domingo, 3 de janeiro de 2016

Ametista do Sul: Extraída pedra ametista de 7,2 toneladas

Ametista do Sul: Extraída pedra ametista de 7,2 toneladas

 

Foto: Giovane Sabino
Uma ametista de 7,2 toneladas foi encontrada no garimpo de propriedade dos irmãos Nadir e Célio Capra, na localidade de Linha Barreirinho, em Ametista do Sul, no Médio Uruguai. É a maior extraída até agora nas jazidas de pedras preciosas localizadas no município e em mais sete cidades da região. Antes, chegou a ser achada uma com 3 toneladas. Segundo Nadir, a peça tem 3 metros de comprimento, 2,5 metros de largura e 1 metro de altura. Ele informa que dois garimpeiros trabalharam 40 dias para retirar o geodo, em forma de coração.

No seu interior, a peça é oca e suas paredes são formadas por pontas de ametistas, de cor lilás. Nadir diz que o material será comercializado como está, bruto. "Essa ametista pode parar até em outro país", afirma. Os irmãos possuem a jazida há 20 anos, e a maior pedra retirada do local pesou 2 toneladas. A ametista virou atração, e muitas pessoas chegam à propriedade para vê-la.

Nos oito municípios da Cooperativa de Garimpeiros do Médio Uruguai, encontram-se 510 garimpos, dos quais 200 estão ativos. Segundo o engenheiro de minas da Coogamai Anderson Oliveira, 53% dos garimpos estão situados em Ametista do Sul, conhecida como a capital mundial dessa pedra. A extração da ametista é realizada de forma subterrânea, em galerias ou furnas horizontais com altura de quase 2 metros e largura de 3 metros. Os túneis podem chegar a ter 400 metros de profundidade.

Esperança que move o ofício

Esperança que move o ofício

Maioria tira apenas o suficiente para o sustento; mas há casos de lucro de até R$ 50 mil

Contingente. Cerca de 1.200 garimpeiros atuam ao longo de 1,5 km de leito do rio Jequitinhonha, com maior concentração na Areinha
Maioria tira apenas o suficiente para o sustento; mas há casos de lucro de até R$ 50 mil

Diamantina. A caminho de Areinha - a área às margens do rio Jequitinhonha onde se concentra a maior parte dos garimpeiros da região, distante cerca de 80 km de Diamantina - o presidente da Associação de Proteção à Família Garimpeira da cidade (Aprofagadi), Aélcio Freire Vial, faz um alerta de que a paisagem que se verá no local é impactante. É de se encher os olhos, mas só de terra, areia e águas turvas.

O cenário, que se completa com barracos improvisados, bombas de sucção e um considerável contingente de garimpeiros, tem aquele aspecto como resultado da atuação das mineradoras Rio Novo e Tejucana na 
região, como faz questão de frisar o representante das famílias que trabalham no local.
 "Não há degradação nova", diz, em alusão à herança deixada pelas grandes empresas.

É dos rejeitos deixados por elas que os garimpeiros tentam garantir seu sustento, trabalhando em um período de estiagem, de maio a outubro. "Nas épocas de cheia, eles se dedicam à cultura de subsistência", conta Aelcio. Ele destaca que a maioria não tem qualquer tipo de qualificação e que, sem o garimpo, poderia atuar só na capina ou como servente de pedreiro.

A esperança de se achar um diamante que traga fortuna é compartilhada, mas a sorte não sorri da mesma maneira para todos. Alguns, como Luiz Gonzaga Costa, 48, conseguiram construir patrimônio. Casado e pai de três filhos, ele tem sua própria bomba de sucção - que custa em torno de R$ 25 mil - e um grupo de sete homens sob sua gerência.

A maior parte dos garimpeiros, contudo, apenas garante o sustento da família e, eventualmente, em períodos de boa apuração da cata, investe em algum bem - normalmente carros ou caminhonetes. Aníbal Machado, 33, por exemplo, diz que tira, em média, R$ 1.000 por mês, mas ele conta que já aconteceu de lucrar R$ 50 mil, com os quais comprou, justamente, um carro novo. "Mas quem ganha mesmo é o dono da bomba", diz, revelando sua própria falta de planejamento. "O que eu ganhava, gastava tudo na cidade". Ele chega a ficar 20 dias no acampamento, sem ir em casa.

