quarta-feira, 12 de outubro de 2016

O Garimpo da Família Silvestre

O Garimpo da Família Silvestre



Uma Geo-Reportagem de Heinrich Frank

A Informação Inicial

Uns anos atrás uma pessoa compareceu ao Museu de Geologia da CPRM com uma amostra de apofilita com hábito prismático piramidado, um hábito bastante raro entre as apofilitas do Rio Grande do Sul, pelas informações que se tem até o momento. Indagado pelo Coordenador do Museu, geól. Pércio Branco, sobre a origem do mineral, a pessoa limitou-se a informar que era de uma pedreira "entre Caxias do Sul e Canela".

Sabedor do meu interesse em zeolitas, o Pércio me passou esta informação, que ficou guardada para investigação. No primeiro semestre deste ano de 2002 tive oportunidade de percorrer a região - entre Caxias do Sul e Canela - e aproveitei para perguntar por pedreiras. Conversando com moradores, foi fácil chegar a um nome intimamente ligado a pedreira e garimpo: Nelson Silvestre, morando em Santa Lúcia do Piraí. Fiz um contato com ele na ocasião e combinamos de deixar passar o inverno frio e chuvoso que estava fazendo para conhecer o garimpo.

Passado o mês de outubro, excepcionalmente frio e chuvoso, no início de novembro combinamos por telefone de fazer a visita e, assim, tenho o prazer de apresentar o relato denominado


" O Garimpo da Família Silvestre " 


(ou: "A região garimpeira de ametistas de Caxias do Sul - RS")

OS IMIGRANTES

No início do século XX imigraram da Itália, entre muitos outros colonizadores, uma menina com 9 anos de idade e um menino, de outra família chamada Silvestro, também com menos de 10 anos de idade. Vivendo no Brasil, cresceram, conheceram-se e formaram um casal morando na localidade de São Paulo, do Distrito de Santa Lúcia do Piraí, município de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Um dos filhos, chamado Sebastião, comprou em 1930 uma área de terras com 72 hectares no total entre as localidades de Santa Lúcia do Piraí e Vila Oliva, município de Caxias do Sul. Esta é a localização que nos interessa. Na propriedade, Sebastião encontrou um mar de araucárias. Eram pinheiros de araucária ininterruptamente dali até São Francisco de Paula. Hoje sobrou pouco disso - alguns capões aqui e ali, pois a madeira fez a casa e a fortuna de muitos. Sebastião plantava trigo e milho e criava porcos.


A VIAGEM 

Para acessar o local, segue-se pela BR-116 até o quilômetro 147, logo depois da ponte sobre o Rio Caí e 200 metros antes do pedágio. Ali inicia uma boa estrada de chão batido que adentra o Vale do Rio Caí, seguindo praticamente ao lado do rio Caí por mais de uma dezena de quilômetros.


Vale do Rio Caí visto a partir da BR-116
Assim chega-se à ponte sobre o rio Piraí, afluente do rio Caí, uma ponte com mais de 50 metros de comprimento. Pouco depois há uma encruzilhada onde se escolhe o lado esquerdo e sobe-se do vale para o topo do planalto, com uma temperatura nitidamente mais baixa.


Imponente e majestoso, o Morro Koff domina o vale. Quem viaja de Nova Petrópolis a Gramado e deixa o Morro de lado não sabe o que está perdendo.
Mais alguns quilômetros e ....



.... estamos em Santa Lúcia, um povoado tranquilo, limpo e bonito, com arquitetura tipicamente italiana. A região destaca-se pela grande produção de hortigranjeiros durante o verão, que é comercializada na Central de Abastecimento de Porto Alegre - CEASA. O inverno é rigoroso demais para as hortaliças, com muita geada e até neve.







Toma-se a estrada que segue em direção Leste, para Vila Oliva e, 10 quilômetros depois, estamos no Garimpo da Família Silvestre.

