domingo, 9 de outubro de 2016

Que sorte! Casal encontra diamantes dentro de poltrona que custou R$ 21

Que sorte! Casal encontra diamantes dentro de poltrona que custou R$ 21




  • Reprodução/Mirror
No dicionário, ao lado da palavra 'sorte' deveria constar uma foto do casal Angela e Angus Milner-Brown. Esses britânicos encontraram, por acaso, cerca de R$ 21 mil em diamantes dentro de uma poltrona velha.
O casal comprou o móvel há dez anos em um leilão e pagou cerca de R$ 21 por ele. De acordo com Angela, a poltrona estava em um estado lastimável e, por isso, ficou seis anos encostada no sótão da casa.
Depois desse período, a tal poltrona foi reformada e ficou novinha em folha. Foi quando Angus passou a dar presentes caros e estranhos para Angela.
Reprodução/Mirror
Diamantes encontrados dentro de poltrona que custou R$ 21
"Ele me deu um anel de diamantes de aniversário de casamento. No dia dos namorados, um brinco também de diamantes e, na Páscoa, ganhei um broche de diamantes", contou a mulher ao jornal britânico "Daily Mirror".
Esse diamante todo estava dentro da poltrona. Angus achou as joias quando se preparava para levar o móvel para reforma e resolveu manter segredo "em nome do amor".
"Meu marido é muito romântico, por isso ele decidiu manter os diamantes em segredo e me surpreender com as joias ao longo das nossas datas comemorativas", disse Angela.
Como o móvel estava em um leilão, o casal nunca soube quem foram seus primeiros donos, nem quem escondeu tantas joias dentro da poltrona.

sábado, 8 de outubro de 2016

Para onde vão nossos diamantes

Para onde vão nossos diamantes
Por que o Brasil deixa a maior jazida de diamantes do país, na terra dos índios cintas-largas, entregue aos contrabandistas?
JULIANA ARINI, DE CACOAL (RO)
"Sempre que uma grande riqueza é descoberta, um banho de sangue acontece." Essa é a frase de abertura do filme Diamante de Sangue, que colocou em evidência o tortuoso caminho percorrido pelas pedras retiradas de países em guerra até as joalherias mais finas. No cinema, o ator Leonardo DiCaprio interpreta um mercenário que troca diamantes por armas para as milícias em Serra Leoa, na África da década de 90. O filme impressiona, e até revolta, mas a tragédia dos diamantes também está do lado de cá do Atlântico. Na Amazônia, garimpeiros, contrabandistas internacionais e atravessadores - como o mercenário interpretado por DiCaprio - voltaram a explorar ilegalmente a maior jazida de diamantes do Brasil.
Desde janeiro, quatro máquinas retroescavadeiras removem a terra vermelha do garimpo do Laje, situado na terra indígena dos cintas-largas, em Rondônia. A cratera aberta pelas máquinas já possui cerca de 10 quilômetros de perímetro. A exploração de diamantes na região deveria estar suspensa desde 2004, quando o massacre de 29 garimpeiros chocou o mundo. Mas nem a presença da Polícia Federal consegue evitar novas invasões na área indígena.
RIQUEZA?
Cratera aberta pelo garimpo e criança cinta-larga com arco-e-flecha.
Os diamantes não ajudam os índios - nem o país
O que se diz da jazida de Laje lembra os antigos mitos de Eldorado amazônico. Segundo Luís Paulo Barreto, secretário-executivo do Ministério da Justiça, pesquisas geológicas feitas por duas multinacionais da mineração indicam a presença de 15 formações rochosas vulcânicas de onde saem os diamantes, chamadas kimberlitos. Isso seria três vezes mais que as principais jazidas da África do Sul e Botsuana, os maiores produtores mundiais de diamantes. Mas todo esse potencial nacional está desperdiçado. Estima-se que o garimpo desordenado e ilegal consiga tirar cerca de R$ 100 milhões por ano de Laje. Se fosse uma mineração com recursos industriais, seria possível extrair rochas mais profundas e retirar até R$ 3 bilhões por ano.
Essa quantia seria capaz de sacudir o mercado global de diamantes, que hoje movimenta cerca de US$ 10 bilhões por ano, ou R$ 21 bilhões. O comércio mundial é dominado pela empresa multinacional De Beers, sediada na África do Sul. A De Beers, da família sul-africana Oppenheimer, possui minas em Botsuana, Zaire, Austrália e Canadá. Também compra a produção de outros países. Em seus cofres, estima-se que estejam 40% dos diamantes extraídos no mundo. Toda segunda-feira, a operadora de vendas da De Beers, a Central Selling Organization, reúne os grandes negociantes das pedras em s Londres. É ali que a De Beers avalia como está o preço internacional dos diamantes e decide quantas e quais pedras vai lançar no mercado. Sua decisão regula o valor internacional dos quilates de diamantes. Hoje, 1 quilate (equivalente a 0,2 grama) de uma pedra de boa qualidade vale US$ 1 mil. Da reserva dos cintas-largas, já saiu um raro diamante-rosa que teria sido vendido por R$ 7 milhões no mercado negro.
O Brasil já foi o maior produtor mundial de diamantes entre os séculos XVIII e XIX. Com o declínio da exploração artesanal em Minas Gerais, o país perdeu posição para os grandes produtores africanos, da De Beers. Hoje, o Brasil exporta apenas R$ 60 milhões por ano. Está fora do time dos grandes produtores: Botsuana, África do Sul, Canadá, Rússia, Índia e Austrália. A perspectiva de legalização das jazidas das terras dos cintas-largas poderia colocar o país entre os três maiores produtores mundiais.
Esse enorme potencial de riqueza, até agora, só tem trazido calamidades, como ilustra a história do cacique João Bravo, que controla a área indígena onde fica o garimpo. Com 60 anos, o cacique é o que os antropólogos consideram um órfão de contato. Ele é um dos cintas-largas que perderam todos os parentes com a chegada de invasores brancos, entre os anos 60 e 70. O primeiro contato dos cintas-largas com os brancos aconteceu por meio dos garimpeiros. João Bravo conta que, antes de ser cacique, vivia na região do Rio Aripuanã, em Mato Grosso. Nessa época, os cintas-largas ainda estavam isolados na floresta. Eram exímios caçadores e temidos guerreiros canibais. De acordo com Bravo, a vida na floresta só era possível por causa de um intenso treinamento que começava aos 10 anos de idade. "Ficávamos durante toda a manhã passando frio debaixo das cachoeiras", diz. "Depois, todo mundo tinha de ir caçar ou morria de fome", afirma o cacique.
Essa vida mudou com a chegada dos primeiros garimpeiros e seringueiros. "Primeiro, mataram as crianças que brincavam no rio", diz Bravo. "Depois, invadiram as aldeias atirando em todo mundo." Quase todos os caciques da região também são órfãos de contato e perderam seus pais e irmãos de forma semelhante. "Lembro de ter ficado semanas caído no chão. Estávamos tão doentes que víamos nossa família morrer e não podíamos fazer nada", afirma Oita Matina, outro dos líderes da terra indígena. As chacinas e epidemias de gripes trazidas pelos invasores reduziram a população de mais de 10 mil cintas-largas para 1.300 indivíduos. A pior matança ocorreu em 1963 e ficou conhecida como o Massacre do Paralelo Onze. O inquérito policial do caso relata que dinamites foram jogadas nas aldeias para dispersar os índios para a floresta, onde eram surpreendidos por pistoleiros. "Tudo explodia. Nós ficávamos tentando flechar os aviões", diz João Bravo. Durante o massacre, uma índia foi pendurada pelo pé e esquartejada viva.
Depois de tentar a guerra contra os brancos, os cintas-largas decidiram, na metade da década de 70, entrar em acordo com os garimpeiros e invasores. João Bravo foi um dos que visitaram as cidades próximas às aldeias para distribuir colares de presente para a população. Em 1974, a Funai demarcou o território. Em menos de 30 anos de convívio com o mundo civilizado, os cintas-largas tiveram de aprender a falar português, dirigir carros e lidar com dinheiro. Muitos ainda não dominam nenhuma dessas habilidades. Donos de um território de 2,7 milhões de hectares, grande parte das mulheres, crianças e velhos ainda compreende apenas o tupi-mondé, a língua tradicional da etnia. João Bravo fala um português limitado e sua caminhonete vive amassada por batidas. Seus filhos estudam até o ensino fundamental, mas ainda passam pelo treinamento de guerreiro - não mais para lutar com outras tribos, mas para formar a milícia que toma conta do garimpo. As meninas se casam antes dos 15 anos, geralmente com os tios, em uma teia social na qual o dono da casa exerce o papel central. Um cinta-larga poderoso chega a ter várias esposas de uma só vez. João Bravo tem cinco mulheres.
O garimpo de mais de três décadas atingiu seu auge em 1999, quando milhares de aventureiros chegaram de vários cantos do país, atraídos pela "fofoca do diamante". Os índios incorporaram o garimpo em seu modo de vida. "Decidimos controlar a área. Senão os brancos entravam e roubavam tudo", diz João Bravo. A situação saiu do controle em 2004, quando 5 mil garimpeiros circulavam no Laje. Qualquer aventureiro queria entrar na reserva. Até que a chacina de 29 garimpeiros ganhou as manchetes nacionais. Os índios são os principais acusados. Depois das mortes, mais seis pessoas foram assassinadas na região, entre índios, contrabandistas e garimpeiros. A polícia estima que outros 20 estejam desaparecidos. Para tentar conter o conflito, o governo federal interditou a região em 2004 e proibiu o garimpo em qualquer terra indígena do país.
DINHEIRO
O cacique João Bravo (à dir.) controla a terra onde estão os diamantes.
À esquerda, jipes apreendidos dos índios por dívidas e irregularidades