A realidade de Aníbal reflete a da maior parte dos garimpeiros. Ademar Ribeiro Júnior, 23, pai de três filhos, começa a trabalhar às 4h e diz que em mês de boa apuração chega a ganhar R$ 1.000. "Mas pode ser que não chegue a R$ 500 e também pode acontecer de a gente não tirar nada", lamenta. Nesses casos, o financiador, dono da bomba, garante o sustento da família do garimpeiro e a manutenção do equipamento.

Motivação. O que é comum a todos que estão na Areinha é a consciência de uma vida indissociável do garimpo. O próprio Aníbal diz que já deixou a atividade e retornou para ela umas 20 vezes, tendo, em um desses intervalos, trabalho com carteira assinada. 

De qualquer modo, para muitos, a simples perspectiva de poder atuar no ramo é motivo para uma mudança de vida. É o caso de Luciano Alves dos Santos, 72, que, na década de 60, trabalhou em uma grande empresa garimpeira. "Antes eu estava sem trabalhar, só na cachaça", diz. Hoje, ele comemora a volta da atividade. "Faço de tudo, sempre na expectativa de tirar diamante. Os donos de bombas me conhecem e me chamam porque, como trabalhei nas dragas antigas, sei onde 

Operação desativa garimpo ilegal em terra indígena

Operação desativa garimpo ilegal em terra indígena


Operação desativa garimpo ilegal em terra indígena



Operação desativa garimpo de diamante em reserva de Rondônia

Três garimpos ilegais de diamante, que funcionavam na Reserva Roosevelt, no sul de Rondônia, foram desativados há dois dias por fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da Fundação Nacional do Índio (Funai) e por agentes da Polícia Federal. Dezessete motores e caixas separadoras utilizadas para o garimpo ilegal foram destruídos.
Representantes de etnias indígenas da Amazônia confirmaram a nova operação na propriedade onde vivem mais de mil índios da etnia Cinta-Larga, a 500 quilômetros da capital Porto Velho. A área já foi palco de um massacre, em 2004, quando 29 garimpeiros, que exploravam clandestinamente a região, foram assassinados por índios dentro da reserva.
Recentemente, segundo relatos da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb) e de alguns indígenas da região, os garimpeiros estariam atuando ilegalmente, com a autorização da etnia.
Na véspera da operação, em entrevista à Agência Brasil, o coordenador-geral de Fiscalização do Ibama, Rodrigo Dutra, antecipou detalhes da ação dos fiscais. Segundo ele, garimpeiros locais estariam tentando a reativação da exploração em três áreas. “Estamos adentrando para desmobilizar a retomada, com o apoio da Polícia Federal e da Funai [Fundação Nacional do Índio], mas está bem devagar”.
O garimpo ilegal em terras indígenas ocorre em, pelo menos, duas situações: a autorização dos índios que buscam retorno financeiro com a atividade, ou a partir da invasão não consentida.
“Existem terras indígenas onde os garimpeiros entram sem apoio e estas são mais anunciadas. Mas temos casos significativos em que os índios estão coniventes com os garimpos. Aí complica a segurança da fiscalização lá dentro”, disse Dutra ao explicar que, nestas situações, as operações ganham proporções maiores, como foi o caso de Rondônia.
Segundo o coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Marcos Apurinã, a intervenção dos fiscais do Ibama e da polícia não resultou em mortes. A operação teve como saldo, relatado pelo indígena, a queima de barracos, a expulsão de garimpeiros e a retirada de pessoas envolvidas com o crime ambiental.
O líder indígena admitiu que, em algumas regiões, as etnias acabam cedendo ao aliciamento de garimpeiros em troca de parcela do lucro da atividade. Segundo ele, o governo tem sido omisso. “Eles estão revoltados com e os empresários aproveitam e estão cooptando alguns indígenas”. Apurinã disse que algumas tribos ameaçam ignorar as leis e explorar diamante, madeira e cobrar pedágios.
“Preservamos tanto, defendemos tanto as florestas e o que recebemos hoje são cestas básicas e ajuda assistencial. Queremos que nossos filhos tenham oportunidades, saúde e educação”. Segundo ele, a demarcação de terras e políticas assistenciais não são mais suficiente para os grupos da região.
O geólogo e empresário da mineração, Elmer Prata Salomão, critica a falta de políticas para os índios. “A Funai age, frequentemente, como se quisesse criar zoológicos humanos, mantendo uma comunidade completamente isolada, o que é impossível com o avanço da sociedade”. Na avaliação do geólogo, os garimpeiros ocupam um vácuo de necessidade para os índios, oferecendo porcentagens em troca da autorização e silêncio das tribos.
Salomão acredita que além da política de integração é preciso garantir capacidade de renda aos índios. “Temos uma lei há mais de 20 anos tramitando no Congresso Nacional sobre a regulamentação da exploração de minérios pelos índios nas terras indígenas e não se consegue achar solução para isso porque têm muitos interesses envolvidos”.
Apesar de acreditar que a regulamentação em terras indígenas pode atrair empresas mineradoras que teriam maior responsabilidade com a partilha dos lucros com os índios, o secretário executivo da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb), Onildo Marini, critica as leis não cumpridas.
“Tem gente que sabe da atividade ilegal e fecha os olhos. Precisa regulamentar a questão nas terras indígenas porque é importante”. Segundo o geólogo, no caso da Reserva Roosevelt, onde o diamante já é comprovadamente de alta qualidade, os índios vivem em condições de luxo, por exemplo, com camionetes com tração 4x4. “Por outro lado, você tem lugares onde os índios não participam do lucro e isso acaba criando conflito. As áreas indígenas na Amazônia são enormes e nestas áreas o garimpo está presente”.

