domingo, 7 de junho de 2015

TURMALINAS CUPRÍFERAS DO BRASIL, NIGÉRIA E MOÇAMBIQUE 1ª Parte (PARAÍBA)

TURMALINAS CUPRÍFERAS
DO BRASIL, NIGÉRIA E MOÇAMBIQUE
1ª Parte



As turmalinas conhecidas sob a designação ”Paraíba”, em alusão ao Estado onde foram primeiramente encontradas, causaram furor ao serem introduzidas no mercado internacional de gemas, em 1989, por suas surpreendentes cores até então jamais vistas.
A descoberta dos primeiros indícios desta ocorrência deu-se sete anos antes, no município de São José da Batalha, onde estas turmalinas, da espécie elbaíta, ocorrem na forma de pequenos cristais irregulares em diques de pegmatitos decompostos, encaixados em quartzitos da Formação Equador, de Idade Proterozóica, associadas com quartzo, feldspato alterado, lepidolita, schorlo (turmalina preta) e óxidos de nióbio e tântalo, ou bem em depósitos secundários relacionados.
Estas turmalinas ocorrem em vívidos matizes azuis claros, azuis turquesas, azuis “neon”(ou fluorescentes), azuis esverdeados, azuis-safira, azuis violáceos, verdes azulados e verdes-esmeralda, devidos principalmente aos teores de cobre e manganês presentes, sendo que o primeiro destes elementos jamais havia sido detectado como cromóforo em turmalinas de quaisquer procedências.
A singularidade destas turmalinas cupríferas pode ser atribuída a três fatores: matiz mais atraente, tom mais claro e saturação mais forte que os usualmente observados em turmalinas azuis e verdes de outras procedências.
Estes matizes azuis e verdes estão intimamente relacionados à presença do elemento cobre, presente em teores de até 2,38 % CuO, bem como a vários processos complexos envolvendo íons Fe2+ e Fe3+ e às transferências de carga de Fe2+ para Ti4+ e Mn2+ para Ti4+. Os matizes violetas avermelhados e violetas, por sua vez, devem-se aos teores anômalos de manganês. Uma considerável parte dos exemplares apresenta zoneamento de cor, conseqüência da mudança na composição química à medida que a turmalina se cristalizou.
Em fevereiro de 1990, durante a tradicional feira de Tucson, nos EUA, teve início a escalada de preços desta variedade de turmalina, que passaram de umas poucas centenas de dólares por quilate a mais de US$2.000/ct, em questão de apenas 4 dias. A mística em torno da turmalina da Paraíba havia começado e cresceu extraordinariamente ao longo dos anos 90, convertendo-a na mais valiosa variedade deste grupo de minerais. A máxima produção da Mina da Batalha ocorreu entre os anos de 1989 e 1991 e, a partir de 1992, passou a ser esporádica e limitada, agravada pela disputa por sua propriedade legal e por seus direitos minerários.
A elevada demanda por turmalinas da Paraíba, aliada à escassez de sua produção, estimulou a busca de material de aspecto similar em outros pegmatitos da região, resultando na descoberta das minas Mulungu e Alto dos Quintos, situadas próximas à cidade de Parelhas, no vizinho estado do Rio Grande do Norte.
Estas minas passaram a produzir turmalinas cupríferas (Mina Mulungu com até 0,78 % CuO e Mina Alto dos Quinhos com até 0,69 % CuO) de qualidade média inferior às da Mina da Batalha, mas igualmente denominadas “Paraíba” no mercado internacional, principalmente por terem sido oferecidas muitas vezes misturadas à produção da Mina da Batalha. A valorização desta variedade de turmalina tem sido tão grande que, nos últimos anos, exemplares azuis a azuis esverdeados de excelente qualidade, com mais de 3 ct, chegam a alcançar cotações que superam os US$20.000/ct, no Japão.
Embora as surpreendentes cores das turmalinas da Paraíba ocorram naturalmente, estima-se que aproximadamente 80% das gemas só as adquiram após tratamento térmico, a temperaturas entre 350 oC e 550 oC. O procedimento consiste, inicialmente, em selecionar os espécimes a serem tratados cuidadosamente, para evitar que a exposição ao calor danifique-os, especialmente aqueles com inclusões líquidas e fraturas pré-existentes. Em seguida, as gemas são colocadas sob pó de alumínio ou areia, no interior de uma estufa, em atmosfera oxidante. A temperatura ideal é alcançada, geralmente, após 2 horas e meia de aquecimento gradativo e, então, mantida por um período de cerca de 4 horas, sendo as gemas depois resfriadas a uma taxa de aproximadamente 50 oC por hora. As cores resultantes são a cobiçada azul-neon, a partir da azul esverdeada ou da azul violeta, e a verde esmeralda, a partir da púrpura avermelhada. Além do tratamento térmico, parte das turmalinas da Paraíba é submetida ao preenchimento de fissuras com óleo para minimizar a visibilidade das que alcancem a superfície.
Até 2001, as turmalinas cupríferas da Paraíba e do Rio Grande do Norte eram facilmente distinguíveis das turmalinas oriundas de quaisquer outras procedências mediante detecção da presença de cobre com teores anômalos através de análise química por fluorescência de raios X de energia dispersiva (EDXRF), um ensaio analítico não disponível em laboratórios gemológicos standard. No entanto, as recentes descobertas de turmalinas cupríferas na Nigéria e em Moçambique acenderam um acalorado debate envolvendo o mercado e os principais laboratórios gemológicos do mundo em torno da definição do termo “Turmalina da Paraíba”, sobre o qual trataremos no artigo do próximo mês.