A Polícia Federal tem seis bases fixas na região, batizadas de Operação Roosevelt. Mas nem a intervenção do governo federal consegue conter a corrida pelos diamantes. Cerca de 500 homens - entre índios e garimpeiros - transitam no local. Jatos de água derrubam o barranco e outras máquinas separam o cascalho dos diamantes. O lucro é dividido entre os garimpeiros proprietários das máquinas e os caciques. Cerca de 6% são distribuídos entre os garimpeiros pobres, índios mais jovens e as cozinheiras dos acampamentos. A matemática seria boa, mas os índios alegam ter sido roubados com freqüência por atravessadores de diamantes. Na semana passada, um dos filhos de João Bravo, Raimundinho, acusou um suposto vendedor de levar 700 quilates de diamantes, no valor de R$ 600 mil, dos cintas-largas. Segundo a polícia, o contrabandista teria se oferecido para vender as pedras em Cuiabá e desapareceu.
A exploração industrial
em Rondônia faria do Brasil um dos maiores produtores mundiais
de diamante
Se a jazida das terras dos cintas-largas fosse legalizada, ela poderia gerar algo em torno de R$ 6 milhões por mês de impostos. Além da evasão de divisas, a situação ilegal do Laje atrai máfias internacionais. Investigações do Ministério Público e da Polícia Federal revelam que quadrilhas s do Líbano, Serra Leoa e Bélgica são responsáveis pelo contrabando dos diamantes da terra indígena. Segundo investigações do Ministério Público de Minas Gerais, os diamantes podem estar sendo usados para patrocinar tráfico de drogas e terrorismo. 