Diamante ofusca violência

Diamante ofusca violência

Atividade trouxe chance para centenas de trabalhadores se livrarem do desemprego

Diamante ofusca violência
Atividade trouxe chance para centenas de trabalhadores se livrarem do desemprego

A cidade de Diamantina, no Alto Jequitinhonha, nasceu da extração de pedras preciosas, mas pouco de sua riqueza natural vinha sendo explorada por garimpeiros da região nas últimas três décadas. Com a virada desse cenário em 2007 - quando trabalhadores invadiram uma área conhecida como Areinha, às margens do rio Jequitinhonha, para tirar ouro e diamante -, o município voltou a sentir os reflexos da mineração. Não só a economia se fortaleceu, conforme atestam os comerciantes, como a violência caiu significativamente aos olhos da população.

A sensação de segurança se comprova nas estatísticas da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). De 2007 para 2015, fase em que os garimpeiros tomaram conta da Areinha e alguns passaram a faturar alto, o índice de crimes violentos caiu 68% em Diamantina, passando de 161 casos para 51. A taxa de crimes para cada 100 mil habitantes, que era de 349,7 em 2007 - a maior da década - foi de 109,3 no ano passado. 

Já de 2000 a 2007, período em que a Areinha ainda vivia sob o domínio exclusivo da Mineração Rio Novo, o índice de crimes violentos na cidade subiu 437%, passando de 30 casos para 161. Nessa fase, o crescimento da criminalidade foi gradativo, com exceção de 2003 e 2004, que registraram ligeira queda.
Para o presidente da Associação de Proteção à Família do Garimpeiro de Diamantina (Aprogadi), Aélcio Freire Vial, a explicação para o declínio da violência nos últimos quatro anos está na ocupação de centenas de trabalhadores, que reencontraram no garimpo a chance para se livrar do desemprego. "A Areinha está ajudando a reverter a situação de marginalidade que deram ao garimpeiro", disse, e muitos estão ganhando mais de 5 mil por mês, e alguns "bamburram" e chegam a ganhar 100 mil a 200/300 mil, mas é raro.

Patrimônio. A Guarda Municipal e a Polícia Militar de Diamantina confirmaram que, nos últimos anos, houve uma queda no número de pessoas que viviam ociosas nos bares e nas ruas, gerando sensação de insegurança na população. O gerente de trânsito da Guarda Municipal Itacoaracy Pires prefere não associar a redução da violência ao garimpo, mas disse que, de 2008 para cá, caiu também o índice de crimes contra o patrimônio. "Os furtos de carro, por exemplo, tiveram queda".

O empresário Agnus Morais é um dos que observam a melhora. "Agora, a gente consegue andar tranquilo. Dá para estacionar e deixar o carro aberto", afirmou. Para ele, a causa disso é o garimpo, que voltou a dar sustento para as famílias. "Essa é a tradição da cidade. A atividade precisa ser regularizada".

Autoridades, no entanto, acreditam que a criminalidade pode estar concentrada na Areinha. Segundo o superintendente estadual de Fiscalização Ambiental Integrada, Breno Esteves Lasmar, "existe informação de que há drogas por lá e pessoas com mandado de prisão em aberto".

