sábado, 1 de dezembro de 2018

Grafita no Brasil: oportunidades para programas de exploração mineral

Grafita no Brasil: oportunidades para programas de exploração mineral



O mineral grafita (ou grafite), pode ser incluído numa lista apelidada de “substâncias portadoras de futuro” onde se inclui os metais lítio, cobalto, metais do grupo da platina, molibdênio, nióbio, silício (grau solar, pureza 99.99%), tálio, tântalo, titânio e vanádio.
Grafita é uma variedade alotrópica natural do carbono; a outra é o diamante. São substâncias de mesma composição química (carbono) mas organizadas em sistemas cristalinos distintos que se reflete, entre outras coisas, nas suas propriedades físicas. É mineral não metálico muito versátil cujas características são: condutividade elétrica e térmica elevadas (superiores), inércia química (alta resistência à corrosão), excelente lubrificante natural e ponto de fusão elevado (3.650oC), entre outras.
Há dois tipos de ocorrências comuns: grafita cristalina que ocorrem em terrenos geológicos de alto grau metamórfico e grafita micro cristalina encontrada em terrenos geológicos de baixo grau metamórfico.
Nesse contexto existem três formas naturais de grafita:
  • Amorfa (conteúdo de carbono entre 65 e 85%) – pureza mais baixa, preço baixo e tendência de baixa demanda no mercado);
  • flake (conteúdo de carbono > 85%) – alta demanda, produto mais procurado pelo mercado;
  • lump ou veio (conteúdo de Carbono > 95%) – mercado específico, baixa demanda e crescimento discreto.
Segundo dados do USGS 2017 o Brasil ocupou a terceira posição no ranking dos maiores produtores globais de grafita (95.000 TM –Toneladas Métricas) atrás da China (780.000 TM) e Índia (150.000 TM). Nessa mesma publicação, o preço de importação pago pelos americanos (dólar médio por tonelada métrica no porto de origem) foi de US$ 1400/TM (flake), US$1800/TM (lump) e US$ 392/TM (amorfa).
O interesse do mercado da indústria mineral por grafita vem crescendo ultimamente em boa parte pela expectativa de produção de baterias visando a armazenar energia eólica, solar e, especialmente, para atender produção de veículos elétricos e híbridos e aparelhos eletrônicos de uso pessoal (computadores, celulares etc.).
Um aspecto que pode impactar o mercado de grafita é o fato de que o governo chinês ter políticas restritivas para controle de exportações e que deve se tornar mais severa pela “guerra comercial” (medidas protecionistas) deflagrada recentemente pelo EUA contra China.
Segundo a publicação do USGS (acima citada), não há minas de grafita em produção nos Estados Unidos e, no período entre 2013 e 2016, visando a atender demandas de suas indústrias, importaram grafita da China (37%), México (31%), Canadá (17%), Brasil (8%) e outros países (9%).
Os mercados americanos e europeus classificam o mineral grafita como “material estratégico” tanto para a indústria como para propósitos de segurança nacional.
Esse cenário favorece (cria atratividade) para desenvolvimento de programas de exploração mineral com expectativas de gerar novos depósitos, para compensar eventuais restrições do mercado chinês às exportações para atender demandas em ascensão de baterias recarregáveis para veículos elétricos.
Esse contexto estimula uma análise preliminar para avaliar terrenos geológicos com vocação para hospedar mineralizações de grafita no território brasileiro. A base de dados disponibilizadas pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) permite rastrear registros de cadastramento de ocorrências minerais e dados de geologia básica, a partir da integração e processamento desses dados vetorizados em qualquer plataforma GIS.
O resultado desse processamento a partir de dados de todas as “Cartas Geológicas do Brasil ao Milionésimo” revela 266 registros de ocorrências de grafita no Brasil (classificadas, segundo critérios da CPRM em: 31 depósitos minerais, 230 ocorrências e 5 indícios de mineralização – ver círculos amarelos no mapa da figura publicada neste texto).
Para rastrear as minas de grafita em produção o melhor caminho é acessar os dados de controle de direitos minerários disponibilizados pelo DNPM (Agencia Nacional de Mineração) para todos os Estados e Distrito Federal. O resultado desse processamento (visita Sigmine em 10 setembro 2018) identifica 433 processos ativos no DNPM com substância declarada com grafita, dos quais 29 tramitam na fase de Concessão de Lavra.
O fato de uma mesma empresa ter processos contíguos na fase de concessão de lavra não permite afirmar que existem 29 minas de grafita em operação; então, o cruzamento dos dados vetoriais referentes aos polígonos que identificam as concessões de lavra com imagem Google (por exemplo) possibilita individualizar cavas/pits,usinas de processamento e barragem de rejeitos.
Todas essas concessões de lavra para grafita estão distribuídas para seis empresas das quais três delas desenvolvem operação de lavra em seis minas (ver figura) posicionadas na divisa dos estados de MG e BA (Pedra Azul/MG – Salto da Divisa/BA) e as outras 3 minas localizadas a sudoeste de Belo Horizonte (Itapecerica e Itaúna/MG).
O posicionamento das minas ativas e a distribuição das outras áreas que tramitam no DNPM em fases de Concessões de Lavra, Requerimentos de Lavra e Relatório Final de Pesquisa Positivos mostram relação com terrenos geológicos caracterizados por alto grau metamórfico (fácies Granulito e Anfibolito).
A partir dessa informação, é possível realizar filtros na base de dados vetorizados, via tabela de atributos dos shapefiles, para identificar unidades geológicas de alto grau metamórfico. O resultado desse processamento permite identificar belts granuliticos (e anfibolíticos) que, conforme mostrado acima, são alvos potenciais para prospectar mineralizações de grafita flake (ou lump) em todo território brasileiro.
Nota: A figura mostra apenas 2 símbolos de minas (triângulos vermelhos) na região de Itaúna pelo fato de as duas minas estão posicionadas muito próximas na região de Itapecerica e a escala do mapa não permite distanciar um dos símbolos.
Cabe ressaltar que o posicionamento de parte significativa das ocorrências minerais cadastradas pelo projeto da CPRM coincide com os belts de alto grau metamórfico (granulítico & anfibolítico) indicados pelo processamento (filtros) realizados.
Ocorrências de grafita posicionadas fora das faixas granulíticas, em boa parte, estão associadas a faixas de rochas caracterizadas por baixo grau metamórfico (fácies xisto verde).
Não temos dúvida de que, em razão da importância estratégica da grafita para a indústria em geral, há ambiente geológico atrativo para desenvolvimento de programas de exploração em extensas áreas com potencial prospectivo.
Justificados os orçamentos (com base em expectativas de mercado e interesse de empresas) o próximo passo é pegar o martelo, a botina e ir para campo. A chance de se alcançar resultados é real (dentro dos riscos inerentes a esse investimento).

