domingo, 24 de abril de 2016

Os Minerais e os Colecionadores

Os Minerais e os Colecionadores



Cada vez mais gente vem se dedicando a colecionar minerais no Brasil, um hobby que conta com muitos adeptos em países como Estados Unidos, Canadá e Itália, por exemplo.
Apesar da grande diversidade de riquezas minerais do nosso país, em especial de pedras preciosas, ainda há poucos colecionadores aqui. Até o fim dos anos 80, eles eram até raros. De lá para cá, a crescente busca por cristais para energização, para tratamento de saúde (cristaloterapia) e para outros fins ditos esotéricos despertou muito o interesse da população por essas substâncias. Como consequência, as lojas de minerais, antes raras, tornaram-se relativamente numerosas, estimulando o surgimento de novos colecionadores.
Curiosamente, percebe-se com clareza que esse interesse vem surgindo principalmente entre as crianças, como bem demonstram as exposições promovidas pelo Museu de Geologia da CPRM.


Por que colecionar?
Colecionar coisas faz parte da natureza humana. Desde a infância temos a tendência de juntar objetos de determinada espécie, de modo ordenado ou não. Quando meninos, colecionamos figurinhas, moedas, selos etc. Adultos, passamos a preferir objetos de maior valor, como relógios e obras de arte. Até podemos continuar colecionando selos e moedas, mas com outra visão e atentos ao seu valor monetário, nem sempre apenas pelo prazer de ter grande quantidade daquilo de que se gosta. Mas cabe perguntar: por que colecionar minerais e não outra coisa? Há várias razões:
Beleza - uma boa razão é a beleza dos minerais, principalmente a daqueles bem cristalizados. Mas essa é uma motivação por demais óbvia, pois todo colecionador busca objetos agradáveis ao olhar.
Baixo custo - uma razão mais específica é a possibilidade de se obter peças para a coleção sem precisar comprá-las ou mesmo fazer trocas. As coleções costumam crescer através de compras e do intercâmbio com outros colecionadores. Os minerais, porém, por ocorrerem na natureza, podem ser obtidos sem que se tenha necessariamente de usar esses meios, principalmente se o colecionador é geólogo ou engenheiro de minas.
Universalidade - minerais são universais. Coleções de moedas, selos, obras de arte frequentemente estão muito ligadas a um determinado país ou região. Elas podem, é claro, ter uma abrangência internacional, mas não são, como os minerais, naturalmente internacionais. Além disso, que outro tipo de coleção pode contar com peças provenientes de fora da Terra, se não uma coleção de rochas e minerais, com seus meteoritos, tectitos e amostras coletadas na lua?
Antiguidade - por mais antigo que seja um documento, uma obra de arte, uma moeda, o que é sua idade – medida em séculos ou milênios – diante da idade das rochas e minerais, medida em milhões ou bilhões de anos?
Origem natural - outra característica marcante dos minerais é serem substâncias produzidas sem intervenção humana. São obras da natureza e, como tal, não estão sujeitas a avaliações pessoais quanto à habilidade de quem as fez, sobre o gosto artístico de quem as produziu etc. Os minerais, belos ou não, são como são porque a natureza assim os fez, não porque mãos mais ou menos habilidosas sobre eles agiram. Além disso, características que poderiam ser classificadas como defeitos podem ser - e muitas vezes o são de fato - detalhes que tornam a peça muito rara, se não única.
Treinamento profissional - para geólogos e outros geocientistas, colecionar minerais é o melhor meio de se aprender a reconhecê-los. O manuseio constante, o exame comparativo de indivíduos da mesma espécie, mas procedentes de diferentes regiões, a observação de particularidades que lhe são típicas, tudo isso leva o colecionador a desenvolver uma aguda percepção das características do material que coleciona, percepção esta que nem os melhores manuais de mineralogia conseguem proporcionar.
Durabilidade - embora haja um bom número de minerais facilmente suscetíveis a sofrer danos, por terem baixa dureza, sensibilidade à luz, sensibilidade à umidade etc., os minerais têm uma resistência física muito superior à dos seres vivos e à de objetos como quadros, selos, fotografias etc.
Passatempo educativo - segundo Fredrick H. Pough, um dos maiores mineralogistas norte-americanos, entre as ciências de base só a mineralogia é um passatempo educativo: ela combina a química, a física e a matemática. Perguntamos no início por que colecionar minerais. Diante das razões acima expostas, a pergunta a fazer talvez seja por que não colecionar minerais.