CÉLEBRES DIAMANTES BRASILEIROS Descobertos até o final do século XIX

CÉLEBRES DIAMANTES BRASILEIROS
Descobertos até o final do século XIX



Atendendo à solicitação de um leitor, neste mês discorreremos brevemente sobre alguns famosos diamantes brasileiros, lembrando que a informação disponível sobre o tema é bastante controversa, entre outros motivos porque apenas parte dos grandes diamantes teve sua existência comprovada e pública, além do fato de que era comum a relapidação de espécimes famosos ao mudarem de mãos, quer fosse para imprimir a marca do novo dono ou para evitar que fossem reconhecidos.
De modo geral, os diamantes que se tornam célebres têm peso superior a 50 quilates, são aproximadamente incolores ou de cor de fantasia e possuem algum atrativo adicional, como seu tamanho, importância histórica, singularidade, lapidação e/ou lendas que o cercam.
Como a Índia foi a única fonte importante de diamantes desde o quarto século antes de Cristo até a sua descoberta no Brasil, de lá procediam quase todos os exemplares de valor histórico. Apesar disto, especula-se que um ou outro famoso diamante de origem supostamente indiana possa ter sido realmente encontrado no Brasil.
Apesar da enorme produção proveniente da região de Diamantina ter sido a responsável pela primazia do nosso país no fornecimento mundial durante um século e meio e do fato de que diversos dos maiores e melhores diamantes ali extraídos terem sido inseridos no acervo de jóias da coroa portuguesa, a maior parte dos grandes exemplares brasileiros foi descoberta mais tarde, no Triângulo Mineiro, principalmente nos municípios de Coromandel, Estrela do Sul, Tiros, Patos de Minas, Monte Carmelo, Abadia dos Dourados e Romaria.
O primeiro grande diamante descoberto nesta região a receber nome e tornar-se público foi o denominado Bragança ou Regente de Portugal. Segundo o inglês John Mawe, em seu relato de viagem ao Brasil, o exemplar pesaria 144 quilates e teria sido encontrado no longínquo ano de 1798, no leito do rio Abaeté. De acordo com o mesmo autor, a pedra foi requisitada pela Coroa Portuguesa, como eram todas que pesassem mais de 20 quilates, e Dom João VI o usava em ocasiões especiais. É um espécime controverso e seu atual paradeiro é desconhecido, embora haja menção a um diamante com este nome entre as jóias da coroa sueca.
Outro célebre diamante brasileiro é o Estrela do Sul, que possuía 261,38 quilates em estado bruto. Ele foi descoberto no ano de 1853, em um garimpo no Rio Bagagem, Triângulo Mineiro, por uma escrava, que mais tarde foi alforriada e recebeu uma pensão vitalícia. A pedra foi assim nomeada pelos irmãos franceses que a adquiriram, ocasionando a mudança do nome da localidade de Bagagem para a atual Estrela do Sul. A lapidação desta gema, realizada em 1857 pelo Sr. Voorzanger, de Amsterdã, durou 3 meses, resultando em um exemplar de 128,48 quilates e forma de almofada.
O Estrela do Sul foi adquirido em 1867 por Khande Rao, soberano do reino indiano de Baroda, por aproximadamente US$400 mil. Ele foi o primeiro diamante brasileiro a obter notoriedade internacional e, durante mais de um século, o maior descoberto por uma mulher, até que a Sra. Ernestine Ramaboa, de Lesotho, encontrou um espécime de 601,26 quilates, em 1967. O Estrela do Sul mudou novamente de mãos em 2001, sendo adquirido por compradores que preferiram permanecer anônimos. Em dezembro do mesmo ano, foi submetido por eles à graduação no Laboratório Gemológico Gubelin, da Suiça, que estabeleceu um grau de pureza VS2 e descreveu sua cor como marrom rosáceo “fancy light”.
Em 1857, portanto apenas quatro anos após a descoberta do Estrela do Sul, outro famoso exemplar, pesando 120,58 ct, foi encontrado no mesmo Rio Bagagem. Denominado Dresden Inglês, Dresden Branco ou E. H. Dresden, em homenagem ao agente inglês que o adquiriu no Rio de Janeiro e o levou a talhar no atelier de Coster, em Amsterdã, foi assim designado para diferenciá-lo do Dresden, o mais famoso diamante verde jamais encontrado, de procedência desconhecida. Conhecido por seus elevados graus de pureza e cor, o Dresden Inglês foi lapidado em uma única pedra com forma de gota, pesando 78,53 ct, e supõe-se que esteja de posse da família real de Baroda.
Ao que consta, em 1859, no mesmo Rio Bagagem, teria sido encontrado um diamante de 250 quilates, denominado Estrela do Egito e, em 1867, um exuberante espécime de 105,50 ct, sem nome, no garimpo de Água Suja, município de Romaria.
Se levarmos em consideração os diamantes de qualidade não gemológica, deveríamos incluir na relação dos maiores alguns carbonados, isto é, agregados criptocristalinos de cor usualmente preta, que consistem de uma mescla de diamante grafitizado e carbono amorfo, caracterizados pela ausência de clivagem e alta resistência. O maior deles foi descoberto no ano de 1842, na Chapada Diamantina, parte central do estado da Bahia, célebre pela ocorrência deste tipo de material. A pedra recebeu o nome de Carbonado Sérgio e pesava 3.167 quilates, portanto superior ao peso do Cullinan (3.106 ct), o maior diamante bruto já encontrado.

BREVE HISTÓRIA DO DIAMANTE NO BRASIL De finais do século XIX até os dias atuais (2ª parte)

BREVE HISTÓRIA DO DIAMANTE NO BRASIL
De finais do século XIX até os dias atuais (2ª parte)



