quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Gemas Tratadas

Gemas Tratadas

O consumidor que compra uma joia com uma pedra preciosa sabe que a gema nela contida passou por um processo de lapidação e que a forma que ela exibe não é a forma que tinha na natureza. Sabe também que o brilho foi melhorado com o processo de lapidação e provavelmente está ciente de que se aproveitou uma porção da gema que não continha impurezas ou que as tinha em quantidade e tamanho aceitáveis. O que o consumidor não sabe, a menos que lhe seja informado pelo vendedor, é se a gema foi tratada ou não.

Gema tratada é aquela em que uma propriedade física, geralmente a cor, foi modificada para lhe dar mais valor. Uma modificação na cor não significa necessariamente troca por outra, pois pode ser apenas uma melhoria na cor natural. Nos casos em que a gema tem uma propriedade apenas melhorada, pode-se dizer que ela é uma gema realçada, um caso particular de gema tratada.

São considerados aceitáveis os tratamentos que não alteram a composição química da gema. Eles são de vários tipos e têm diferentes objetivos.



Tingimento
O tingimento visa a mudar a cor da gema. É muito usado em todo o mundo para gemas como a ágata. Também a howlita costuma ser tingida.
Ágata tingida
Ágata tingida

As belas cores que se veem na ágata podem ser naturais, mas muitas vezes são obtidas por adição de produtos químicos. As ágatas do Rio Grande do Sul, maior produtor mundial dessa gema, se têm cor rosa, roxa, verde ou azul, são tingidas. As cores vermelha e preta podem ser tanto naturais quanto provenientes de tingimento.

Estima-se que pelo menos 90% das ágatas vendidas no mundo são tingidas, mas daquelas procedentes do Rio Grande do Sul, consideradas as mais belas do mundo, cerca de 40% apenas passam pelo tingimento.

A mudança de cor da ágata é possível porque ela é porosa e, além disso, resistente ao calor e aos ácidos. Se as cores naturais são visualmente agradáveis, não se usa tingimento; caso contrário, a ágata é colocada numa solução que pode conter ferrocianeto de potássio, ácido crômico com cloreto de amônio, açúcar ou percloreto de ferro com ácido nítrico e sucata de ferro,
Howlita de cor natural (branca) e tingida
Howlita de cor natural (branca) e tingida
dependendo da cor desejada. O tingimento pode ser feito a frio (bem mais lento) ou com aquecimento. Em qualquer um dos casos, porém, demora geralmente vários dias.

A porosidade das faixas é variável, de modo que algumas absorvem mais o corante do que outras, aumentando assim o contraste entre as cores. Como a solução tingidora penetra pouco na gema, o tingimento costuma ser feito após a peça ser cortada e desbastada, mas antes de ser polida, pois o polimento obstrui os poros, dificultando a penetração do corante.

O preço final é o mesmo para as peças tingidas e para as não tingidas. Se os corantes usados forem inorgânicos, a cor será estável; com corantes orgânicos (usados, por exemplo, para obter cor rosa ou verde), ela poderá enfraquecer com o tempo. O Museu de Geologia da CPRM possui chapas de ágata nessas cores em que um lado é hoje bem mais claro que o outro porque ficou voltado para cima no expositor, sujeito, portanto, à ação da luz e, por consequência, ao enfraquecimento da cor.

O tingimento de uma gema pode ser seletivo. Lápis-lazúli, por exemplo, pode receber tingimento azul apenas nas porções brancas, formadas por calcita.



Tratamento Térmico
Citrino obtido por tratamento térmico de ametista
Citrino obtido por tratamento térmico de ametista
Muitas gemas podem mudar de cor quando aquecidas e são, por isso, submetidas a tratamento térmico para obtenção de cores diferentes ou para melhorar a cor original. São assim tratados rubi, safira, âmbar, água-marinha, ametista, citrino, tanzanita, zircão, topázio e turmalinas.

Um exemplo de tratamento térmico muito conhecido é o aplicado à ametista. Essa variedade de quartzo tem cor roxa, mas, aquecida a cerca de 475 ºC, transforma-se em citrino, outra variedade do mesmo mineral, de cor amarela ou alaranjada. É um tratamento que dá cor estável e que é intensamente usado no Rio Grande do Sul para as ametistas de cor fraca ou irregular. Algumas vezes, também o quartzo incolor e o quartzo enfumaçado dão esse resultado.

A prasiolita é um quartzo de cor verde obtido por tratamento térmico a 500 ºC de ametistas provenientes de Four Peaks (Arizona, EUA) ou de Montezuma (Minas Gerais). Outra gema que costuma ser submetida a tratamento térmico é o topázio amarelo, que fica vermelho (a 300-350 ºC), rosa ou azul. Essas cores podem ser encontradas também em gemas naturais, mas os topázios de cores rosa e vermelha encontrados no comércio são quase sempre produto de tratamento térmico.

Águas-marinhas azuis de cor fraca podem ficar mais escuras e, portanto, mais valiosas por tratamento térmico. Mais de 90% das águas-marinhas dessa cor encontradas no mercado internacional são gemas amareladas ou verdes que foram tratadas termicamente. Não se conhecem meios de distinguir as águas-marinhas assim tratadas daquelas naturalmente azuis. Rubis opacos aquecidos a 1.200 ºC ficam transparentes ou pelo menos translúcidos.