Como colecionar?
Colecionar não é apenas juntar. Uma coleção, seja do que for, deve ser um conjunto de peças bem classificado e ordenado. Quem assim não fizer não será propriamente um colecionador, mas um ajuntador.
A primeira grande decisão de quem decide colecionar minerais é que tipo de material coletar. A coleção sistemática abriga todo tipo de mineral e tem na diversidade seu objetivo maior e seu maior valor. Ela é a melhor opção para quem está começando. Com o tempo, o colecionador poderá optar por especializar-se, colecionando um grupo específico de minerais.
Para quem não dispõe de muito espaço ou de muitos recursos para obter peças novas, pode ser melhor uma coleção menos abrangente. Sem espaço para crescer, uma coleção sistemática dificilmente será importante. Já uma coleção específica poderá rivalizar com acervos de bons museus. Jules Sauer, por exemplo, um dos maiores joalheiros do Brasil, coleciona apenas turmalinas.
Outro aspecto intimamente relacionado com espaço é o tamanho das peças do acervo. Quem dispõe de área restrita obviamente não poderá ter muitas peças grandes, devendo optar por aquelas que os colecionadores norte-americanos chamam de cabinetsthumbails ou mesmo micromounts.
Mas aí cabe uma advertência: as peças da coleção não podem ser tão pequenas a ponto de tornar muito difícil a identificação do mineral. Minerais comuns em peças que exigem leitura da etiqueta de identificação para saber de que se trata certamente são pequenos demais. As características distintivas devem ser facilmente reconhecíveis.

Como obter minerais para a coleção?
Uma maneira fácil de obter minerais é comprando nas lojas. Você encontra material já limpo, escolhe à vontade e pode obter peças importadas. Porém, tem que pagar.
Outro meio é a troca com outros colecionadores, mas você terá que ter peças que interessem a eles.
Com mais trabalho, mas sem usar dinheiro, você pode aumentar sua coleção em minas, garimpos e pedreiras, onde técnicos e operários poderão ajudá-lo a identificar os minerais coletados. Quem não conhece não imagina a quantidade e qualidade dos minerais para coleção que garimpeiros e mineradores jogam fora. Também estradas em construção oferecem oportunidades de boas coletas.
Quando viajar, observe os barrancos das estradas. Manchas claras e/ou pontos brilhantes no solo podem indicar presença de cristais.
O respeito pelos demais colecionadores é uma característica do colecionador consciente. Ao coletar amostras em uma pedreira ou barranco de estrada, não traga mais do que as necessárias, muito menos danifique as que por alguma razão não poderá trazer. Outros colecionadores ou cientistas passarão por ali e merecem a oportunidade de também encontrar o que você encontrou.
Pode haver exceções: em pedreiras onde toda rocha removida é usada para produção de brita, não só o colecionador pode como deve coletar tudo o que estiver ao seu alcance, repassando a sobra para museus, escolas e, é claro, outros colecionadores.
Escrever para empresas de mineração é também um caminho para aumentar a coleção, mas poucas delas costumam atender a esses pedidos.

Como guardar e expor os minerais?
Exponha sua coleção da maneira que achar melhor, mas deixe para baixo e para trás as faces menos bonitas da peça e aquela que contiver a etiqueta de registro.
Manuseie os minerais com cuidado, não permitindo que haja atrito entre as peças, principalmente se têm durezas muito diferentes. Cuide também para não arrastar os minerais expostos. Isso pode danificar as prateleiras, pois muitos deles, principalmente as pedras preciosas, riscam facilmente vidro e madeira.
No transporte, enrole cada peça separadamente em bastante papel. Se forem peças pequenas e não muito frágeis, pode fazer um pacote só, mas da seguinte maneira: enrole a primeira com duas ou três voltas de papel, acrescente a segunda, dê mais algumas voltas, e assim por diante.
Um papel muito bom para isso é o que se usa para embrulhar pão. Não suja o mineral nem as mãos do colecionador, amolda-se bem em torno da peça e permite que se escreva sobre ele se necessário. Papel higiênico também serve, mas cada peça exige muitas voltas até ficar bem enrolada e não é possível o uso de caneta ou lápis. O jornal é útil para peças grandes, mas se a peça tiver cor clara pode ser necessário enrolá-la antes em papel que não solte tinta

Seleção de minerais
Num garimpo, mina ou pedreira, onde os minerais disponíveis para coleta são abundantes, pode-se hesitar entre coletar ou não determinada peça. Na dúvida, faça a coleta. Em casa, os minerais parecem mais bonitos que no local onde ocorrem, principalmente depois de lavados. Além disso, é muito mais fácil descartar uma peça menos importante do que voltar ao local para tentar encontrar uma peça bonita que não se trouxe.
Um mineral pequeno ou de pouca beleza é melhor do que nada quando não se tem nenhum daquela espécie. Guarde-o até conseguir uma amostra melhor. Os cristais podem valer mais pela beleza e perfeição do que pelo tamanho, além disso sempre valem mais quando estão na matriz, isto é, engatados na rocha em que se formaram.
É válido colecionar só pedras brutas, mas não menospreze as lapidadas. Um mineral lapidado e um no estado bruto da mesma espécie formam um conjunto que se destaca pelo contraste e pelo valor didático.
O mesmo vale para as ágatas tingidas. A maioria das ágatas industrializadas em todo o mundo são tingidas (no Brasil, porém, menos da metade recebe esse tratamento). Além de isso não ser uma fraude, é preciso reconhecer que o resultado pode ter grande valor estético

Registro das peças da coleção
Registre todas as peças da coleção. Cole na face menos importante um número ou outro código de identificação. Num caderno ou arquivo de computador, escreva esse número e após ele o nome do mineral com as principais características que identificam aquela peça (ex.: geodo de ametista com calcita). Anote sempre a procedência do mineral. Frequentemente os lojistas ignoram essa informação, mas não deixe de perguntar.
Anote também as dimensões (largura, comprimento e altura), pondo a altura sempre em último lugar. Registre a forma de aquisição (coleta própria, compra, troca) e o nome de quem a coletou, doou ou vendeu. Se comprada, anote o preço (em reais e em dólares). A data em que a peça foi incorporada à coleção é interessante anotar também.
Se a coleção for grande pode ser necessário um código de localização que mostre onde o mineral se encontra no móvel ou na sala em que esteja exposto. Faça esses registros sempre, mesmo que sua coleção seja pequena. Fazer isso depois que ela for grande será muito mais difícil e trabalhoso.