Fonte: Minérios

Brasil tem 8% das reservas de lítio do mundo

Brasil tem 8% das reservas de lítio do mundo

Potencial do lítio brasileiro foi apresentado  para investidores, empresas e pesquisadores em Belo Horizonte.

Brasil tem 8% das reservas de lítio do mundol-tio.png

O projeto de Avaliação do Potencial do Lítio no Brasil, coordenado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), mostra que o país teve um salto nas reservas mundiais da substância, de 0,5%, para 8%. Segundo o Serviço Geológico do Estados Unidos, no mundo há mais de 14 milhões de toneladas de lítio, e as maiores reservas de substância no mundo estão em países como Chile, Argentina e Austrália. A Bolívia não consta na estimativa dos norte-americanos.  
A área piloto do projeto de mapeamento de lítio no Brasil foi a do Médio Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Com um total de 17.750 quilômetros quadrados, foram encontradas na região 45 ocorrências da substância, sendo 20 inéditas. Na região estão empresas como a Companhia Brasileira de Lítio (BLC), Sigma Mineração e Falcon Metais.
A apresentação dos resultados ontem (30), em Belo Horizonte (MG), reuniu representantes do setor mineral, universidades, centros de pesquisas e fundos de investimento interessados em conhecer o potencial das reservas de lítio brasileiras.
"O lítio hoje é um mineral estratégico no mundo. E o resultado desse trabalho mostra um salto em nossos reservas, saímos de 0.5% para 8% das reservas do mundo. Temos um elemento estratégico e tecnologia disponível no mercado para beneficiamento. Isso representa uma vantagem competitiva", disse Eduardo Ledsham, diretor-presidente da CPRM, na abertura do evento.
Para Ledsham, a pesquisa é uma alavanca para o crescimento econômico do Estado, pois pode atrair novos investimentos e está aliado ao programa de governo que busca revitalizar a mineração no país, atrair novos investimentos e antecipar demandas futuras de mercado.
Paulo Brant, superintendente de Relações Institucionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas (Fiemg), afirmou que o estudo chega em um momento oportuno, e é exemplo de como o governo pode contribuir para atuação da iniciativa privada. "Tem áreas onde o governo é indispensável. Esse trabalho de pesquisa é um exemplo disso, pois dá subsídios para que as empresas possam se decidir como e onde investir", disse. Brant, destacou que a iniciativa pode contribuir para inserir a mineração em um novo modelo de desenvolvimento sustentável que a sociedade exige.
Calvyn Gardner, representante de um fundo de investimentos da Inglaterra que busca novas oportunidades de negócios no Brasil, disse que o estudo chega em um momento em que empresas internacionais que desejam atuar no país estão buscando informações para tomada de decisão. Seu grupo investirá US$ 40 milhões para colocar uma planta industrial em operação para produzir 60 mil toneladas por ano. "Passamos vários anos testando várias áreas. Se esse estudo estivesse pronto quando chegamos, certamente, não teríamos demorado tanto a descobrir uma com potencial", afirmou.
Vinicius Paes, geólogo da CPRM que participou da pesquisa, disse que o projeto não apenas identificou novas áreas potenciais para lítio no país, como também ampliou o conhecimento de áreas mineralizadas já conhecidas. Ele contou que o projeto envolveu estudo e amostragem de pegmatitos, a rocha que contém o mineral, processamento e interpretação de dados de aerolevantamentos geofísicos, interação com empresas de mineração e moradores da região e, por fim, a compilação de informação sobre química mineral de pegmatitos da região, geoquímica de suas rochas encaixantes e geoquímica prospectiva de sedimentos de corrente e concentrados.

