevelt acabem chegando às mãos de compradores na Bélgica, Emirados Árabes Unidos, EUA, Índia e Israel, centros de lapidação e comércio de diamantes.  É uma longa cadeia ilícita, da qual em geral participam doleiros, contrabandistas, empresas de fachada e, por vezes, agentes da lei.

A situação de Roosevelt é delicada para o Brasil.  O país é participante do Sistema de Certificação do Processo Kimberley, que regulamenta, com a chancela da ONU, o comércio internacional dos diamantes brutos e exige de seus signatários medidas para garantir que suas pedras sejam extraídas somente de áreas legalizadas.  Diamantes brutos só podem sair do país com certificado Kimberley, emitidos pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).  Se forem de áreas não legalizadas, não são, em tese, certificados.

Autoridades brasileiras veem Roosevelt com dupla preocupação.  Primeiro porque mineração em terra indígenas é proibida no país e o caso expõe a dificuldade do Estado de evitar que parte dos diamantes brasileiros continue sendo extraída e comercializados de maneira ilícita.  A segunda preocupação é com a segurança.

"O momento é o pior possível.  Talvez até pior do que era há dez anos, no auge do garimpo", disse na sede do Ministério Público Federal em Porto Velho o procurador da República em Rondônia, Reginaldo Pereira Trindade.

"O contexto de violência em Roosevelt ainda está presente como naquela época das mortes, mas como a questão parece ter esfriado o governo está muito mais desinteressado".  Para ele, o risco é de novos conflitos levarem índios e garimpeiros a se matarem por causa dos diamantes.  "Basta que alguém risque um palito de fósforo para que esse barril de pólvora, que está aí latente, exploda."

Um intermediário na venda de diamantes contou à reportagem, sob a condição de não ter seu nome divulgado, que viu em janeiro no garimpo, índios armados e um ambiente hostil com os garimpeiros que trabalham e dormem no garimpo.  "O clima estava estranho", definiu ele.

Desde 2004 - quando em abril os 29 corpos foram encontrados -, a Polícia Federal mantém vigilância no entorno de Roosevelt para evitar a entrada de máquinas e garimpeiros e para garantir a paz na terra indígena e nas cidades próximas.  Em dez anos, a Operação Roosevelt reduziu, mas nunca barrou de vez a extração ilegal de diamantes na região.

A Terra Indígena Roosevelt é uma das quatro áreas reservadas aos índios cinta-larga entre o sudeste de Rondônia e o noroeste do Mato Grosso.  Roosevelt tem 230,8 mil hectares.  Todo o território cinta-larga, 2,7 milhões de hectares - o equivalente ao Estado de Sergipe.  São entre 2.000 a 2.500 índios.  A Operação Roosevelt tem menos de 60 homens e seis bases no entorno da terra.

O Valor esteve na última semana de janeiro em uma das principais aldeias dos cinta-larga: a aldeia Roosevelt.  De Cacoal, no sudeste de Rondônia, até lá são quatro horas de viagem.  O cacique é Daniel Rondon, quase 50 anos, sisudo e com português carregado de sotaque de sua língua materna, o tupi mondé.


A corrida aos diamantes de Roosevelt começou em 1999.  Entre 2003 e 2004, de 4 mil e 5 mil homens trabalharam na clareira


"A cada 15 a 20 dias, cada família [que controla um pedaço de terra nas margens do igarapé Lajes, onde está a clareira do garimpo ] recebe R$ 10 mil, R$ 15 mil.  É mais ou menos 20% das vendas", explicou ele na varanda de um casa de alvenaria espaçosa e muito simples a poucos metros das margens do Rio Roosevelt.

De 20% a 25% sobre a venda dos diamantes são o que, em geral, os índios têm recebido por "liberar" a mineração em Roosevelt para garimpeiros, segundo Rondon e outros cinta-larga.

A aldeia Roosevelt parece um pequeno e pobre bairro rural.  Não tem ocas, mas 40 casas padronizadas com paredes pintadas de branco e manchadas de terra e outras poucas construções.  Tudo com verba do governo federal.  Nas cidades próximas à Roosevelt, o relato frequente é que algumas poucas lideranças ficam com o grosso do dinheiro dos diamantes e que o desperdiçam em noitadas, bebida, prostitutas e motos e carros.

Em 2010, a Fundação Nacional do Índio (Funai) firmou uma parceria com os cinta-larga para encerrar a atividade garimpeira.  À Funai caberia reforçar as ações de ajuda à população de Roosevelt além de pagar a cada família que atuasse como polícia indígena, para impedir o garimpo.  O valor pago a cada indígena pelo Projeto Lajes chegou a R$ 1.500 por mês.  Com o acordo, o garimpo foi "oficialmente" fechado pelos índios em 2010.  Em 2012, houve um repique e a PF destruiu com explosivos máquinas no garimpo.