No final do século XIX, um evento histórico relacionado ao mundo do diamante alterou drasticamente o panorama vigente. A descoberta das primeiras pedras na África do Sul, ocorrida em 1866, foi um divisor de águas neste cenário, pois o Brasil, que até então detinha a primazia da produção, foi suplantado após aproximadamente 150 anos de liderança.
Os anos seguintes ao achado africano marcaram um período de franco declínio da produção brasileira, que não deveu-se ao esgotamento de suas reservas, mas sim aos baixos teores dos depósitos, que eram intensamente lavrados com base em trabalho escravo, abolido no final do século XIX. Quando os primeiros diamantes provenientes da África do Sul alcançaram a Europa, por volta de 1870, Lisboa, outrora o principal centro de comercialização de mercadoria bruta, também já perdera importância, se comparada aos centros de lapidação de Amsterdã e Antuérpia.
Após o fim da denominada era brasileira na história do diamante, a região de Diamantina, em Minas Gerais, continuou sendo a principal fonte deste mineral no país, embora sua produção tenha se mantido em níveis relativamente baixos até o princípio dos anos 1960 quando, além das atividades dos garimpeiros autônomos e dos garimpos semi-mecanizados, empresas de mineração iniciaram a exploração das aluviões diamantíferas, utilizando o método de dragagem em larga escala, ao longo dos leitos do Rio Jequitinhonha e de seus afluentes. Esta região manteve-se hegemônica no país até meados dos anos 80 mas, atualmente, seus depósitos encontram-se relativamente próximos da exaustão.
Por outro lado, o Triângulo Mineiro alcançou projeção nacional, devido a sua produção significativa e por ser a região de ocorrência de grande parte dos maiores diamantes brasileiros encontrados na primeira metade do século XX, sobretudo nos domínios hidrográficos do rio Abaeté, nos municípios de Coromandel, Estrela do Sul, Tiros, Patos de Minas, Monte Carmelo, Abadia dos Dourados e Romaria. Atualmente, está em curso um projeto de identificação de kimberlitos nas regiões oeste e central do estado de Minas Gerais.
A produção de diamantes matogrossense ressurgiu no início do século XX com as descobertas ocorridas nas regiões de Poxoréo, que remontam à década de 20, e Nortelândia, Alto Paraguai e Arenápolis, entre o final da década de 30 e início dos anos 40. As atividades de garimpagem em aluviões dessas regiões continuaram, intermitentemente, durante as décadas seguintes e intensificaram-se a partir dos anos 70, no noroeste do estado, em Juína, e no sudoeste, nos municípios de Tesouro, Guiratinga, Alto Garças, Barra do Garças e Poxoréo, sendo, neste último, criada uma reserva garimpeira, em 1979. Nesta mesma década, a chegada de empresas de mineração, que passaram a prospectar diamantes sistematicamente na região, contribuíram para que a produção alcançasse maior relevância nos últimos 35 anos, convertendo Poxoréo em um importante centro produtor nacional.
Em Rondônia, junto à divisa com o estado do Mato Grosso, a reserva indígena Roosevelt apresenta grande potencial diamantífero. Como no Brasil as atividades de mineração em terras indígenas são ilegais, há uma expectativa por parte da etnia Cinta-Larga, das mineradoras e dos garimpeiros quanto a sua regulamentação, após conflitos ocorridos em 2004. Atualmente, há diversos kimberlitos no estado sendo pesquisados com vistas à implantação de empreendimentos de mineração, principalmente na promissora região de Pimenta Bueno, no leste do estado.
