sábado, 8 de agosto de 2015

Prefeitura de Coromandel apóia reabertura dos garimpos

Prefeitura de Coromandel apóia reabertura dos garimpos


A prefeitura de Coromandel vai apoiar todas as iniciativas para a reabertura dos garimpos no município. A parceria com as cooperativas para a realização de pesquisas é uma delas.
No último sábado, uma equipe da CPRM – Companhia de Pesquisas e Recursos Minerais, autarquia ligada ao DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral, esteve na região de Santo Inácio para apresentar o Projeto Diamante Brasil – uma pesquisa que tem o objetivo de informar e dimensionar as áreas de cavas na região. Este é um projeto piloto que conta com a parceria da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Mineração e também da COOPERGAC – Cooperativa de Garimpeiros de Coromandel. O projeto tem como meta integrar as características da geologia do diamante incluindo fontes primárias e secundárias. Outra vertente do projeto diz respeito à discussão geológica dos garimpos de diamante, que ainda desempenham um papel de destaque na economia brasileira e possuem importante valor histórico. Para o coordenador responsável pelo projeto Diamante Brasil, geólogo Valdir Silveira, as pesquisas desenvolvidas são importantes para todas as esferas da sociedade. “É fundamental gerar dados na área de diamantes para fomentar pesquisas por empresas do setor e também suprir o governo com informações sobre o tema”, diz. O processo de execução é desempenhado por técnicos da CPRM situados nas regiões diamantíferas. A equipe responsável pelo trabalho nessas áreas conta com técnicos capacitados e até mesmo consultores internacionais especializados no tema. O prazo de entrega era previsto para o final de 2010, porém, devido a algumas pesquisas específicas, poderá estender- se até 2014. (Fonte: CPRM)
Uma das metas do projeto é realizar um banco de dados de ocorrências diamantíferas no Brasil e vinculá-lo a pólos produtores, distritos e províncias diamantíferas. Haverá um banco físico com amostras de rochas e gemas que serão caracterizadas. Além disso, todos esses dados também estarão disponíveis no Geobank da CPRM para consulta pública.
O presidente de honra da COOPERGAC, Dario Machado Rocha afirmou que esperava por esse momento há doze anos. “A iniciativa vai trazer dignidade para os pequenos garimpeiros de Coromandel”, disse Dario.
A contrapartida da cooperativa é o trabalho. O Projeto Diamante Brasil é executado com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Garimpeiros de Coromandel recuperam 180 diamantes em Israel

Garimpeiros de Coromandel recuperam 180 diamantes em Israel

Garimpeiros de Coromandel recuperam 180 diamantes em Israel
Uma hora da tarde em Israel. Darío Machado Rocha, 51 anos, e três colegas garimpeiros de Coromandel, uma cidade de 27 mil habitantes no interior de Minas Gerais, estão diante do suntuoso prédio de vidro da Bolsa de Diamantes em Tel Aviv.

Eles Tomaram um avião pela primeira vez na vida - a não ser Darío - para uma missão inédita: negociar 445 quilates de diamantes diretamente no mercado internacional. Sonham receber US$ 80. milhões  pelas 180 pedras. Mas não imaginam que as gemas ficarão retidas ali por um ano, num longo e tortuoso processo que, no entanto, está prestes a terminar em final feliz.

A viagem ao exterior foi marcada após a audaciosa decisão da Cooperativa de Garimpeiros da Região de Coromandel (Coopergac) - que reúne 135 trabalhadores do Alto do Paranaíba, na divisa com Goiás - de atuar diretamente no mercado internacional de diamantes, sem a participação de intermediários. Estavam atentos às graúdas possibilidades de um comércio que movimenta US$ 100 bilhões por ano.

A saga para exportar os dois lotes de diamantes a Israel começou há um ano, quando os quatro fizeram as malas e tomaram o voo, com as 180 pedras a bordo. Entre elas, uma gema rara, cor-de-rosa, de 3,89 quilates, do tamanho de um grão de feijão.

Apenas Darío se virava no inglês. Nem o duro interrogatório da imigração israelense foi capaz de desanimar os vendedores. Numa sala fechada, mostraram e comprovaram a origem legal de suas mercadorias, por meio do certificado Kimberley - sistema criado no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) para garantir a origem legal das pedras e evitar o comércio internacional dos "diamantes de sangue" (Leia mais ao lado).

