sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Cinco empresas dominam 85% do faturamento do mercado mundial de diamantes

Cinco empresas dominam 85% do faturamento do mercado mundial de diamantes

Eles são mesmo para poucos



ALROSA, De Beers, Rio Tinto, Dominion e Petra. É raro ver uma indústria na qual apenas cinco nomes dominam 85% do faturamento do mercado mundial. Mas os diamantes parecem ser mesmo um segmento exclusivo. A participação das cinco gigantes que fazem extração dessa pedra preciosa só tem aumentado. Veja nos gráficos, feitos a partir de um estudo da Bain & Company.
EUA, China E Índia são os maiores compradores globais de joias feitas com diamante. Os EUA, sozinhos, representam quase 40% da demanda mundial
Quem extrai a pedra?  (Foto: Reprodução)
Quem são?
ALROSA
Grupo russo que é o maior produtor mundial de diamantes. Nasceu na antiga URSS e ainda
tem o Estado como principal acionista
De Beers
Gigante da Anglo American (85%) e do governo de Botsuana (15%). Envolvida em toda a cadeia produtiva, tem 20 mil funcionários
Rio Tinto
Conglomerado anglo-australiano cujos principais negócios, na verdade, estão nas áreas de alumínio, cobre, ferro e energia
Dominion Diamonds
Empresa sediada em Toronto, no Canadá, que tem a exploração quase totalmente focada no nordeste canadense
Petra Diamonds
É dona da mina de Cullinan, na África do Sul, uma das mais famosas do mundo. Em 2014, uma única pedra de lá foi vendida por US$ 27 milhões
Conclusões
• A produção e o faturamento das cinco grandes crescem acima do mercado nos últimos anos, enquanto a dos produtores menores diminui
• A concentração, que já é grande, aumenta
• No longo prazo, a cadeia produtiva deve se preocupar com formas de assegurar o fornecimento e o preço das pedras
Onde a extração ocorre? (Foto: Reprodução)

Novo fundo chinês para a compra de minas de ouro pode desequilibrar o mercado

Novo fundo chinês para a compra de minas de ouro pode desequilibrar o mercado



 
Depois de “amarrar” o mercado de minério de ferro os chineses, agora, preparam uma nova ofensiva cujo alvo final é o ouro.

Terminou aquela época em que os chineses mantinham os seus trilhões de dólares nas contas poupanças.

Agora eles estão usando o seu poder econômico como verdadeiros capitalistas. É hora de ir às compras.

De olho no ouro a China criou um novo fundo de US$16 bilhões que serão aplicados na compra de minas, projetos e empresas de ouro.

Eles não estão querendo qualquer ativo. O Brasil tem várias minerações  a venda por uma pechincha em relação ao mercado mundial, hora de garimpar alvarás de ouro pelo Brasil afora, devidamente registrado no DNPM, a maioria no Pará, Altamira/Tapajos!

O principal objetivo são aqueles projetos de ouro próximos ao traçado da “Estrada da Seda”, que agrega estradas e rotas importantes para o desenvolvimento da Ásia, ligando a China, a Índia a África e o Mediterrâneo.

Na fase inicial o fundo estará focando nas áreas do Cazaquistão, Uzbequistão Irã e Turquia.

O ouro produzido será negociado na Bolsa de Xangai. Os chineses são os maiores importadores de ouro do mundo e deverão praticamente controlar o metal caso o fundo seja bem sucedido...

O que já aprendemos sobre o Cometa 67P

O que já aprendemos sobre o Cometa 67P



 
A missão da Nave Rosetta e do módulo Philae é uma das mais extraordinárias da história da conquista espacial. Exceto pela pouquíssima comunicação entre a Rosetta e o módulo de aterrisagem Philae, tudo correu melhor do que o esperado.

es Desde que a Philae ficou incomunicável a nave mãe Rosetta, em órbita, comandou todas as operações e testes.

Muitos dados interessantes foram coletados e muito se aprendeu sobre o Cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko, apelidado de Chury pelos americanos da Nasa.

Quais foram as principais descobertas até o momento?

-Composição: os testes detectaram vários precursores de aminoácidos incluindo quatro compostos não detectados antes em cometas. Os precursores de aminoácidos podem formar acúcares, aminoácidos e componentes básicos da vida.