A produção de diamantes na região da Chapada Diamantina, no centro do estado da Bahia, teve seu esplendor na segunda metade do século XIX, quando as ocorrências de Lençóis, Andaraí, Palmeiras e Mucugê, na bacia do rio Paraguaçu, foram intensamente lavradas. As atividades de garimpagem diminuíram gradativamente no final do século XIX, até quase cessarem ao término da segunda década do século passado. A partir dos anos 80, várias garimpos entraram em atividade nos leitos dos rios situados no Parque Nacional da Chapada Diamantina e próximos dele. Por uma ação conjunta de entidades ligadas à mineração e ao meio ambiente, estes garimpos foram fechados em 1996.
Os diamantes foram descobertos em Roraima no início do século XX, inicialmente na região do rio Maú e, mais tarde, nos leitos dos rios Cotingo, Quinô e Suapí. Na década de 30, deu-se a descoberta do depósito da serra do Tepequém, próximo à divisa com a Guiana, que manteve-se como o mais importante do estado por longo tempo. No início da década de 60, ocorreu um declínio da produção, como resultado da impossibilidade de aplicação de métodos rudimentares aos já baixos teores das aluviões remanescentes. A partir dos anos 70, teve início a produção mecanizada e, em meados da década seguinte, foi criada a reserva garimpeira de Tepequém, fechada em 1989. Dois anos mais tarde, deu-se a criação do Parque Nacional dos Índios Ianomâmis, neste estado em que as questões indígenas e ambientais exerceram influência preponderante na produção.
Depósitos diamantíferos menos significativos foram descobertos nos séculos XIX e XX em diversas regiões do país, nos estados de Minas Gerais (Serra da Canastra e Presidente Olegário), Piauí (Gilbués e Monte Alegre), Paraná (Rio Tibagi), São Paulo (Franca), Mato Grosso do Sul (Aquidauana), Goiás (Israelândia e Araguatins), Pará (Itupiranga e Itaituba), Tocantins e outros.
Atualmente, o Brasil detém uma posição quase insignificante no mercado global de diamantes, respondendo por aproximadamente 1 % da produção mundial. O modo de ocorrência dos diamantes em todas as localidades brasileiras mencionadas é similar, sendo as gemas lavradas em depósitos secundários, sejam aluviões, eluviões, colúvios e/ou em metaconglomerados.
Embora no Brasil ocorram centenas de kimberlitos e lamproítos, as fontes primárias do diamante, a imensa maioria destes corpos rochosos é estéril ou apresenta teores insignificantes sob o ponto de vista econômico, de modo que, até onde sabemos, toda a produção ainda é oriunda de depósitos secundários. Os corpos mineralizados conhecidos ocorrem, assim como em todo o mundo, em regiões estáveis a pelo menos 1,5 bilhões de anos e, no Brasil, estão associados a lineamentos estruturais, embora não seja esta uma premissa em termos mundiais. Em nosso país, a proporção entre as pedras para uso em joalheria e as destinadas à indústria é muito variável segundo a origem, sendo o percentual de diamantes-gema na região da Serra do Espinhaço (MG) o mais alto do país, superior a 80 %, uma das maiores médias mundiais.
Quanto à gênese, a teoria mais aceita hoje em dia é a de que os diamantes encontrados nos depósitos secundários brasileiros derivaram de fontes primárias de idade pré-cambriana, em alguns casos originalmente localizadas a centenas de quilômetros da região onde hoje são encontrados os diamantes, que teriam sido transportados e distribuídos por eventos glaciais. A título de curiosidade, cabe mencionar que evidências sugerem que os diamantes de algumas ocorrências, como as da região de Franca (SP) e do rio Tibagi (PR), sejam oriundos, em parte, do continente africano, evidentemente formados antes da separação continental América do Sul / África.
Desde os anos 60, diversas empresas de mineração vêm atuando na prospecção sistemática por fontes primárias e secundárias de diamante em várias regiões do país que, descobertas e comprovadas viáveis, resultarão na renovação dos meios de produção, com os métodos empregados na atividade de garimpagem sendo gradativamente substituídos pelas operações mecanizadas de lavra e beneficiamento.
Fontes