OS INDÍCIOS 

Ainda a caminho do garimpo, na excelente estrada de chão batido que leva ao local, observa-se uma quantidade elevada de cristais de quartzo e geodos com ágata nos diferentes cortes de estrada, onde o quartzo está na base do horizonte superior do solo, onde se concentrou por processos de intemperismo, e abaixo disso na rocha basáltica completamente alterada. Sem qualquer dificuldade coleta-se agregados de cristais de quartzo com 2 cm de altura, límpidos e às vezes com tonalidade azulada. Ágata, ágata desidratada, calcedônia e quartzo com formas estranhas, esqueletais, completam o quadro que se descortina ao observador.



O INÍCIO DO GARIMPO

O velho Sebastião Silvestre (nome modificado para "e" no final ao invés do "o" dos imigrantes) não dava muita bola para "as pedras" (as ametistas) . Certa feita passou um senhor de idade, de Caxias do Sul, pela propriedade dos Silvestre e juntou do chão, no meio da roça, alguns cristais de ametista, vendendo-os em Soledade. A partir daí iniciou a extração de pedras, que eram buscadas a picão, colocadas dentro de um saco e, viajando de ônibus, levadas até Soledade.

Isso foi há quarenta anos. O trabalho evoluiu, e Sebastião e sua família, onde se inclui seu filho Nelson Silvestre, procuravam as ametistas, sempre a picão, quando tinha menos serviço na agricultura, que continuava a principal atividade na propriedade. Assim trabalhava-se mais no inverno, mas também no verão, sempre que "a roça" dava uma folga.

Ao invés de levar as pedras a Soledade, o fluxo se inverteu: os compradores de Lajeado e de Soledade vinham até a propriedade, usando carros da época como Chevette e Corcel, levando quantidades pequenas como 100 ou 200 quilos, sempre usando as ametistas para queimar e depois tirar as pontas dos cristais para posterior lapidação, esta normalmente feita no exterior.


A PROFISSIONALIZAÇÃO

As empresas Willi Guerner, Jaghetti e dos Ledur de Estrela inauguraram um ciclo novo no garimpo, aproximadamente a partir de 1970. Adquiriam o direito de lavra de pequenos lotes na propriedade, de 50 por 30 metros, por exemplo, ficando com todas as pedras que havia nesta porção, trazendo máquinas para dinamizar a extração.

Conta-se que, em uma ocasião, o "nono" Bastião, que não acreditava muito no "negócio das pedras" , vendeu por 500 cruzeiros o direito de lavra de um lote de 20 por 40 metros por 3 anos a uma destas empresas. Apareceu tanta pedra que o lote se pagou na primeira semana de trabalho ....

Este arrendamento de lotes parou em 1985, mas já bem antes Nelson Silvestre, sua esposa Érida e os filhos Gilberto, Alencar e Rosane começaram a extração de ametistas por conta própria. Inicialmente foi a picão mas depois, em 1980, a empresa Irmãos Lodi, tradicional e importante comerciante de pedras preciosas de Soledade, financiou uma retroescavadeira à família, que foi paga em ametistas. Seguiram-se um caminhão, um trator de esteira e outros equipamentos que são usados hoje. Sr. Nelson e sua esposa, Érida, já se aposentaram, estando os filhos responsáveis pelo garimpo.


A DESCRIÇÃO DO GARIMPO

O local do garimpo não se destaca na região por alguma feição geomorfológica especial. Está situado no relevo mais ou menos acidentado típico desta região de topo de planalto. Aflora aqui o estrato superior de um derrame espesso de rocha vulcânica completamente alterada para argila vermelha. Há 4 niveis bem distintos.


Aspecto geral do garimpo hoje em operação
O primeiro é uma capa com 3 a 5 metros de espessura de solo vermelho com matéria orgânica que contém pouquíssimos geodos. Este material é retirado para ser usado mais tarde na recomposição do terreno.