Fonte: CPRM/DNPM

Estudantes visitam empreendimentos do ramo de gemas e rochas ornamentais


Para conhecer a cadeia produtiva do setor de mineração, lapidação e joalheria, estudantes do 9º período de Engenharia de Produção do IFMG - CampusGovernador Valadares visitaram empreendimentos na cidade e região nos meses de junho e maio. A atividade foi organizada pelo professor Yuri Ribeiro, responsável pela disciplina optativa de Geologia Aplicada.

ÁGUA MARINHA
RUBELITAS 
Os acadêmicos conheceram a pedreira Alto da Pederneira, na zona rural do município de Galileia. Na empresa são extraídos granitos exóticos para acabamentos diversos da construção civil, como pisos, bancadas, pias e soleiras. “Esse tipo de rocha se difere dos granitos comerciais por apresentar cristais com desenhos variados e tamanhos diferenciados e extensos. Trata-se do produto mais valorizado no mercado de rochas ornamentais. Atende, principalmente, ao mercado internacional, sendo vendido, nas principais feiras do mundo, como por exemplo, Dubai, a maior cidade dos Emirados Árabes”, explica Yuri.
Riqueza regional
Em relação às gemas, popularmente conhecido como pedras preciosas, tiveram a oportunidade de conhecer de perto os processos de extração, beneficiamento, transporte, transformação, comercialização e distribuição do produto final. Foram duas visitas técnicas na cidade de São José da Safira/MG, uma na Mina do Cruzeiro e a outra na mina Fazenda Chiá, respectivamente, pertencentes às empresas Nevestones e Mineração Chiá.
A Fazenda Chiá produz gemas do tipo água marinha e diversas qualidades de turmalina. Já a Mina do Cruzeiro é uma das mais importantes produtoras de gemas do tipo rubelita (turmalina vermelha), uma das mais valorizadas pedras do mercado depois do diamante e da esmeralda. A mina também produz gemas do tipo bicolor (turmalina verde e vermelha) e verdelita (turmalina verde).
As duas minas fazem parte do chamado “Circuito das Pedras”, iniciativa da prefeitura de São José da Safira. Abrange as regiões leste e nordeste de Minas Gerais, sendo responsável por cerca de 1/3 de todas as pedras preciosas (gemas coradas) produzidas no mundo.
Outra parada dos acadêmicos foi no Centro de Governador Valadares onde visitaram, no dia 19 de maio, pedristas autônomos e a joalheria La’Belle Joias. A cidade é considerada um importante polo de comercialização de distribuição da produção de gemas para o mercado nacional e internacional.