"No primeiro momento a gente avançou, mas depois a gente passou a não ter mais estrutura, dinheiro", disse Urariwe Suruí coordenador regional da Funai em Cacoal.  Houve também, disse, problemas entre os cinta-larga por conta de quem as lideranças escolhiam ou deixavam de escolher para a função remunerada a cada mês do Projeto Lajes.  "[O projeto] acabou em outubro passado.  Eles disseram que não queriam mais.  E aí o garimpo voltou com tudo", diz o jovem suruí.

Líderes cinta-larga usam um único argumento para justificar a extração ilegal de diamantes: o governo não os ajuda a ter projetos agrícolas rentáveis e sustentáveis e as famílias cinta-larga se envolvem com o garimpo para comprar alimentos, remédios, roupas, carros para transporte de doentes, combustível e também TV com canais por assinatura, celular, moto e tudo o que aprenderam a consumir desde os primeiros contatos com o mundo exterior nos anos 60.

"O que acontece é que tem tanta reunião, reivindicação e o governo demora para atender.  Aí os índios falam 'não vamos esperar mais o governo, não'", resume Nacoça Pio Cinta-Larga, de 55 anos, um dos líderes locais, ao falar da reabertura do garimpo.

Os garimpeiros usam resumidoras, um tipo de esteira para bater o cascalho, e bombas de água.  Rondon diz que o movimento no garimpo caiu um pouco.  "Tinha 30 máquinas e agora, 19."

A reportagem não chegou ao garimpo do Lajes, o principal de Roosevelt, que fica numa clareira que de ponta a ponta, segundo a PF, tem quatro quilômetros.  Uma ilha de lama no meio da floresta.  Da aldeia até lá são mais quatro horas.  Lideranças cinta-larga na aldeia não permitiram a visita da reportagem sob a alegação de que a estrada estava intrasitável.

A corrida aos diamantes de Roosevelt começou a ser notada em 1999.  Entre 2003 e 2004, de 4 mil e 5 mil homens trabalharam na clareira, segundo a Polícia Federal.  "Naquela época era muita gente.  Hoje, se tiver, são 100 e poucas pessoas", diz Marcelo Cinta-Larga, de 33 anos, citando um número sem confirmação de autoridades.  Rondon fala em menos de 100.


A Terra Indígena Roosevelt é uma das quatro áreas reservadas aos índios cinta-larga entre o sudeste de Rondônia e o noroeste do Mato Grosso.  Atualmente, os garimpeiros usam resumidoras, um tipo de esteira para bater o cascalho, e bombas de água.


Assim como Rondon e Pio, Marcelo diz que a relação com os garimpeiros que estão novamente em suas terras está tranquila.  Rondon diz os garimpeiros foram mortos porque estavam ameaçando de morte os índios.  Segundo a PF, desde 2007 não há mortes relacionadas aos diamantes.  Além dos 29, a polícia computa 20 assassinatos ocorridos antes e depois de 2004.

Ao falar sobre a venda das pedras, Rondon narra assim a rotina do negócio: "Tem um barracão lá no garimpo e os caras que compram vão lá para avaliar e comprar.  De 15 em 15 dias eles vêm comprar".  E acrescenta: "A gente não sabe quem é o comprador forte."  Ele e outros dizem que no passado tinham negócios com compradores de Minas Gerais, Mato Grosso e São Paulo.  Usando a palavra em tupi mondé que significa pedra branca e também diamante, Rondon diz que o "ikaxirá" mais caro que viu nos últimos tempos foi um de 8 quilates vendido por R$ 80 mil.

Um conhecedor do mercado de diamantes falou de uma pedra bem mais valiosa.  À reportagem, por telefone, ele afirmou que há quatro meses apareceu na mão de um comprador de Juína (MT) uma pedra recém-extraída de Roosevelt de 90 quilates vendida por R$ 450 mil.  E que há poucos dias, surgiu na cidade outra, também de Roosevelt, de 30 quilates.  Um quilate é o equivalente e 200 miligramas.

"Os diamantes de Roosevelt são totalmente distintos de qualquer diamante do Brasil.  São predominantemente pedras brancas, têm várias formas, mas muitas octaédricas [o que permite cortes valorizados na fase de lapidação], são pedras de alto teor de pureza, muito bonitas e grandes.  Eu já vi diamantes de lá de 50, 70, 80 quilates", disse, de Brasília, o geólogo do Serviço Geológico do Brasil, Valdir Silveira, que lidera um projeto para mapear áreas diamantíferas, o Projeto Diamante Brasil.