O segundo é um nível abaixo do primeiro com mais de 8 metros de espessura que contém os geodos de quartzo e de ametista. Os geodos tem no máximo 60 cm de diâmetro, normalmente um pouco menos, e possuem quartzo ou quartzo ametista no seu interior. A "crosta" do geodo normalmente é de quartzo, relativamente espessa, e a "casca" do geodo exibe feições de corrosão devido ao ataque dos agentes intempéricos. Também ocorre ágata, mas é bastante rara e normalmente trincada, o que impede que seja serrada para finalidades comerciais. Muitos geodos estão completamente preenchidos com quartzo, quando então não tem mais uso e são descartados. Os cristais de ametista alcançam até 4 - 5 cm de altura, raramente mais, situando-se a média em até 2 cm.


Detalhe do nivel de geodos que é minerado.
O terceiro, o nível mais inferior, é uma rocha menos alterada com geodos maiores que possuem, além de ametista, feições de sílicas diferenciadas lembrando dedos, estalactites, vermes e outras.

Finalmente o quarto nivel é chamada de "laje" e é uma rocha inalterada desprovida de geodos, caracterizando a porção central do derrame vulcânico em questão.

Na operação do garimpo, a rocha alterada, básicamente argila, é removida com o auxílio de máquinas e nos geodos encontrados a cata da ametista é feita à mão, já separando no próprio garimpo as pedras de acordo com sua qualidade e finalidade.


Ametistas de qualidades diferentes já separadas no garimpo.
É uma garimpo muito diferente dos garimpos no norte do estado, na região de Ametista do Sul, onde se fazem túneis na rocha inalterada, trabalhando com dinamite, até localizar os geodos de ametista, lá normalmente bem maiores que aqui no Garimpo da Família Silvestre.


Garimpo antigo que terá agora o seu terceiro nivel minerado.
O garimpo, ao longo dos anos, originou o pomar de macieiras que cobre as partes antigas do garimpo, devidamente reconstituídas e plantadas segundo a última tecnologia disponível, que é o plantio em alta densidade, usando uma técnica com arames, com duas variedades de maçã plantadas. Estas maçãs produzem hoje a metade do rendimento da propriedade quando o garimpo produz normalmente.


Vista das macieiras com araucárias no fundo.

OS PRODUTOS DO GARIMPO

O garimpo rende exclusivamente ametista. As raras ágatas e os quartzos de formas diferenciadas são muito raras e inexpressivas economicamente. Desta maneira, há dois produtos principais:

a) Chapas para coleção, a produção mais importante. Trata-se de fragamentos de geodos com tamanhos de até um palmo e meio de diâmetro.
b) Pontas, como são chamadas os cristais de quartzo individuais. Estas dividem-se em:

b1) limpas, que são aquelas vendidas na cor natural, para lapidação, e
b2) semi-limpas, que são aquelas que são queimadas para o aproveitamento dos "bicos" , que são as pirâmides dos cristais de quartzo, para finalidades diversas.

Quando as ametistas vem do garimpo, são lavadas com água sob alta pressão em uma instalação feita especialmente para isso:


Lavador de ametistas
O garimpo possui um amplo galpão onde as máquinas são guardadas e em cuja parte inferior encontram-se dois fornos elétricos onde as chapas e as pontas semi-limpas são queimadas, a 400º Celsius durante 9 horas, com duas fornadas diárias de 100 quilos cada uma, produzindo a pedra conhecida como citrino. Esta deve ser diferenciada do citrino natural, um quartzo que ocorre naturalmente amarelo, muito raro no Rio Grande do Sul. O citrino é chamado no comércio, frequentemente, tanto aqui no Brasil como no Exterior, de topázio, embora não tenha nada a ver com o topázio verdadeiro. Apenas as cores do citrino artificial e do topázio amarelo são semelhantes.


Aspecto do forno (ao fundo) com barris de chapas já queimadas prontas para venda aos atacadistas de pedras preciosas
A qualidade das ametistas deste garimpo é especialmente boa para queima, pois não é qualquer ametista que queima. Estas aqui queimam muito bem, dando uma grande variação de cor, com 8 a 9 tons de cores diferentes. Por isto as ametistas daqui são conhecidas no estado inteiro como "pedras de Caxias".


Mesa com chapas de citrino prontas para venda.
À esquerda, Sr. Nelson Silvestre . À direita, seu filho Gilberto José Silvestre, responsável pelo garimpo

Detalhe da variação de cor das chapas de citrino.