Fonte: EM

GARIMPO DE ESMERALDAS DA CARNAÍBA- BAHIA

Montanhas de beleza rara, vales que parecem não ter fim, rios que se espremem nos corredores de pedras. O conjunto de monumentos impressionantes foi criado pela natureza há 400 milhões de anos, quando a Terra ainda era criança. No coração da Bahia, as águas do inverno saltam dos pontos mais altos do Nordeste. Um espetáculo exuberante. A Queda d'Água da Fumaça, de quase 400 metros, parece que começa nas nuvens. Na Chapada Diamantina, a trilha das águas mostra o caminho das pedras. Pedras preciosas, que contam a história de muitos aventureiros. Carnaíba, norte da chapada. O vilarejo com cara de cidade atrai milhares de garimpeiros. As serras da região concentram a maior reserva de esmeralda do Brasil.
O empresário Alcides Araújo vive perseguindo a sorte há mais de 20 anos. Ele é um dos grandes investidores na extração da valiosa pedra verde. Alcides diz que ainda não encontrou a sorte grande. Do garimpo dele só saíram pedras de segunda. Mesmo assim não dá para reclamar.
"Já ganhei um dinheiro razoável no garimpo, produzi quase quatro mil quilos. Se tivesse essas pedras hoje, valeria R$ 300, R$ 200 o grama. Já ganhei mais de R$ 3 milhões", revela o empresário. 
Boa parte desse dinheiro está enterrada na jazida que Alcides explora. O Globo Repórter foi ver como os garimpeiros vão atrás da esmeralda. Uma aventura que requer, além de sorte, muita coragem.

Na maior mina da região, a equipe foi a 280 metros de profundidade. Para chegar lá embaixo, o equipamento é um cinto de borracha conhecido como cavalo. Confira esse desafio em vídeo. Os garimpeiros são mesmo corajosos. No abismo dos garimpos, a vida anda por um fio. O operador da máquina que faz descer e subir o cabo-de-aço não pode vacilar. A água que cai do teto vem do lençol freático que o túnel corta. Parece uma viagem ao centro da Terra. Mas será que vale mesmo a pena correr tanto risco?
Foram quase seis minutos só de descida. Seis minutos de arrepios. A 280 metros a equipe chegou a um corredor estreito. No rastro da esmeralda, os garimpeiros abrem quilômetros de galerias. Calor, pouco ar, oito, dez horas por dia no estranho mundo subterrâneo. Esses homens vivem como tatus-humanos.
Alegria mesmo é quando o verde começa a surgir na rocha. Sinal de que pode estar por perto o que eles tanto procuram. É preciso detonar a rocha para ver se é mesmo esmeralda. O desejo de enriquecer é mais forte que o medo do perigo. Sem nenhuma segurança, eles enchem com dinamite os buracos abertos pela perfuratriz.
“Costumamos fazer até quatro detonações por dia. A cada detonação, são disparados de dez a quinze tiros", conta o fiscal de garimpo Klebson de Araújo.
Muita pedra desceu do teto da galeria. O trabalho agora era levar tudo lá para cima e examinar direito as pedras. E o dono do garimpo? Será que ele confia nos seus garimpeiros?
"Eles encontram e a gente fiscaliza. Se facilitar uma coisinha, eles botam dentro do bolso”, diz o garimpeiro Manoel. 
“Tem várias formas de levar. Uns dizem que estão com sede, pedem uma melancia para chupar. Partem um pedacinho, colocam as pedrinhas lá dentro e levam a melancia”, denuncia Alcides.
Escondida ou não, esmeralda na mão é dinheiro no bolso. Nos fins de semana, a praça principal da cidade de Campo Formoso vira um mercado movimentado de pedras preciosas. No local, o que menos importa é a procedência. A esperteza sempre prevalece. Esmeralda de qualidade nunca é vendida na praça. Negócio com pedras valiosas é fechado dentro de casa, por medo de assalto. Os minérios da Chapada Diamantina fizeram fortunas e produziram histórias. Histórias como a de Herodílio Moreira que já viveu dias de glória.
“Já ganhei muito dinheiro com esmeralda. De comprar mercadoria e ganhar cinco carros de uma vez, de lucro. Hoje esses carros acabaram. Estou querendo dinheiro para comprar uma bicicleta velha”, conta o garimpeiro.
No mundo desses aventureiros, pobreza e riqueza dividem o mesmo espaço. O garimpeiro José Gomes, de 70 anos, também já viveu as duas situações, mas nunca perdeu a esperança. 
“Quando vejo na joalheria uma esmeralda em forma de jóia, analiso o que perdi. Vejo as pedras nas lojas valendo milhões de dólares e eu sem nada", diz ele.
A reserva de esmeralda da Carnaíba é considerada pelo DNPM como a maior do mundo e apenas 10% dela foi explorada.