O procedimento dos agentes israelenses intimidaria qualquer um, mas valia a pena. Israel é um dos mais importantes centros de comercialização e lapidação de diamantes do mundo, e ali esperavam receber pelas pedras brutas 40% a mais do que conseguiriam no desaquecido mercado nacional. Só não sabiam ao certo qual seria a cifra.

Um acordo prévio havia estabelecido que a avaliação das gemas seria feita na própria corretora israelense, sediada num escritório dentro da Bolsa de Diamantes de Israel - um complexo de quatro suntuosos arranha-céus de vidro, conectados por pontes internas, em Tel Aviv. Ao verem aquelas torres e grandiosas, lembraram do garimpo. "Olha onde nós chegamos, os garimpeiros de Coromandel", pensou emocionado um dos integrantes do grupo, Wanderson Mendes de Souza, 23 anos. Registraram o momento em fotografias e seguiram pela rígida segurança do prédio da bolsa.

Além de receber pelo diamante bruto, os garimpeiros dividiriam com os parceiros israelenses o valor agregado na venda após a lapidação. Tudo indicava que seria um bom negócio. O contato inicial havia sido feito através de conhecidos, na base da confiança, que caracteriza esse tipo de transação. A primeira exportação direta, através da mesma corretora, havia sido um sucesso, embora o valor fosse bem menos expressivo - US$ 14 mil.

Vitória maior haviam alcançado em 2009, quando negociaram na Bolsa de Diamantes da Antuérpia, na Bélgica, a maior do planeta: 44 quilates vendidos por US$ 350 mil. A diferença agora é que, pela primeira vez, eram os garimpeiros os portadores da mercadoria, e não os estrangeiros que vinham buscá-las no Brasil.

No escritório da corretora, eles ficaram otimistas com a avaliação das primeiras cinco pedras. Mas depois de uma ligação em hebraico, eles contam, os preços começaram a despencar. A maior decepção foi o valor oferecido ao diamante rosa de 3,89 quilates. "Queriam pagar US$ 4.850, um preço de banana, enquanto nossa expectativa era de US$ 250 mil", diz Darío, uma das lideranças da Coopergac. "Eu 'nasci os dentes' no garimpo e sei muito bem que aquele preço era de total má-fé", afirma.

Seria óbvio pensar que, naquele momento, os quatro deveriam ter feito as malas e trazido os diamantes de volta ao Brasil. O fato é que ficaram numa saia-justa: se carregassem as pedras, estariam praticando formalmente uma espécie de contrabando. "Tínhamos todos os documentos para exportar os diamantes, mas não para trazê-los de volta ao Brasil", explica Darío. Com isso, tiveram que desapegar-se das gemas, transferidas para a duvidosa custódia da corretora em Tel Aviv.

Foi esse o começo de um sufoco que parecia não ter fim. Nos longos meses de negociação, segundo relatos de pessoas independentes envolvidas no processo, a corretora israelense negava-se a mostrar as pedras a outros interessados, e chegou a ameaçar lapidar as gemas - para total desespero dos 135 garimpeiros, que, em maior ou menor quantia, ganhariam com o empreendimento.

O maior aperto foi quando a corretora anunciou que havia vendido o diamante cor-de-rosa, o maior e mais valioso, a um comprador espanhol, supostamente por US$ 85 mil. Acrescentaram que pagariam apenas US$ 45 mil aos originais vendedores, pois descontariam os custos que tiveram no processo.

Foi esse o alerta final. Os garimpeiros acionaram quem podiam. Com a ajuda de especialistas no Processo Kimberley, chegaram ao presidente da Bolsa de Diamantes de Israel - o experiente empresário Avi Paz, descendente de uma tradicional família de comerciantes dessas pedras preciosas na Rússia e na Bélgica. Paz sugeriu que o caso fosse levado a uma arbitragem internacional e, pela primeira vez, os dois lados entraram em um acordo.

A arbitragem funcionou como uma espécie de conciliação, liderada por dois árbitros - um indicado por Paz e outro pelo presidente da bolsa de diamantes da Antuérpia. As duas partes sentaram-se frente a frente, sem a presença de advogados. A corretora israelense representada por um sócio.