Uma das conseqüências da atividade ilícita é a ligação dos índios com esse crime organizado. Devido ao contato com os atravessadores de pedras, 13 cintas-largas estão indiciados por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e contrabando. De acordo com o Estatuto do Índio e a Constituição Federal, as riquezas do subsolo podem ser extraídas pelas nações indígenas quando localizadas em suas terras homologadas. Mas, como a garimpagem em terras indígenas está suspensa pelo decreto de 2004, os índios passaram a viver uma situação marginal em seu próprio território.
 O envolvimento dos índios agora é financeiro. Nos tempos do auge do diamante, em 2002, alguns caciques compraram casas na região e carros importados. Cercados por ajudantes, contratados na forma de motoristas brancos, os índios selaram amizade com os atravessadores de diamantes. Muitas máquinas de garimpo e carros foram comprados no nome desses terceiros. Mas, por causa das dívidas, a maioria perdeu todos os bens. Um depósito da Polícia Federal guarda cerca de 50 caminhonetes Toyotas apreendidas de índios cintas-largas, a maioria por dívidas não quitadas. Um levantamento do Ministério Público Federal (MPF) de Rondônia apontou que os índios devem na região cerca de R$ 700 mil.
GUERRA
DiCaprio interpreta um atravessador de diamantes em Serra Leoa. As mesmas quadrilhas atuam aqui
PRÓSPEROS Tratores retiram diamantes do território indígena, no Canadá. A exploração organizada rende empregos e participação nos lucros
Apesar dos problemas trazidos pelo garimpo ilegal, hoje não há uma estratégia realista para enfrentá-lo. A mera proibição, mesmo com a presença da Polícia Federal, não tem se mostrado eficaz. Um emaranhado de estradas clandestinas desenha um labirinto de lama na floresta. A fiscalização fica impossível. "É um jogo de gato e rato", afirma o delegado da Polícia Federal, Rodrigo Carvalho. Grande parte dos 2,7 milhões de hectares da floresta que envolvem a jazida de diamantes está praticamente intacta. Aventurar-se na região é perigoso. Onças, malária e cerca de 90 índios guerreiros armados com flechas e metralhadoras são apenas alguns dos obstáculos. Mesmo com os riscos, garimpeiros ainda sonham em colocar os pés no Laje. "Se puder entrar lá novamente, eu vou. Os diamantes compensam", diz o garimpeiro Antônio Rosa de Carvalho, o Goiano, um dos sobreviventes do massacre de 2004.


CONTRABANDO
Diamante apreendido pela polícia em 2006
Regulamentar a extração de diamantes parece ser um dos poucos caminhos possíveis para resolver o conflito na terra cinta-larga. Os índios têm direito constitucional sobre as riquezas minerais de seu subsolo. O problema é como explorar o recurso. Existem vários projetos de leis para isso. A mais antiga tentativa de regularizar a questão é um complemento do Estatuto do Índio, que aguarda desde 1991 para ser votado. Ele permitiria a exploração com repasse de parte dos lucros para os índios. Outra proposta, do senador de Roraima, Romero Jucá, foi aprovada no Senado Federal e espera apenas passar pela Câmara dos Deputados. Prevê a exploração sem pagar nada aos índios. Uma terceira proposta, criada após o massacre de 2004, é um meio-termo: prevê repasse aos índios, mas com limites. "Em março, iremos nos reunir com os representantes de várias etnias indígenas em Manaus para um acordo", diz Barreto, do Ministério da Justiça.
Um exemplo de como a exploração de diamantes pode ser bem administrada, é o caso do Canadá. Em 1991, os canadenses regulamentaram a extração de diamantes no território dos povos dene e inuit. O país se tornou o terceiro maior produtor de diamantes do mundo. As comunidades indígenas que participam da iniciativa enfrentam problemas, como o aumento do consumo de drogas. Mas cerca de 40% dos índios trabalham com as mineradoras que estão na região. Alguns são geólogos ou lapidadores. E as aldeias ganham cerca de 20% do faturamento das jazidas. Essa seria a melhor opção para o Brasil. A outra opção é atolar na violência, como Serra Leoa.

  
OS EFEITOS DA EXPLORAÇÃO ILEGAL
Sobre os índios
• Massacre
Desde o início da entrada de garimpeiros na região, em 1963, doenças e chacinas reduziram a população cinta-larga a 1.300 pessoas, menos de 10% do original

• Doenças
Hoje, cerca de 30% dos índios cintas-largas estão com diabetes. A ingestão de alimentos industrializados trazidos com o garimpo é a principal causa da doença
• Corrupção de valores
A venda ilegal dos diamantes empurra os índios para a criminalidade. Treze cintas-largas estão indiciados por homicídio, formação de quadrilha e contrabando
Para o país
• Evasão de divisas
A Polícia Federal estima que R$ 100 milhões em diamantes são retirados de forma ilegal por ano

• Crime organizado
Sem opção legal, os diamantes são vendidos por quadrilhas internacionais, ligadas ao narcotráfico e até ao terrorismo. Menos de 5% são recuperados
O que poderíamos ganhar com a regularização
• Produção de riquezas 
A mineração industrial dos diamantes de Rondônia poderia produzir R$ 3 bilhões por ano

• Impostos
Esse valor poderia render anualmente até R$ 6 milhões somente em tributos federais. O valor aumentaria com os tributos trabalhistas estaduais e municipais
• Distribuição de benefícios 
Cerca de 2% do lucro da produção iria para as comunidades locais. Isso reduziria a pobreza na região
Por que o Brasil deixa a maior jazida de diamantes do país, na terra dos índios cintas-largas, entregue aos contrabandistas?