Impregnação
Algumas gemas porosas ou com fissuras podem ter sua cor ou transparência melhoradas pela adição de óleos incolores, cera, resina natural ou produtos sintéticos.

É costume tratar a esmeralda com óleos de índice de refração semelhante ao seu. Normalmente, essa gema é cheia de fissuras e, além disso, é normal haver nelas impurezas. Por isso, a esmeralda costuma ser lavada com ácidos, que removem as impurezas das fraturas que se comunicam com o exterior, e a seguir é imersa em óleos naturais (como óleo de amêndoa quente) ou artificiais. Outra opção é o emprego de resinas, que também melhoram a aparência, tanto das esmeraldas brutas quanto das lapidadas. É muito usado o Opticon, resina tipo epóxi, após a qual se aplica uma substância que promove sua polimerização.

Para introduzir o óleo, pode-se antes submeter a gema ao vácuo, visando a remover ar e impurezas. Feito isso, ela é submetida a pressão, com temperatura moderada (até 100 ºC). Com o tempo, o óleo pode sair, sendo necessário fazer nova aplicação.



Irradiação
Quartzo incolor após irradiação
Quartzo incolor após irradiação
É a exposição de uma gema aos efeitos de uma radiação para alterar a cor. Há várias fontes de radiação usadas para esse fim. O uso de raios X exige equipamento que é de fácil obtenção, mas proporciona baixa uniformidade de cor, pouca penetração na gema e, por isso, não é um processo comercialmente viável. Safiras incolores ou amarelo-claras sob ação de raios X ficam amarelas, semelhantes a topázios.

A radiação mais usada são os raios gama. Eles têm boa penetração na gema, dão cor com boa uniformidade e não deixam resíduo radioativo. A estabilidade da cor final depende da gema tratada. A irradiação por nêutrons penetra mais que as anteriores, dá colorido mais intenso, mas deixa a gema radioativa. Desse modo, é preciso esperar que essa radioatividade se dissipe para poder comercializar o produto. Diamantes assim tratados ficam verdes e se a irradiação for seguida de tratamento adquirem cor amarelo-canário. Tanto essa cor quanto o verde não podem ser distinguidos das mesmas cores de origem natural.

Por fim, há os aceleradores de partículas, mas eles penetram menos que a radiação gama e são pouco usados. O quartzo incolor submetido a radiação gama pode adquirir várias cores, inclusive duas cores na mesma gema. Atualmente há uma grande produção de pedras preciosas tratadas dessa maneira, cujas cores recebem nomes comerciais como whisky, cognac, champagne e green gold. O mesmo tipo de quartzo, procedente de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul e do Uruguai, pode ser transformado em prasiolita, a variedade obtida por tratamento térmico de ametistas, mas só das procedentes de Montezuma (MG) e Four Peaks (EUA).

Ametista que perdeu a cor por exposição prolongada ao sol pode tê-la de volta por ação de raios X. Topázio incolor por efeito da radiação gama pode ficar amarelo e se após isso sofrer tratamento térmico passará à cor azul. O volume de topázios azuis assim obtidos é de várias toneladas por ano. O processo é usado para rubis, safiras e topázios.
 


Difusão
Esse processo consiste em introduzir impurezas na gema por difusão de óxidos a altas temperaturas (de 1.600 ºC a 1.900 ºC). A gema é colocada em um cadinho, misturada a óxidos metálicos em pó e aquecida a alta temperatura e em atmosfera adequada por um tempo variável. O resultado é uma fina camada muito colorida de cor estável. O processo é usado para rubis, safiras e topázios.

 

Preenchimento de Fraturas
O preenchimento de fraturas e fissuras é feito com resinas e colas do tipo epóxi. Elas tornam esses defeitos menos visíveis ou mesmo invisíveis. O processo valoriza a gema, mas o tratamento não é estável. O diamante é uma das gemas que recebe preenchimento de fraturas. Esmeraldas também recebem esse tratamento, com substâncias que têm índice de refração semelhante ao dela.



Remoção de Inclusões
Raios laser e produtos químicos podem ser usados para remover impurezas de gemas, principalmente do diamante.



Clareamento
É o uso de produtos químicos ou outros processos para clarear a gema ou para remover cores indesejáveis. Na grande maioria dos casos, quanto mais escura a gema, mais valiosa ela é, mas há exceções. A turmalina verde vale mais quando é clara, por se assemelhar mais à esmeralda. Assim, usa-se tratamento térmico para deixa-la menos escura. Safiras também podem ficar mais claras quando aquecidas.



High Pressure High Temperature - HPHT
Centros de cor indesejáveis em diamantes podem ser removidos por tratamento que envolve alta pressão e alta temperatura.