A cooperativa brasileira, por Darío e Wanderson - que mais uma vez desembarcaram na moderna Tel Aviv. Uma integrante da embaixada do Brasil em Israel traduzia as negociações em hebraico. A decisão de três parágrafos, com força de sentença, foi publicada em novembro, num desfecho considerado satisfatório.

O valor da pedra rosa foi o principal assunto em discussão. Os árbitros determinaram que a corretora israelense pagasse US$ 180 mil aos garimpeiros. O empresário e gemólogo holandês Mike Angenent, que se dedica ao comércio justo de pedras preciosas, participou do processo como observador.

"Um avaliador convocado pelos árbitros declarou que não havia dúvidas de que a pedra era um rosa intenso, e não um rosa claro, o que significa um incremento de cerca de US$ 100 mil no valor", explica Angenent.

A cooperativa recebeu o total estipulado na sentença. Os custos da arbitragem foram divididos entre as duas partes. A história se completa com o envio das outras pedras ao Brasil. Há cerca de 15 dias elas aguardam apenas o desembaraço no aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, para voltar às merecidas mãos dos garimpeiros.

Ao comentar o primeiro conflito em suas transações diretas ao mercado internacional, os integrantes da Coopergac não escondem um certo constrangimento com algumas falhas de percurso. A avaliação das pedras, sobretudo, deveria ter sido feita no Brasil.

"Toda aprendizagem tem um custo", contenta-se Darío, que, ao seguir a profissão de sua família, também se preocupou em ir além. Formou-se em comércio exterior, especializou-se em São Paulo, estudou inglês e elegeu-se vereador. "Falar é fácil, fazer é que é difícil", diz.

Tudo isso lhe rendeu conhecimento e trânsito nos diversos níveis empresariais e de governo. A Coopergac se tornou uma das cooperativas mais ativas do mundo na discussão do processo Kimberley.

Tanto é que, em novembro de 2007, ao comparecer à plenária do processo em Bruxelas, na Bélgica, Darío e seus amigos mereceram aplausos de representantes de 45 países, por serem os únicos representantes de garimpeiros no encontro, ao lado de colegas de Diamantina, também em Minas Gerais.

"Hoje eles são considerados um exemplo mundial", atesta João César de Freitas Pinheiro, diretor de Planejamento e Desenvolvimento da Mineração do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) - órgão responsável por assegurar o cumprimento do Processo Kimberley no Brasil.

Ao avaliar a experiência, Darío diz que o saldo é positivo. "Estivemos pessoalmente com o presidente da Bolsa de Diamantes de Israel, que nos abriu as portas", conta. "E isso não é para qualquer um." Os garimpeiros revelam que seus planos agora incluem insistir no mercado israelense e negociar diamantes já lapidados, ganhando com o valor agregado.

E quanto às gemas que chegaram ao Brasil? O conflito em Israel caiu na boca do mercado e lançou holofotes sobre o trabalho da cooperativa. Notícias correm pra todos os lados sobre as 180 pedras claras, coloridas, de todo tamanho, dos garimpeiros de Coromandel. "Já tem muito comprador interessado", garante Darío.

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Garimpeiros de diamantes de Coromandel (MG) foram expulsos