Segundo ele, há indicações seguras de que a terra dos cinta-larga está sobre corpos kimberlíticos com alto potencial diamantífero.  Mas por ser terra indígena, nunca nenhuma empresa prospectou nem lavrou a região.

O comércio mundial de diamantes brutos é afunilado em poucas cidades, entre elas Antuérpia, Dubai, Nova York, Mumbai e Tel-Aviv.  São centros de comércio e de lapidação de padrão internacional.  O preço de um diamante bruto pode ser multiplicado alguma vezes após lapidado.  Em tese, esses mercados movimentam apenas diamantes com origem legal.  Mas no setor, são ainda frequentes relatos sobre caminhos ilícitos para 'esquentar' pedras de áreas proibidas.  Para Valdir Silveira, esse é o caso dos diamantes de Roosevelt.

"O destino é ilegal, não tem como não ser, porque a produção de diamante lá é ilegal", diz.  "Com certeza, os diamantes de Roosevelt estão saindo do Brasil de forma clandestina, eles estão indo para a Venezuela ou Guiana ou outro país da região."  São rotas conhecidas onde os contrabandistas obteriam certificados Kimberley de forma mais fácil do que no Brasil.  Outra opção seria misturar pedras de Roosevelt em lotes de áreas regulares ou recorrer a pessoas que levam para o exterior pedras na roupa ou dentro do corpo.

Em sua sala na sede da Operação Roosevelt, em Pimenta Bueno (RO), o delegado Alexandre de Andrade Silva, chefe da base central da operação, diz que PF faz patrulhas nas estradas que dão acesso à terra indígena, mantém equipes nas seis bases no entorno da terra e eventualmente sobrevoa a região.  "O desafio da PF é chegar a quem está comprando, ao grande comprador, ao grande financiador."

Em 2010, a equipe de Silva junto com a PF no Mato Grosso tentaram ir além.  "A gente ficou um ano investigando tentando pegar a ponta, tentando alargar a teia para de repente pegar um cara que está lá na Rússia, Bélgica ou em Israel.  Mas não se evidenciou", disse o delegado.  "A PF continua empenhada em tentar chegar aos compradores finais.  Não desistimos, de jeito nenhum."

Em março de 2010, um homem foi detido no Aeroporto Internacional de Confins (MG), com um diamante de 28 quilates que policiais afirmaram ter saído de Roosevelt.  A pedra foi avaliada em R$ 200 mil.  Em abril do mesmo ano, um lote com 20 pedras, avaliado em R$ 100 mil, também da terra cinta-larga, segundo a PF, foi apanhado com outro homem em Confins.  Em 2004 e 2005, a PF já havia desmantelado dois esquemas de venda ilegal das pedras de Roosevelt para o exterior.

O Brasil exportou legalmente em 2013 US$ 6,1 milhões em diamantes brutos, 44,3 mil quilates, segundo dados preliminares do DNPM.  É insignificante para o mercado internacional.  Mas a produção vem aumentando desde 2009, quando encolheu pela crise financeira internacional.  Em 2009, a exportação brasileira foi de US$ 2 milhões, 35,9 mil quilates.  Minas e Mato Grosso são alguns exportadores.  Em Rondônia, segundo dados da superintendência local, havia em janeiro, 161 pedidos de pesquisa ou lavra de diamantes.  Legalmente, não há nenhum quilate sendo extraído no Estado.

A CHAPADA DOS DIAMANTES Serra do Sincorá, Bahia

A CHAPADA DOS DIAMANTES

Serra do Sincorá, Bahia











A SERRA

    A serra do Sincorá é uma parte da Chapada Diamantina, situada na região central do Estado da Bahia, que constitui um sítio de grande beleza paisagística devido ao modelado de suas serras, que expõem vales profundos de encostas íngremes e amplas chapadas. Essas escarpas permitem o exame da sua geologia, onde tempos atrás foram explorados diamantes e carbonados.
     A serra do Sincorá está localizada na região central do Estado da Bahia, distante da cidade de Salvador, capital do estado, cerca de 400km (figura 1). Para chegar à serra do Sincorá a partir de Salvador, deve-se seguir em direção a Feira de Santana (rodovia BR-324), continuando então para sul em direção ao Rio de Janeiro pela rodovia BR-116. Cerca de 70km a sul de Feira de Santana, à margem do rio Paraguaçu, entra-se à direita pela rodovia BR-242, em direção a Brasília. Cerca de 220km adiante, chega-se à cidade de Lençóis: ai está a serra do Sincorá, que fica dentro do Parque Nacional da Chapada Diamantina. O acesso por via aérea é feito por linhas regulares através do Aeroporto Cel. Horácio de Matos, situado na vila de Tanquinho (figura 1).
Figura 1 - Mapa de localização da serra do Sincorá. Legenda: 1-Região da serra; 2-Rodovia pavimentada; 3-Estrada não pavimentada; 4-Rio; 5-Cidade ou vila; 6-Aeroporto.