O sonho da pedra

O sonho da pedra


SEU IDA PENEIRA o gorgulho no ribeirão do Guinda, em Diamantina, MG, à cata de diamantes (à direita, pedras já lapidadas)
Você já foi a Grão Mogol, MG? Provavelmente, não. A maioria dos brasileiros nem deve ter ouvido falar desta cidade encravada na serra de Santo Antônio, um dos braços da cordilheira do Espinhaço, a 550 quilômetros de Belo Horizonte. Cortada pelo Ribeirão Vermelho, é a mais setentrional das localidades históricas de Minas Gerais, nascida da lavra garimpeira, assim como Diamantina e tantas outras no estado. Há duas versões para a origem do nome. A primeira o relaciona à descoberta de um diamante espetacular na Índia, batizado Great Mogul em homenagem ao xá Jehan, um dos soberanos indianos da dinastia Mogul, construtor do Taj- Mahal. Pesava 793 quilates quando bruto – o quilate, equivalente a 20% do grama, é a medida de todas as pedras preciosas, avaliadas segundo a cor, a qualidade, a pureza e o peso. Para os defensores da segunda versão, trata-se de uma redução de “grande amargor”, expressão do desalento da população com sucessivos conflitos armados e assassinatos quando ainda era vila – a locução teria virado “grão morgor” no correr dos anos, assumindo depois a denominação atual. No morro da Pedra Rica, nas cercanias da cidade, foram encontrados no século XVIII os primeiros diamantes do mundo hospedados em grupiaras – jazidas altas nas cristas dos morros ou chapadas com material diamantífero em camadas chamadas barro, gorgulho, sopa ou paçoca, conforme o estado pastoso ou friável e a quantidade de seixos. Até então, provinham de aluviões – mistura de cascalho, areia e argila à margem ou à foz dos rios, resultantes da erosão.

As Minas Gerais
Cidades mineiras nascidas do garimpo, marcadas pela história ou pela riqueza mineral



A história da exploração comercial das pedras preciosas no Brasil começa no final do século XVII com a descoberta de ouro em Sabarabuçu, hoje, Sabará, e prossegue com o ouro e os diamantes encontrados no antigo Arraial do Tejuco, atual Diamantina, por volta de 1725. No período colonial, as lavras de ouro e diamantes eram feitas por escravos. Nos 170 anos seguintes, por qualquer um que se dispusesse à cata, sem qualquer controle. Preservacionismo é palavra nova no garimpo. Difundiu-se a partir da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro. Desde então, ora ávida, ora indulgente, a fiscalização bateu ponto na região, intensificando- se a partir de 1989 com a lei 7.805, que acabou com a garimpagem livre ao condicionar a exploração à obtenção de permissões de lavra, numa tentativa de regulamentar a profissão. O cerco apertou ainda mais há cinco anos com a Operação Carbono, de repressão ao contrabando de diamantes em Minas Gerais, Mato Grosso e Rondônia – principais estados produtores.

A GOIVA DESLIZA à superfície do ribeirão: “É preciso ciência para achar diamantes porque eles têm manias” (à direita, a igreja de Grão Mogol)

“Parou tudo”, afirmam, cada um a sua vez, Idalvo de Jesus Andrade (seu Ida), Belmiro Luiz do Nascimento e Antônio Pádua Oliveira Neto (Toninho), de Diamantina; e Clarindo Francisco de Oliveira (Totôca), da comunidade do Alegre de Baixo, e Mário Batista Corrêa (seu Marão), ambos de Grão Mogol, referindo- se tanto ao garimpo tradicional, conduzido manualmente, quanto à “bomba”, sistema de dragagem a motor, mais produtivo e impactante, do ponto de vista ambiental, adotado em larga escala atualmente – os procedimentos habituais de extração e lavagem do cascalho exigem remoção de quantidades consideráveis de terra.

“A gente é bicho em extinção”, afirma seu Ida, de 55 anos, talvez o único garimpeiro do Alto Jequitinhonha a persistir com a goiva – espécie de enxada de cabo comprido com uma caixa metálica côncava no lugar da lâmina para conter o cascalho puxado do fundo do rio. Ele explica, orgulhoso, que a goiva não pode ser jogada aleatoriamente. A caixa tem de deslizar na superfície até determinado ponto, examinado anteriormente com a “vara de sondar” e só então afundar. Depois, basta puxar devagar, depositar o material recolhido no terno (conjunto de três peneiros: o grosso, o meão e o fino, de acordo com o calibre de cada um) e “bater” um a um, nessa ordem, para separar os seixos e concentrar os possíveis diamantes no meio. Então, emborca-se a peneira numa banca de apuração. Agora, é só aguçar os olhos. Mais pesados do que o cascalho e a areia, o ouro e o diamante concentram-se no “pretume”, no fundo da bateia ou da peneira, faiscando à luz do sol – por isso os garimpeiros também são chamados de faisqueiros.


FAISQUEIRO do município de Datas examina o “pretume” emborcado numa banca de apuração
“É um jogo de sensação”, compara seu Ida. Há que se ter sorte, observar indícios naturais de ocorrência e respeitar as manias das pedras. Ele afirma que os diamantes têm lá suas extravagâncias: só se revelam quando querem e a quem os mereça. Para achá-los, os garimpeiros se guiam principalmente por “satélites”, pedrinhas com feitios e cores diversos denominadas cativo, ovo de pombo, palha de arroz, sericória, fava, osso de cristal, tinteiro (preto reluzente, parecendo pólvora), cabeça de macaco, agulha, etc. Dependendo do tipo e da concentração de satélites, sabem se estão perto ou não de tirar uma pedra e, eventualmente, “bamburrar” – ficar rico.