Fonte: Globo

Novas ocorrências de euclásio em Minas Gerais

Novas ocorrências de euclásio em Minas Gerais

RESUMO
Desde o século XVIII o Brasil tem sido o principal produtor mundial de euclásio, proveniente das jazidas situadas nos arredores de Ouro Preto, Minas Gerais. Recentemente, três novos depósitos deste mineral foram descobertos no mesmo Estado: (1) Em 1979-80, garimpeiros explotaram cerca de 10 kg de material gemológico e de coleção. A situação geográfica deste depósito permaneceu desconhecida na literatura geológica; ele está localizado próximo do vilarejo de Olhos d'Água, município de Bocaiúva, noroeste de Minas Gerais. (2) Pouco tempo após, uma outra ocorrência foi descoberta na mesma região, a cerca de 25 km NNW da cidade de Itacambira, de onde foram extraídos 3 kg de euclásio, a maior parte para coleção. (3) As ocorrências de Gouveia foram detectadas pelos autores, durante prospecção aluvionar sistemática visando o conhecimento de minerais "satélites" do diamante na região, mas os espécimens encontrados têm somente importância mineralógica. Em todas as situações descritas, o mineral ocorre disseminado e/ou concentrado em bolsões relacionados a uma estreita zona feldspática de veios de quartzo pegmatóides, cortando quartzitos do Supergrupo Espinhaço (Bocaiúva e Itacambira), ou xistos e rochas graníticas do Complexo Pré-Espinhaço (Gouveia).
Palavras-chave: euclásio, mineralogia, gemologia, aluviões diamantíferos.

ABSTRACT
Since the 18th century euclase in Brazil has been mined mainly in the reknowed mineralogical district of Ouro Preto, Minas Gerais. Three new deposits were more recently discovered in the same state: (1) In 1979-80garimpeiros exploited about 10 kg of yellow gem-quality material and specimens for collectors, but the location of the source remained unknown in the geologic literature. It is situated near the small village of Olhos D'Água, in Bocaiúva district, northwestern Minas Gerais; (2) Soon after the first exploitation, another euclase occurrence was discovered in the same region, some 25 km NNW of Itacambira. About 3 kg de grey-blue euclase, mostly collection specimens, have been produced. (3) Occurrences in the Gouveia district were detected by the authors during alluvial diamond prospecting. In this area the specimens have only mineralogical importance. In all localities, the mineral occurs disseminated and/or concentrated in pockets in the small feldspathic zone of pegmatoid quartz veins truncating quartzites of the Espinhaço Supergroup (Bocaiúva and Itacambira deposits) or schist and granitic rocks of the pre-Espinhaço Complex (Gouveia occurrences).



INTRODUÇÃO
O euclásio [BeAl(SiO4)0H] é um mineral bastante raro na natureza, apresentando com freqüência propriedades gemológicas. Desde o século XVIII, o Brasil destaca-se como o principal produtor mundial de euclásio. Em Minas Gerais, as jazidas clássicas deste mineral estão associadas às jazidas de topázio imperial na região de Ouro Preto. Euclásio de origem pegmatítica ocorre principalmente próximo de São Sebastião do Maranhão, na Fazenda Santana do Encoberto.
Recentemente os autores, pesquisando a natureza dos minerais pesados que acompanham o diamante na região centro-norte de Minas Gerais, descobriram três novas ocorrências de euclásio, localizadas em áreas dos municípios de Bocaiúva, Itacambira e Gouveia. Vários espécimens encontrados nas duas primeiras ocorrências apresentaram características gemológicas.
O presente estudo objetiva a descrição geológica e mineralógica destes três depósitos, assim como discutir sobre a presença desse mineral em áreas de contexto estratigráfico bastante diferentes, demonstrando assim o ainda limitado conhecimento acerca da metalogenia regional.