QUEM COMPRA 

Uma boa parte da produção é vendida diretamente para os grandes comerciantes de pedras preciosas de Soledade, que vem buscar o produto no próprio garimpo. Muito material é vendido para microempresas em Lajeado e em Estrela, que compram de 500 a 1000 kg para martelamento, que é a retirada da pirâmide do cristal de quartzo ametista queimado. Estas "pontas" são exportadas depois para lapidação no exterior.


QUEM MAIS GARIMPA NA REGIÃO

As famílias que mantém garimpo na região de Caxias do Sul são, além dos Silvestre, os Fiorini e os Lize, além de um garimpo em Parada Cristal. Em São Francisco de Paula há um garimpo desativado, cujos proprietários compram material dos Silvestre para beneficiamento .


E A APOFILITA PRISMÁTICA PIRAMIDADA ? 

Pois é, o mineral que deu origem a esta Geo-Reportagem não apareceu. Mostramos ao Gilberto, lá no garimpo, exemplares de diversas zeolitas: chabasita, escolecita, epistilbita, apofilita, laumontita e stellerita, mas nenhuma destas foi-lhes familiar. Não que não haja zeolitas na região: em alguns blocos na entrada da propriedade foi possível constatar mordenita e calcita, uma associação que inclui, característicamente, chabasita, heulandita e stellerita, mas como são minerais sem um mercado do porte daquele das ametistas, não há como manter um garimpo rentável se a densidade e qualidade do material não forem muito boas.

De qualquer maneira, a visita ao garimpo proporcionou um aprendizado muito interessante que estamos, através deste texto, compartilhando com todos vocês.


Obrigado pela leitura. 