Na lida desde os 12 anos de idade, ele vem trabalhando no Ribeirão do Guinda, a nove quilômetros de Diamantina, em parceria com Belmiro Luiz do Nascimento, idealizador do Projeto Garimporeal, de resgate da cultura garimpeira. “Os velhos estão morrendo e, com eles, a tradição, o conhecimento. Os jovens não querem saber de garimpo”, justifica Belmiro, referindo-se à iniciativa, lançada em abril. O projeto é eminentemente educativo. Ele recebe turistas, muitos dos quais estrangeiros, e os leva à beira do Guinda para mostrar o que é garimpo “verdadeiro” e provar que não é nocivo ao meio ambiente. Seu Ida se encarrega das “aulas práticas” e ele, das “teóricas”

Belmiro concorda com as exigências legais como forma de coibir a clandestinidade e proteger a natureza, mas contesta a generalização. “O garimpo tradicional não desbarranca nem faz desmonte com explosivos, como é comum na mineração. Os mineradores nacionais ou internacionais não causam estragos maiores, mesmo com permissão legal?”, questiona, observando que a maioria dos garimpeiros não tem condições de arcar com os custos de licenciamento – cerca de cinco mil reais, considerando apenas a PLG – Permissão de Lavra Garimpeira, documento fornecido pelo Departamento Nacional de Produção Mineral, órgão do governo federal.

Diamantes de sangue
O Protocolo Kimberley, ou KCPS – Sistema de Certificação do Processo Kimberley, é uma tentativa conjunta de 40 países de coibir o terror perpetrado por grupos rebeldes na África. Quem viu o filme Diamante de Sangue, com o ator Leonardo Di Caprio, tem noção da barbárie, financiada, em grande parte, pelo contrabando de diamantes, negócio altamente lucrativo. A indústria movimenta anualmente 6,7 trilhões de dólares, segundo a ONU.

Desde janeiro de 2003, nenhuma pedra bruta pode ser comercializada sem a certificação, emitida pelos respectivos governos assegurando sua origem legal. Em 2004, 29 garimpeiros foram mortos na reserva indígena Roosevelt, na fronteira de Mato Grosso com Rondônia. Território dos cintas-largas, a reserva abriga grandes depósitos diamantíferos ainda não totalmente mensurados. Pronto! O Brasil passou a integrar a lista dos países com “diamantes de conflito”. Paralelamente, surgiram indícios de que o país estava sendo usado como ponte para as pedras africanas, vendidas no mercado internacional como se fossem brasileiras.



TOTÔCA E SEU velho escafandro enfim aposentado: “O garimpo acabou no norte de Minas Gerais. Diamante agora é água”
Para Belmiro, a PLG é relativamente simples de se obter. As exigências, porém, são impraticáveis: o garimpeiro, mesmo o tradicional, é obrigado a descrever o tipo de minério procurado e indicar o local exato onde pretende lavrar. A descrição e o plano de trabalho devem ser detalhados em documento e assinados por um geólogo. Para complicar a coisa, a permissão legal autoriza lavra de 50 hectares, no máximo (no caso das cooperativas, 200), área pequena demais para quem sempre trabalhou solto no mundo, sozinho ou com algum companheiro. Segundo ele, garimpeiro não tem cultura associativa. Muitos desistiram, outros conseguiram alvarás, mas acabaram vendendo-os. “Diamantina já não tem TOTÔCA E SEU velho escafandro enfim aposentado: “O garimpo acabou no norte de Minas Gerais. Diamante agora é água” mais o mesmo brilho”, lamenta Toninho, ourives da Joalheria Pádua, a mais antiga do país, instalada no centro histórico desde 1883. Além da produção própria de diamantes e cristais, a joalheria recebia pedras de todos os cantos do país. “Nós lapidávamos quatro mil gemas por mês. Agora, trabalho sozinho, nem todo o dia sento na banca e não faço quatro mil nem num ano”, compara. Ele calcula que por volta de 1970 havia três mil bombas em pleno funcionamento no município. “Hoje, não têm quase nenhuma.” Em sua opinião, a cidade empobreceu. Depende agora do funcionalismo público, do turismo e de serviços.

ANTONIO PÁDUA em sua banca de trabalho com uma ametista roxa encanetada (no detalhe): “O brilho da cidade não é o mesmo sem o garimpo”
Totôca é taxativo. Em sua opinião, o garimpo acabou de vez no norte de Minas. “Diamante agora é água”, diz ele, referindo-se ao Alegre de Baixo e outras 46 comunidades ribeirinhas afetadas pela barragem de Irapé, maior usina do país, com 208 metros de altura e 5,9 bilhões de metros cúbicos de água de capacidade máxima, construída pela Cemig no Alto Jequitinhonha – o alagamento atingiu núcleos urbanos e áreas rurais numa extensão de 115 quilômetros do Jequitinhonha e 50 quilômetros do Itacambiraçu, um de seus afluentes. Até recentemente, Totôca caçava diamantes com seu velho escafandro de bronze – um anacronismo nesses tempos de busca desenfreada de produtividade. “Era penoso demais. Eu trabalhava agachado no fundo do rio pegando cascalho e pondo num balde enquanto um companheiro na balsa lá em cima bombeava ar por uma mangueira. Se ele quisesse se livrar de mim, era só parar que eu morria.” A idade, a dor no “espinhaço” (sem qualquer alusão à cordilheira), o cansaço e os perigos inerentes ao trabalho acabaram afastando-o da beira do Itacambiraçu, agora um lago quase dentro de casa.