BREVE HISTÓRIA DO DIAMANTE NO BRASIL Da descoberta até finais do século XIX (1ª parte)

BREVE HISTÓRIA DO DIAMANTE NO BRASIL
Da descoberta até finais do século XIX (1ª parte)



A Índia foi a única fonte importante de diamantes do oitavo século antes de Cristo, quando surgem as primeiras referências a esta gema, até a sua descoberta no Brasil, no início do século XVIII, sendo a ilha indonésia de Bornéu uma fonte pouco relevante a partir do século VII.
Não há consenso quanto à data e local exato da descoberta de diamantes no Brasil, bem como de quem pela primeira vez o encontrou ou determinou sua verdadeira natureza. Normalmente, se aceita a tese de que a descoberta oficial ocorreu em 1725, embora alguns historiadores assegurem que o achado se deu ainda no final do século XVII, nas proximidades do antigo Arraial do Tijuco, hoje Diamantina, estado de Minas Gerais.
Consta que os primeiros exploradores que desbravaram as matas em busca de ouro ao longo do rio Jequitinhonha (MG) e de seus afluentes encontravam pedras brilhantes no fundo de suas bateias e, sem saber que se tratavam de diamantes, as empregavam como tentos em jogos de cartas, até que um sacerdote, que estivera na Índia, as teria reconhecido.
Há uma versão segundo a qual os primeiros diamantes teriam sido encontrados por Francisco Machado da Silva e sua esposa Violante de Souza, em 1714; outra credita a descoberta a Bernardino Fonseca Lobo, enquanto alguns historiadores a atribuem ao português Sebastião Leme do Prado, que residira em Goa, uma possessão lusitana situada na costa oeste da Índia.
O fato é que a notícia da descoberta e a chegada dos primeiros diamantes brasileiros a Lisboa levaram a Coroa Portuguesa a empreender uma busca desenfreada pelo precioso mineral ao longo dos leitos, margens e áreas próximas dos rios da região, utilizando numerosa mão-de-obra escrava e métodos rudimentares.
A descoberta teve enorme impacto na Europa, salientado pelo fato de que, à época, os depósitos aluvionares indianos encontravam-se quase esgotados. Para evitar que grandes quantidades fossem exportadas para este continente e ocorresse uma queda abrupta dos preços, prejudicando aqueles que até então detinham a primazia do comércio, disseminou-se na Europa a falsa notícia de que as pedras oriundas do Brasil seriam diamantes indianos de baixa qualidade, exportados de Goa para nosso país e daqui para a Europa. Os portugueses se viram, então, forçados a transportar as pedras brasileiras para Goa, de onde eram enviadas para a Europa como diamantes indianos, cuja boa reputação era inquestionável.
Durante o período colonial, a exploração de diamantes foi monopólio da Coroa Portuguesa, com regulamentação e fiscalização rigorosas, mas insuficientes para impedir o contrabando, gerado pela taxação excessiva e dificuldade no controle do enorme fluxo de garimpeiros à região produtora.