DESCRIÇÃO DO SÍTIO

    A serra do Sincorá está localizada na borda centro-oriental da Chapada Diamantina, aproximadamente entre as vilas de Afrânio Peixoto (antiga Estiva)  a norte e de Sincorá Velho a sul (figura 1). Sua vertente ocidental é uma escarpa quase contínua, com cerca de 300m de altura e 80km de extensão; a escarpa oriental, que domina a planície do vale do Paraguaçu (400m), atinge rapidamente a altitude de 1200m, nas primeiras cristas da serra. Assim  descreve a serra, o biólogo Roy Funch, em seu livro Um guia para o visitante da Chapada Diamantina: o Circuito do Diamante: o Parque Nacional da Chapada Diamantina; Lençóis, Palmeiras, Mucugê, Andaraí, editado em Salvador pela Secretaria de Cultura e Turismo do Estado da Bahia em 1997.

Montanhas  e cachoeiras


    A serra do Sincorá compreende um conjunto de diversas serras de menor extensão com as da Cravada, do Sobrado, do Lapão, do Veneno, do Roncador ou Garapa, do Esbarrancado, do Rio Preto, entre muitas outras. Essas serras possuem picos com até 1700m de altitude e são separadas por vales íngremes e profundos como canyons
    Uma feição que se destaca na serra do Sincorá, é o morro do Pai Inácio à margem da rodovia BR-242, a norte do vale do Cercado (figura 2).


Figura 2 - Vale do Cercado, a sul  do morro do Pai Inácio, na rodovia BR-242.



    Mais ainda a norte do morro do Pai Inácio, está o morro do Camelo ou Calumbi (figura 3), e a sul, o Morrão (figura 4), cujo acesso se faz através da estrada entre a cidade de Palmeiras e a vila de Caeté Açu (figura 1).


Figura 3 - Morro do Camelo ou Calumbi


Figura 4 - Morrão



    Entre o Morrão e a vila de Caeté Açu, é cruzada a ponte sobre o rio Riachinho, onde existe um antigo garimpo de diamantes (figura 5).


Figura 5 - Rio Riachinho


    O principal rio desta região, é o rio Paraguaçu. Após atravessar a serra do Sincorá desde a localidade de Comércio de Fora (figura 6), ele a deixa na localidade de Passagem de Andaraí, formando a cachoeira de Donana (figura 7). Daí, o rio prossegue em busca do oceano Atlântico, na baía de Todos os Santos.



Figura 6 – Escarpa da serra do Sincorá em Comércio de Fora, a oeste da cidade de Mucugê.





Figura 7 - Cachoeira de Donana


    As rochas que afloram na serra do Sincorá, consistem essencialmente em arenitos conglomerados. Orville A . Derby (1851-1915), geólogo norteamericano, que no início do século XX trabalhou na região, disse delas o seguinte: “ Este conglomerado representa um depósito de cascalho formado em uma época geológica remota pelo mesmo modo que se formaram, e ainda hoje se formam, os cascalhos (conglomerados incoerentes e ainda não transformados em pedra) em que os mineiros procuram os diamantes.





Figura 8 – Arenitos, isto é, rochas formadas por areias consolidadas na vila de Igatu.




Figura 9 – Conglomerados(antigos cascalhos)  intercalados com arenitos no vale do rio Combucas, a norte da cidade de Mucugê.



Diamantes

No ano de 1844, foram descobertos diamantes na serra do Sincorá, na região de Mucugê (figuras 1 e 12). A partir dessa região toda a serra foi explorada, garimpando-se diamantes desde o rio Sincorá a sul (figuras 1 e 7), até a região de Afrânio Peixoto a norte (figura 1).






Figura 10 – Como os diamantes são transportados do interior da Terra (à esquerda); Como as rochas são erodidas, liberando os diamantes, que então são garimpados nos rios (à direita).



