Sonho da riqueza impulsiona garimpo ilegal de cristais em cidade mineira
Milton mostra pedras encontradas na cidade e lamenta ainda não ter ficado rico
SÃO JOSÉ DA SAFIRA – A busca pelos cristais abundantes na região
movimenta um exército de moradores em São José da Safira, no Leste do
Estado. Longe das lavras oficiais, esses garimpeiros clandestinos passam
horas cavando pequenos buracos nos topos dos morros em busca do minério
que, apesar da semelhança com o diamante, é vendido a R$ 2,50 o quilo.
Pelo menos a metade dos 4 mil habitantes da cidade sobrevivem do garimpo
ilegal de cristais.
O esforço que vale o sustento das famílias desafia sol e chuva. Ainda é
madrugada quando eles começam a se movimentar em direção às fazendas da
região, levando nos ombros picaretas e o almoço.
Vistos de longe, os buracos feitos pelos garimpeiros transformam o
cenário em um formigueiro humano. Com a mesma agilidade, eles correm
quando veículos estranhos se aproximam. “A multa é alta”, conta
Alessandro Mendes de Souza, de 31 anos.
Ele foi o único que esperou a chegada da equipe de reportagem na área
que fica às margens da estrada de acesso à cidade. Com a pele queimada
pelo sol e as mãos calejadas, conta que desde criança garimpa cristais,
atividade que conheceu acompanhando os pais e a irmã. “Todo mundo aqui
sobrevive disso. Tenho três filhos para cuidar”, justifica. Segundo ele,
se a extração for boa, é possível faturar de R$ 800 a R$ 1 mil em um
mês.
Protegidas por uma sombra às margens do asfalto, as donas de casa Maria
Aparecida Silva, de 50 anos, e Rosilene de Souza, de 49, tentavam
“juntar fôlego” para voltar para casa, a seis quilômetros. Haviam
extraído cerca de 15 quilos de cristais, trabalhando das 4h às 16h, mas
mal conseguiam carregar os sacos, tamanho era o cansaço e o calor.
“Com cinco filhos e sem emprego, o jeito é se esforçar”, conta Maria.
“Se formos olhar as dificuldades, morremos de fome”, completa Rosilene.
Para Milton Gregório da Silva, de 54 anos, 40 deles trabalhando na
extração dos cristais, o desalento é a certeza de não ficar rico um dia,
como pode acontecer com os que trabalham nas cinco lavras e dezenas de
minas de São José da Safira.
A cidade é conhecida internacionalmente pela grande produção e variação
de turmalina, dentre elas a rubelita. “O que a gente ganha com o
cristal mal dá para o sustento, mas fazer o quê?”, lamenta.