"Sempre que uma grande riqueza é descoberta, um banho de sangue acontece." Essa é a frase de abertura do filme Diamante de Sangue, que colocou em evidência o tortuoso caminho percorrido pelas pedras retiradas de países em guerra até as joalherias mais finas. No cinema, o ator Leonardo DiCaprio interpreta um mercenário que troca diamantes por armas para as milícias em Serra Leoa, na África da década de 90. O filme impressiona, e até revolta, mas a tragédia dos diamantes também está do lado de cá do Atlântico. Na Amazônia, garimpeiros, contrabandistas internacionais e atravessadores - como o mercenário interpretado por DiCaprio - voltaram a explorar ilegalmente a maior jazida de diamantes do Brasil.
Desde janeiro, quatro máquinas retroescavadeiras removem a terra vermelha do garimpo do Laje, situado na terra indígena dos cintas-largas, em Rondônia. A cratera aberta pelas máquinas já possui cerca de 10 quilômetros de perímetro. A exploração de diamantes na região deveria estar suspensa desde 2004, quando o massacre de 29 garimpeiros chocou o mundo. Mas nem a presença da Polícia Federal consegue evitar novas invasões na área indígena.
RIQUEZA?
Cratera aberta pelo garimpo e criança cinta-larga com arco-e-flecha.
Os diamantes não ajudam os índios - nem o país
O que se diz da jazida de Laje lembra os antigos mitos de Eldorado amazônico. Segundo Luís Paulo Barreto, secretário-executivo do Ministério da Justiça, pesquisas geológicas feitas por duas multinacionais da mineração indicam a presença de 15 formações rochosas vulcânicas de onde saem os diamantes, chamadas kimberlitos. Isso seria três vezes mais que as principais jazidas da África do Sul e Botsuana, os maiores produtores mundiais de diamantes. Mas todo esse potencial nacional está desperdiçado. Estima-se que o garimpo desordenado e ilegal consiga tirar cerca de R$ 100 milhões por ano de Laje. Se fosse uma mineração com recursos industriais, seria possível extrair rochas mais profundas e retirar até R$ 3 bilhões por ano.
Essa quantia seria capaz de sacudir o mercado global de diamantes, que hoje movimenta cerca de US$ 10 bilhões por ano, ou R$ 21 bilhões. O comércio mundial é dominado pela empresa multinacional De Beers, sediada na África do Sul. A De Beers, da família sul-africana Oppenheimer, possui minas em Botsuana, Zaire, Austrália e Canadá. Também compra a produção de outros países. Em seus cofres, estima-se que estejam 40% dos diamantes extraídos no mundo. Toda segunda-feira, a operadora de vendas da De Beers, a Central Selling Organization, reúne os grandes negociantes das pedras em s Londres. É ali que a De Beers avalia como está o preço internacional dos diamantes e decide quantas e quais pedras vai lançar no mercado. Sua decisão regula o valor internacional dos quilates de diamantes. Hoje, 1 quilate (equivalente a 0,2 grama) de uma pedra de boa qualidade vale US$ 1 mil. Da reserva dos cintas-largas, já saiu um raro diamante-rosa que teria sido vendido por R$ 7 milhões no mercado negro.
O Brasil já foi o maior produtor mundial de diamantes entre os séculos XVIII e XIX. Com o declínio da exploração artesanal em Minas Gerais, o país perdeu posição para os grandes produtores africanos, da De Beers. Hoje, o Brasil exporta apenas R$ 60 milhões por ano. Está fora do time dos grandes produtores: Botsuana, África do Sul, Canadá, Rússia, Índia e Austrália. A perspectiva de legalização das jazidas das terras dos cintas-largas poderia colocar o país entre os três maiores produtores mundiais.
Esse enorme potencial de riqueza, até agora, só tem trazido calamidades, como ilustra a história do cacique João Bravo, que controla a área indígena onde fica o garimpo. Com 60 anos, o cacique é o que os antropólogos consideram um órfão de contato. Ele é um dos cintas-largas que perderam todos os parentes com a chegada de invasores brancos, entre os anos 60 e 70. O primeiro contato dos cintas-largas com os brancos aconteceu por meio dos garimpeiros. João Bravo conta que, antes de ser cacique, vivia na região do Rio Aripuanã, em Mato Grosso. Nessa época, os cintas-largas ainda estavam isolados na floresta. Eram exímios caçadores e temidos guerreiros canibais. De acordo com Bravo, a vida na floresta só era possível por causa de um intenso treinamento que começava aos 10 anos de idade. "Ficávamos durante toda a manhã passando frio debaixo das cachoeiras", diz. "Depois, todo mundo tinha de ir caçar ou morria de fome", afirma o cacique.
Essa vida mudou com a chegada dos primeiros garimpeiros e seringueiros. "Primeiro, mataram as crianças que brincavam no rio", diz Bravo. "Depois, invadiram as aldeias atirando em todo mundo." Quase todos os caciques da região também são órfãos de contato e perderam seus pais e irmãos de forma semelhante. "Lembro de ter ficado semanas caído no chão. Estávamos tão doentes que víamos nossa família morrer e não podíamos fazer nada", afirma Oita Matina, outro dos líderes da terra indígena. As chacinas e epidemias de gripes trazidas pelos invasores reduziram a população de mais de 10 mil cintas-largas para 1.300 indivíduos. A pior matança ocorreu em 1963 e ficou conhecida como o Massacre do Paralelo Onze. O inquérito policial do caso relata que dinamites foram jogadas nas aldeias para dispersar os índios para a floresta, onde eram surpreendidos por pistoleiros. "Tudo explodia. Nós ficávamos tentando flechar os aviões", diz João Bravo. Durante o massacre, uma índia foi pendurada pelo pé e esquartejada viva.
Depois de tentar a guerra contra os brancos, os cintas-largas decidiram, na metade da década de 70, entrar em acordo com os garimpeiros e invasores. João Bravo foi um dos que visitaram as cidades próximas às aldeias para distribuir colares de presente para a população. Em 1974, a Funai demarcou o território. Em menos de 30 anos de convívio com o mundo civilizado, os cintas-largas tiveram de aprender a falar português, dirigir carros e lidar com dinheiro. Muitos ainda não dominam nenhuma dessas habilidades. Donos de um território de 2,7 milhões de hectares, grande parte das mulheres, crianças e velhos ainda compreende apenas o tupi-mondé, a língua tradicional da etnia. João Bravo fala um português limitado e sua caminhonete vive amassada por batidas. Seus filhos estudam até o ensino fundamental, mas ainda passam pelo treinamento de guerreiro - não mais para lutar com outras tribos, mas para formar a milícia que toma conta do garimpo. As meninas se casam antes dos 15 anos, geralmente com os tios, em uma teia social na qual o dono da casa exerce o papel central. Um cinta-larga poderoso chega a ter várias esposas de uma só vez. João Bravo tem cinco mulheres.
O garimpo de mais de três décadas atingiu seu auge em 1999, quando milhares de aventureiros chegaram de vários cantos do país, atraídos pela "fofoca do diamante". Os índios incorporaram o garimpo em seu modo de vida. "Decidimos controlar a área. Senão os brancos entravam e roubavam tudo", diz João Bravo. A situação saiu do controle em 2004, quando 5 mil garimpeiros circulavam no Laje. Qualquer aventureiro queria entrar na reserva. Até que a chacina de 29 garimpeiros ganhou as manchetes nacionais. Os índios são os principais acusados. Depois das mortes, mais seis pessoas foram assassinadas na região, entre índios, contrabandistas e garimpeiros. A polícia estima que outros 20 estejam desaparecidos. Para tentar conter o conflito, o governo federal interditou a região em 2004 e proibiu o garimpo em qualquer terra indígena do país.
DINHEIRO
O cacique João Bravo (à dir.) controla a terra onde estão os diamantes.
À esquerda, jipes apreendidos dos índios por dívidas e irregularidades