Avaliação do acervo
O valor de uma coleção vai muito além do valor comercial de suas peças. Inclui o trabalho que se teve para organizá-la e mantê-la, para identificar os minerais etc. Some-se a isso o valor do conjunto: a coleção sempre vale mais que a soma de suas peças tomadas individualmente. Lembre que muitos minerais raros não existem no comércio e nesses casos o valor é você quem dita.
Se não se julga em condições de atribuir preço às peças de sua coleção, use os conhecimentos de um colecionador experiente.


Cuidados com os minerais
A grande maioria dos minerais tem uma boa resistência física, mas alguns são muito fáceis de quebrar ou são sensíveis à luz, umidade, calor etc.
A gipsita e o talco podem ser riscados até com a unha. A laumontita desidrata com muita facilidade, desintegrando-se. O cinábrio por simples exposição à luz transforma-se em ouro-pigmento. A ametista e o quartzo róseo perdem a cor se expostos muito tempo ao sol. A halita, a silvita e a carnallita se desintegram em atmosfera úmida.
Procure conhecer os pontos fracos de cada espécie. Manuseie todas com cuidado, evite iluminação intensa e permanente sobre sua coleção, bem como calor ou umidade excessivos.


Intercâmbio de experiências e conhecimentos
Não é só através de troca de minerais que uma coleção se torna grande e importante. Também através das trocas de informações entre os colecionadores. Mesmo um mineralogista experiente, com sólido conhecimento geológico, pode perfeitamente ficar em dúvida ao tentar identificar uma peça que outro, menos especializado, sabe de que se trata. 
O mesmo pode acontecer com relação à procedência do mineral. Amostras de procedência ignorada podem ter sua origem diagnosticada por um colecionador experiente com base em algumas características físicas que são típicas dos espécimes procedentes de determinada localidade.
Esse intercâmbio é particularmente salutar quando feito através de associações de mineralogistas ou de colecionadores. Lá as informações abrangem um público maior e são mais confiáveis.
Outra preciosa fonte de informações para quem coleciona são os museus. Aprecie as belas peças expostas e aprenda sobre sua composição, história e procedência.


Ilia Deleff
Ilia Deleff
A triste história de uma grande coleção
Em 1957, o búlgaro Ilia Deleff, 36 anos, mudou-se para o Brasil e desde então começou a visitar garimpos espalhados pelo nosso país. Apaixonado pelos belíssimos minerais que neles via, começou a montar uma coleção formada apenas de cristais muito grandes, gigantescos mesmo.
Na década de 1970, Deleff radicou-se em Minas Gerais, onde sua coleção naturalmente cresceu ainda mais. Em 1982, após 25 anos reunindo cristais enormes que encontrava nos pegmatitos de nossos garimpos, ele detinha uma coleção de 78 cristais fabulosos, variando de 200 kg a quatro toneladas, acervo sem igual no mundo. Dele faziam parte o maior citrino, a maior amazonita azul, a maior morganita e o maior topázio azul do mundo.
Desejando vender sua coleção, procurou diversas instituições brasileiras propondo a venda e dispondo-se a receber como pagamento a renda que fosse obtida com a exposição da sua coleção. Essa proposta foi considerada exótica e recebida com desinteresse, quando não com desprezo.
Diante disso, Deleff ofereceu sua coleção a museus estrangeiros. Surgiram muitos interessados da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos, da França e do Japão. A coleção acabou vendida ao Museu de História Natural da França. Saiu do Brasil legalmente, como simples matéria-prima destinada à indústria. Ilia Deleff vendeu sua coleção, não a doou. Mesmo assim foi condecorado pelo presidente francês François Mitterrand.
Em 1985, ele doou outra coleção de cristais gigantescos, dessa vez à Bulgária, e ela é hoje a maior atração do Museu Nacional Terra e Homem, de Sofia, capital daquele país. 
Coleção de Ilia Deleff
Coleção de Ilia Deleff




Rochas Carbonáticas de Marapanim - PA

Rochas Carbonáticas de Marapanim - PA

Objetivo e Justificativas 

O projeto busca ampliar o conhecimento das ocorrências de calcário na região NE do Pará, minimizando riscos da fase exploratória, com vistas à sua possível aplicação como insumo agrícola. Foi considerado que a região é totalmente dependente de importação desse bem mineral, onerando seu preço, que atinge valores da ordem de R$ 180,00/t. A região NE do Pará é um pólo produtor de calcário, exclusivamente para a indústria do cimento. Diversas ocorrências de calcário já foram cadastradas, em geral pequenos jazimentos que ainda requerem estudos mais detalhados para sua completa caracterização quanto ao potencial exploratório, para aplicação como insumo agrícola, visando a atender à demanda local. Teores relativamente elevados (7,9%) de MgO reforçam essa iniciativa.


