segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Pedra rara encontrada na PB é cobiçada por joalherias internacionais

Pedra rara encontrada na PB é cobiçada por joalherias internacionais

De um azul profundo, com brilho próprio, a turmalina paraíba é hoje considerada a pedra mais rara do mundo. Descoberta na década de 1980 no estado do Nordeste que lhe dá nome, a gema é encontrada em apenas cinco minas ao redor do planeta; três delas no Brasil, de onde saem os exemplares mais valiosos. A produção, entretanto, é muito escassa, quase extinta, tornando-a cada vez mais cara e cobiçada. As principais joalherias do país têm algumas peças com a pedra preciosa, guardadas a sete chaves, e o valor de uma dessas exclusivas joias pode chegar a R$ 3 milhões. O país produz ainda outras pedras raras, como o topázio imperial, exclusivo de Ouro Preto, e as esmeraldas verdes.

Mesmo que não sejam mais caras que os diamantes, as gemas raras conferem exclusividade às joias e a quem as usa. Para calcular a qualidade de uma pedra preciosa, especialistas usam o critério dos quatro Cs, adaptado da língua inglesa: lapidação (cut), pureza (clarity), quilate (carrot) e, o mais importante, cor (color). Para além disso, a raridade de uma gema e o design exclusivo de uma joia podem fazer o seu preço se multiplicar rapidamente.

A produção da turmalina paraíba é cada vez mais escassa, meros 20 mil quilates por ano, contra 480 milhões dos diamantes.

Se hoje existem sete bilhões de pessoas no mundo, são sete bilhões que querem ter um diamante — diz o relações-públicas da joalheria H.Stern, Christian Hallot. — Não é o caso da turmalina paraíba, que pouca gente conhece, justamente por ser muito rara, difícil de encontrar. Se tivesse a mesma demanda, seu preço iria para a estratosfera, para uma outra galáxia.

A pedra recebeu o brasileiríssimo nome porque foi encontrada pela primeira vez no distrito de São José da Batalha, no interior da Paraíba. O país é rico em turmalinas verdes, mas ninguém nunca tinha visto aquela pedra de azul tão intenso que logo foi chamada de azul neon. Houve quem chegasse a pensar que se tratava de uma falsificação. Para sanar as dúvidas, em 1989 a gema foi enviada para o Instituto de Gemologia da América, nos Estados Unidos, o maior laboratório de pedras do mundo. E a resposta foi surpreendente: tratava-se de uma nova pedra, nunca antes vista.

Nos anos 1990 foram achadas outras duas minas na mesma região, mas, desta vez, do outro lado da divisa, no Rio Grande do Norte. Por fim, duas minas foram descobertas na África, uma em Moçambique, outra na Nigéria.

O fator determinante para se afirmar que se tratava de uma pedra até então desconhecida foi a sua composição química. A turmalina paraíba contém cobre, que lhe confere o tom de azul intenso e o brilho único. A mesma composição incomum foi registrada nas pedras africanas.

As outras turmalinas não têm cobre — explica Jurgen Schnellrath, do Laboratório de Gemologia do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) da UFRJ. — E é por conta dessa substância que ela parece emitir luz.

De início, os brasileiros não teriam dado muita atenção à nova descoberta.

Na realidade, eles não deram a menor importância àquela pedra azul que resplandecia como um brilhante — conta Laja Zylberman, presidente da joalheria Sara. — Mas os japoneses ficaram fascinados com as gemas e começaram a comprar e revender na Ásia, fazendo com que alcançassem preços inacreditáveis.

Como são muito raras, os joalheiros não costumam partir as pedras, mas sim trabalhar com elas mais ou menos no formato em que aparecem. Isso faz com que seja difícil, por exemplo, fazer brincos, o que requer pedras bastante parecidas. A lapidação, no entanto, é fundamental para intensificar o brilho da pedra.

A pedra é facetada em ângulos determinados de forma que a luz possa penetrar nela e voltar aos olhos com a maior beleza possível — explica o geólogo Daniel Sauer, presidente da joalheira Amsterdam Sauer. — A lapidação aprimora cor e brilho, tira da pedra seu melhor potencial.

Outra pedra brasileira rara é a esmeralda. Buscadas desde os tempos dos bandeirantes (que, na realidade, acharam turmalinas verdes), as esmeraldas somente começaram a ser encontradas em solo nacional na década de 1960.

O fascínio que pedras dessas cores exercem se explica porque o azul é um tom ligado à água, ao céu; e o verde se relaciona às plantas, à vida — acredita Sauer. — São cores muito próximas do ser humano.