EUCLÁSIO NO BRASIL
Os depósitos de topázio imperial, incluindo provavelmente os de euclásio, foram descobertos na região de Ouro Preto por volta de 1760. O célebre mineralogista Haüy descreveu primeiramente o euclásio em 1792 a partir de amostras da região, mas apenas Echwege (1822) localizou a proveniência do mineral ao identificá-lo em meio a um lote de topázios oriundos daquela área. Na atualidade são conhecidas oito áreas produtoras de euclásio no Brasil, algumas delas com várias ocorrências distintas. A maioria dos depósitos está situada no Estado de Minas Gerais (Fig. 1)
As ocorrências clássicas e melhor conhecidas do Brasil e do mundo são aquelas localizadas em uma faixa linear de aproximadamente 10 km a oeste da cidade de Ouro Preto (MG). Nesta região o euclásio é recuperado como subproduto da garimpagem de topázio imperial em pelo menos sete lavras: Boa Vista, Trino, Ranchador, Capão do Lana, Fundão, Morro do Gabriel e Cachambu. O mineral ocorre em cristais isolados, transparentes a levemente azulados ou esverdeados, quase sempre de comprimento inferior a 1 cm. Saldanha (1939) descreveu um espécime pesando 128 g (10 cm de comprimento) achado em 1922, provavelmente o maior cristal já conhecido. Descrições geológicas e mineralógicas sobre o euclásio de Ouro Preto foram apresentadas por Cassedanne (1970, 1991), mas sua gênese, assim como a do topázio, é objeto de amplas discussões.
Euclásio de origem pegmatítica ocorre em três principais localidades. Na região de São Sebastião do Maranhão (Fazenda Santana do Encoberto), também em Minas Gerais, o mineral se encontra em pequenos bolsões ricos em mica, perto do contato com o núcleo quartzoso do pegmatito (Cassedanne & Cassedanne, 1974). Os cristais, com freqüência biterminados, são incolores ou amarelados, transparentes a translúcidos, alcançando vários centímetros de comprimento. Este depósito já forneceu excelentes espécimes de qualidade-gema, descritos mineralogicamente por Bank (1974) e Graziani & Guidi (1980). Proveniente de Cachoeiro de Santa Leopoldina, Estado do Espírito Santo, Saldanha (1941) relatou um cristal de euclásio, hialino e perfeitamente formado, mas sua jazida nunca foi descrita.
Pertencendo à Província Pegmatítica Nordestina do Brasil, são conhecidas ocorrências de euclásio associadas a quatro corpos pegmatíticos da região de Equador, Estado do Rio Grande do Norte. A presença de euclásio nesta área foi primeiramente referida por Silva & Santos (1961), no denominado Alto dos Mamões. Outros corpos pegmatíticos mineralizados são os "altos" do Giz, Santino e Jacu, onde ele ocorre com berilo junto ao núcleo de quartzo (Cassedanne, 1970). É característico dos cristais de euclásio de Equador uma listra azul escura central, paralela ao eixo c, permitindo belas amostras para coleção.
Hussak (1917) descreve ainda a presença de euclásio nos cascalhos diamantíferos de Santa Izabel do Paraguassu, atual Mucugê (Estado da Bahia). Os espécimes, de interesse apenas mineralógico, eram cristais incolores e fragmentos de comprimento não superior a 3 mm.