Ele talvez tenha sido o derradeiro garimpeiro da região a usar escafandro. Os poucos em atividade em “bombas” trajam roupas de neoprene, de pesca submarina, e usam tubos de sucção para retirar o cascalho. Seu Marão também parou por problemas de saúde. Aos 84 anos de idade, já não tem a força de antes e a surdez avança. Ele lastima o estertor do garimpo em nome do antigo rebuliço na cidade e dos amigos de função – cadê Geraldo Mariquinha, Suetônio, Ferro Velho, Abiné, Zé Boquinha e Tonho da Marciana? Seu Marão... Bem, seu Marão é um caso especial. Saiba mais sobre ele clicando no link abaixo.

História do Berilo

História do Berilo

Berilo
O mineral berilo é um ciclossilicato de berílio e alumínio. Os cristais hexagonais do berilo podem ser de tamanho muito pequeno ou atingir dimensões de alguns metros. Os cristais terminados são relativamente raros. O berilo exibe fratura concoidal, tem uma dureza de 7,5-8, um peso específico de 2,63-2,80. Possui brilho vítreo e pode ser transparente ou translúcido. Clivagem basal fraca, com hábito bipiramidal dihexagonal. O berilo puro é incolor, mas é matizado freqüentemente por impurezas; as cores possíveis são verde, azul, amarelo, vermelho, e branco. O seu nome tem origem no grego beryllos (bela cor azul-esverdeada da água do mar).
Algumas variedades de berilo são consideradas pedras preciosas ou semi-preciosas desde épocas pré-históricas. O berilo verde (presença de Ferro2) é chamado esmeralda, o raro berilo vermelho é chamado esmeralda vermelha, esmeralda escarlate ou bixbite. O berilo azul (devido ao crómio e vanádio) é chamado de água-marinha,o berilo rosa (devido a manganês e Ferro) é a morganita, um berilo amarelo brilhante e límpido é chamado berilo dourado, um berilo incolor é chamado gochenita e o amarelo-esverdeado (devido a manganês, ferro e titânio), heliodoro.

O elemento químico berílio, um metal alcalino terroso, é obtido do minério de berilo. Uma das formas mais comuns na natureza é a Esmeralda, um pedra preciosa de cor característica verde. Os druidas utilizavam o berilo como cristal divinatório e os antigos escoceses chamavam-lhe “pedra do poder”. As primeiras bolas de cristal eram feitas de berilo, mais tarde substituído por cristal de rocha.

Jazidas de Ametista

Jazidas de Ametista

O Brasil é um dos maiores depósitos de Ametista do Mundo, Algumas cidades como Ametista do Sul (RS), Entre Rios (SC) e Chopinzinho (PR), tem as maiores escavações e jazidas dessas pedras.
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Contexto geológico
• Depósitos tipo geodo em derrames basálticos
• Níveis preferenciais mineralizados
• Mineração subterrânea em rocha fresca
• Cota como controle prospectivo
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Panorama econômico
• No sul do Brasil encontram-se as maiores jazidas do mundo de ametista/citrino
• É o segundo pólo de produção de gemas doBrasil.
• Maior destaque: RS com 300 frentes de garimpo
• Toda a produção do PR e SC vai para o RS
• Até 2005 – 97% exportação material em
bruto
•Reservas para 100 anos (vida útil
da jazida de Ametista do Sul – 4 a
5mil t/ano)
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Novas ocorrências de euclásio em Minas Gerais

Novas ocorrências de euclásio em Minas Gerais





RESUMO
Desde o século XVIII o Brasil tem sido o principal produtor mundial de euclásio, proveniente das jazidas situadas nos arredores de Ouro Preto, Minas Gerais. Recentemente, três novos depósitos deste mineral foram descobertos no mesmo Estado: (1) Em 1979-80, garimpeiros explotaram cerca de 10 kg de material gemológico e de coleção. A situação geográfica deste depósito permaneceu desconhecida na literatura geológica; ele está localizado próximo do vilarejo de Olhos d'Água, município de Bocaiúva, noroeste de Minas Gerais. (2) Pouco tempo após, uma outra ocorrência foi descoberta na mesma região, a cerca de 25 km NNW da cidade de Itacambira, de onde foram extraídos 3 kg de euclásio, a maior parte para coleção. (3) As ocorrências de Gouveia foram detectadas pelos autores, durante prospecção aluvionar sistemática visando o conhecimento de minerais "satélites" do diamante na região, mas os espécimens encontrados têm somente importância mineralógica. Em todas as situações descritas, o mineral ocorre disseminado e/ou concentrado em bolsões relacionados a uma estreita zona feldspática de veios de quartzo pegmatóides, cortando quartzitos do Supergrupo Espinhaço (Bocaiúva e Itacambira), ou xistos e rochas graníticas do Complexo Pré-Espinhaço (Gouveia).
Palavras-chave: euclásio, mineralogia, gemologia, aluviões diamantíferos.

