domingo, 1 de novembro de 2015

O ciclo não incomum de um projeto mineral na Amazônia

O ciclo não incomum de um projeto mineral na Amazônia




Um projeto mineral inicia com as descobertas garimpeiras superficiais nos cursos d´água, com a legalização do projeto por geólogos locais e a apresentação das descobertas garimpeiras em relatórios escritos em inglês.
Um projeto se solidifica com a participação de geólogos e técnicos locais e estrangeiros com novas descobertas afastadas dos cursos d´agua, com a utilização de ferramentas geoquímicas.
Um projeto pega corpo com a participação de geólogos e técnicos locais e estrangeiros com a utilização de ferramentas geofísicas e de trincheiras e a obediência cega à lei canadense 43101 criada para defender os interesses dos acionistas, verdadeiros donos do projeto.
Depois de um ano, o capital integralizado pela empresa financiadora, com a sondagem dos alvos descobertos com as ferramentas anteriores, chega à cavalaria de fora demitindo os intrusos locais. É também a época da construção de acampamentos confortáveis com internet.
Vem a época das visitas de investidores e das fiscalizações de bancos estrangeiros e certificadoras e a divulgação periódica de relatórios (release) na internet com o objetivo de alavancar o valor das ações; nesta época, a atividade de campo se resume em manter os acessos para as visitas e a limpeza do acampamento
Vem a época das dúvidas, da cristalização dos erros “culturais” da equipe de fora e da Justiça do trabalho e o comando do projeto por advogados brasileiros
Vem a época das fiscalizações do DNPM com a volta momentânea dos intrusos locais
Vem a época da transferência das ações e a mudança do staff para uma nova empresa
Vem a época do trabalho virtual com poucos trabalhos de campo, o projeto transformando-se num ativo fora do pais com o apoio de advogados brasileiros.
Vem a época das dificuldades de pagamentos para os garimpeiros titulares e as tentativas de renegociações, a suspensão do pagamento aos fornecedores, trabalhadores e taxas ao DNPM.
Vem a época da justiça do trabalho tentando arrestar bens da empresa e a briga por estes bens entre fornecedores, garimpeiro titular, trabalhadores e governo.
Vem a época do bloqueio legal com o indeferimento do relatório e a serie de recursos
Vem a época dos garimpeiros de novo trabalhando nas áreas trabalhadas pela empresa e baixando poços nos locais mais ricos descobertos pela sondagem.

Fechou o CICLO depois de no mínimo 20 milhões de dólares investidos na área. Mas esses 20 milhões são pulverizados em milhares de acionistas “anônimos”. Os geólogos estrangeiros saem do projeto com gratificações de centenas de milhares de dólares e o staff acionista sai do projeto com gratificações milionárias. Quanto aos acionistas anônimos........de fora e aos geólogos brasileiros, ganharam em experiência 

O núcleo estratégico poli metálico do Tapajós

O núcleo estratégico poli metálico do Tapajós



“A miopia intelectual é a mais constante geradora de erros estratégicos”




No momento da criação das FLONAS Itaituba I e II, em 1998, onde a nova Constituição de 1988 já estava em vigor há 10 anos, não foi obedecido o princípio da consulta pública, principalmente junto à população diretamente afetada, no caso dos hoje municípios de Itaituba e Trairão; esta falta de auscultação da sociedade gerou conflitos sociais de grande monta pois alijou interesses de sobrevivência de muitos brasileiros e acesso legal as riquezas nelas contidas. Essas riquezas que devem ser exploradas, e sempre com o rigor do respeito a natureza, como meio de subsistência de enormes contingentes populacionais.
Ao tentar preservar a BIODIVERSIDADE não se levou em conta a GEODIVERSIDADE e seus recursos minerais, que há séculos é um dos principais motores econômicos de nosso país.
Exemplo claro desta afirmação é a descoberta em 1998 de um conjunto de vulcões antigos dentro do perímetro destas Flonas conforme imagem de satélite em anexo mostrando a leitura aérea pela CPRM da intensidade do canal de potássio provocado pela alteração hidrotermal dos vulcões contidos na área:
Este evento geológico foi o responsável por uma enorme área de mineralização poli metálica incluindo ouro, cobre, prata chumbo, zinco, molibdénio e não metálicos como diamantes encontrado em 2010, hoje proibidos de ser explorados de maneira legal em consequência desta miopia intelectual, o estão por garimpagem sem o compromisso ambiental e sem a possibilidade de corrigir tal destruição por causa da impossibilidade de titular as áreas mineralizadas.
Isto posto demonstra-se que o pouco conhecimento do arcabouço geológico e a GEODIVERSIDADE necessitam ser mais bem conhecidos e não bloqueados por instrumentos legais de preservação que foram criados a revelia desta realidade e que acabam subtraindo esta riqueza da economia nacional.
A região Norte é conhecida pela falta de integração nacional e principalmente nos aspectos socioeconômicos e justamente onde as riquezas minerais estão mais presentes e que podem e devem ser agregadas para alavancar o desenvolvimento local e nacional.
Prova da ausência de critérios e na miopia na criação das FLONAS Itaituba I e II foi a não permissão de atividade mineral no seu decreto enquanto todas as demais Flonas criadas posteriormente em 2006 com as devidas consultas públicas permitem tais atividades.