DESCRIÇÃO DOS DEPÓSITOS
Bank (1980), em pequena nota, descreveu um euclásio gema "declarado" ser da região de Diamantina, e Cassedanne (1991) citou que "pequenos cristais de euclásio bege a cinza foram recentemente extraídos na região de Buenópolis". Durante pesquisas incluindo o estudo de minerais pesados de cascalhos diamantíferos a leste de Bocaiúva, os autores foram informados de uma jazida desativada de euclásio na região, localizando assim o depósito que pelas amostras obtidas parece ser o mesmo relatado por H.Bank e J.Cassedanne. A partir de informações locais, chegou-se ao depósito de euclásio de Itacambira, explorado pelos mesmos garimpeiros descobridores da jazida anteriormente mencionada. Já as ocorrências de euclásio situadas próximo de Barão de Guaicuí, Gouveia, foram achadas diretamente pelos autores, durante prospecção aluvionar sistemática voltada para os minerais "satélites" do diamante; os depósitos primários estão sendo ainda pesquisados.
Contexto geológico regional
As três ocorrências de euclásio ora descritas estão relacionadas geologicamente à Serra do Espinhaço, onde este mineral nunca havia sido antes reportado. A serra é sustentada por quartzitos e filitos do Supergrupo Espinhaço, do Mesoproterozóico, localmente aflorando xistos e rochas granitóides de idade mais antiga (Complexo Pré-Espinhaço). A Faixa Móvel Espinhaço é uma entidade geotectônica evoluída durante o Meso e Neoproterozóico, com o clímax dos dobramentos, incluindo a intrusão de inúmeros veios de quartzo, tendo ocorrido no Ciclo Brasiliano (Dossin et al., 1990).
Jazida do Buriti das Porteiras
Situada a cerca de 12 km a SW do povoado de Olhos d'Água, Município de Bocaiúva (Fig. 2), a jazida do Buriti das Porteiras foi descoberta casualmente em 1979, durante a exploração de um veio de quartzo hialino, do tipo "coleção". Foi explorada em dois períodos (1979-80 e 1983) pelo garimpeiro Marcolino Pereira da Silva (vulgo "Pingo"), de Bocaiúva.
Ocorrem na área quartzitos avermelhados, fortemente recristalizados e silicificados, atribuídos à Formação Galho do Miguel, do Supergrupo Espinhaço (Schmidt, 1970). O euclásio está associado à zona de borda, caolinizada, de um veio de quartzo com hematita, de cerca de 10 m de comprimento por 2 m de largura, cortando os quartzitos. O mineral ocorre disseminado e/ou concentrado em pequenos bolsões. O material secundário, elúvio-coluvionar, foi também objeto de exploração.
O euclásio aparece em cristais euédricos a subédricos, de coloração amarelada clara a média, raramente terminados. Espécimens de qualidade gema são comuns, tendo Bank (1980) destacado que o depósito forneceu uma pedra com 50 ct, depois de lapidada O maior cristal observado media b cm de comprimento ao longo do eixo c (55,6 g). A clivagem (010) perfeita é característica de todas as amostras estudadas. O peso específico, medido em 8 amostras, é de 3,095±0,010 g/cm3, e os índices de refração menor e maior são 1,651 e 1,671±0.001 com uma birrefringência de 0,020±0,001.
Ainda não está bem caracterizada a gênese da jazida do Buriti das Porteiras. A presença de feldspatos caolinizados junto ao veio de quartzo sugere atividade pegmatítica, muito embora esta seja bastante incomum ao longo da Serra do Espinhaço. Nenhum outro mineral pegmatítico foi observado. O potencial do depósito é também pouco conhecido, já que as escavações não ultrapassaram 1,5 m de profundidade. Informações obtidas do garimpeiro "Pingo" indicaram uma produção total de 12 kg (9 kg em 1979-80 e 3 kg em 1983, estes em parte recuperados a partir dos rejeitos anteriores).
Jazida de Itacambira
Este depósito está situado a cerca de 25 km norte-noroeste da pequena cidade de Itacambira, próximo às cabeceiras do Rio Congonhas. Em 1980, o mesmo decobridor da jazida do Buriti das Porteiras chegou a este local partindo da informação de um companheiro de garimpo, dizendo ter conhecido material "semelhante" ao lhe mostrado, enquanto procurava quartzo naquela porção da Serra do Espinhaço.
Geologicamente a região é conhecida como Espinhaço Central, tendo sido mapeada por Karfunkel & Karfimkel (1976). Predominam na área quartzitos brancos, finos e bem selecionados, atribuídos à Formação Resplandecente. O euclásio ocorre em uma cascalheira coluvionar de espessura inferior a 1 m, junto com quartzo e hematita.
Dados mineralógicos de amostras aparentemente "limpas" são os seguintes: peso específico (5 amostras) de 3,065±0,02 g/cm3 e índices de refração 1,650 e 1,670±0,001 com uma birrefringência de 0,020±0,001. A coloração é sempre cinza-azulada, ao que parece como resultado de micro-inclusões de turmalina preta (D.Hoover, 1993, comunic. verbal). E comum a presença de "bandas" preenchidas com quartzo segundo o plano (100); nestes casos o peso específico decai para 2,937±0,05 g/cm3.
Os cristais são sempre prismas euédricos tabulares, com 0,5-1,0 cm e sem terminação, possivelmente devido a um pequeno rolamento sofrido com ruptura na clivagem proeminente (010).
Estudos adicionais tornaram-se impossíveis, pois ao final da década de 80 a área de ocorrência foi recoberta com o plantio de eucaliptos para reflorestamento.
Ocorrência de Barão de Guaicuí
Durante prospecção aluvionar sistemática, desenvolvida na região de Diamantina com a finalidade de pesquisar minerais "satélites" do diamante (como parte da Tese de Doutoramento de um dos autores - M.L.S.C.C.), cristais de euclásio foram descobertos em dois locais: no Córrego do Capão e no Rio Pardo Pequeno. Eles estão situados a norte da cidade de Gouveia, nas proximidades do lugarejo de Barão de Guaicuí. Posteriormente à descoberta, entrevistas com garimpeiros locais permitiram constatar que o mineral é freqüente nestes aluviões diamantíferos, mas são confundidos com quartzo, apesar da densidade muito diferente. Alguns compradores de pedras admitiram mesmo terem comprado euclásio rolado como diamante, provavelmente devido ao forte brilho daquele mineral.
Nesta região afloram rochas pertencentes ao Complexo Pré-Espinhaço (sericita xistos e granitóides), além de metassedimentos da base do Supergrupo Espinhaço (formações São João da Chapada e Sopa Brumadinho). O Córrego do Capão, diamantífero, nasce na própria área, sendo por isso escolhido para a pesquisa de minerais pesados. A partir da detecção de euclásio no local, pesquisa suplementar efetuada na drenagem maior, Rio Pardo Pequeno, que já corre em terrenos da Formação Galho do Miguel (estratigraficamente superior), mostrou que a mineralização é persistente e que o maior aluvionamento permitiu também uma maior concentração do mineral (Fig. 3).