ABSTRACT
Since the 18th century euclase in Brazil has been mined mainly in the reknowed mineralogical district of Ouro Preto, Minas Gerais. Three new deposits were more recently discovered in the same state: (1) In 1979-80 garimpeiros exploited about 10 kg of yellow gem-quality material and specimens for collectors, but the location of the source remained unknown in the geologic literature. It is situated near the small village of Olhos D'Água, in Bocaiúva district, northwestern Minas Gerais; (2) Soon after the first exploitation, another euclase occurrence was discovered in the same region, some 25 km NNW of Itacambira. About 3 kg de grey-blue euclase, mostly collection specimens, have been produced. (3) Occurrences in the Gouveia district were detected by the authors during alluvial diamond prospecting. In this area the specimens have only mineralogical importance. In all localities, the mineral occurs disseminated and/or concentrated in pockets in the small feldspathic zone of pegmatoid quartz veins truncating quartzites of the Espinhaço Supergroup (Bocaiúva and Itacambira deposits) or schist and granitic rocks of the pre-Espinhaço Complex (Gouveia occurrences).



INTRODUÇÃO
O euclásio [BeAl(SiO4)0H] é um mineral bastante raro na natureza, apresentando com freqüência propriedades gemológicas. Desde o século XVIII, o Brasil destaca-se como o principal produtor mundial de euclásio. Em Minas Gerais, as jazidas clássicas deste mineral estão associadas às jazidas de topázio imperial na região de Ouro Preto. Euclásio de origem pegmatítica ocorre principalmente próximo de São Sebastião do Maranhão, na Fazenda Santana do Encoberto.
Recentemente os autores, pesquisando a natureza dos minerais pesados que acompanham o diamante na região centro-norte de Minas Gerais, descobriram três novas ocorrências de euclásio, localizadas em áreas dos municípios de Bocaiúva, Itacambira e Gouveia. Vários espécimens encontrados nas duas primeiras ocorrências apresentaram características gemológicas.
O presente estudo objetiva a descrição geológica e mineralógica destes três depósitos, assim como discutir sobre a presença desse mineral em áreas de contexto estratigráfico bastante diferentes, demonstrando assim o ainda limitado conhecimento acerca da metalogenia regional.

EUCLÁSIO NO BRASIL
Os depósitos de topázio imperial, incluindo provavelmente os de euclásio, foram descobertos na região de Ouro Preto por volta de 1760. O célebre mineralogista Haüy descreveu primeiramente o euclásio em 1792 a partir de amostras da região, mas apenas Echwege (1822) localizou a proveniência do mineral ao identificá-lo em meio a um lote de topázios oriundos daquela área. Na atualidade são conhecidas oito áreas produtoras de euclásio no Brasil, algumas delas com várias ocorrências distintas. A maioria dos depósitos está situada no Estado de Minas Gerais (Fig. 1)



As ocorrências clássicas e melhor conhecidas do Brasil e do mundo são aquelas localizadas em uma faixa linear de aproximadamente 10 km a oeste da cidade de Ouro Preto (MG). Nesta região o euclásio é recuperado como subproduto da garimpagem de topázio imperial em pelo menos sete lavras: Boa Vista, Trino, Ranchador, Capão do Lana, Fundão, Morro do Gabriel e Cachambu. O mineral ocorre em cristais isolados, transparentes a levemente azulados ou esverdeados, quase sempre de comprimento inferior a 1 cm. Saldanha (1939) descreveu um espécime pesando 128 g (10 cm de comprimento) achado em 1922, provavelmente o maior cristal já conhecido. Descrições geológicas e mineralógicas sobre o euclásio de Ouro Preto foram apresentadas por Cassedanne (1970, 1991), mas sua gênese, assim como a do topázio, é objeto de amplas discussões.
Euclásio de origem pegmatítica ocorre em três principais localidades. Na região de São Sebastião do Maranhão (Fazenda Santana do Encoberto), também em Minas Gerais, o mineral se encontra em pequenos bolsões ricos em mica, perto do contato com o núcleo quartzoso do pegmatito (Cassedanne & Cassedanne, 1974). Os cristais, com freqüência biterminados, são incolores ou amarelados, transparentes a translúcidos, alcançando vários centímetros de comprimento. Este depósito já forneceu excelentes espécimes de qualidade-gema, descritos mineralogicamente por Bank (1974) e Graziani & Guidi (1980). Proveniente de Cachoeiro de Santa Leopoldina, Estado do Espírito Santo, Saldanha (1941) relatou um cristal de euclásio, hialino e perfeitamente formado, mas sua jazida nunca foi descrita.
Pertencendo à Província Pegmatítica Nordestina do Brasil, são conhecidas ocorrências de euclásio associadas a quatro corpos pegmatíticos da região de Equador, Estado do Rio Grande do Norte. A presença de euclásio nesta área foi primeiramente referida por Silva & Santos (1961), no denominado Alto dos Mamões. Outros corpos pegmatíticos mineralizados são os "altos" do Giz, Santino e Jacu, onde ele ocorre com berilo junto ao núcleo de quartzo (Cassedanne, 1970). É característico dos cristais de euclásio de Equador uma listra azul escura central, paralela ao eixo c, permitindo belas amostras para coleção.
Hussak (1917) descreve ainda a presença de euclásio nos cascalhos diamantíferos de Santa Izabel do Paraguassu, atual Mucugê (Estado da Bahia). Os espécimes, de interesse apenas mineralógico, eram cristais incolores e fragmentos de comprimento não superior a 3 mm.