A Polícia Federal tem seis bases fixas na região, batizadas de Operação Roosevelt. Mas nem a intervenção do governo federal consegue conter a corrida pelos diamantes. Cerca de 500 homens - entre índios e garimpeiros - transitam no local. Jatos de água derrubam o barranco e outras máquinas separam o cascalho dos diamantes. O lucro é dividido entre os garimpeiros proprietários das máquinas e os caciques. Cerca de 6% são distribuídos entre os garimpeiros pobres, índios mais jovens e as cozinheiras dos acampamentos. A matemática seria boa, mas os índios alegam ter sido roubados com freqüência por atravessadores de diamantes. Na semana passada, um dos filhos de João Bravo, Raimundinho, acusou um suposto vendedor de levar 700 quilates de diamantes, no valor de R$ 600 mil, dos cintas-largas. Segundo a polícia, o contrabandista teria se oferecido para vender as pedras em Cuiabá e desapareceu.
A exploração industrial
em Rondônia faria do Brasil um dos maiores produtores mundiais
de diamante
Se a jazida das terras dos cintas-largas fosse legalizada, ela poderia gerar algo em torno de R$ 6 milhões por mês de impostos. Além da evasão de divisas, a situação ilegal do Laje atrai máfias internacionais. Investigações do Ministério Público e da Polícia Federal revelam que quadrilhas s do Líbano, Serra Leoa e Bélgica são responsáveis pelo contrabando dos diamantes da terra indígena. Segundo investigações do Ministério Público de Minas Gerais, os diamantes podem estar sendo usados para patrocinar tráfico de drogas e terrorismo. 

Uma das conseqüências da atividade ilícita é a ligação dos índios com esse crime organizado. Devido ao contato com os atravessadores de pedras, 13 cintas-largas estão indiciados por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e contrabando. De acordo com o Estatuto do Índio e a Constituição Federal, as riquezas do subsolo podem ser extraídas pelas nações indígenas quando localizadas em suas terras homologadas. Mas, como a garimpagem em terras indígenas está suspensa pelo decreto de 2004, os índios passaram a viver uma situação marginal em seu próprio território.
 O envolvimento dos índios agora é financeiro. Nos tempos do auge do diamante, em 2002, alguns caciques compraram casas na região e carros importados. Cercados por ajudantes, contratados na forma de motoristas brancos, os índios selaram amizade com os atravessadores de diamantes. Muitas máquinas de garimpo e carros foram comprados no nome desses terceiros. Mas, por causa das dívidas, a maioria perdeu todos os bens. Um depósito da Polícia Federal guarda cerca de 50 caminhonetes Toyotas apreendidas de índios cintas-largas, a maioria por dívidas não quitadas. Um levantamento do Ministério Público Federal (MPF) de Rondônia apontou que os índios devem na região cerca de R$ 700 mil.
GUERRA
DiCaprio interpreta um atravessador de diamantes em Serra Leoa. As mesmas quadrilhas atuam aqui
PRÓSPEROS Tratores retiram diamantes do território indígena, no Canadá. A exploração organizada rende empregos e participação nos lucros
Apesar dos problemas trazidos pelo garimpo ilegal, hoje não há uma estratégia realista para enfrentá-lo. A mera proibição, mesmo com a presença da Polícia Federal, não tem se mostrado eficaz. Um emaranhado de estradas clandestinas desenha um labirinto de lama na floresta. A fiscalização fica impossível. "É um jogo de gato e rato", afirma o delegado da Polícia Federal, Rodrigo Carvalho. Grande parte dos 2,7 milhões de hectares da floresta que envolvem a jazida de diamantes está praticamente intacta. Aventurar-se na região é perigoso. Onças, malária e cerca de 90 índios guerreiros armados com flechas e metralhadoras são apenas alguns dos obstáculos. Mesmo com os riscos, garimpeiros ainda sonham em colocar os pés no Laje. "Se puder entrar lá novamente, eu vou. Os diamantes compensam", diz o garimpeiro Antônio Rosa de Carvalho, o Goiano, um dos sobreviventes do massacre de 2004.