Localização e Acesso 

A área do projeto localiza-se no município de Marapanim, na região NE do Pará, abrangendo parte da Folha SA.23-V-A-IV.



Geologia Regional 

A unidade geológica dominante é o Grupo Barreira (Plioceno), contemplando argilitos, siltitos, arenitos e conglomerados. Depósitos sedimentares pós-Barreira incluem facies elúvio-coluvionares pleistocênicas, além de sedimentos aluvionares e flúvio-marinhos holocênicos. As ocorrências de calcário relacionam-se à Formação Pirabas (Mioceno Inferior), de ampla distribuição na área, porém recoberta pelas unidades mais novas. As exposições ocorrem em janelas erosionais de dimensões variadas. As unidades que recobrem esta unidade também são de espessuras variadas.


Resultados Esperados

Relatório enfocando o potencial de aproveitamento sustentável dos jazimentos de calcário em parte do NE do Pará.

Gemas Tratadas

Gemas Tratadas




O consumidor que compra uma joia com uma pedra preciosa sabe que a gema nela contida passou por um processo de lapidação e que a forma que ela exibe não é a forma que tinha na natureza. Sabe também que o brilho foi melhorado com o processo de lapidação e provavelmente está ciente de que se aproveitou uma porção da gema que não continha impurezas ou que as tinha em quantidade e tamanho aceitáveis. O que o consumidor não sabe, a menos que lhe seja informado pelo vendedor, é se a gema foi tratada ou não. 
Gema tratada é aquela em que uma propriedade física, geralmente a cor, foi modificada para lhe dar mais valor. Uma modificação na cor não significa necessariamente troca por outra, pois pode ser apenas uma melhoria na cor natural. Nos casos em que a gema tem uma propriedade apenas melhorada, pode-se dizer que ela é uma gema realçada, um caso particular de gema tratada.
São considerados aceitáveis os tratamentos que não alteram a composição química da gema. Eles são de vários tipos e têm diferentes objetivos.

Tingimento
O tingimento visa a mudar a cor da gema. É muito usado em todo o mundo para gemas como a ágata. Também a howlita costuma ser tingida. 
Ágata tingida
Ágata tingida

As belas cores que se veem na ágata podem ser naturais, mas muitas vezes são obtidas por adição de produtos químicos. As ágatas do Rio Grande do Sul, maior produtor mundial dessa gema, se têm cor rosa, roxa, verde ou azul, são tingidas. As cores vermelha e preta podem ser tanto naturais quanto provenientes de tingimento.
Estima-se que pelo menos 90% das ágatas vendidas no mundo são tingidas, mas daquelas procedentes do Rio Grande do Sul, consideradas as mais belas do mundo, cerca de 40% apenas passam pelo tingimento. 
A mudança de cor da ágata é possível porque ela é porosa e, além disso, resistente ao calor e aos ácidos. Se as cores naturais são visualmente agradáveis, não se usa tingimento; caso contrário, a ágata é colocada numa solução que pode conter ferrocianeto de potássio, ácido crômico com cloreto de amônio, açúcar ou percloreto de ferro com ácido nítrico e sucata de ferro, 
Howlita de cor natural (branca) e tingida
Howlita de cor natural (branca) e tingida
dependendo da cor desejada. O tingimento pode ser feito a frio (bem mais lento) ou com aquecimento. Em qualquer um dos casos, porém, demora geralmente vários dias.
A porosidade das faixas é variável, de modo que algumas absorvem mais o corante do que outras, aumentando assim o contraste entre as cores. Como a solução tingidora penetra pouco na gema, o tingimento costuma ser feito após a peça ser cortada e desbastada, mas antes de ser polida, pois o polimento obstrui os poros, dificultando a penetração do corante.
O preço final é o mesmo para as peças tingidas e para as não tingidas. Se os corantes usados forem inorgânicos, a cor será estável; com corantes orgânicos (usados, por exemplo, para obter cor rosa ou verde), ela poderá enfraquecer com o tempo. O Museu de Geologia da CPRM possui chapas de ágata nessas cores em que um lado é hoje bem mais claro que o outro porque ficou voltado para cima no expositor, sujeito, portanto, à ação da luz e, por consequência, ao enfraquecimento da cor.
O tingimento de uma gema pode ser seletivo. Lápis-lazúli, por exemplo, pode receber tingimento azul apenas nas porções brancas, formadas por calcita.