DESCRIÇÃO DOS DEPÓSITOS
Bank (1980), em pequena nota, descreveu um euclásio gema "declarado" ser da região de Diamantina, e Cassedanne (1991) citou que "pequenos cristais de euclásio bege a cinza foram recentemente extraídos na região de Buenópolis". Durante pesquisas incluindo o estudo de minerais pesados de cascalhos diamantíferos a leste de Bocaiúva, os autores foram informados de uma jazida desativada de euclásio na região, localizando assim o depósito que pelas amostras obtidas parece ser o mesmo relatado por H.Bank e J.Cassedanne. A partir de informações locais, chegou-se ao depósito de euclásio de Itacambira, explorado pelos mesmos garimpeiros descobridores da jazida anteriormente mencionada. Já as ocorrências de euclásio situadas próximo de Barão de Guaicuí, Gouveia, foram achadas diretamente pelos autores, durante prospecção aluvionar sistemática voltada para os minerais "satélites" do diamante; os depósitos primários estão sendo ainda pesquisados.
Contexto geológico regional
As três ocorrências de euclásio ora descritas estão relacionadas geologicamente à Serra do Espinhaço, onde este mineral nunca havia sido antes reportado. A serra é sustentada por quartzitos e filitos do Supergrupo Espinhaço, do Mesoproterozóico, localmente aflorando xistos e rochas granitóides de idade mais antiga (Complexo Pré-Espinhaço). A Faixa Móvel Espinhaço é uma entidade geotectônica evoluída durante o Meso e Neoproterozóico, com o clímax dos dobramentos, incluindo a intrusão de inúmeros veios de quartzo, tendo ocorrido no Ciclo Brasiliano (Dossin et al., 1990).
Jazida do Buriti das Porteiras
Situada a cerca de 12 km a SW do povoado de Olhos d'Água, Município de Bocaiúva (Fig. 2), a jazida do Buriti das Porteiras foi descoberta casualmente em 1979, durante a exploração de um veio de quartzo hialino, do tipo "coleção". Foi explorada em dois períodos (1979-80 e 1983) pelo garimpeiro Marcolino Pereira da Silva (vulgo "Pingo"), de Bocaiúva.



Ocorrem na área quartzitos avermelhados, fortemente recristalizados e silicificados, atribuídos à Formação Galho do Miguel, do Supergrupo Espinhaço (Schmidt, 1970). O euclásio está associado à zona de borda, caolinizada, de um veio de quartzo com hematita, de cerca de 10 m de comprimento por 2 m de largura, cortando os quartzitos. O mineral ocorre disseminado e/ou concentrado em pequenos bolsões. O material secundário, elúvio-coluvionar, foi também objeto de exploração.
O euclásio aparece em cristais euédricos a subédricos, de coloração amarelada clara a média, raramente terminados. Espécimens de qualidade gema são comuns, tendo Bank (1980) destacado que o depósito forneceu uma pedra com 50 ct, depois de lapidada O maior cristal observado media b cm de comprimento ao longo do eixo c (55,6 g). A clivagem (010) perfeita é característica de todas as amostras estudadas. O peso específico, medido em 8 amostras, é de 3,095±0,010 g/cm3, e os índices de refração menor e maior são 1,651 e 1,671±0.001 com uma birrefringência de 0,020±0,001.
Ainda não está bem caracterizada a gênese da jazida do Buriti das Porteiras. A presença de feldspatos caolinizados junto ao veio de quartzo sugere atividade pegmatítica, muito embora esta seja bastante incomum ao longo da Serra do Espinhaço. Nenhum outro mineral pegmatítico foi observado. O potencial do depósito é também pouco conhecido, já que as escavações não ultrapassaram 1,5 m de profundidade. Informações obtidas do garimpeiro "Pingo" indicaram uma produção total de 12 kg (9 kg em 1979-80 e 3 kg em 1983, estes em parte recuperados a partir dos rejeitos anteriores).
Jazida de Itacambira
Este depósito está situado a cerca de 25 km norte-noroeste da pequena cidade de Itacambira, próximo às cabeceiras do Rio Congonhas. Em 1980, o mesmo decobridor da jazida do Buriti das Porteiras chegou a este local partindo da informação de um companheiro de garimpo, dizendo ter conhecido material "semelhante" ao lhe mostrado, enquanto procurava quartzo naquela porção da Serra do Espinhaço.
Geologicamente a região é conhecida como Espinhaço Central, tendo sido mapeada por Karfunkel & Karfimkel (1976). Predominam na área quartzitos brancos, finos e bem selecionados, atribuídos à Formação Resplandecente. O euclásio ocorre em uma cascalheira coluvionar de espessura inferior a 1 m, junto com quartzo e hematita.
Dados mineralógicos de amostras aparentemente "limpas" são os seguintes: peso específico (5 amostras) de 3,065±0,02 g/cm3 e índices de refração 1,650 e 1,670±0,001 com uma birrefringência de 0,020±0,001. A coloração é sempre cinza-azulada, ao que parece como resultado de micro-inclusões de turmalina preta (D.Hoover, 1993, comunic. verbal). E comum a presença de "bandas" preenchidas com quartzo segundo o plano (100); nestes casos o peso específico decai para 2,937±0,05 g/cm3.
Os cristais são sempre prismas euédricos tabulares, com 0,5-1,0 cm e sem terminação, possivelmente devido a um pequeno rolamento sofrido com ruptura na clivagem proeminente (010).
Estudos adicionais tornaram-se impossíveis, pois ao final da década de 80 a área de ocorrência foi recoberta com o plantio de eucaliptos para reflorestamento.
Ocorrência de Barão de Guaicuí
Durante prospecção aluvionar sistemática, desenvolvida na região de Diamantina com a finalidade de pesquisar minerais "satélites" do diamante (como parte da Tese de Doutoramento de um dos autores - M.L.S.C.C.), cristais de euclásio foram descobertos em dois locais: no Córrego do Capão e no Rio Pardo Pequeno. Eles estão situados a norte da cidade de Gouveia, nas proximidades do lugarejo de Barão de Guaicuí. Posteriormente à descoberta, entrevistas com garimpeiros locais permitiram constatar que o mineral é freqüente nestes aluviões diamantíferos, mas são confundidos com quartzo, apesar da densidade muito diferente. Alguns compradores de pedras admitiram mesmo terem comprado euclásio rolado como diamante, provavelmente devido ao forte brilho daquele mineral.
Nesta região afloram rochas pertencentes ao Complexo Pré-Espinhaço (sericita xistos e granitóides), além de metassedimentos da base do Supergrupo Espinhaço (formações São João da Chapada e Sopa Brumadinho). O Córrego do Capão, diamantífero, nasce na própria área, sendo por isso escolhido para a pesquisa de minerais pesados. A partir da detecção de euclásio no local, pesquisa suplementar efetuada na drenagem maior, Rio Pardo Pequeno, que já corre em terrenos da Formação Galho do Miguel (estratigraficamente superior), mostrou que a mineralização é persistente e que o maior aluvionamento permitiu também uma maior concentração do mineral (Fig. 3).