    Esses diamantes, que deram fama e riqueza à região formaram-se em algum lugar do interior da Terra onde a crosta terrestre era bastante espessa, e foram transportados por rochas chamadas kimberlitos, que forçaram o seu caminho para a superfície (figura 10). Assim, os diamantes se comportariam como meros passageiros em uma parada de ônibus (lado esquerdo). Quando os kimberlitos que os continham alcançaram a superfície, eles sofreram processos de erosão, liberando os diamantes, que foram encontrados em areias e cascalhos de rios (lado direito). Dando uma idéia da sua raridade, Jiri (George) Strnad, geólogo canadense especialista em diamantes, estimou que em um kimberlito diamantífero exposto em uma escarpa medindo 10 x 2m, estaria contido apenas um diamante minúsculo, com um milímetro de diâmetro !

    

    Na serra do Sincorá, a fonte dos diamantes ainda é amplamente discutida. Sabe-se apenas que eles vieram do leste, mas o local exato ainda não foi definido. Os diamantes eram garimpados no cascalho produzido pela decomposição de conglomerados (figura 11), aflorantes no vale do rio Combucas (figura 12).



Figura 11 - Detalhe do conglomerado do vale do rio Combucas (figura 12), depositado por antigos rios.





Figura 12 - Rio Combucas, a norte da cidade de Mucugê, próximo à sua confluência com o rio Mucugê, local das primeiras descobertas de diamantes na serra do Sincorá.


    A cachoeira do Serrano na cidade de Lençóis (figura 13), também foi intensamente explorada. Aí, os conglomerados são formados por fragmentos de diversas rochas (figura 14). Eles foram depositados no sopé de escarpas.

Figura 13 - Cachoeira do Serrano, na cidade de Lençóis.







Figura 14 - Conglomerado da cachoeira do Serrano. Acredita-se que ele tenha sido depositado no sopé de escarpas, o que se chama de leques aluviais.


    A garimpagem também foi intensa nas regiões de Andaraí e Igatu. A figura 15 mostra os conglomerados na estrada entre essas duas localidades. O rejeito dos antigos garimpos ainda pode ser visto ao longo desta estrada, como amontoados de blocos de tamanhos e formas diversas.

Figura 15 - Conglomerados ao longo da estrada Andaraí - Igatu

    Após uma fase áurea de aproximadamente 25 anos, a garimpagem de diamantes entrou em declínio a partir de 1871. Já no século XX, houve diversas tentativas de mecanizar os garimpos, que na década de 80 foram instalados nos leitos dos rios dentro e fora do Parque Nacional. Estes garimpos, graças a uma ação conjunta de diversas autoridades ligadas à mineração e ao meio ambiente, foram fechados definitivamente em março de 1996.
     Mesmo após 150 anos de exploração dos aluviões diamantíferos, ainda existe garimpagem manual, embora em ritmo mais lento, devido à exaustão e decadência das lavras. Devido ao número ilimitado de situações geológicas e topográficas da serra, existem os seguintes tipos de garimpo manual, mencionados pelo biólogo Roy Funch, cada qual com suas peculiaridades:cascalhãobarrancobrejogrupiaraemburradocurrioloengrunadagrutaescafandroserviço a secolavagem e faísca (figura 16).



Figura 16 - Representação esquemática dos tipos de garimpo manual (descrições no glossário)
    Esses fatos confirmam a afirmação de Orville A . Derby : "Quanto à riqueza mineral, a única até hoje aproveitada é a de diamantes e carbonados, e a sua constituição geológica [da serra do Sincorá] pouca esperança oferece da existência de outra...".


MEDIDAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

    O trecho da serra do Sincorá  situado entre Cascavel e Mucugê e a rodovia BR-242, está incluído no Parque Nacional da Chapada Diamantina. A norte da rodovia BR-242, os morros do Pai Inácio e do Camelo estão dentro da APA (Área de Proteção Ambiental) de Iraquara-Marimbus.
    De acordo com informações do biólogo Roy Funch, o rio Mucugê, em cujo leito foram descobertos os primeiros diamantes, está razoavelmente bem protegido: o seu alto curso fica dentro do Parque Nacional e o baixo curso corre dentro da área do Parque Municipal de Mucugê (uma reserva com cerca de 270 hectares). Este parque ainda inclui o baixo curso do rio Combucas e vários dos seus afluentes, limitando-se com o Parque Nacional.
    Além dessas medidas, existe no município de Mucugê, o Projeto Sempre Viva. Este projeto tem os seguintes objetivos: 1) implantação de uma unidade de conservação estruturada para o ecoturismo, no Parque Municipal de Mucugê; 2) desenvolvimento de tecnologia de reprodução de plantas nativas; 3) implantação de um Sistema de InformaçõesGeográficas (SIG); e, 4) execução de um programa de educação ambiental. A sua sede, construída no estilo dos antigos abrigos de garimpeiros, é mostrada na figura 17.