Diamantes para toda obra

Diamantes para toda obra

Do espaço ao fundo da Terra, o diamante entra em cena quando nenhum outro material agüenta trabalho pesado ou executado em condições adversas. Incorporado à eletrônica, ele promete revolucionar o mundo dos computadores
É apenas uma pedra, de estrutura simples, composta por átomos do elemento básico de toda forma de vida., o carbono. Raro, elaborado pela natureza há milhões de anos em camadas profundas da Terra, o diamante desde a Idade Média tem sido o ornamento mais fascinante e valioso das coroas reais e das jóias das mulheres afortunadas. Ao longo das últimas décadas ele se tornou também uma pedra preciosíssima para cientistas que pesquisam materiais.
Essa jóia, porém, não é natural nem nasce no fundo da Terra, mas em laboratórios. Como uma versão contemporânea dos alquimistas medievais, que procuravam a pedra filosofal para transformar chumbo em ouro, esses cientistas fazem diamantes a partir de substâncias tão pouco nobres como grafita ou gás metano. Longe de criar pedras para ornamentar anéis, eles buscam aperfeiçoar um material que pode se tornar o trampolim de um novo salto tecnológico, promessa mais concreta do que os badalados supercondutores cerâmicos anunciados alguns anos atrás.
Por suas propriedades, os diamantes se constituem num espécie de panacéia tecnológica, remédio para problemas em locais tão diversos quanto usinagem de metais, instrumentos medidores de radiação, computadores, naves espaciais e perfuração de petróleo. “Um diamante, seja natural ou sintético, é o material mais duro que existe”, diz o físico João Herz da Jornada, chefe do Grupo de Física de Altas Pressões da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que pesquisa a síntese de diamantes há seis anos. Isso significa que a pedra risca e penetra qualquer outro material, mas não pode ser riscada por nenhum deles. Duro mas frágil: devido ao tipo de arranjo molecular dos átomos de carbono, o diamante quebra quando leva pancadas em determinados planos. Mas sua resistência à abrasão é poderosa, o que lhes permite desgastar de cerâmicas a metais e sofrer bem pouco ataque.
Diamantes são também os melhores condutores térmicos, ou seja, dissipam calor mais rápido que qualquer outra substância, ao passo que são isolantes elétricos, impedindo a passagem de correntes elétricas. Inertes quimicamente, dificilmente reagem com outras substâncias, passando incólumes por banhos de ácido capazes de dissolver metais.Tudo isso misturado numa só pedrinha, e tem-se a receita de um material quase perfeito. Até 1955, quando nos laboratórios da General Electric americana foi produzido o primeiro diamante sintético, dependia-se apenas dos naturais que haviam se dignado a subir à superfície da Terra. Somente em 1797, o químico inglês Smithson Tennant provou que o diamante era simplesmente uma forma de carbono: queimado na presença de oxigênio, virava dióxido de carbono, como acontece com a grafita ou com o reles carvão vegetal. O século e meio seguinte foi de corrida para ver quem descobria a receita de transformar grafita em diamante, em que a GE chegou primeiro.O método desenvolvido pela GE é a técnica de alta pressão e alta temperatura. Junta-se um pouco de grafita, um catalisador (metais como ferro, cobalto e níquel), faz-se um sanduíche de várias camadas, colocando-o no centro de uma câmara de alta pressão. No Laboratório de Alta Pressão da Federal gaúcha, montado com máquinas e equipamentos totalmente projetados e construídos no Brasil (e iguais aos estrangeiros ), essa câmara é o furo central de um disco de carboneto de tungstênio. uma liga superdura. 

Colocada numa prensa de 500 toneladas, a câmara atinge a pressão de 50 000 a 60 000 atmosferas—1 atmosfera é a pressão do ar ao nível do mar. Uma corrente elétrica passa então por dentro da câmara e aquece o sanduíche na temperatura ideal de 1 500ºC. Em cinco minutos, tem-se uma mistura solidificada de diamantes pequenininhos e metal. Um banho de ácido dissolve o metal e ficam só as pedrinhas. Parece simples, mas é preciso controlar muito bem temperatura e pressão, para que o processo seja eficiente.Acima de 1 000 graus Celsius, o diamante em pressão normal se grafitiza. Isso só não acontece na câmara por causa da alta pressão, condição em que a forma estável do carbono é o diamante. Quando se quer uma pedra maior, monocristalina, um pequeno diamante é colocado na base da câmara, e ali o carbono vai se depositar, fazendo-o crescer, num processo que pode demorar uma semana.Foi assim que o laboratório da GE fabricou seu diamante ultrapuro, com 99,9% de isótopos de carbono-12 (enquanto os naturais têm 99% ), e apenas 0,1% de carbono-13, considerado uma impureza. Esse ultrapuro consegue a proeza de conduzir calor com 50% a mais de eficiência do que o diamante natural. Do diamante, costuma-se dizer que é para sempre, mas na verdade não deveria ser nem por trinta segundos. Na temperatura e pressão da superfície da Terra, a forma estável do carbono é a grafita. O diamante é a forma metaestável, ou seja, só continua existindo porque não há energia suficiente (alta temperatura) que sacuda seus átomos e o faça retornar à forma estável, a grafita.