Tratamento Térmico
Citrino obtido por tratamento térmico de ametista
Citrino obtido por tratamento térmico de ametista
Muitas gemas podem mudar de cor quando aquecidas e são, por isso, submetidas a tratamento térmico para obtenção de cores diferentes ou para melhorar a cor original. São assim tratados rubi, safira, âmbar, água-marinha, ametista, citrino, tanzanita, zircão, topázio e turmalinas. 
Um exemplo de tratamento térmico muito conhecido é o aplicado à ametista. Essa variedade de quartzo tem cor roxa, mas, aquecida a cerca de 475 ºC, transforma-se em citrino, outra variedade do mesmo mineral, de cor amarela ou alaranjada. É um tratamento que dá cor estável e que é intensamente usado no Rio Grande do Sul para as ametistas de cor fraca ou irregular. Algumas vezes, também o quartzo incolor e o quartzo enfumaçado dão esse resultado. 
A prasiolita é um quartzo de cor verde obtido por tratamento térmico a 500 ºC de ametistas provenientes de Four Peaks (Arizona, EUA) ou de Montezuma (Minas Gerais). Outra gema que costuma ser submetida a tratamento térmico é o topázio amarelo, que fica vermelho (a 300-350 ºC), rosa ou azul. Essas cores podem ser encontradas também em gemas naturais, mas os topázios de cores rosa e vermelha encontrados no comércio são quase sempre produto de tratamento térmico. 
Águas-marinhas azuis de cor fraca podem ficar mais escuras e, portanto, mais valiosas por tratamento térmico. Mais de 90% das águas-marinhas dessa cor encontradas no mercado internacional são gemas amareladas ou verdes que foram tratadas termicamente. Não se conhecem meios de distinguir as águas-marinhas assim tratadas daquelas naturalmente azuis. Rubis opacos aquecidos a 1.200 ºC ficam transparentes ou pelo menos translúcidos. 

Impregnação 
Algumas gemas porosas ou com fissuras podem ter sua cor ou transparência melhoradas pela adição de óleos incolores, cera, resina natural ou produtos sintéticos.
É costume tratar a esmeralda com óleos de índice de refração semelhante ao seu. Normalmente, essa gema é cheia de fissuras e, além disso, é normal haver nelas impurezas. Por isso, a esmeralda costuma ser lavada com ácidos, que removem as impurezas das fraturas que se comunicam com o exterior, e a seguir é imersa em óleos naturais (como óleo de amêndoa quente) ou artificiais. Outra opção é o emprego de resinas, que também melhoram a aparência, tanto das esmeraldas brutas quanto das lapidadas. É muito usado o Opticon, resina tipo epóxi, após a qual se aplica uma substância que promove sua polimerização.
Para introduzir o óleo, pode-se antes submeter a gema ao vácuo, visando a remover ar e impurezas. Feito isso, ela é submetida a pressão, com temperatura moderada (até 100 ºC). Com o tempo, o óleo pode sair, sendo necessário fazer nova aplicação. 

Irradiação
Quartzo incolor após irradiação
Quartzo incolor após irradiação
É a exposição de uma gema aos efeitos de uma radiação para alterar a cor. Há várias fontes de radiação usadas para esse fim. O uso de raios X exige equipamento que é de fácil obtenção, mas proporciona baixa uniformidade de cor, pouca penetração na gema e, por isso, não é um processo comercialmente viável. Safiras incolores ou amarelo-claras sob ação de raios X ficam amarelas, semelhantes a topázios.
A radiação mais usada são os raios gama. Eles têm boa penetração na gema, dão cor com boa uniformidade e não deixam resíduo radioativo. A estabilidade da cor final depende da gema tratada. A irradiação por nêutrons penetra mais que as anteriores, dá colorido mais intenso, mas deixa a gema radioativa. Desse modo, é preciso esperar que essa radioatividade se dissipe para poder comercializar o produto. Diamantes assim tratados ficam verdes e se a irradiação for seguida de tratamento adquirem cor amarelo-canário. Tanto essa cor quanto o verde não podem ser distinguidos das mesmas cores de origem natural.
Por fim, há os aceleradores de partículas, mas eles penetram menos que a radiação gama e são pouco usados. O quartzo incolor submetido a radiação gama pode adquirir várias cores, inclusive duas cores na mesma gema. Atualmente há uma grande produção de pedras preciosas tratadas dessa maneira, cujas cores recebem nomes comerciais como whisky, cognac, champagne e green gold. O mesmo tipo de quartzo, procedente de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul e do Uruguai, pode ser transformado em prasiolita, a variedade obtida por tratamento térmico de ametistas, mas só das procedentes de Montezuma (MG) e Four Peaks (EUA). 
Ametista que perdeu a cor por exposição prolongada ao sol pode tê-la de volta por ação de raios X. Topázio incolor por efeito da radiação gama pode ficar amarelo e se após isso sofrer tratamento térmico passará à cor azul. O volume de topázios azuis assim obtidos é de várias toneladas por ano. O processo é usado para rubis, safiras e topázios. 

Difusão
Esse processo consiste em introduzir impurezas na gema por difusão de óxidos a altas temperaturas (de 1.600 ºC a 1.900 ºC). A gema é colocada em um cadinho, misturada a óxidos metálicos em pó e aquecida a alta temperatura e em atmosfera adequada por um tempo variável. O resultado é uma fina camada muito colorida de cor estável. O processo é usado para rubis, safiras e topázios. 

Preenchimento de Fraturas
O preenchimento de fraturas e fissuras é feito com resinas e colas do tipo epóxi. Elas tornam esses defeitos menos visíveis ou mesmo invisíveis. O processo valoriza a gema, mas o tratamento não é estável. O diamante é uma das gemas que recebe preenchimento de fraturas. Esmeraldas também recebem esse tratamento, com substâncias que têm índice de refração semelhante ao dela. 
Remoção de Inclusões
Raios laser e produtos químicos podem ser usados para remover impurezas de gemas, principalmente do diamante. 