CONTRABANDO
Diamante apreendido pela polícia em 2006
Regulamentar a extração de diamantes parece ser um dos poucos caminhos possíveis para resolver o conflito na terra cinta-larga. Os índios têm direito constitucional sobre as riquezas minerais de seu subsolo. O problema é como explorar o recurso. Existem vários projetos de leis para isso. A mais antiga tentativa de regularizar a questão é um complemento do Estatuto do Índio, que aguarda desde 1991 para ser votado. Ele permitiria a exploração com repasse de parte dos lucros para os índios. Outra proposta, do senador de Roraima, Romero Jucá, foi aprovada no Senado Federal e espera apenas passar pela Câmara dos Deputados. Prevê a exploração sem pagar nada aos índios. Uma terceira proposta, criada após o massacre de 2004, é um meio-termo: prevê repasse aos índios, mas com limites. "Em março, iremos nos reunir com os representantes de várias etnias indígenas em Manaus para um acordo", diz Barreto, do Ministério da Justiça.
Um exemplo de como a exploração de diamantes pode ser bem administrada, é o caso do Canadá. Em 1991, os canadenses regulamentaram a extração de diamantes no território dos povos dene e inuit. O país se tornou o terceiro maior produtor de diamantes do mundo. As comunidades indígenas que participam da iniciativa enfrentam problemas, como o aumento do consumo de drogas. Mas cerca de 40% dos índios trabalham com as mineradoras que estão na região. Alguns são geólogos ou lapidadores. E as aldeias ganham cerca de 20% do faturamento das jazidas. Essa seria a melhor opção para o Brasil. A outra opção é atolar na violência, como Serra Leoa.

  
OS EFEITOS DA EXPLORAÇÃO ILEGAL
Sobre os índios
• Massacre
Desde o início da entrada de garimpeiros na região, em 1963, doenças e chacinas reduziram a população cinta-larga a 1.300 pessoas, menos de 10% do original

• Doenças
Hoje, cerca de 30% dos índios cintas-largas estão com diabetes. A ingestão de alimentos industrializados trazidos com o garimpo é a principal causa da doença
• Corrupção de valores
A venda ilegal dos diamantes empurra os índios para a criminalidade. Treze cintas-largas estão indiciados por homicídio, formação de quadrilha e contrabando
Para o país
• Evasão de divisas
A Polícia Federal estima que R$ 100 milhões em diamantes são retirados de forma ilegal por ano

• Crime organizado
Sem opção legal, os diamantes são vendidos por quadrilhas internacionais, ligadas ao narcotráfico e até ao terrorismo. Menos de 5% são recuperados
O que poderíamos ganhar com a regularização
• Produção de riquezas 
A mineração industrial dos diamantes de Rondônia poderia produzir R$ 3 bilhões por ano

• Impostos
Esse valor poderia render anualmente até R$ 6 milhões somente em tributos federais. O valor aumentaria com os tributos trabalhistas estaduais e municipais
• Distribuição de benefícios 
Cerca de 2% do lucro da produção iria para as comunidades locais. Isso reduziria a pobreza na região

RESQUÍCIOS DO GARIMPO EM ALTA FLORESTA-MT .