E, embora as esmeraldas brasileiras não sejam tão valiosas quanto às da Colômbia, o país tem potencial, analisam os especialistas.

O Brasil demorou 440 anos para achar esmeraldas, mas hoje é um dos solos mais promissores para essas gemas de alta qualidade. Já foram achadas pedras verde-azuladas, o tom colombiano — conta Hallot.

Embora não tão precioso quanto a turmalina paraíba, o topázio imperial é bastante raro. Sua produção se restringe a Ouro Preto. Das profundezas da terra, a pedra surge nas mais variadas cores, como amarelo, rosa e cereja. Outra gema bastante exclusiva, embora não tão valiosa, é a chamada opala de fogo em tons alaranjados, que vão do laranja ao vermelho. Elas são mais comuns no México, mas começam a ser encontradas aqui também, no Nordeste.


Diferentes das opalas comuns, mais leitosas, essas são muito translúcidas — explica a designer de joias Yrys Albuquerque.

Brasil é responsável por produzir um terço das gemas do mundo


Pedras brutas nacionais se destacam por sua grande variedade de cor


Topazios Azuis (Foto: Daniela Newman)Entre as pedras exportadas pelo Brasil estão os topázios azuis (Foto: Divulgação/Daniela Newman)
No cenário internacional, o Brasil é conhecido pela produção de grande diversidade de pedras preciosas, sendo, segundo o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), um dos principais produtores de esmeraldas e o único de topázio imperial e de turmalina Paraíba. Também fazem parte do acervo brasileiro outras pedras, que são comercializadas em larga escala, incluindo citrino, ágata, ametista turmalina, água-marinha, topázio e cristal de quartzo. Exceto no que diz respeito à comercialização de diamante, rubi e safira, o país é responsável, atualmente, pela produção mundial de aproximadamente 1/3 do volume de gemas, como são conhecidas as pedras quando lapidadas, ou polidas.
O parque industrial brasileiro voltado ao mercado de joias é bem diversificado. Conforme dados do IBGM, estima-se que existam, atualmente, aproximadamente 3.500 empresas, incluindo as de lapidação, de joalheria, de artefatos de pedras, de folheados e de bijuterias, localizadas, em sua maior parte, em São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia. O instituto destaca também o surgimento de novos polos industriais no Paraná, Pará, Amazonas, Ceará e Goiás.“No que diz respeito à produção de pedras, o Brasil é um dos mais importantes do mundo em termos de variedade e volume. O nosso país continua sendo um dos principais produtores e exportadores, mas tem diminuído sua participação devido ao crescimento da África nesse setor. Os preços, tanto das pedras brasileiras, quanto das africanas, cresceram muito nos últimos seis anos, muito devido à entrada da China no mercado de joias, se tornando o principal país importador de pedras brasileiras. De janeiro a maio de 2013, o Brasil comercializou um montante de US$ 64 milhões em pedra lapidada e US$ 21 milhões em pedra bruta, sendo que, neste ano, devemos exportar o total de US$ 200 milhões”, prevê o presidente.No Brasil, boa parte da produção de pedras preciosas é feita por garimpeiros e pequenas empresas de mineração, localizadas em sua maior parte nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Goiás, Pará e Tocantins. Segundo ressalta Hécliton Santini Henriques, presidente do IBGM, cerca de 80% das pedras brasileiras têm como destino a exportação, incluindo esmeraldas, turmalinas, ametista, citrino, topázios e, principalmente, os cristais. Os outros 20% são destinados ao mercado interno, mais especificamente às indústrias joalheiras.
Tendências do mercado mundial
Nos últimos 20 anos, Hécliton ressalta que aumentou a procura por pedras coloridas e com preços mais acessíveis, o que acabou por beneficiar o Brasil. “O mercado tem procurado por mais cor. Hoje em dia, temos pedras rosas, amarelas, champanhe, preta, entre outras cores. Devido a essa tendência, o design de joias também mudou, o que exigiu pedras mais coloridas, chamadas no mercado internacional de ‘colored stones’, sendo um dos nossos principais mercados os Estados Unidos”, aponta o especialista.
Hécliton destaca que do volume total exportações brasileiras, 2/3 são referentes a pedras lapidadas e 1/3 a pedras brutas. “O custo da lapidação no Brasil é elevado em relação ao praticado em países como China e Vietnã, por exemplo. Ou seja, no caso de gemas mais baratas, mandamos as pedras brutas e as compramos lapidadas para termos mais competitividade no mercado nacional. Já as pedras de valor maior são lapidadas no Brasil mesmo. Outras pedras brutas não têm como ser lapidadas, como a druza ametista, conhecida também como ‘capelas de ametistas’”, ressalta.