Calcula-se em 1 bilhão de dólares anuais o mercado mundial de diamantes sintéticos, Graças a sua dureza, o diamante entra em cena na indústria toda vez que ferramentas normais não dão conta do serviço pesado. Só nos automóveis, cada um que sai da linha de montagem deixa para trás 1 quilate (0.2 grama) de diamante gasto em sua produção. Como nessa indústria trabalha-se muito com peças e ferramentas de materiais duros e abrasivos, o diamante é quem dá melhor resultado nas usinagens—retiradas de material para que as peças atinjam as dimensões exigidas— e acabamentos. como polimento de discos de freio ou dos cilindros dos motores. Quem faz esse trabalho é o chamado policristalino de diamante, ou PCD, uma das formas de aplicação do diamante industrial que nada tem a ver com as gemas vistosas incrustadas nos anéis.Quase 90% dos diamantes industriais são sintéticos. Pedrinhas minúsculas, com tamanho variável entre 1 200 e 0,25 mícrons (1 mícron é 1000 vezes menor que 1 milímetro), parecem a olho nu um punhado de purpurina extremamente brilhante. O PCD é feito com milhares de diamantes de 10 mícrons colocados sobre uma base de metal-duro, uma liga de carboneto de tungstênio com cobalto. Sob alta temperatura e pressão, o cobalto penetra nos interstícios entre os diamantes, unindo os pedacinhos num corpo agora inteiro, com formatos diversos e tamanhos de até 5 centímetros. 

Além da indústria automobilística, o PCD é usado na aeronáutica, para trabalhar os novos materiais leves e resistentes como kevlar e fibra de carbono."No caso da fibra de carbono, é imprescindível o uso de ferramentas que sustentem o poder de corte por muito tempo, como as de diamante, pois se ficarem cegas estragam a fibra", explica o engenheiro Luiz Carlos Caetano da Silva, da De Beers Diamantes Industriais do Brasil. Outro processo de construir ferramentas diamantadas é a sinterização, em que grãos de diamantes são misturados a ligas metálicas que aprisionam esses grãos. Essa liga cravejada de pedras pode ser posteriormente soldada a diferentes bases, formando ferramentas como rebolos, serras e limas. Uma das ferramentas mais importantes é a broca para perfuração de poços de petróleo. Com o diamante sinterizado na ponta, a broca vai perfurando várias camadas de rocha até perto de 4 000 metros de profundidade. Só o diamante consegue chegar lá inteiro—ainda que as pedras sofram desgaste no processo, ele é muito menor do que o sofrido por qualquer outro material que fosse utilizado, tornando a broca resistente por mais tempo. Segmentos sinterizados de diamantes são aplicados também em serras. Elas cortam qualquer pedra que apareça pela frente, de mármore e granito a concreto.

O método mais moderno de fabricar diamantes sintéticos é chamado CVD, sigla de Chemical Vapour Deposition, ou deposição de vapor químico, inventado por soviéticos há mais de dez anos. Os avanços científicos e técnicos nesse método, nos últimos quatro anos, transformaram- no na última moda em laboratórios de todo o mundo. "Nesse processo, não se passa de uma fase a outra, mas de uma substância a outra". afirma o físico Rogério Pohlmann Livi, do Grupo de Altas Pressões da Federal do Rio Grande do Sul.A matéria-prima aqui não é a grafita, mas o gás metano (CH4). Numa proporção de mais de 99% de hidrogênio e menos de 1% de metano, o gás é levado a um recipiente de vidro protegido com quartzo e passa por um filamento de tungstênio, semelhante ao das lâmpadas domésticas, onde é aquecido a 2 000°C. A temperatura ativa o gás e quebra as ligações moleculares, ocorrendo a formação de radicais livres (CH3, CH2,CH, etc.). Em muitos experimentos o gás é ativado por microondas, Iaser ou até mesmo pelas reações químicas em maçaricos.Dentro do recipiente de vidro fica a base onde vai se formar o diamante, o substrato, geralmente uma plaquinha de silício mantida aquecida a 800°C. Cada molécula de CH3 se deposita sobre o substrato, deixando ali o carbono e liberando o hidrogênio. 