RESQUÍCIOS DO
GARIMPO EM ALTA FLORESTA-MT
do garimpo de Alta Floresta entre a década de 70 e 80, onde várias pessoas vieram do Sul do país em busca do ouro, dessa forma fica a indagação, o que restou do garimpo em Alta Floresta-MT? Com o passar do tempo surgiu muitas transformações, tanto materiais como tecnológica. Hoje se percebe amargura e a dor que o garimpo deixou nos corações de pessoas. Acredito o garimpo deixou muitas riquezas bem como muitas mortes, e como fica a vida das pessoas vieram em busca desse ouro tão sonhado, e de acordo com a pesquisa, mostrada pela história dos sujeitos desta época, que freqüentam os momentos terríveis Reconstrói-se, assim, parte da memória deste grupo de pessoas, que visavam uma melhoria de vida e para sua família, e encontraram um ideário distorcido. Palavras- chave: Garimpo-ouro- famílias
Introdução
A iniciativa desse trabalho surgiu após buscar informações a respeito do Garimpo em Alta Floresta diante de fatos, acontecimentos e marcas deixadas nas pessoas pelomesmo. Dessa formatorna-se de fundamental importância desenvolver uma pesquisa a respeito deste tema: Os Resquícios do Garimpo em Alta Floresta- MT
Este trabalhofoi desenvolvido com o intuito de pesquisar a história do garimpo de Alta Floresta nas décadas de 70 e 80. Comobjetivo de investigar o que restou do garimpo em Alta Floresta- MT.
Visto que esta nessa época a intenção do colonizador era buscar a economia desta localidade, a agricultura e pecuária. Com um ponto básico Terra Boa, a busca pela sobrevivência.
Mas ouve vários contatos por informações, aonde as famílias viriam em busca de terraBOA E BARATA, dessa forma vinhamos migrantes em busca desta terra para o cultivo da lavoura que por conseqüência não foi tão bom, com dificuldades no escoamento dos mantimentos.
Mas chega o momento inesperado, pela Colonizadora com seu projeto de abertura de estradas, que acaba facilitando a descoberta do OURO,
E essa descoberta ecoa praticamente em todo pais e o fluxo migratório aumenta em velocidade em busca de Metais Preciosos. E faz uma reviravolta no projeto da Colonizadora.
Portanto as famílias foram em busca do ourosem cessar, dessa forma gerando muita dor e morte.
RESQUÍCIOSDO GARIMPO EM ALTA FLORESTA-MT NAS DÉCADAS DE 70 E 80.
A dinâmica migratória de Alta Floresta Garimpo, este estudo busca apresentar um quadro sobre as principais tendências migratórias observadas aqui, de fato, essa área do extremo norte como Alta Floresta, cresceu muito anos de 70 a 80 com taxas elevadíssimas, pode-se destacar que até o final da década de 80,aqui temos exemplos da elevação da população: Em 1970 Alta Floresta possuía uma população de 1287, e em 1980 23.011, houve não apenas a expansão da fronteira agrícola, mas, principalmente a atividade garimpeira, imprimiram um ritmo intenso de crescimento demográficona região de Alta Floresta, é uma economia em busca de formas alternativas de desenvolvimento, sendo um área onde a pequena e média propriedade ainda tem importância.Por volta da década de 90 Alta Floresta, reduziram drasticamente seu crescimento ainda que em menor ritmo, mantiveram significativo dinamismo demográfico. Nesta época quase erradicação da atividade garimpeira na região explicaria boa parte do processo, mais ai surgiram novos projetos de assentamentos e, principalmente a entrada da soja, poderiam ser os elementos que justificariam tal comportamento. As pessoas que perdiam seus trabalhos com as dificuldades de extração de ouro, já num período de maiores investimentos, acabavam migrando para municípios com possibilidades de absorção da população no mercado, por exemplo, Sinop, que a extração de madeira era o auge da época para essas pessoas a indústria madeireira representava uma alternativa, porém agora essa industrialização já está em fase de diversificação (móveis, compensados, etc.).
Durante a década de 80, principalmente no primeiro qüinqüênio, muitas pessoas, sobretudo nordestinos, foram atraídas para a região norte do Mato Grosso devido à descoberta de ouro às margens do rio Teles Pires em 1979. Com esse fato houve também o fluxo de garimpeiros oriundos dos garimpos de Juruena e do sul do Pará, cujo acesso estava facilitado pelas estradas construídas pelos projetos de colonização. Esse quadro que se monta está fortemente influenciado pela expansão da atividade garimpeira na Amazônia.
Alta Floresta juntamente com a microrregião de Colíder, apresentou nesse período as taxas de crescimento populacional e as taxas de imigração entre as mais altas de todo o estado. Durante toda a década de 80Alta Floresta foi alvo de exploração garimpeira, mudando completamente o perfil de município agropecuário, traçado originalmente pelo projeto de colonização da INDECO, transformando-se em pólo regional de atividades ligadas ao garimpo em muito pouco tempo. A dificuldade para a estabilização do setor agropecuário liberou mão de obra e capital para os garimpos.
Na verdade, a importância deste tipo de atividade também se expressa na significativa urbanização da microrregião de Alta Floresta (28,8% e 56,3%, em 1980 e 1990, respectivamente), posto que se estabelecesse uma rede de serviços e comércio para a venda do ouro. Assim, a força da atividade garimpeira para explicar a ocupação de boa parte do norte mato-grossense se verifica na medida em que, em paralelo à decadência desta atividade também se percebe uma significativa perda populacional e queda no fluxo migratório, Alta Floresta, que apresentou crescimento demográfico negativo de 4% nos anos 90, houve nos anos 80 uma mobilidade intensaemAlta Floresta.Havia muitas trocas populacionais entre estas microrregiões vizinhas como: Colider, Sinop e Alto do Teles Pires devido estar relacionadas à atividade garimpeira, cuja mobilidade de seus trabalhadores é muito típica. Pois os garimpeiros não se fixavam no local por muito tempo.
As características da Migração em Alta Floresta Os reflexos
A maneira pela qual a maior parte do município de Alta Floresta foi ocupada teve implicações diretas sobre o perfil da migração recebida, particularmente em termos da composição familiar. O chefe da família migrasse previamente sozinho ou com os filhos homens mais velhos, visando preparar o lote, o caráter familiar desse tipo de deslocamento era inconteste. Os dados apresentados a seguir mostram claramente essa questão.
A distribuição das famílias de chefes por tipo mostra a importância da migração familiar como constitutivo do processo de distribuição e ocupação do espaço.
Percebe-se que nos períodos 70/80 grande parte da imigração era do tipo "casal com filhos".
Uma das grandes modificações da forma de inserção do migrante e que, de certa forma, reflete as transformações pelas quais passou assistiu-se na categoria "Autônomo ou Conta Própria na Agropecuária". Enquanto na década de 70 a categoria absorvia produtivamente 30% dos migrantes.
No entanto, percebem-se, ainda nos anos 80, percentuais importantes de pessoas ligadas à agricultura.
Não obstante seja importante destacar o papel relevante destes assentamentos no processo de ocupação e, principalmente, retenção demográfica Nesse sentido, a visita a campo realizada revela que em muitos dos locais onde as famílias ficavam não havia escolas, postos de saúde, ou mesmo estradas em condições mínimas para o trânsito e escoamento de qualquer tipo de produção. O que, segundo depoimentos, resultam em pouco espaço para quem precisa construir sua moradia e fazer sua plantação. Dessa maneira, muitos não conseguem ficar na terra e viver exclusivamente dela, necessitando trabalhar na cidade boa parte do tempo e com isso, sempre correndo o risco de perderem a terra por falta de condições de torná-la produtiva e efetivamente ocupada.
Portanto, as condições concretas de absorção da população em geral no trabalho rural, e do migrante, em particular, vão se reduzindo cada vez mais, seja por um processo de mudança produtiva e tecnológica, seja por uma progressiva concentração de terra.
Dessa forma, as possibilidades de continuidade de expansão demográfica em Alta Florestaficam muito reduzidas, como conseqüência da redução de seu poder de atração populacional e da expulsão de significativos contingentes, muitos deles retornando aos seus destinos ou reemigrando.
Considerações finais
Alta Floresta como fonte agrícola no país e, portanto, como uma das poucas alternativas para a migração de pessoas ligadas ao campo, Alta Florestaaté meados dos anos 80 cumpriu um papel importante no processo de redistribuição espacial da população brasileira. Contudo, sua trajetória nessa condição foi uma das mais curtas em função de uma rápida e intensa transformação produtiva e do processo de concentração fundiária.
Os dados aqui analisados mostram não apenas a redução do ímpeto migratório para a área, como também as relações entre este comportamento e as mudanças nas formas de inserção dos migrantes, que espelham o processo de urbanizaçãoe grande desarticulação das formas de ocupação que possibilitaram o "desbravamento" de boa parte de seu território.
Vimos que aárea de atração migratória, embora no nível interno, muitas áreas ainda figuram como grandes alternativas para a absorção do grande contigente de pessoas ligadas à terra. Frente a este quadro considera-se que Alta Florestajá caminha para um total esgotamento de sua condição agrícola e, portanto, como uma alternativa para os migrantes. Talvez projetos concretos possam dar mais estímulos as famílias que aqui vivem.. onde possam no futuro dar novos rumos à dinâmica demográfica de Alta Floresta . Entretanto, nesse momento é difícil imaginar sequer a manutenção do poder atrativo do anos 80 .