No aluvião estreito do Córrego do Capão, não ultrapassando 10 m de largura, o euclásio aparece em prismas relativamente bem preservados do desgaste mecânico, ainda exibindo com nitidez o estriamento paralelo ao eixo c. O maior exemplar observado mediu 0,8 cm, sendo hialino como todos os cristais observados no local. Outros minerais presentes no depósito são mostrados na Tabela 1.

No Rio Pardo Pequeno, os flats com larguras de 50 a 100 m permitiram a maior concentração de pesados. Os grãos de euclásio são mediana a totalmente rolados, mostrando sempre um achatamento característico segundo o plano principal de clivagem (010). O maior cristal observado mediu 1,2 cm de comprimento. Em geral eles são incolores, transparentes e macroscopicamente "limpos"; em apenas um grão muito rolado observou-se uma tonalidade rosada.
O peso específico, obtido de 5 amostras do Córrego do Capão, mostrou valores em torno de 3,09±0,02 g/cm3. Dados ópticos determinados com refratômetro mostraram valores limites de 1,650 e 1,671, com uma dupla refração de 0,021. Os índices de refração superiores àqueles do quartzo, associado ao brilho perláceo nas proximidades dos planos de clivagem (open cleavage), é a razão do mineral já ter sido confundido com diamante. Amostras roladas de euclásio do Rio Pardo Pequeno foram também confirmadas por difratometria de raios X.
Os euclásios das duas localidades descritas demonstraram uma associação de características que permitem considerá-los de mesma origem. No Córrego do Capão, as amostras muito pouco roladas evidenciam sua fonte próxima, o contrário acontecendo no Rio Pardo Pequeno. Pesquisas procurando a possível rocha fonte na área do Córrego do Capão, indicaram a existência de veios pegmatóides de porte inferior a 1 m, cortando principalmente micaxistos do Complexo Pré-Espinhaço. Amostragem efetuada na massa caolinizada dos veios revelou apenas a presença de quartzo, mica e turmalina preta. Porém, o pequeno volume amostrado, associado à raridade do euclásio e às semelhanças com os depósitos de Bocaiúva (aqui descrito) e o de Santana do Encoberto (Cassedanne & Cassedanne, 1974), permitem associar a gênese dos depósitos aos veios pegmatóides encaixados no Complexo Pré-Espinhaço.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presença de euclásio de origem pegmatítica em áreas com pouca ou nenhuma referência da presença desse tipo de atividade magmática, demonstra o ainda limitado conhecimento acerca da metalogenia regional. As pesquisas até então desenvolvidas permitem que sejam reconhecidos três tipos de depósitos primários de euclásio no Brasil:
(1) Na designada "litomarga" do distrito de Ouro Preto, uma argila marrom escura, de origem controvertida, associado ao topázio imperial,
(2) Em pegmatitos heterogêneos, bem zonados e relacionados a uma fase de magmatismo bem conhecida, datada no final do Brasiliano (550-450 Ma), como nos casos de Santana do Encoberto (MG), Cachoeiro de Santa Leopoldina (ES) e nos depósitos do Rio Grande do Norte, e
(3) Em veios pegmatóides, relacionados a processos magmáticos ainda pouco estudados na região da Serra do Espinhaço, dos quais são exemplos os depósitos de Bocaiúva, Itacambira e Gouveia, Minas Gerais, além de, provavelmente, as pouco conhecidas ocorrências da Chapada Diamantina, no centro-norte baiano.

Fonte: DNPM