Garimpeiros de diamantes de Coromandel (MG) foram expulsos


É cada vez maior o número de magnatas ou prepostos de magnatas que investe no subsolo brasileiro. Olacyr de Moraes, Eike Batista, Daniel Dantas, Gilberto Miranda, Naji Nahas são alguns deles. Não sei é possível avaliar o subsolo brasileiro. Só Olacyr afirma que suas reservas de minérios raros, na Bahia, valem 30 bilhões de dólares.
A tendência em ocupar o subsolo se acentuou quando uma pequena mudança na legislação, em 1995, no governo Fernando Henrique Cardoso permitiu a entrada de investimentos estrangeiros na mineração, desde que formassem uma empresa localizada e administrada em solo brasileiro.
Desde então também se acentuam os conflitos no campo, não por terra, mas pelo subsolo, com derrota dos garimpeiros brasileiros diante do poder econômico do capital multinacional. E de pequenos proprietários cujas terras são invadidas por detentores de licenças de pesquisa, muitas vezes sem receber a contrapartida estipulada em lei. Reforma agrária do subsolo, pedem algumas cooperativas de mineradores desalojados, que estão prestes a organizar um Movimento dos Sem Subsolo.
Uma pesquisa comandada pelos professores Ricardo Júnior de Assis Fernandes Gonçalves Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Goiás e Marcelo Rodrigues MendonçaProfessor Doutor do Programa de Graduação e Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás mostra como os garimpeiros de diamantes de Coromandel, em Minas Gerais, sucessores de trabalhadores instalados desde o início do século XIX na região foram afastados desde que o governo concedeu a empresas transnacionais licenças de pesquisa baseadas na legislação de 1995.
“Nossa região (Coromandel e Abadia dos Dourados) abriga mais de três mil garimpeiros, pais de família que tiram o seu sustento do garimpo. E, infelizmente, estão impedidos de exercer legalmente o seu trabalho porque o subsolo é da União e ela própria concedeu licenças de pesquisas a um pequeno grupo de especuladores (na maioria estrangeiros associados a vendilhões brasileiros)” informa um garimpeiro ao jornal “Garimpando Noticias”, citado no estudo.
Em abril de 2005 a Câmara Municipal, motivada pela atuação política de vereadores que se envolveram com o movimento garimpeiro expediu o título de “Juditio Persona Non Grata” à Sam Sul Mineração Ltda., “pelos malefícios causados à Sociedade Coromandelense face a posse de 35.000 hectares de direitos de exploração do subsolo, impedindo o desenvolvimento regular da atividade garimpeira e por não contribuir em nada para o desenvolvimento do município”

Rio Tinto encontra o maior diamante rosa bruto da Austrália

Rio Tinto encontra o maior diamante rosa bruto da Austrália


Diamante Rosa
O diamante recebeu o nome de The Argyle Pink Jubilee

Londres - O grupo de mineração Rio Tinto encontrou um raríssimo diamante rosa bruto de 12,76 quilates na mina de Argyle, o maior já descoberto na Austrália.
Mais de 90 por cento dos diamantes rosas brutos vêm da mina de Argyle, na região de East Kimberley, Oeste australiano.
O diamante recebeu o nome de The Argyle Pink Jubilee e é similar ao The Williamson Pink, que a rainha Elizabeth recebeu de presente de casamento e depois usou na coroação dela, em um broche.
Richard How Kim Ka, que trabalha no polimento de diamantes para a Argyle há 25 anos, já começou a trabalhar na pedra em Perth, na Austrália.
Após dois meses de cuidadoso planejamento, o artista vai levar dez dias para cortar e polir a pedra.
"Vou fazer com muito cuidado. Sei que o mundo estará vendo", afirmou.
Quando já estiver cortado e polido, o diamante passará pela avaliação de especialistas e será divulgado no mundo todo antes de ser vendido com outros diamantes rosas da Argyle, ainda neste ano.
"Este raro diamante está gerando uma excitação inacreditável", declarou Josephine Johnson, responsável pelos diamantes rosas da Argyle.
"Um diamante deste calibre é sem precedentes. Foram necessários 25 anos de trabalho na Argyle para encontrar esta pedra, e talvez nunca mais vejamos uma igual", acrescentou.
Grandes diamantes rosas geralmente vão para museus, viram presentes na realeza ou acabam em casas de leilão como a Christie's.
Em 244 anos de existência, a Christie's leilou 18 diamantes rosas polidos com mais de 10 quilates.

Sobre mineração e sustentabilidade

Sobre mineração e sustentabilidade

Em sua coluna de julho, o biólogo Jean Remy Guimarães aborda o interesse renovado pelo garimpo do ouro na Amazônia. O material desprezado por garimpeiros há 20 anos é agora retrabalhado por meio de processo altamente agressivo ao meio ambiente.