O absurdo da sobreposição de reservas no Tapajós

O absurdo da sobreposição de reservas no Tapajós


O caso das Flonas Itaiuba I e II e das glebas Damião e Prata


Em 22 de março de 1988, um decreto presidencial criava asglebas Damião e Pratana confluência dos rios Jamanxim e Tapajós com o objetivo de manobras do exercito brasileiro;
Entretanto, o exercito brasileiro já manifestou por escrito o seu desinteresse nesta área, mas os outros órgãos como DNPM não foram informados e as glebas ficam no sistema do órgão fiscalizador dos recursos minerais do país impedindo a outorga.
Por causa destas duas glebas, o DNPM não dá alvarás dentro do perímetro das mesmas, mas não impede de trabalhar lá e milhares de garimpeiros operam neste setor para ouro e diamantes.
Em 1998, dez anos mais tarde foram criadas as Flonas Itaituba I e II exatamente no mesmo lugar das Glebas Damião e Prata; a legislação das Flonas não impede a mineração e por isto o DNPM outorga os alvarás. Outorga porque é Flona, mas não outorga porque também é Gleba
Isto é só pela legislação mineral

Mas vamos ver a legislação Ambiental que opera exatamente ao contrário
Pelas Glebas Damião e prata, nada impede o licenciamento ambiental, mas pelasFlonas Itaituba I e II não permite nem a garimpagem que, entretanto existe desde antes destes dois decretos.

Prova da ausência de critérios na criação das FLONAS Itaituba I e II foi o esquecimento da permissão de mineração no seu decreto, que, entretanto existe nos demais decretos das outras flonas.

Em 2012, a presidenta da república desafetou através da lei 12678, ou seja, retirou das Flonas Itaituba I e II parte que ira ser inundada pela construção da barragem de São Luís do tapajós; desafetou a Flona, mas esqueceu de desafetar a Gleba, que esta por baixo, ou seja, a desafetação foi inócua. O croqui anexo mostra as flonas já desafetadas a esquerda e as glebas a direito

O ELEVADOR DOS DIAMANTES

O ELEVADOR DOS DIAMANTES




Nada melhor do que a simbologia para a vulgarização de temas técnicos complexos, ou a geologia ao alcance de todos
Após o artigo técnico de José Inácio Nardi a respeito da quilha mantélica, formadora dos diamantes e dos pipes kimberliticos transportadores destes até a superfície,

apresentamos o elevador dos diamantes, uma vulgarização do mesmo tema e mostrada por Antonio Liccardo da UFOP

O modelo apesar de oriundo da Africa, poderia ser em tese aplicado no Tapajós, já que foram encontradas amostras de lamproito, material destes elevadores na área diamantífera da região. 

O ENIGMA DOS DIAMANTES DO TAPAJÓS

O ENIGMA DOS DIAMANTES DO TAPAJÓS


Os diamantes do Tapajós são quase 100% gemológicos e pequenos, ou seja, pelos conhecimentos dos geólogos da África do Sul, eles foram transportados por centenas de km, o transporte tendo destruídos os diamantes mais fracos, mas eles também não são rolados, mostrando todas as facetas e são até bi-piramidados, às vezes perfeitamente euédricos e por esta razão, eles não foram transportados;
Uma flagrante contradição sem contar outros problemas como a quase ausência dos guias tradicionais do diamante; Isto é só o início do ENIGMA



Tapajos Diamonds are almost 100% for gemology and small; by South African geologists knowledge, they were transported for hundreds of miles, transport having destroyed the weaker diamonds, but they are also not rolled, showing all facets and are to bi-pyramided, sometimes quite euhedral and for this reason they were not transported;
A contradiction not counting other problems like near absence of traditional guides diamond; This is only the beginning of puzzle

O geólogo José Inácio Stoll Nardi neste artigo joga a primeira pedra no caminho para entender esse enigmo; iremos aguardar as outras pedras com ansiedade.