Figura 17 - Parte das instalações do Projeto Sempre Viva.



PARA SABER MAIS

Catharino, J.M. 1986. Garimpo-Garimpeiro-Garimpagem, Chapada Diamantina, Bahia. Rio de Janeiro, Philobiblion/Banco Econômico, 270 p.

CPRM-Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, 1994. Projeto Chapada Diamantina: Parque Nacional da Chapada Diamantina-BA: Informações Básicas para a Gestão Territorial: Diagnóstico do Meio Físico e da Vegetação. Salvador, CPRM/IBAMA, 104 p.

Funch, R., 1997. Um guia para o visitante da Chapada Diamantina: o Circuito do Diamante: o Parque Nacional da Chapada Diamantina; Lençóis, Palmeiras, Mucugê, Andaraí. Salvador, Secretaria de Cultura e Turismo/EGBA, 209 p. (Coleção Apoio).

Lima, C.U. & Nolasco, M.C. 1997. Lençóis, uma Ponte entre a Geologia e o Homem. Feira de Santana, UESC/EGBA, 152 p.

Moraes, W., 1991. Jagunços e Heróis. 4ed. Salvador, Empresa Gráfica da Bahia/IPAC, 217 p.

Pedreira, A .J. & Bomfim, L.F., 2000. “Morro do Pai Inácio, Bahia”.  Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. http://www.unb.br/ig/sigep/sitio072/sitio072.htm 


Pedreira, A .J. 2001. “Serra do Sincorá, Bahia”.  Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. http://www.unb.br/ig/sigep/sitio085/sitio085.htm 

Sampaio, T.1955. O rio São Francisco e a Chapada Diamantina. Salvador, Livraria Progresso Editora, 278p. (Coleção de Estudos Brasileiros)

 

 

 

 

 

 

GLOSSÁRIO


Aflorantes – Rochas expostas na superfície, de modo que podem ser estudadas sem necessidade de escavações.

Aluvião – Areias e cascalhos depositados por rios. Ocasionalmente podem ser explorados em busca de metais preciosos.

Arenito – Rocha composta por grãos de areia com diâmetro máximo de 2 milímetros unidos por um cimento. Quando o cimento é ferruginoso, o arenito é amarelo ou avermelhado.

Barranco - Barranco alto de barro sobre uma fina camada de cascalho.

Brejo - Área baixa e úmida com pouco solo sobre o cascalho.

Cascalhão - Barrancos altos com cascalho e areia.

Conglomerado – Rocha composta por fragmentos rolados e subangulares de diversas origens, reunidos por ação de água ou de força de gravidade e cimentados entre si. Quando os fragmentos são angulosos, toma o nome de brecha.

Curriolo - Garimpo no leito de um rio, com muito cascalho e pedras soltas.

Emburrado – Garimpo em área de cascalho com grandes blocos de rocha.

Engrunada - Garimpo subterrâneo.

Escafandro - Garimpo submerso, trabalhado por mergulhadores.

Faísca - Pequeno garimpo feito em um dia.

Garimpo – Jazidas situadas em areias ou cascalhos depositados por rios, onde se exploram minerais preciosos, especialmente diamantes.

Grupiara - Cascalho na serra.

Gruta - Garimpo em túnel natural da serra.

Kimberlito – Rocha verde escura a negra, com aspecto de brecha e proveniente do interior da Terra, que transporta os diamantes para a superfície. O seu nome provém de Kimberley, na África do Sul.

Lavagem - Retrabalhamento do rejeito de um garimpo antigo.

Lavra – Exploração econômica de uma jazida mineral, como uma mina ou garimpo. O local onde isto se realiza.

Leque aluvial – Depósito de sedimentos em forma de leque, construído por uma corrente no local em que ela abandona as terras altas ou uma cadeia de montanhas e entra em um vale largo ou planície. Os leques aluviais são comuns em climas áridos ou semi-áridos, mas não restritos a eles.

Rejeito – Material geralmente não portador de diamantes, que pode ser retrabalhado posteriormente.

Serviço a seco - Garimpo em local sem água.

Sistema de Informações Geográficas (SIG ou GIS)  - Sistema de computação capaz de reunir, armazenar, manipular e exibir informações referenciadas topograficamente, isto é, dados identificados de acordo com as suas localizações.