Às descobertas em Diamantina, seguiram-se outras no estado de Minas Gerais, sobretudo na região do Rio Abaeté (Triângulo Mineiro), em 1728, por mineradores que, clandestinamente, prospectavam pedras e ouro, apesar da proibição da Coroa Portuguesa. Mais tarde, esta região se tornaria célebre pela ocorrência dos maiores diamantes já encontrados no país. Em 1827, foram encontrados diamantes também na localidade de Grão Mogol, situada ao norte de Diamantina.
Acredita-se que os diamantes foram descobertos na região da Chapada Diamantina, no centro do estado da Bahia, por volta de 1839, inicialmente na localidade de Mucugê e, posteriormente, em Lençóis, Andaraí e Palmeiras, na bacia do rio Paraguaçu. Estas ocorrências foram intensamente lavradas, levando opulência aos comerciantes da região, mas os trabalhos foram diminuindo gradativamente no final do século XIX, até quase cessarem com a Depressão Mundial, na segunda década do século XX.
A ocorrência de diamantes em garimpos de ouro no Mato Grosso já era conhecida desde meados do século XVIII, onde foram descobertos na localidade de Diamantino, situada a noroeste de Cuiabá. No entanto, a dificuldade de acesso e a proibição de prospecção pela Coroa Portuguesa fizeram com que estas e outras regiões do estado só viessem a ser exploradas em meados do século seguinte. Ocorrências de diamante, neste período, nos estados de São Paulo (regiões de Franca e São José do Rio Pardo) e Paraná (Rio Tibagi) também são dignas de nota.
O Brasil supriu o mercado mundial durante aproximadamente 150 anos, desde sua descoberta, em 1725, até alguns anos após o achado de diamantes na África do Sul, ocorrido em 1866, quando foi então suplantado pela produção africana, o que alterou completamente o panorama mundial desta gema. É provável que esta seqüência de eventos, caracterizados por descobertas de novas fontes quando as antigas declinavam, que muitos atribuem à casualidade, deva-se, de fato, às forças econômicas.
Apesar da precariedade dos dados de produção, estima-se que tenham sido extraídos aproximadamente 13 milhões de quilates de diamantes no Brasil, no período compreendido entre a sua descoberta, em 1725, e o final do século XIX. Acredita-se que a imensa maioria destas pedras tenha sido de qualidade gema, uma vez que, na época, a demanda por diamantes para fins industriais era muito reduzida. Deste montante, supõe-se que cerca de 5,5 milhões teriam sido extraídos da região de Diamantina, 3,5 milhões da Bahia e 1,5 milhões de outras regiões de Minas Gerais, sendo os 2,5 milhões restantes roubados ou contrabandeados para fora do país. O autor do artigo não dispõe de informações a respeito da produção histórica dos estados de Mato Grosso, São Paulo e Paraná no período.
Fontes