O famoso ZÉ ARARA

O famoso ZÉ ARARA


A cidade foi chamada de último faroeste brasileiro, a capital dos garimpos. No auge da febre do ouro, Itaituba recebia hordas de gente vinda de todos os cantos do país. Vinte toneladas de ouro por ano chegaram a ser extraídos dos garimpos do Alto Tapajós no fim dos anos 80.Mesmo com a decadência da mineração no rio do ouro, eles não perderam a esperança. Dos mais de 700 garimpos, só 200 ainda estão em funcionamento. A produção não chega a três ou quatro toneladas por ano.
Zé Arara é o mais lendário garimpeiro do Tapajós. Na década de 60, foi o garimpeiro mais famoso da Amazônia. Ele formou um império, no município de Itaituba, de aviões, mansões, fazendas, muito dinheiro, tudo tirado do ouro. Aí veio a crise e ele teve que recomeçar tudo.
“Antes da crise fui o único brasileiro que vendeu na faixa de 40 toneladas de ouro ao governo brasileiro”, conta ele. Zé Arara perdeu muito, mas nunca foi um garimpeiro de alma livre, capaz de gastar em uma noite, com mulheres e bebida, tudo o que levou meses para ganhar.
Ao contrário, ele construiu um patrimônio. “Além de ter um jato, tinha 15 aviões pequenos e quatro bandeirantes”, ressalta. Um problema com o jato em Itaituba fez com que Zé Arara trasladasse o avião de volta para a fábrica, em Nova York.“O avião explodiu no ar. Morreram dois tripulantes, dois comandantes e dois mecânicos. Para eu desenrolar esse rolo e não ser preso nos Estados Unidos, tive que gastar 200 quilos de ouro”, conta o garimpeiro.
Desde então, ele está sem sair do garimpo. São onze anos pagando dívidas. “Não devo mais, agora estou lutando para reerguer nosso negócio”, conta. Zé Arara se diz dono de 23 mil hectares de terra, toda a área do garimpo de Patrocínio. Mesmo assim, os moradores criaram uma associação e querem transformar a região em uma comunidade.
Zé Arara se sente ameaçado. “Temo até pela minha segurança. Hoje, estou recomeçando aos 70 anos”, ele diz. O garimpo não é mais como antes. Das dez mil pessoas que buscavam ouro em Patrocínio só restam duas mil.

RONDÔNIA DE ONTEM- Garimpo de Ouro

RONDÔNIA DE ONTEM- Garimpo de Ouro
 
 


 




O ronco dos motores e a escavação de grotas profundas no garimpo Topless começavam às 4h, em Colorado do Oeste. Cheguei lá de táxi, acompanhado pelo fotógrafo José Varella, a serviço 
do Jornal do Brasil. Por que Topless? Na estrada se contemplam dois morros salientes, lembrando seios de mulher.

Corria o ano de 1985. Nas ruas da pequena cidade, paranaenses sem tradição na cata do ouro se misturavam a algumas centenas de homens procedentes de diferentes lugares da Amazônia. Traziam apenas a roupa do corpo, a mochila, o rádio de pilha e algum dinheiro.

A maioria chegava atraída por notícias divulgadas pela Rádio Nacional de Brasília, dando conta da existência de um metal fino com 14% a 16% de impurezas.

Aquela região distante quase 800 quilômetros (por estrada) da capital rondoniense recebeu garimpeiros vindos de Itaituba, Jacareacanga e Serra Pelada (ambas no Pará), Alta Floresta e Cuiabá (MT), ou expulsos pela cheia do Rio Madeira.

Hotéis, pensões e dormitórios cobravam diárias de 20, 25 e 30 mil cruzeiros. Em matéria da criatividade de nomes, as “fofocas” de Colorado iam além do Topless: Sete Voltas, Grota do Armando, Serra da Tanguinha, Grota da Rolinha e Baixão do Enganado.

O grupo Anglo American colocava os pés na região, negociando ouro e diamantes por meio de suas prepostas, as minerações Sopeme, São João e Tanagra. Percebendo isso, a Companhia de Mineração de Rondônia (CMR) instalava um escritório e começava a comprar também, pagando 120 mil cruzeiros o grama.

As grotas com sete a dez metros produziam 40 a 50g por dia. Muito pouco, segundo o gaúcho Anibaldo Augustini, que alertava: “Ouro aqui só dá no fundo do terreno. Por enquanto, só estamos no rastro”.
 Colorado
O mais conhecido bamburro (achado) de ouro em Colorado coube ao garimpeiro Zé Goiano: ele obteve três quilos depois de quatro meses de escavações. O piauiense José Marques de Souza, retirante de Serra Pelada, dizia ter encontrado ametista em Xambioá (PA), aventurando-se depois na Bolívia, de onde saiu deportado com outros brasileiros. “Lá na serra eu me lasquei: perdi minha caminhonete D10 e Cr$ 100 milhões que paguei para os diaristas que trabalhavam comigo. Só para tirar trezentos gramas de ouro”, lamentava ao repórter.

Da batalha contra a Docegeo em Serra Pelada aos morros de Colorado, a parada foi dura para garimpeiros que já estavam em Rondônia e para os que chegavam depois das notícias dadas pelo rádio.

O cearense Pedro Lino Silva teve que correr de Espigão do Oeste, trazendo junto um grupo com mais de 20 companheiros. Haviam sido despejados pela Mequimbrás, porque retiravam cassiterita de uma mina abandonada pela empresa. Os empregados confiscaram-lhes peneiras, bateias, pás e picaretas. A polícia ficava com todos esses equipamentos de trabalho.