Garimpeiros de Coromandel recuperam 180 diamantes em Israel

Garimpeiros de Coromandel recuperam 180 diamantes em Israel


Foto: Reprodução
Garimpeiros de Coromandel recuperam 180 diamantes em Israel
Uma hora da tarde em Israel. Darío Machado Rocha, 51 anos, e três colegas garimpeiros de Coromandel, uma cidade de 27 mil habitantes no interior de Minas Gerais, estão diante do suntuoso prédio de vidro da Bolsa de Diamantes em Tel Aviv.

Eles Tomaram um avião pela primeira vez na vida - a não ser Darío - para uma missão inédita: negociar 445 quilates de diamantes diretamente no mercado internacional. Sonham receber US$ 800 mil pelas 180 pedras. Mas não imaginam que as gemas ficarão retidas ali por um ano, num longo e tortuoso processo que, no entanto, está prestes a terminar em final feliz.

A viagem ao exterior foi marcada após a audaciosa decisão da Cooperativa de Garimpeiros da Região de Coromandel (Coopergac) - que reúne 135 trabalhadores do Alto do Paranaíba, na divisa com Goiás - de atuar diretamente no mercado internacional de diamantes, sem a participação de intermediários. Estavam atentos às graúdas possibilidades de um comércio que movimenta US$ 100 bilhões por ano.

A saga para exportar os dois lotes de diamantes a Israel começou há um ano, quando os quatro fizeram as malas e tomaram o voo, com as 180 pedras a bordo. Entre elas, uma gema rara, cor-de-rosa, de 3,89 quilates, do tamanho de um grão de feijão.

Apenas Darío se virava no inglês. Nem o duro interrogatório da imigração israelense foi capaz de desanimar os vendedores. Numa sala fechada, mostraram e comprovaram a origem legal de suas mercadorias, por meio do certificado Kimberley - sistema criado no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) para garantir a origem legal das pedras e evitar o comércio internacional dos "diamantes de sangue" (Leia mais ao lado).

O procedimento dos agentes israelenses intimidaria qualquer um, mas valia a pena. Israel é um dos mais importantes centros de comercialização e lapidação de diamantes do mundo, e ali esperavam receber pelas pedras brutas 40% a mais do que conseguiriam no desaquecido mercado nacional. Só não sabiam ao certo qual seria a cifra.

Um acordo prévio havia estabelecido que a avaliação das gemas seria feita na própria corretora israelense, sediada num escritório dentro da Bolsa de Diamantes de Israel - um complexo de quatro suntuosos arranha-céus de vidro, conectados por pontes internas, em Tel Aviv. Ao verem aquelas torres e grandiosas, lembraram do garimpo. "Olha onde nós chegamos, os garimpeiros de Coromandel", pensou emocionado um dos integrantes do grupo, Wanderson Mendes de Souza, 23 anos. Registraram o momento em fotografias e seguiram pela rígida segurança do prédio da bolsa.

Além de receber pelo diamante bruto, os garimpeiros dividiriam com os parceiros israelenses o valor agregado na venda após a lapidação. Tudo indicava que seria um bom negócio. O contato inicial havia sido feito através de conhecidos, na base da confiança, que caracteriza esse tipo de transação. A primeira exportação direta, através da mesma corretora, havia sido um sucesso, embora o valor fosse bem menos expressivo - US$ 14 mil.

Vitória maior haviam alcançado em 2009, quando negociaram na Bolsa de Diamantes da Antuérpia, na Bélgica, a maior do planeta: 44 quilates vendidos por US$ 350 mil. A diferença agora é que, pela primeira vez, eram os garimpeiros os portadores da mercadoria, e não os estrangeiros que vinham buscá-las no Brasil.

No escritório da corretora, eles ficaram otimistas com a avaliação das primeiras cinco pedras. Mas depois de uma ligação em hebraico, eles contam, os preços começaram a despencar. A maior decepção foi o valor oferecido ao diamante rosa de 3,89 quilates. "Queriam pagar US$ 4.850, um preço de banana, enquanto nossa expectativa era de US$ 250 mil", diz Darío, uma das lideranças da Coopergac. "Eu 'nasci os dentes' no garimpo e sei muito bem que aquele preço era de total má-fé", afirma.

Seria óbvio pensar que, naquele momento, os quatro deveriam ter feito as malas e trazido os diamantes de volta ao Brasil. O fato é que ficaram numa saia-justa: se carregassem as pedras, estariam praticando formalmente uma espécie de contrabando. "Tínhamos todos os documentos para exportar os diamantes, mas não para trazê-los de volta ao Brasil", explica Darío. Com isso, tiveram que desapegar-se das gemas, transferidas para a duvidosa custódia da corretora em Tel Aviv.