Clareamento
É o uso de produtos químicos ou outros processos para clarear a gema ou para remover cores indesejáveis. Na grande maioria dos casos, quanto mais escura a gema, mais valiosa ela é, mas há exceções. A turmalina verde vale mais quando é clara, por se assemelhar mais à esmeralda. Assim, usa-se tratamento térmico para deixa-la menos escura. Safiras também podem ficar mais claras quando aquecidas.

High Pressure High Temperature - HPHT
Centros de cor indesejáveis em diamantes podem ser removidos por tratamento que envolve alta pressão e alta temperatura. 

Âmbar: uma gema com registro de vida

Âmbar: uma gema com registro de vida




Entre as gemas, há um grupo que se diferencia da maioria por ser de origem orgânica. São, portanto, gemas, mas não são minerais, ou seja, não são pedras preciosas. Estão nesse grupo: coral, pérola natural, pérola cultivada, madrepérola, âmbar e marfim, além de algumas outras gemas menos conhecidas. Das gemas orgânicas citadas, apenas o âmbar é de origem vegetal e apenas ele não é atual, pois se trata de uma resina formada há 30 milhões de anos por um pinheiro, o pinus succinites. 
Essa árvore, devido a um aumento na temperatura ambiente, começou a produzir grande quantidade de resina, característica que atualmente nenhum pinheiro conhecido tem. Além disso, pode conter em seu interior insetos e outros animais da época em que se formou, constituindo-se, assim, num repositório paleontológico de grande valor, característica que não é encontrada em nenhuma outra gema.

Âmbar (acervo do Museu de Geologia da CPRM - Foto: P. M. Branco)
Âmbar (acervo do Museu de Geologia da CPRM - Foto: P. M. Branco)

História 
O âmbar é conhecido desde o início da humanidade, pois já na Idade da Pedra era objeto de adoração, atribuindo-se-lhe propriedades sobrenaturais. Na mitologia romana, conta-se que Phaeton, filho de Phoebus, o Sol, saiu com a charrete que conduz o Sol e com ela aproximou-se tanto da Terra que nosso planeta pegou fogo. Para salvá-la, Júpiter tirou Phaeton do céu com seus raios, matando-o. Sua mãe e sua irmã viraram árvores e o âmbar são as lágrimas que elas choraram pela morte de Phaeton.
A peça de âmbar mais antiga que se conhece é um prato encontrado em um acampamento de caçadores de renas, perto de Hamburgo, na Alemanha. O historiador Plínio conta que o âmbar era tão valioso que um pequeno pedaço valia mais que um escravo.
No início da Idade Média, ele era usado em cruzes e rosários. Por volta de 1400, na maior parte da Europa era ilegal a posse não autorizada dessa substância. Nos séculos XVII e XVIII, tornou-se popular seu uso em obras de arte. Depois de um período de menos prestígio, voltou a ser valorizado após a Segunda Guerra Mundial, através do Feliksas Daukantas, que encorajou artistas a mostrar a beleza do âmbar natural.
O âmbar forma blocos arredondados que chegam a ter mais de 10 kg. A maior peça conhecida dessa gema é o Âmbar Birmânia, que tem 15,250 kg e está no Museu de História Natural de Londres. No Museu de Ciências Naturais de Berlim há uma peça de 9,810 kg e 47 cm de comprimento. 


 Âmbar preto (Foto: Minerais & Pedra Preciosas)
Âmbar preto (Foto: Minerais & Pedra Preciosas)

Composição e Propriedades 
O âmbar tem composição variável, em média C10H16O. Trata-se de uma mistura de várias resinas solúveis em álcool, éter e cloro com uma outra substância, insolúvel e betuminosa. Ele não tem estrutura cristalina como as gemas inorgânicas, sendo, portanto, amorfo. Saliente-se, porém, que estudos recentes mostraram que algumas resinas possuem componentes cristalinos. Sua cor mais comum (70%) é a amarela, podendo ser marrom-escura, marrom-esverdeada, marrom-avermelhada, azulada, cinza, preta (figura ao lado), vermelha ou branca. As cores vermelha, branca e verde são muito raras, e a azul é a mais rara e valiosa de todas. Pode haver mais de uma cor ou vários tons na mesma peça.
A cor pode ser melhorada por cozimento em azeite de semente de nabo, o que elimina as inclusões fluidas eventualmente existentes. Ele varia de transparente a semitranslúcido e séctil (pode ser cortado em lascas). É muito leve, com uma densidade pouco maior que a da água (1,08), o que lhe permite flutuar em água salgada. A dureza é muito baixa - 2,0 a 2,5 -, mostra fluorescência branco-azulada ou amarelo-esverdeada e brilho resinoso. Aquecido, começa a amolecer a 150º C e se funde a 250º C. Queimado, exala aroma agradável que lembra a resina de pinheiro. 
Outra característica típica do âmbar, conhecida há séculos, é sua capacidade de eletrizar-se quando atritado contra um pano de lã. Por isso era chamado na Grécia antiga de elektron. Um pedaço dele assim atritado consegue atrair objetos de pouco peso, como pedaços de papel. Aquecido a 300ºC o âmbar decompõe-se, originando duas substâncias, o óleo de âmbar e um resíduo preto, o piche de âmbar.