Pedras Preciosas do Rio Grande do Sul

Pedras Preciosas do Rio Grande do Sul
 
Pércio de Moraes Branco
Pércio de Moraes Branco é geólogo, Chefe do Projeto Pedras Preciosas RS/SC que o Serviço Geológico do Brasil concluiu no Rio Grande e em Santa Catarina. É autor de quatro livros, entre eles Glossário Gemológico e Dicionário de Mineralogia, ambos em 3a edição.
Informações sobre o Projeto que chefia ou sobre as gemas do Rio Grande e de Santa Catarina podem ser obtidas pelo endereço museugeo@pa.cprm.gov.br, pelo tel. (051) 233-7311 ou fax (051) 233-7772.
A importância das nossas gemas
O Rio Grande do Sul é um dos maiores produtores brasileiros de pedras preciosas e um dos mais importantes produtores mundiais de duas delas, ágata e aametista.
Se você já ouviu falar em pedra semipreciosas, esqueça. A distinção preciosa/semipreciosa é arbitrária, confusa, desnecessária, não tem fundamento científico ou econômico e, para o Brasil, é até prejudicial.
Hans Stern, dono da H. Stern, empresa brasileira com 90 joalherias no país e mais 85 espalhadas por quatorze países, diz que " não existe pedra semipreciosa como não existe mulher semigrávida ".
Segundo o IBGM (Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos), o Rio Grande é o segundo maior exportador brasileiro de gemas brutas (US$ 10.175.000 em 1997) e lapidadas ((US$ 18.622.000), só perdendo para Minas Gerais. Com relação a obras feitas com pedras preciosas, ocupamos o primeiro lugar (US$ 5.863.000), bem à frente do Rio de Janeiro (US$ 2.070.000) e de Minas Gerais (US$ 1.568.000).
O que produzimos
A produção gaúcha é grande mas se apóia em apenas três gemas: ametista, citrino e ágata, todos variedade de quartzo.
ametista é a mais valiosa das três pedras preciosas. É um quartzo de cor roxa, em tons que vão do bem claro ao roxo profundo. De toda nossa grande produção, apenas 3% são adequadas para lapidação, sendo o restante vendido como peças decorativas e/ou para coleção.
citrino é amarelo a laranja, excepcionalmente vermelho, caso em que vale bem mais. É mais raro que a ametista, mas vale menos, provavelmente porque sua cor é bem mais comum entre as pedras preciosas. É importante salientar que citrino é extremamente raro no Rio Grande do Sul e que nossa produção provêm do aquecimento da ametista, o que provoca oxidação do ferro nela existente e conseqüente mudança de cor. Isso é feito quando a cor da ametista é muito fraca, impedindo-a de alcançar bom preço no mercado. Nem sempre, porém, o tratamento térmico dá um produto de maior valor.
O que chamam, no comércio, de " topázio Rio Grande " nada mais é que esse citrino.
ágata caracteriza-se por ter cores variadas, dispostas em faixas paralelas, retas e/ou concêntricas. As cores mais comuns são cinza e cinza-azulado, havendo também faixas de cores branca, preta, amarela, laranja, bege, vermelha e marrom. Quando as cores não são atraentes, limitando-se a tons de cinza, por exemplo, pode-se aproveitar o fato de a ágata ser porosa e tingi-la.
Surgem assim ágatas muito bonitas de cores verde, rosa, roxa e azul. Esse processo é usado em muitos países e até mais do que aqui. Nossas ágatas são consideradas as mais bonitas do mundo e só uns 40% delas são tingidas, enquanto no Exterior o tingimento é usado em mais de 50% das ágatas. É importante frisar que o fato de ser tingida não diminui em nada o valor comercial dessa gema.
Nosso Estado é também muito rico em madeira fóssil (xilólito), com a qual se podem obter belíssimos objetos decorativos, bijuterias e mesmo jóias. Atualmente sua produção está suspensa por medida legal, aguardando-se uma avaliação do nosso potencial para então se decidir onde pode ser extraída e em que volume.
Outras gemas gaúchas, menos valiosas, são o cristal-de-rocha (quartzo incolor), abundante mas aproveitado apenas como peça de coleção ou decorativa; jaspe (verde ou vermelho); cornalina (alaranjada a vermelha) e ônix (preto). Há ainda variedades de sílica de formas e arranjos exóticos, conhecidas entre produtores e comerciantes por nomes populares: conchinha de ágata (ou medalha), pratinho, flor de ametista, geodinhos, pedra d´água, etc.
Por fim, merecem ser citadas a calcita e a selenita, que não são pedras preciosas mas são produzidas comercialmente em nosso Estado para decoração e coleções. A selenita, aliás, forma cristais tão grandes e límpidos como em nenhum outro país.
Onde estão
ametista gaúcha provém principalmente da região em torno de Ametista do Sul, no Norte do Estado. Além desse município, produzem gemas Iraí, Frederico Westphalen, Rodeio Bonito, Cristal do Sul, Planalto e, em menor quantidade, Trindade do Sul e Gramado dos Loureiros. É dessa região também que sai a selenita, os pratinhos, flores-de-ametista e belas ágatas (estas pouco abundantes).
ágata provém principalmente de Salto do Jacuí, no centro do Estado. Mas é largamente produzida em vários outros municípios, como Lagoão, Fontoura Xavier, Progresso e Nova Brescia. Além da ágata, gemas encontradas com mais freqüência são ametista, cornalina, cristal-de-rocha e ônix.
Em todas as áreas produtoras de ametista se faz sua transformação em citrino.
cristal-de-rocha é abundante em toda a metade Norte do Estado, aparecendo em menor quantidade na porção sul.
madeira fóssil ocorre principalmente nos municípios de Mata e São Pedro do Sul, mas pode ser vista em Pantano Grande, Butiá, São Vicente do Sul, Santa Maria, e vários outros, ao longo de uma faixa este-oeste, no centro do Estado.
Onde comprar
O melhor lugar para comprar é Soledade, 190 km a Noroeste de Porto Alegre. O município não é produtor de gemas (ao contrário do que muitos pensam), mas é o maior centro de beneficiamento, comercialização e exportação do Estado. Dezenas de lojas e indústrias oferecem enormes quantidade e variedade de gemas e outros minerais, provenientes de vários estados brasileiros e até mesmo do Exterior.
Lá, você encontra ametista bruta, em belos geodos, por US$ 8,00 a 12,00 / kg. Citrino, ágata, cristal-de-rocha, quartzo róseo, quartzo verde, jaspe, sodalita, selenita e calcita são facilmente encontradas, por preços menores que os da ametista.
Lajeado, a 90 km de Porto Alegre (no caminho para Soledade) já foi um grande centro comercial nesse setor, mas hoje conta com pouquíssimas lojas. Em Porto Alegre, há várias lojas que vendem pedras brutas e lapidadas, mas ainda são poucas frente ao tamanho da cidade. Os preços, é claro, são mais altos que em Soledade e a variedade, bem menor.