Saiba de onde veio o ouro das medalhas olímpicas e paralímpicas

Saiba de onde veio o ouro das medalhas olímpicas e paralímpicas

Estreita e pedregosa, a estrada de terra serpenteia uma zona rural onde pastam vacas e ovelhas. O sol da manhã dá um tom reluzente à folhagem de araucárias, eucaliptos e pinheiros nas margens do caminho. À direita da estradinha, surge, de repente, um plano inclinado que desce até um buraco na terra, sumindo na escuridão. Aberto no meio do nada, é uma passagem para outro mundo, no qual duas centenas de pessoas trabalham no subterrâneo, onde se escondia o grande mistério da Olimpíada e da Paralimpíada do Rio: a origem do ouro usado na mais cobiçada das medalhas dos Jogos.
Era um segredo tão bem guardado que nenhum dos atletas sabia de que lugar o metal precioso vinha. Funcionários do Comitê Rio-2016, salvo alguns diretores, também não. Poucos que trabalham na Casa da Moeda, responsável pela fabricação das 4.924 medalhas entregues no Rio, conheciam a resposta. E até moradores da cidade onde o ouro foi extraído não imaginavam que o metal tinha saído de lá. O mapa da mina parecia enterrado por piratas em uma ilha deserta, mas, no apagar da tocha, O GLOBO descobriu que, apesar das boas lembranças cariocas, é de Campo Largo, no Paraná, que os campeões levaram sua melhor recordação.
Na pacata cidade, que fica a 40 quilômetros a oeste de Curitiba, vivem pouco mais de 100 mil pessoas, entre elas muitos curitibanos em busca de sossego. Ao chegar lá, percorre-se mais 50 quilômetros até uma região de nome singelo, São João do Povinho, onde a Mineração Tabiporã se instalou no início dos anos 1980. Única mineradora de ouro ativa no Sul do país, é uma empresa de pequeno porte se comparada a gigantes estrangeiras da indústria do metal que operam em Minas Gerais. Sai de suas minas menos de uma tonelada por ano, enquanto outras produzem dez vezes mais. A Tabiporã é a menor das oito firmas habilitadas no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) do Ministério de Minas e Energia a extrair ouro no Brasil — o 11º maior produtor do mundo, com 80 toneladas por ano. Mas ela foi escolhida pelo comitê organizador dos Jogos e pela Casa da Moeda especialmente por produzir ouro sem uso de mercúrio no processo.
“Ninguém aqui sabe disso. O senhor tem certeza?”indaga o taxista Jobarino Feltrim, de 73 anos, que chegou a Campo Largo quando a cidade tinha apenas três ruas, há quatro décadas, e as pessoas iam à missa a cavalo ou de carroça.
Surpresos ao serem procurados pela reportagem, os sócios da Tabiporã não concordaram em abrir as portas da empresa, alegando preocupação com a segurança pessoal. Até o ano passado, a mineradora tinha mais de 500 funcionários, como a própria informava em sites de ofertas de emprego. Quase todos vinham de outras regiões, inclusive do exterior, a exemplo de um numeroso grupo de haitianos. Recentemente, com um corte radical na folha de pagamento, a maioria acabou demitida. Os alojamentos onde os trabalhadores viviam, no terreno imenso da Tabiporã, dentro de uma Área de Proteção Ambiental (APA), foram fechados.
Hoje, a empresa prefere contratar pessoas de Campo Largo. Mas de forma discreta, pois continua convivendo com uma sombra. No subterrâneo da Tabiporã, nem tudo reluz: nos últimos cinco anos, segundo o juiz trabalhista Marlos Melek, foram três mortes de trabalhadores na mina — todos caíram em buracos abertos por detonações. Mas há pelo menos mais uma morte conhecida, a do trabalhador Denilson Antonio Rodrigues, de 35 anos, que morreu esmagado por uma pedra a 350 metros da superfície.