Sobre mineração e sustentabilidade
Com a subida do preço do ouro, a atividade mineradora ganha novo fôlego. Áreas exploradas na Amazônia na década de 1980 voltam a dar lugar aos mineiros, afetados diretamente pelos elementos tóxicos envolvidos na extração de metais. (montagem: C. Almeida)
A mineração é, por natureza, atividade não sustentável. Vive da extração de minerais cujos estoques são finitos. Uma vez exauridos, a única opção será reciclar os metais já extraídos.
Na maior parte dos casos, busca-se extrair um elemento valioso que está presente no minério em teores de gramas por tonelada. Para chegar ao minério, é necessário remover quase tudo o que há no caminho e achar onde botar tudo isso. O lugar designado para tal é adequadamente chamado de bota-fora. É nele que se descartam montanhas de material processado, rebaixado agora ao termo ‘estéril’.
No caso da mineração de ouro, por exemplo, gera-se cerca de uma tonelada de estéril para se obter três gramas do precioso metal. Dependendo de seu teor de água, o estéril é empilhado ou recolhido em bacias de decantação, cujos diques teimam em sofrer infiltração ou, pior, rompimento, geralmente em época de chuva.
Já as pilhas de estéril causam outro problema, a drenagem ácida. Os minérios são frequentemente ricos em enxofre, que forma sulfatos, combustível das bactérias sulfato-redutoras, cuja atividade incessante gera ácido sulfúrico. O chorume formado nessas pilhas de estéril pode ter acidez suficiente para matar dezenas de quilômetros da bacia de drenagem a jusante.
Chorume
Os resíduos da atividade mineradora são, em geral, empilhados ou recolhidos em bacias de decantação. O chorume formado nessas pilhas é extremamente ácido e nocivo ao meio ambiente.
Falei em teor de água. Água de onde e para quê? Água de onde houver, em quantidade, para processar o minério moído, que se torna, assim, uma polpa, que pode ser bombeada, agitada e misturada homogeneamente com reagentes diversos. O fato de certas frações da polpa serem mais leves ou hidrofóbicas permite também removê-las por flotação, um processo parecido ao que se faz na cozinha com uma escumadeira.
Caramba, ainda não extraímos quase nada e já ocupamos uma área enorme com material inservível para agricultura e geralmente inadequado para construção, e transformamos rios de água em rios de lama. E, por enquanto, falamos mais da física do que da química e da toxicologia do processo.

Amalgamação e cianetação

Seguindo com nosso exemplo do ouro: há vários processos para sua extração, mas os mais usados são a amalgamação com mercúrio metálico e a cianetação. O mercúrio é um elemento muito peculiar, líquido e pouco volátil à temperatura ambiente, condutor, e capaz de dissolver outros metais.
Entre muitos outros usos, essas propriedades permitem fazer obturações dentárias baratas e duráveis – misturando-se mercúrio, prata e cobre – e também extrair ouro fino de solos e sedimentos. Depois de amalgamado com o ouro e a prata ali contidos, o mercúrio é removido por aquecimento.
Naturalmente, isto pode gerar grave exposição ocupacional e injeta vapor de mercúrio na atmosfera, que pode se dispersar por grandes distâncias. Também gera quantidade expressiva de material contaminado com mercúrio metálico. Embora simples e barato, esse processo não consegue remover mais de 30% do ouro.
Para aumentar o rendimento da extração, seus efluentes são frequentemente submetidos à cianetação. O cianeto é bem menos conversável do que o mercúrio. Pequenas bobeiras no seu uso podem gerar vapores fatais, e sua liberação em corpos d’água transforma-os em desertos por dezenas de quilômetros. Sua toxicologia é, digamos, mais rápida e objetiva.