Os átomos de carbono se arranjam então na forma de diamante, microscópicos cristais nascendo ao longo do substrato, num processo chamado nucleação. Os pequenos cristais de diamante espalhados pela superfície crescem até se tocarem, formando uma camada continua. O resultado do CVD, portanto, é um filme de diamante policristalino, ou seja, formado por milhares de infinitesimais cristais de diamantes agregados.A invenção do CVD foi um achado. É certo que ele ainda custa muito mais do que o de alta pressão—calcula-se em 100 dólares por quilate—, pois são necessárias cerca de dez horas de um consumo extraordinário de energia para fabricar um 1 filme de 1.5 cm x 1.5 cm com até 10 mícrons de espessura. Apesar do preço ainda elevado, essa nova técnica permite o revestimento de diamante em superfícies relativamente extensas (atualmente mais de 100 centímetros quadrados) e com formas complexas, o que viabiliza um grande número de novas aplicações.Por outro lado, para campos tão diferentes como revestimentos antiabrasivos, ferramentas de corte e microeletrônica, apenas camadas muito finas—e portanto baratas—são necessárias. Estima-se que a introdução do processo CVD irá ampliar consideravelmente o mercado do diamante sintético, dos atuais 1 bilhão de dólares por ano para algo em torno de 7 bilhões de dólares por ano. Imune a radiações, o diamante daria um ótimo passageiro a bordo de naves espaciais, já que passaria ileso pelo mar de raios lá em cima, como os ultravioleta e os raios X. 

É uma janela perfeita também para aparelhos de raios laser. Isso tudo, se ainda não é uma realidade comercial, já é viável tecnologicamente. Porém, um dos grandes desafios pelos quais fervilham os laboratórios que pesquisam materiais em todo o mundo é aprender a usar o potencial do diamante como semicondutor, na fabricação de chips com características muito melhores do que os existentes hoje, baseados no silício.Melhor dissipador de calor já nascido ou inventado, e transportando impulsos elétricos a velocidades muito superiores à do silício o diamante poderia fazer maravilhas dentro de um computador. Os chips de silício, que fazem o trabalho de processar informação, já pedem água por tanto esforço que fazem. A movimentação dos elétrons dentro deles produz calor—assim, quanto mais informação passa mais ele fica quente—, e acima de 200 ou 300°C o chip está destruído. A 1 50°C ele já não funciona direito, um problema sério para computadores a bordo de automóveis, veículos militares e mísseis, que nem sempre trabalham sob sombra e água fresca, como aconteceu recentemente na Guerra do Golfo Pérsico. Supercomputadores, não fossem seus eficientes sistemas de refrigeração, simplesmente não poderiam funcionar.

Embora seja isolante elétrico, o diamante, tal e qual o silício, vira um semicondutor quando dopado (adicionado de impurezas) com outra substância, nesse caso o boro. Só que a confecção de chips de diamante para computadores e outros equipamentos eletrônicos, pelas mesmas tecnologias existentes para o silício, esbarra na inabilidade em se produzirem camadas finas monocristalinas do material. Por enquanto, só se consegue fazer crescer filmes policristalinos (um aglomerado de monocristais).Por isso, em dezenas de laboratórios do mundo, existe hoje uma corrida louca atrás do crescimento epitaxial (com a mesma orientação cristalina) de diamante sobre silício e outros materiais, tendo como resultado as duas camadas monocristalinas. “Mesmo que isso seja conseguido, existem muitos outros problemas a serem resolvidos para a fabricação de chips comerciais, como contatos elétricos, dopagern seletiva, adesão de camadas e temperatura de funcionamento", adverte João Herz da Jornada. De qualquer forma, protótipos de diodos e transistores—peças básicas dos chips —feitos de diamante já provaram seu funcionamento em laboratório. Fazê- los trabalhar no mundo real parece ser uma questão de tempo e de desenvolvimento tecnológico. Quando esse dia chegar, os computadores verão o futuro mais brilhante.