DENSIDADE RELATIVA 2ª Parte

DENSIDADE RELATIVA




2ª Parte – Conceito e Determinação pelo Método dos Líquidos Densos
Um importante método para obter-se um valor aproximado da densidade relativa das gemas é o denominado método dos líquidos densos ou pesados.
Este método consiste em introduzir-se a gema a ser testada em um recipiente, usualmente um béquer, que contenha um líquido de peso específico conhecido. Caso a densidade relativa (DR) da pedra seja maior que a do líquido, ela obviamente afundará, ao passo que, se for menor, a gema flutuará. Caso líquido e pedra possuam o mesmo peso específico, esta permanecerá em suspensão, sem afundar nem flutuar. Efetuando sucessivos ensaios, isto é, imergindo a pedra em diferentes líquidos e observando seu comportamento, pode-se determinar os limites entre os quais oscila seu peso específico, o que muitas vezes é suficiente para identificá-la. Com alguma prática, é possível estimar-se a DR com razoável precisão pela simples observação das velocidades de descida ou subida da gema colocada em um determinado líquido denso.
Os principais líquidos pesados utilizados em gemologia são o bromofórmio (composição CHBr3; DR = 2,89), o iodeto de metileno (composição CH2I2; DR = 3,32) e a solução de Clerici (solução aquosa de sais de tálio; DR = 4,15).
Recomenda-se manusear estes líquidos em local ventilado, utilizando máscaras anti-inalantes e luvas durante os ensaios, tendo em vista sua elevada toxicidade, sobretudo a solução de Clerici, que é muito venenosa. Como os líquidos densos são voláteis e escurecem com o tempo, devem ser mantidos hermeticamente fechados e protegidos da ação da luz. É aconselhável ainda colocar plaquetas de cobre nos frascos onde são guardados o bromofórmio e o iodeto de metileno, pois este elemento reage com o iodo e o bromo livres, evitando a decomposição e o escurecimento dos líquidos.
Os exemplares a serem ensaiados devem ser puros, isto é, não podem estar misturados com outras espécies minerais. Antes de cada ensaio, as gemas e a pinça devem ser lavadas, preferencialmente com benzeno (caso se utilize bromofórmio ou iodeto de metileno). Todas as pedras que flutuarem em um líquido denso devem ser tocadas levemente com uma pinça para assegurar-se de que elas realmente têm DR menor que a do líquido, pois, eventualmente, elas possuem peso específico maior que a do fluido, mas não afundam devido à tensão superficial deste. Quando a temperatura ambiente estiver muito alta, é recomendável trocar a água a intervalos de tempo regulares para manter a acuidade dos resultados.
Cada pessoa pode preparar um conjunto de líquidos densos mais adequado às suas necessidades, levando em consideração as gemas com as quais lide com mais freqüência. Este conjunto normalmente é constituído dos citados líquidos, tanto puros quanto diluídos com outros de menor densidade relativa. A prática tem demonstrado que, de modo geral, o conjunto mais útil consiste dos seguintes líquidos densos:
1. Bromofórmio diluído a 2,65 (DR do quartzo);
2. Bromofórmio diluído a 2,71 (DR do berilo);
3. Bromofórmio puro (DR = 2,89);
4. Iodeto de metileno diluído a 3,06 (DR das turmalinas verde ou rosa);
5. Iodeto de metileno puro (DR = 3,32);