No aluvião estreito do Córrego do Capão, não ultrapassando 10 m de largura, o euclásio aparece em prismas relativamente bem preservados do desgaste mecânico, ainda exibindo com nitidez o estriamento paralelo ao eixo c. O maior exemplar observado mediu 0,8 cm, sendo hialino como todos os cristais observados no local. Outros minerais presentes no depósito são mostrados na Tabela 1.



No Rio Pardo Pequeno, os flats com larguras de 50 a 100 m permitiram a maior concentração de pesados. Os grãos de euclásio são mediana a totalmente rolados, mostrando sempre um achatamento característico segundo o plano principal de clivagem (010). O maior cristal observado mediu 1,2 cm de comprimento. Em geral eles são incolores, transparentes e macroscopicamente "limpos"; em apenas um grão muito rolado observou-se uma tonalidade rosada.
O peso específico, obtido de 5 amostras do Córrego do Capão, mostrou valores em torno de 3,09±0,02 g/cm3. Dados ópticos determinados com refratômetro mostraram valores limites de 1,650 e 1,671, com uma dupla refração de 0,021. Os índices de refração superiores àqueles do quartzo, associado ao brilho perláceo nas proximidades dos planos de clivagem (open cleavage), é a razão do mineral já ter sido confundido com diamante. Amostras roladas de euclásio do Rio Pardo Pequeno foram também confirmadas por difratometria de raios X.
Os euclásios das duas localidades descritas demonstraram uma associação de características que permitem considerá-los de mesma origem. No Córrego do Capão, as amostras muito pouco roladas evidenciam sua fonte próxima, o contrário acontecendo no Rio Pardo Pequeno. Pesquisas procurando a possível rocha fonte na área do Córrego do Capão, indicaram a existência de veios pegmatóides de porte inferior a 1 m, cortando principalmente micaxistos do Complexo Pré-Espinhaço. Amostragem efetuada na massa caolinizada dos veios revelou apenas a presença de quartzo, mica e turmalina preta. Porém, o pequeno volume amostrado, associado à raridade do euclásio e às semelhanças com os depósitos de Bocaiúva (aqui descrito) e o de Santana do Encoberto (Cassedanne & Cassedanne, 1974), permitem associar a gênese dos depósitos aos veios pegmatóides encaixados no Complexo Pré-Espinhaço.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presença de euclásio de origem pegmatítica em áreas com pouca ou nenhuma referência da presença desse tipo de atividade magmática, demonstra o ainda limitado conhecimento acerca da metalogenia regional. As pesquisas até então desenvolvidas permitem que sejam reconhecidos três tipos de depósitos primários de euclásio no Brasil:
(1) Na designada "litomarga" do distrito de Ouro Preto, uma argila marrom escura, de origem controvertida, associado ao topázio imperial,
(2) Em pegmatitos heterogêneos, bem zonados e relacionados a uma fase de magmatismo bem conhecida, datada no final do Brasiliano (550-450 Ma), como nos casos de Santana do Encoberto (MG), Cachoeiro de Santa Leopoldina (ES) e nos depósitos do Rio Grande do Norte, e
(3) Em veios pegmatóides, relacionados a processos magmáticos ainda pouco estudados na região da Serra do Espinhaço, dos quais são exemplos os depósitos de Bocaiúva, Itacambira e Gouveia, Minas Gerais, além de, provavelmente, as pouco conhecidas ocorrências da Chapada Diamantina, no centro-norte baiano.