Poucos sabem, mas a mineração de ouro no Brasil começou no litoral do Paraná e de São Paulo, perto de 1570, antes do início da exploração em Minas Gerais, onde as primeiras lavras foram identificadas em 1697. Eram terras da então Capitania de São Vicente. O mais antigo mapa cartográfico da Baía de Paranaguá, de 1653, revela que havia minas por todos os lados. Segundo o arquiteto e historiador Nestor Goulart Reis, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP), havia 150 minas de ouro entre São Paulo e o norte de Santa Catarina. E, do litoral, garimpeiros avançaram para Curitiba. O morro atrás do Parque Barigui, mais importante parque da cidade, era região aurífera.
“Curitiba nasceu como vila de garimpo”, afirma o geólogo Gil Piekarz, que trabalha na Mineropar (o serviço geológico do Paraná). “Ela parece um queijo suíço, com uma infinidade de túneis. Mas a tecnologia atual está se esgotando. Os veios de ouro não são uniformes, é uma questão geológica complexa”, explica.
Seu colega Antonio Liccardo, professor de geologia da Universidade de Ponta Grossa, afirma que, com o início do ciclo do ouro em Minas Gerais, houve um enorme contingente que deixou o Paraná em busca de riqueza. Era a fome de ouro:
“O Paraná foi pioneiro na tecnologia de exploração. Tudo que começou aqui foi desenvolvido depois em Minas Gerais e em outras regiões”.
É curioso que o passado da região esteja vinculado às medalhas olímpicas de 2016 — que custam em torno de US$ 600 dólares e têm apenas 1,3% do metal precioso, sendo o resto uma mistura de prata e bronze reciclados. Quando a Casa da Moeda e o Comitê Rio-2016 assinaram o acordo com a Tabiporã, sob condição de sigilo, ninguém fazia ideia do ciclo do ouro paranaense. Mas muitas cidades do estado devem ao ouro sua fundação, como Bateias, Ouro Fino e Campo Magro, onde fica o Rio Conceição. Na beira dele vive a família Danrat, descendente de alemães e do homem mais famoso do Paraná na segunda metade do século XVIII: Gaspar Correia Leite, um dos maiores exploradores de ouro da época.
Herdeiros de explorador vivem na área
 Em uma casa modesta no bairro de Conceição dos Correias, Rosemari Ribas Danrat guarda um tesouro histórico: uma lata com mais de 200 anos, naturalmente enferrujada, onde estão documentos como registros de compra de escravos, uma oração para curar dor de dente escrita em 1801 e certidões diversas, como a de óbito de Gaspar. Rosemari foi escolhida por sua sogra, Florisbela Alves de Góes, para cuidar da lata após a morte dela.
“Não herdamos nada do Gaspar além de um pedaço de terra, onde plantamos hortaliças orgânicas. Nosso ouro é essa lata — afirma a guardiã no dia da festa da Nossa Senhora da Luz. — Gaspar trouxe uma imagem dessa santa, que nós guardamos até hoje. Reza a lenda que meu bisavô roubou o ouro que havia dentro dela, pois a santa é oca”,  diverte-se ao contar.
A comunidade achava que a história era devaneio da família, mas a Igreja Católica confirmou, nos anos 1970, a veracidade dos documentos.
“Já montamos três peças nas escolas de Campo Magro contando a história. Ela não pode ser esquecida”, diz Rosemari.
Até hoje há quem acredite na existência de panelas de barro cheias de ouro enterradas ao pé de araçás a mando de Gaspar, que acumulou fortuna incalculável. Contam que ele mandava matar um escravo e o enterrava junto com as panelas de barro, para proteger o ouro. Muitos acreditam que o ouro só pode ser encontrado depois da meia-noite. Até hoje, há quem procure os tesouros.
Fonte: Época Negócios

domingo, 18 de setembro de 2016

MINERAIS E PEDRAS PRECIOSAS DO BRASIL- RUBELITA

MINERAIS E PEDRAS PRECIOSAS DO BRASIL
CARLOS CORNEJO
TURMALINA RUBELITA
Página à esquerda: cristais de rubelita sobre albita (130 x 90 mm), Lavra do Jonas, Conselheiro Pena, Minas Gerais. Coleção de Bruno e Rolando Gioia. Fotografia de Carlos Cornejo.

MINERAIS E PEDRAS PRECIOSAS DO BRASIL- TURMALIA PARAÍBA


MINERAIS E PEDRAS PRECIOSAS DO BRASIL
CARLOS CORNEJO
TURMALINA PARAÍBA
Turmalina “Paraíba” lapidada, com 31,6 quilates (19 x 22 mm), de propriedade de Jozo Nishimura, Itakolor Gemstones. Fotografias de Daniel Renault / Giclê Fineart Print.