Ametista
ametista


Agata
ágata


mina de selenita
mina de selenita
(Não, a guria não é a selenita
Olha o que ela segura, aquilo sim é a selenita)

(Em pé, na foto, Carlos Alberto Macedo de Albuquerque e
Flávia Maria Polydoro de Albuquerque)
 

Ametistas no Rio Grande do Sul

Ametistas no Rio Grande do Sul


Ametista do Sul é uma pequena cidade que concentra uma grande quantidade de garimpos de ametista. Segundo uma pesquisa histórica feita, por volta de 1940 chegaram à região de Ametista do Sul os primeiros moradores e encontraram ali os índios que viviam na região. Eram pessoas de espírito aventureiro, que vieram em pequenos grupos, trazendo seus pertences em animais cargueiros como burros, mulas, cavalos e bois, seguindo sangas e abrindo picadas na mata. Chamaram a região de "Cordilheira". Por volta de 1940 haviam na região as famílias Tasso, Castro, Giacomini, Comunello, Freitas, Bertoletti e Rodrigues, entre outras. Suas moradias eram feitas de pau-a-pique e cobertas por folhas de coqueiro.

O início da colonização consistia na derrubada do mato para implantação de roças para a produção de alimentos de subsistência, além de criação de animais domésticos. A caça complementava a alimentação. Além disso, os moradores abriam e conservavam estradas com ferramentas manuais, usando como transporte o cavalo e a carroça. Os doentes eram carregados, muitas vezes, em uma padiola. As compras eram realizadas nas cidades de Iraí, Rodeio Bonito ou em Frederico Westphalen.

Os moradores construíram um capitel (igrejinha) onde colocaram a estátua de São Gabriel. Isso motivou a troca do nome do local de Cordilheira para São Gabriel, sendo o santo o padroeiro do município. No início da colonização a única diversão era a participação no culto religioso aos domingos (o terço). A partir daí formou-se um grupo social que deu início às festas religiosas, bailes de galpão, jogo de mora, cartas, bocha, carreiradas e outras.

A primeira missa foi celebrada pelo Padre Luiz Esponquiado, provavelmente em frente ao capitel. Mais tarde, o Padre Vitório Seraglio, auxiliar do Padre José Borget, de Iraí, assumia a capela de São Gabriel.

Mais tarde inicou-se a exploração das pedras preciosas. A atividade garimpeira na região do Médio Alto Uruguai já conta com mais de 50 anos. As ametistas foram descobertas por acaso por caçadores e agricultores pioneiros que habitavam a região desde a década de 1930. Inicialmente, as pedras eram encontradas ao acaso, sob as raízes das árvores, córregos e áreas lavradas. Nesta época as pedras eram comercializadas e levadas para o Exterior, mais precisamente para a Alemanha, país com longa tradição na industrialização de pedras preciosas. Isso foi facilitado pela proximidade de colônias alemãs, as quais propiciavam grande intercâmbio com seu país de origem.

Com o início da II Guerra Mundial o processo se interrompeu pois a economia mundial voltou-se para o custo da guerra e a atividade se esvaziou. Mas após a Guerra, devido ao grande valor comercial das pedras, o interesse pela exploração aumentou e, nos períodos de entressafra os agricultores começaram a fazer escavações com enxadões, pás, picaretas e uma ferramenta chamada sonda ou barra de ferro. Nesta época surgiram os primeiros garimpeiros que, por experiência empírica, descobriram a existência da chamada "veia" de pedra sobre a qual realizavam várias cavas, que nada mais eram do que escavações em forma de poço com uma abertura na parte laterial chamada de carreados, facilitada pela topografia acidentada. Ainda hoje são encontradas antigas cavas abandonadas que foram abertas naqueles primórdios de exploração da ametista.