De draga em draga

Mas foi o processo de amalgamação que sustentou a corrida do ouro na Amazônia brasileira durante os anos 1980. Concentrada nos rios Madeira e Tapajós, essa corrida produziu cerca de 100 toneladas anuais de ouro e a liberação de quantidade equivalente de mercúrio em solos, águas e atmosfera, além de causar assoreamento de rios e modesto desmatamento.
A corrida do ouro na Amazônia produziu cerca de 100 toneladas anuais de ouro e a liberação de quantidade equivalente de mercúrio em solos, águas e atmosfera
Durante uma década, o garimpo de ouro ocupou um milhão de garimpeiros, gastou mais carpete do que a construção civil e foi o principal consumidor de motores diesel e de popa do país.
No rio Madeira, grandes dragas e balsas foram improvisadas com flutuadores de todo tipo, dos barris de óleo amarrados uns aos outros aos grandes cilindros metálicos encomendados em pequenas metalúrgicas. Cobertos com piso de madeira e lona, abrigavam equipes de quatro a seis pessoas, que trabalhavam, comiam e dormiam a bordo e se deslocavam ao sabor do teor de ouro no sedimento do rio.
Em pontos mais atraentes, as dragas e balsas se acotovelavam tornando quase possível a travessia do rio sem molhar os pés, pulando de draga em draga. Armazéns, bordéis, restaurantes, postos de venda de gasolina, diesel e mercúrio eram flutuantes e tão móveis quanto os seus clientes.
Já no Tapajós e em Serra Pelada, o garimpo era de terra firme e deixava marcas mais visíveis, como as grandes cavas empapadas de água. Por que esse cenário épico não foi tema de algum filme à la Fitzcarraldo, de Werner Herzog, é uma pergunta que não quer calar.
Em plena crise inflacionária oficial, essa economia paralela, porém muito concreta, era regida pelo ouro e os estabelecimentos não tinham caixa registradora, mas sim balanças de precisão. Uma cerveja ou maço de cigarro, 1 grama de ouro. Um programa, 2 gramas, e assim por diante.
Uma cerveja ou maço de cigarro, 1 grama de ouro. Um programa, 2 gramas, e assim por diante
Tudo isso era ilegal, já que ninguém tinha autorização de lavra, só de prospecção, e o uso de mercúrio no garimpo não era autorizado. Mas com 100 toneladas anuais de ouro, quem vai se importar, não é mesmo? E as 100 toneladas anuais de mercúrio? Eram importadas, já que não temos jazidas desse metal multiuso no Brasil. Importadas para “uso odontológico” ou “usos não especificados”. Haja obturação, mas ninguém estranhou.

O garimpo voltou

Mas aí a queda brusca do preço do ouro fez ‘tcham’, o plano Collor fez ‘tchum’ e a partir de 1990 a atividade garimpeira desabou, assim como a visibilidade do tema. Mas nada é para sempre, a não ser a morte e a extinção. Os preços do ouro vêm subindo forte nos últimos anos. O garimpo voltou. Não à ribalta, mas às ribeiras.
Todo mês alguma draga é abalroada no Madeira por um barco de passageiros ou uma balsa de transporte. Não tem onde reclamar, afinal, não deveriam estar ali. Mas no garimpo há trabalho, come-se carne e pode-se sonhar com riqueza num pais ainda campeão de desigualdade.
E assim, com a subida da cotação do ouro, o estéril de ontem virou matéria-prima. No Tapajós, o material desprezado pelos garimpeiros de 20 e poucos anos atrás é agora retrabalhado com cianetação. Sem alarde midiático nem documentário da BBC.
No Madeira, grandes hidrelétricas estão em construção no trecho que sofreu garimpo nos anos 1980 e só no futuro saberemos que efeito isso terá sobre os níveis de mercúrio em peixes, nas próprias represas e rio abaixo.
No Peru, a região de Madre de Dios é cenário de uma corrida do ouro localizada, mas muito intensa, em áreas cuja drenagem flui para o nosso pais. E todas as áreas auríferas estão em exploração crescente, no mundo todo, e novos projetos se multiplicam.
Mercúrio
Líquido, pouco volátil à temperatura ambiente e capaz de dissolver outros metais, o mercúrio tem sido usado na extração do ouro. O governo do Amazonas acaba de autorizar o seu uso nos garimpos do estado, a despeito dos efeitos altamente nocivos. (foto: Wikimedia Commnos)
No Brasil, o governo do estado do Amazonas deu sua contribuição ao debate autorizando o uso de mercúrio nos garimpos do estado, quando muitos visitantes da Rio+20 não haviam ainda feito as malas. Só saiu em versões on-line de alguns jornais.
Mas não se preocupe, será exigido um relatório de impacto ambiental. Difícil vai ser o preenchimento do quadro “local da atividade”. Afinal, não há espaço suficiente no formulário para escrever “onde houver ouro, num trecho de 900 quilômetros do rio Madeira, a partir da divisa do estado, e em afluentes no mesmo trecho”. E tudo isso só faz algum sentido, se fizer algum, caso haja alguma presença do estado nos locais em questão.
Algo me diz que não vai ser o caso. Vamos acabar sendo abalroados por um documentário da BBC ou algo parecido. Mas com tanto ouro, quem se importa, não é mesmo?