Fósseis do Âmbar 
Âmbar com insetos (Pipe, 2008)
Âmbar com insetos (Pipe, 2008)

Uma característica muito interessante do âmbar é a possibilidade de se encontrar em seu interior animais, principalmente insetos (86,7%) e aracnídeos (11,6%), que viviam na época em que a resina se formou e que nela ficaram aprisionados, por ser uma resina pegajosa, ou que por ela foram englobados depois de mortos. Material desse tipo é muito visado como peça de museu, por seu valor científico.
Cerca de três mil espécies animais já foram encontradas fossilizadas no âmbar, das quais 85% são espécies já extintas. Mais de mil dessas espécies extintas são insetos. Além de insetos, o âmbar pode conter restos de vegetais, bolhas de ar e pirita. 


Usos e Imitações
O âmbar é muito usado como gema e em objetos ornamentais, podendo receber lapidação facetada (como as gemas minerais transparentes), lapidação em cabuchão ou simples polimento.
De todo o âmbar produzido, cerca de 15% têm qualidade que permite o aproveitamento como gema. Um emprego curioso verifica-se em certos países da Europa, onde é usado pelas crianças contra mau-olhado, da mesma forma que o coral. Usa-se também contra a tosse.
Assim como muitas gemas minerais, o âmbar é imitado por várias substâncias, sobretudo plásticos, como celuloide e baquelite. Todas essas imitações se diferem dele por serem mais densas. Também pode ser imitado por alguns vidros, que, embora possam ser muito semelhantes, são reconhecidos por terem dureza e densidade bem maiores, além de serem frios ao tato. 
O âmbar prensado é um tipo de âmbar obtido ao se aquecer pequenos fragmentos procedentes do mar Báltico a 200-250 °C e em seguida submetendo-os a uma pressão de até 3.000 atmosferas. Ele assemelha-se ao âmbar normal, mas difere-se por conter bolhas de ar alongadas e orientadas, enquanto no âmbar normal elas são esféricas. Além disso, sob ação de uma gota de éter o âmbar prensado mostra uma mancha fosca.


Principais Produtores
O âmbar é produzido principalmente na Alemanha e na Rússia, vindo a seguir a Itália. O maior centro produtor é Sambia (que os alemães chamam de Samland), península do enclave russo de Kaliningrado, onde ele ocorre em uma argila rica em glauconita, chamada de terra azul. Cada metro cúbico dessa terra azul tem de 0,5 a 2,5 kg de âmbar. Como essa jazida está 40 cm abaixo do nível do mar, a erosão constantemente libera blocos de âmbar, que saem flutuando na água do mar, podendo ser levados a longas distâncias.
Cerca de 90% do âmbar encontrado hoje em todo o mundo provém da região do mar Báltico. O maior depósito do mundo está na península de Sambia e na lagoa Courland, onde há três mil hectares de solo contendo a gema. No Brasil nunca foi encontrado. 

Mercado de Diamante Sintético

Mercado de Diamante Sintético



A produção de gemas sintéticas, iniciada há várias décadas, vem registrando progressos significativos nos últimos anos, como decorrência, em muitos casos, de avanços tecnológicos em outras áreas, como é o caso das atividades espaciais.

Desde a década de 70 pelo menos, Pierre Gilson produz turquesas sintéticas que mesmo gemólogos experientes se declaram incapazes de diferenciar das naturais.

A necessidade de obtenção do quartzo barato e de alta pureza para uso em Eletrônica levou a métodos de produção em laboratórios hoje plenamente dominados por vários países, inclusive o Brasil. A partir daí, foi fácil chegar às variedades coloridas desse mineral, e hoje há, no mercado, ametistas e citrinos sintéticos tão perfeitos que nem mesmo o respeitado Gemological Institute of America (GIA) consegue distinguir dos naturais.

Se há interesse na síntese de gemas relativamente baratas, muito mais deve haver com relação ao diamante, mais valioso e com mercado dominado por uma única empresa.

De fato, isso vem sendo perseguido desde o fim do século XVIII, quando se descobriu que o diamante era composto apenas de carbono, (Leite 1994). Os primeiros resultados positivos, porém, só surgiram em 1954, quando a General Electric obteve, usando alta pressão e alta temperatura, cristais com 150 micrometros, triangulares, sem transparência, e com índice de refração um pouco inferior ao do diamante natural.

Em 1979, a produção de diamante sintético já chegava a 50 milhões de quilates (10 t) por ano e provinha de vários países, como a África do Sul e Japão. Em 1990, atingiu 385 milhões de quilates (77 t), provindo 55% dos laboratórios da General Electric, 35% da DeBeers e 15% de outras empresas. Naquele ano, o mercado movimentou 1 bilhão de dólares e o Brasil participou importando 10 milhões de dólares desse produto.

Embora os primeiros diamantes sintéticos gemológicos tenham sido obtidos na década de 70, até 1984 toda a produção era utilizada em ferramentas de corte e perfuração, na pesquisa nuclear e espacial e em outras áreas.