6. Solução de Clerici diluída 3,52 (DR do diamante);
7. Solução de Clerici diluída a 4,00 (DR do coríndon, isto é, rubi e safira).
Por serem hidrocarbonetos, o bromofórmio e o iodeto de metileno não são miscíveis em água, devendo ser diluídos com os solventes tolueno (composição C6H5CH3; DR = 0,86), benzoato de benzila (DR = 1,17) ou monobromonaftaleno (composição C10H7Br; DR = 1,49). No caso da solução de Clerici, o solvente a ser utilizado é a água destilada; não se pode usar água corrente, pois esta tornaria a solução turva.
Entre as inúmeras aplicações deste método, destacamos a distinção entre o diamante (DR = 3,52) e a moissanita sintética (DR = 3,32), utilizando-se os líquidos 5 ou 6; entre o diamante (DR = 3,52) e a zircônia cúbica (DR variável entre 5,50 e 5,90), empregando-se os líquidos 6 ou 7; entre a água-marinha (DR = 2,71) e o topázio azul (DR = 3,56) ou o espinélio azul sintético (DR = 3,65), com auxílio dos líquidos 2, 3, 4, 5 ou 6; entre o olho-de-gato (crisoberilo, DR = 3,73) e o quartzo olho-de-gato (DR = 2,65), utilizando-se os líquidos 1, 2, 3, 4, 5 ou 6; entre o citrino (DR = 2,65) e o topázio amarelo (DR = 3,52), empregando-se os líquidos 1, 2, 3, 4, 5 ou 6.
Embora o método dos líquidos densos seja quase sempre utilizado para obter-se apenas um valor aproximado da densidade relativa de uma gema, pode igualmente ser empregado para determinações precisas. Neste caso, deve-se introduzir a pedra no líquido denso e diluí-lo muito lentamente, gota a gota, misturando-o continuamente com um bastonete de vidro, até que a gema permaneça em equilíbrio no líquido, isto é, não flutue nem afunde, momento no qual ambos terão a mesma densidade relativa. O passo seguinte será determinar o peso específico do líquido, o que pode ser feito de diversas maneiras. A mais simples é a que utiliza um jogo de indicadores (minerais ou vidros de pesos específicos conhecidos, oferecidos por fabricantes de instrumentos gemológicos), mas também pode-se efetuar tal determinação por meio de um picnômetro, um hidrômetro ou uma balança de Westphal, itens que raramente estão ao alcance de gemólogos, comerciantes ou joalheiros.
As principais vantagens do método dos líquidos densos são a simplicidade do procedimento (no caso de estimativas e não no das medições precisas, como vimos acima) e a possibilidade de ensaiar diversas gemas simultaneamente, inclusive aquelas de tamanhos muito reduzidos, o que não ocorre quando se emprega o método hidrostático.
As principais desvantagens do método dos líquidos densos são o fato de que estes líquidos são tóxicos, caros e voláteis; ocorre um razoável e inevitável desperdício de líquidos, tornando o método ainda mais dispendioso; há dificuldade em ensaiar gemas demasiadamente grandes e não se deve testar gemas porosas, tais como opala ou turquesa, pois elas podem reter algum líquido e, por este motivo, ter suas cores alteradas. Além disso, no caso de determinações precisas, o método é lento e relativamente complicado.
Um importante fator restritivo, não apenas do método dos líquidos densos, mas de qualquer outro para determinação da densidade relativa, é a impossibilidade de ensaiar gemas cravadas.