Nos anos 70 a agricultura, a pecuária e a suinocultura foram cedendo lugar à extração de pedras preciosas (ametista e ágata) em grande escala e, com a instalação de grandes empresas exportadoras no distrito, os negócios começaram a prosperar. Foram chegando mais habitantes, trazendo máquinas para a exploração destas pedras.

Nos anos 90 o movimento emancipacionista tornou esta vila um município, através da Lei Estadual 9.570 de 20 de março de 1992, sancionada pelo Governador Alceu Collares. A Lei cria o Município de Ametista do Sul, desmembrando do município de Planalto uma área de 65%, de Rodeio Bonito 5% e de Iraí 30%. Hoje o município possui 6.878 habitantes, contando com toda a infraestrutura básica e tendo por principal atividade o extrativismo mineral através de 207 garimpos. O número de garimpos é de 100 e de garimpeiros 1300. As pedras extraídas são ametista, ágata, calcita e zeolitas. Estas pedras são exportadas para outros estado e países.(Fonte: Folheto Informativo da Prefeitura de Ametista do Sul)

A extração das pedras é feita em "garimpos", que são escavações na rocha, formando túneis horizontais com larguras entre 3 e 6 metros e alturas entre 2 e 2,5 metros. No perímetro urbano de Ametista do Sul existem 20 galerias subterrâneas, com profundidade horizontal entre 40 e 150 metros, pertencendo a 20 garimpos que garantem 230 empregos. O prefeito reeleito da cidade é Sílvio Pôncio.

Em Ametista do Sul, incluindo o interior do município, há 207 garimpos. Juntas, as oito cidades com atividade garimpeira possuem 315 pontos de extração de pedras, básicamente ametista. Dois pontos são de calcita e outros dois de selenita (gipsita).

Metade dos metais extraídos da Terra está sem uso

Metade dos metais extraídos da Terra está sem uso

Metade dos metais extraídos da Terra está sem uso
O pesquisador reconhece que, na maioria dos casos, a retirada do material não é simples. [Imagem: Universidade de Linkoping]
Mundo dos desconectados
Você sabia que apenas metade de alguns dos principais metais extraídos das minas de todo o mundo são realmente utilizados?
Isto pode até parecer estranho, mas estranho mesmo é o destino desses metais não utilizados.
A maioria do desperdício está no "mundo dos desconectados", de acordo com Bjorn Wallsten, da Universidade Linkoping, na Suécia.
Wallsten estudou detalhadamente a infraestrutura de duas cidades suecas - Norrkoping (135.000 habitantes) e Linkoping (150.000 habitantes) - e descobriu milhares de quilômetros de fios, cabos e dutos metálicos que estão simplesmente desconectados das suas respectivas redes, sem nenhuma serventia.
São principalmente ferro, cobre e alumínio na forma de trilhos, dutos de gás, cabos elétricos de alta tensão, fiação de baixa tensão e antigas redes telefônicas, entre várias outras possibilidades - todos já sem uso, mas que não são retirados para reciclagem.
Mineração urbana
O pesquisador reconhece que, na maioria dos casos, a retirada do material não é simples, pode interferir com a operação normal da infraestrutura elétrica, de água e de gás e de telecomunicações, e, em alguns casos, é até mesmo difícil apontar a responsabilidade pela "mineração urbana".
Mas ele aponta que, a exemplo da mineração tradicional, onde as minas são instaladas nas reservas de maior concentração de cada metal, é possível começar a reminerar áreas onde há mais metais, como antigas zonas industriais e prédios sem utilização.
Além disso, é desejável sincronizar qualquer manutenção nas redes com a retirada dos metais não utilizados.