Foi esse o começo de um sufoco que parecia não ter fim. Nos longos meses de negociação, segundo relatos de pessoas independentes envolvidas no processo, a corretora israelense negava-se a mostrar as pedras a outros interessados, e chegou a ameaçar lapidar as gemas - para total desespero dos 135 garimpeiros, que, em maior ou menor quantia, ganhariam com o empreendimento.

O maior aperto foi quando a corretora anunciou que havia vendido o diamante cor-de-rosa, o maior e mais valioso, a um comprador espanhol, supostamente por US$ 85 mil. Acrescentaram que pagariam apenas US$ 45 mil aos originais vendedores, pois descontariam os custos que tiveram no processo.

Foi esse o alerta final. Os garimpeiros acionaram quem podiam. Com a ajuda de especialistas no Processo Kimberley, chegaram ao presidente da Bolsa de Diamantes de Israel - o experiente empresário Avi Paz, descendente de uma tradicional família de comerciantes dessas pedras preciosas na Rússia e na Bélgica. Paz sugeriu que o caso fosse levado a uma arbitragem internacional e, pela primeira vez, os dois lados entraram em um acordo.

A arbitragem funcionou como uma espécie de conciliação, liderada por dois árbitros - um indicado por Paz e outro pelo presidente da bolsa de diamantes da Antuérpia. As duas partes sentaram-se frente a frente, sem a presença de advogados. A corretora israelense representada por um sócio.

A cooperativa brasileira, por Darío e Wanderson - que mais uma vez desembarcaram na moderna Tel Aviv. Uma integrante da embaixada do Brasil em Israel traduzia as negociações em hebraico. A decisão de três parágrafos, com força de sentença, foi publicada em novembro, num desfecho considerado satisfatório.

O valor da pedra rosa foi o principal assunto em discussão. Os árbitros determinaram que a corretora israelense pagasse US$ 180 mil aos garimpeiros. O empresário e gemólogo holandês Mike Angenent, que se dedica ao comércio justo de pedras preciosas, participou do processo como observador.

"Um avaliador convocado pelos árbitros declarou que não havia dúvidas de que a pedra era um rosa intenso, e não um rosa claro, o que significa um incremento de cerca de US$ 100 mil no valor", explica Angenent.

A cooperativa recebeu o total estipulado na sentença. Os custos da arbitragem foram divididos entre as duas partes. A história se completa com o envio das outras pedras ao Brasil. Há cerca de 15 dias elas aguardam apenas o desembaraço no aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, para voltar às merecidas mãos dos garimpeiros.

Ao comentar o primeiro conflito em suas transações diretas ao mercado internacional, os integrantes da Coopergac não escondem um certo constrangimento com algumas falhas de percurso. A avaliação das pedras, sobretudo, deveria ter sido feita no Brasil.

"Toda aprendizagem tem um custo", contenta-se Darío, que, ao seguir a profissão de sua família, também se preocupou em ir além. Formou-se em comércio exterior, especializou-se em São Paulo, estudou inglês e elegeu-se vereador. "Falar é fácil, fazer é que é difícil", diz.

Tudo isso lhe rendeu conhecimento e trânsito nos diversos níveis empresariais e de governo. A Coopergac se tornou uma das cooperativas mais ativas do mundo na discussão do processo Kimberley.

Tanto é que, em novembro de 2007, ao comparecer à plenária do processo em Bruxelas, na Bélgica, Darío e seus amigos mereceram aplausos de representantes de 45 países, por serem os únicos representantes de garimpeiros no encontro, ao lado de colegas de Diamantina, também em Minas Gerais.

"Hoje eles são considerados um exemplo mundial", atesta João César de Freitas Pinheiro, diretor de Planejamento e Desenvolvimento da Mineração do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) - órgão responsável por assegurar o cumprimento do Processo Kimberley no Brasil.

Ao avaliar a experiência, Darío diz que o saldo é positivo. "Estivemos pessoalmente com o presidente da Bolsa de Diamantes de Israel, que nos abriu as portas", conta. "E isso não é para qualquer um." Os garimpeiros revelam que seus planos agora incluem insistir no mercado israelense e negociar diamantes já lapidados, ganhando com o valor agregado.

E quanto às gemas que chegaram ao Brasil? O conflito em Israel caiu na boca do mercado e lançou holofotes sobre o trabalho da cooperativa. Notícias correm pra todos os lados sobre as 180 pedras claras, coloridas, de todo tamanho, dos garimpeiros de Coromandel. "Já tem muito comprador interessado", garante Darío.

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Mineração Taboca no anos 80