Há várias décadas são conhecidas ocorrências aluvionares de Diamantes nos rios Cupari e Itapacurá, ambos afluentes da margem direita do rio Tapajós, o primeiro à jusante da cidade de Itaituba e o segundo, à montante da mesma. Garimpagem intermitente e rudimentar nestas áreas têm produzido algumas gemas de boa qualidade. Mais recentemente, novas descobertas são mencionadas em áreas de confluência dos rios Jamanxim e Tapajós, ao longo de tributários menores do baixo Jamanxim, em região ao norte de Novo Progresso, em drenagens menores ao longo da estrada Itaituba – Rurópólis e ao longo de alguns ramais rodoviários ao sul de Rurópolis. Com a migração da tecnologia garimpeira do ouro para o diamante, começam a pipocar informações de quase todo o Tapajós. Esta série de ocorrências diamantíferas sugere que a bacia do Tapajós pode abrigar depósitos importantes deste precioso mineral.
É importante tecermos algumas considerações sobre a gênese dos Diamantes em regiões como a do Tapajós, baseados nos conceitos dos estudiosos SHIREY & SHIGLEY (2013). Lembremos a regra de Clifford (1966), que enuncia – “kimberlitos diamantíferos se introduziram nas porções mais antigas dos crátons, enquanto kimberlitos estéreis se introduziram em rochas mais jovens”.  Esta relação é bem evidente no cráton Kaapvaal (África do Sul), onde os kimberlitos diamantíferos estão intrudidos no cráton e os estéreis, fora do cráton.
A erosão de antigos crátons tem produzido intemperismo nos kimberlitos aflorantes e a deposição dos Diamantes nos aluviões resultantes. Sem alçamento crustal (uplift), tais Diamantes permanecem depositados em bacias geológicas sedimentares, como no oeste da África, Zimbabwe e Brasil. Onde o cráton tem sido alçado, os Diamantes são liberados de suas rochas hospedeiras e transportados pelas drenagens junto com os sedimentos.
Ondas sísmicas evidenciam a presença de Mantle Keel (quilha mantélica), subjacente a muitas regiões continentais antigas (crátons) e aí se inclui o cráton Amazônico ou mais especificamente, a região drenada pelo alto Tapajós e tributários, foco desta análise.
Situado abaixo das crostas continental e oceânica, está o manto peridotítico rígido – este conjunto compreende a litosfera. Através dos crátons, o manto litosférico se estende de 40 Km até a profundidade de 250-300 Km. Sob os oceanos, esta camada se estende até a profundidade de 110 Km. Por causa desta forma protuberante mais espessa e sua associação antiga no tempo à crosta continental do cráton, esta parte do manto é chamada Mantle Keel.
O Mantle Keel é causador de algumas particularidades associadas aos continentes – estabilidade tectônica, elevação acima do piso oceânico e a ocorrência de Diamantes. Erupções kimberlíticas que transportaram Diamantes para a superfície, também carrearam amostras de rochas do manto litosférico – os xenólitos. E a partir destes, conseguimos conhecer melhor a natureza do Mantle Keel, sob os continentes, como por exemplo, que ele inclui 5% de Eclogitos. O Mantle Keel é a fonte de quase todos os Diamantes gema do mundo e daí, a importância que devemos dispensar ao mesmo.
Acredita-se que a crosta e o Mantle Keel subjacente ao continente, foram criados juntos em processo de consolidação crustal e estabilização cratônica. A duração deste processo é pouco conhecida; pode ter demandado muitas dezenas de milhões de anos, iniciando com a formação da crosta continental mais antiga (próximo de 4 bilhões de anos atrás). 
O significado disto, para a formação do Diamante, é que no fundo do Mantle Keel, sob cada região crustal continental antiga, há pressão alta suficiente e comparativamente baixa temperatura para permitir a cristalização de Diamantes, desde que receba fluídos saturados em Carbono, do manto convectivo sobrejacente.
Assim, o fundo do keel pode ser comparado a uma “caixa de gelo” (ice box), embora com muito mais elevadas temperaturas, capaz de armazenar Diamantes, durante bilhões de anos e mantê-los isolados da circulação convectiva do manto, muito embora, passíveis de serem carreados por um magma kimberlítico ascendente. Tanto Peridotitos, como Eclogitos contem Diamantes; mas Peridotitos que irromperam em superfície com Diamantes inclusos são raros, ao passo que Eclogitos com conteúdo diamantífero são comuns.
As atividades geológicas relacionadas às placas tectônicas, como vulcanismo, orogênese e magmatismo intrusivo próximo da superfície da crosta, geralmente podem destruir os diamantes, as que ocorrem em condições de P (pressão), T (temperatura) e oxidação, nas quais Diamantes não podem cristalizar ou permanecer estáveis.
No caso da região do Tapajós, houve o episódio intrusivo / vulcânico, predominantemente ácido e secundariamente, intermediário (riolíto- dacítico / granítico - granodiorítico), que se estendeu de 1,8 até 1,0 GA. Ainda que tal magmatismo / vulcanismo tenha sido causado dominantemente por refusão de rochas siálicas, não se tem ideia de quanto e como este fenômeno poderia ou não, ter atingido e influenciado os depósitos diamantíferos guardados nas profundezas do Mantle Keel subjacente.        
A realidade é que alguns garimpos daquela região têm produzido gemas de muito boa qualidade, o que sugere transporte longo, mas pudemos observar cristais de Diamante bi-piramidados, perfeitamente euédricos, o que sugere pequeno transporte a partir da área fonte. Também já foram verificadas na região, ocorrências de Diamantes associados a sedimentos pós-vulcânicos, ou seja não primários, fenômeno que poderia ter um papel na equação contraditória. Tais litologias sedimentares deverão ser brevemente melhor observadas, descritas e classificadas para que possamos situá-las do ponto de vista geocronológico.
Muitas pesquisas ainda deverão ser feitas para se determinar as prováveis fontes destas gemas preciosas na região do Tapajós e para explicar a contradição diamantes gemológicos/diamantes não rolados