Infelizmente, calcula Wallsten, com os atuais baixos preços dos metais, nenhuma dessas opções seria diretamente rentável. Para preservar os recursos minerais primários - aqueles que estão nas minas - ele recomenda que a legislação imponha a obrigatoriedade da recoleta dos metais pelas empresas responsáveis pelas respectivas redes.

Esperança que move o ofício

Esperança que move o ofício

Maioria tira apenas o suficiente para o sustento; mas há casos de lucro de até R$ 50 mil

Contingente. Cerca de 1.200 garimpeiros atuam ao longo de 1,5 km de leito do rio Jequitinhonha, com maior concentração na Areinha
Maioria tira apenas o suficiente para o sustento; mas há casos de lucro de até R$ 50 mil

Diamantina. A caminho de Areinha - a área às margens do rio Jequitinhonha onde se concentra a maior parte dos garimpeiros da região, distante cerca de 80 km de Diamantina - o presidente da Associação de Proteção à Família Garimpeira da cidade (Aprofagadi), Aélcio Freire Vial, faz um alerta de que a paisagem que se verá no local é impactante. É de se encher os olhos, mas só de terra, areia e águas turvas.

O cenário, que se completa com barracos improvisados, bombas de sucção e um considerável contingente de garimpeiros, tem aquele aspecto como resultado da atuação das mineradoras Rio Novo e Tejucana na 
região, como faz questão de frisar o representante das famílias que trabalham no local.
 "Não há degradação nova", diz, em alusão à herança deixada pelas grandes empresas.

É dos rejeitos deixados por elas que os garimpeiros tentam garantir seu sustento, trabalhando em um período de estiagem, de maio a outubro. "Nas épocas de cheia, eles se dedicam à cultura de subsistência", conta Aelcio. Ele destaca que a maioria não tem qualquer tipo de qualificação e que, sem o garimpo, poderia atuar só na capina ou como servente de pedreiro.

A esperança de se achar um diamante que traga fortuna é compartilhada, mas a sorte não sorri da mesma maneira para todos. Alguns, como Luiz Gonzaga Costa, 48, conseguiram construir patrimônio. Casado e pai de três filhos, ele tem sua própria bomba de sucção - que custa em torno de R$ 25 mil - e um grupo de sete homens sob sua gerência.

A maior parte dos garimpeiros, contudo, apenas garante o sustento da família e, eventualmente, em períodos de boa apuração da cata, investe em algum bem - normalmente carros ou caminhonetes. Aníbal Machado, 33, por exemplo, diz que tira, em média, R$ 1.000 por mês, mas ele conta que já aconteceu de lucrar R$ 50 mil, com os quais comprou, justamente, um carro novo. "Mas quem ganha mesmo é o dono da bomba", diz, revelando sua própria falta de planejamento. "O que eu ganhava, gastava tudo na cidade". Ele chega a ficar 20 dias no acampamento, sem ir em casa.

A realidade de Aníbal reflete a da maior parte dos garimpeiros. Ademar Ribeiro Júnior, 23, pai de três filhos, começa a trabalhar às 4h e diz que em mês de boa apuração chega a ganhar R$ 1.000. "Mas pode ser que não chegue a R$ 500 e também pode acontecer de a gente não tirar nada", lamenta. Nesses casos, o financiador, dono da bomba, garante o sustento da família do garimpeiro e a manutenção do equipamento.

Motivação. O que é comum a todos que estão na Areinha é a consciência de uma vida indissociável do garimpo. O próprio Aníbal diz que já deixou a atividade e retornou para ela umas 20 vezes, tendo, em um desses intervalos, trabalho com carteira assinada. 

De qualquer modo, para muitos, a simples perspectiva de poder atuar no ramo é motivo para uma mudança de vida. É o caso de Luciano Alves dos Santos, 72, que, na década de 60, trabalhou em uma grande empresa garimpeira. "Antes eu estava sem trabalhar, só na cachaça", diz. Hoje, ele comemora a volta da atividade. "Faço de tudo, sempre na expectativa de tirar diamante. Os donos de bombas me conhecem e me chamam porque, como trabalhei nas dragas antigas, sei onde rendeu mais".