O Brasil não ficou alheio a esse desenvolvimento e cientistas do Grupo de Alta Pressão do Instituto de Física da UFRGS passaram a pesquisar a síntese do diamante através dos métodos de alta pressão e de CVD (chemical vapor deposition). Em 1986, aquela equipe obteve os primeiros cristais de diamante, usando o método da alta pressão. Com uma prensa de 500 kg e pressão de 55.000 atmosferas, transformaram grafita em diamante. Uma mistura de 5 g de carbono em pó com níquel (que funciona como catalisador) foi compactada na forma de pastilhas com 1 cm de diâmetro e colocada numa câmara Belt e aí submetida à temperatura de 1.500 oC (Lopes 1990).

Nessas condições, após 5 min a grafita se transforma em diamante, seguindo-se um banho ácido para remoção do catalisador. Essa remoção não é completa e, diamantes procedentes dos Estados Unidos, obtidos com uso de níquel, mostram 0,2 % deste metal, o que os torna magnéticos (Branco 1992).

O laboratório da UFRGS ainda é um dos poucos na América do Sul a produzir diamante sintético.

O método CVD foi desenvolvido pela empresa japonesa Sumitomo Electric Industries, a partir de descobertas do cientista russo Boris Derjaguin feitas em 1960 e os primeiros resultados surgiram em 1987. Nesse processo, o carbono de metano ou radicais metila no estado gasoso e dissolvido em hidrogênio deposita-se sobre uma superfície aquecida a 2.100 oC, formando um filme monocristalino ou policristalino de espessura variável. O processo vem sendo usado para revestir com diamante sintético uma superfície que pode ser, por exemplo, a lâmina de um bisturi, a ponta de uma pinça, escotilhas de espaçonaves e outros materiais, até mesmo o próprio diamante ou outra gema, nesses casos para aumentar a dureza (melhorando a resistência) ou para mascarar uma cor indesejável.

No revestimento de outras gemas, têm sido usados filmes de até 0,55 mm, com cores azul, verde ou rosa. O tratamento pode ser identificado por meio de iodeto de metileno, a exemplo do que se faz com a emerita, através do bromofórmio.

Em 1985, a empresa Sumitomo começou a obter diamantes gemológicos com até 1,2 ct, amarelos. Em 1990, o DeBeers Diamond Research Laboratory produziu diamantes gemológicos cinza-azulados e quase incolores. No mesmo ano, a Sumitomo passou a produzir gemas com até mais de 10 ct, por um novo processo.

Relata Leite (op. cit.) que o novo método de síntese consiste em um recipiente de alta pressão onde são colocados pequenos cristais de diamante como sementes, junto com um material metálico rico em pó de diamante, sob temperatura de 1.100-1700 oC e pressão de 800.000 libras por polegada quadrada. A mistura é fundida e o diamante vai se depositando sobre as sementes, envolvendo-as lentamente. Um diamante de 1 ct requer cerca de 60 h para se formar e um de 45 ct, 180 h aproximadamente. O controle da cor desses diamantes pelo que se sabe ainda não foi obtido.

A distinção entre diamantes naturais e sintéticos é hoje campo de intensa pesquisa. Características importantes das gemas sintéticas, no atual nível de conhecimento, incluem pontos brancos, formando nuvens; inclusões metálicas, isoladas ou em grupos, de formas geométricas ou aciculares; figuras em forma de ampulheta, de cruz ou com contorno octogonal, em luz polarizada; magnetismo (nem sempre presente) e trigons em alto relevo, parecendo pirâmides.

Esses avanços na síntese do diamante já não são apenas uma questão tecnológica. Eles atingiram nível tal que poderão trazer, a curto prazo, sensíveis alterações no mercado dessa gema.

Tudo indica que os russos produziram e possuem estocado grande volume de diamantes sintéticos. As primeiras notícias citavam cifras da ordem de 100 ct/mês e acredita-se que o ritmo da produção deverá crescer nos próximos anos.

Além disso, em 1993, a empresa norte-americana Chatham Created Gems, mundialmente conhecida pelo amplo espectro de gemas sintéticas que produz, anunciou sua associação com empresas russas para desenvolver e comercializar diamantes sintéticos russos.

A existência de grande volume dessas gemas em mãos dos russos e um preço de venda que deverá ser da ordem de 10% do preço do diamante natural gera uma compreensível preocupação no mercado (Leite op. cit.). Acredita-se que o diamante sintético terá sua fatia do mercado, mas que isso não afetará de modo significativo o mercado do diamante natural. Este deverá conservar sua participação, já que um diamante sintético nunca será igual a um diamante natural, porque a raridade sempre há de ser uma importante componente do preço.

Entretanto, buscam-se métodos eficazes de distinguir o material sintético do natural. Por enquanto, isso tem sido conseguido, mas nada garante que não se chegará a sínteses tão perfeitas quanto às de ametista. Nesse dia, o GIA e os demais grandes centros gemológicos serão incapazes de assegurar a natureza dos diamantes vendidos e isso, sim, poderá trazer sensíveis mudanças num mercado estável há muitas décadas.