-A água encontrada no 67P é diferente da água terrestre. Ela tem uma relação deutério-hidrogênio maior do que a nossa água. Portanto esse tipo de cometa não é o responsável pela adição da água no planeta Terra.

-O cometa não tem campo magnético. Para surpresa de alguns geólogos não foi detectado um campo magnético no 67P pelos magnetômetros de bordo da Philae.

-O 67P é raro e tem duas caudas. A fonte das caudas é a sublimação do gelo (de sólido para gás) o que deixa um jato de gás e poeira chamado de cauda.

-O 67P tem uma “música” que foi detectada pelos sensores da Rosetta. O som ainda não tem uma explicação final, mas acredita-se que seja derivado da ação do vento solar sobre as rochas.

-Agora que o cometa está no ponto mais próximo do Sol (periélio) ele perde 300 quilos de água por segundo e mais de uma tonelada de poeira por segundo, daí as caudas e os efeitos vistos na fotografia.

Os números são extraordinários. O 67P está literalmente derretendo à medida que se aproxima do Sol em uma intensidade não antecipada pelos cientistas. Este fenômeno ainda vai se intensificar podendo quebrar o cometa em pedaços menores que, um dia, causarão chuvas de meteoros.

No momento a nuvem de poeira e fragmentos, próximo ao cometa é tão grande que a nave Rosetta teve que se afastar para uma órbita mais distante de 325km.

Diamantes transformaram um pobre arraial mineiro num dos lugares mais ricos da colônia

Capital da cobiça

Diamantes transformaram um pobre arraial mineiro num dos lugares mais ricos da colônia

  • O brilho dos diamantes já alimentava o sonho dos europeus mesmo antes do descobrimento. Terras recheadas de pedras preciosas era o que se pretendia achar e explorar. Quando surge, enfim, o tesouro desejado, a fantasia se eleva ao quadrado: a história dos fatos passa a se misturar com lendas, mal-entendidos e trapaças, sob o feitiço inebriante da cobiça.
    Relatos sobre a existência de diamantes no Brasil são antigos. Em seus "Diálogos das grandezas do Brasil" (1618), o médico Ambrósio Fernandes Brandão, um dos primeiros desbravadores da Paraíba, não titubeou em incluir a pedra entre as riquezas da colônia. Quarenta anos depois, o padre jesuíta Simão de Vasconcelos relatou que, quando passava perto da Serra de Paranapiacaba, em São Paulo, ouviu um estrondo, sendo logo informado de que um rochedo se partira e de dentro dele fora lançada uma “pedra de cristal, a modo de pinha, cheia por dentro de uns como pinhões, formados da natureza a modo de formosos diamantes, uns brancos de todo, outros meio roxos, outros roxos de todo”.
    Mas somente no século XVIII viria a confirmação: dentro das rochas e no leito dos rios da Comarca do Serro do Frio, em Minas Gerais, escondiam-se imensas riquezas na forma de pedras brilhantes. O comunicado chegou a Portugal em 1729, expedido pelo governador da capitania, D. Lourenço de Almeida. Mas despertou suspeitas no ato. É que havia anos circulavam boatos de que o garimpo de diamantes já corria solto na região de forma ilegal. E o próprio governador poderia estar entre seus beneficiários.
    Para conhecer o achado e investigar o que vinha ocorrendo no pequeno Arraial do Tejuco, onde a reserva havia sido encontrada, a Coroa enviou ao local, em 1730, um governador interino, chamado Martinho de Mendonça e de Proença.
    Sua apuração revelou que os diamantes haviam sido encontrados pela primeira vez em 1721, nas lavras do Rio Morrinhos, de propriedade de Bernardo da Fonseca Lobo. Este teria avisado imediatamente o governador D. Lourenço de Almeida. Outro que soube da bombástica notícia foi o ouvidor do Serro do Frio, Antônio Rodrigues Banha. Mas eles trataram de não fazer alarde. Em vez de comunicar o fato oficialmente ao rei, como era sua obrigação, constituíram uma sociedade para extrair ilegalmente as pedras.
    Para o êxito da empreitada, porém, era necessário guardar o segredo a sete chaves, missão difícil em se tratando de assunto tão entusiasmante. A notícia vazou e circulou tão depressa que em pouco tempo grandes levas de migrantes passaram a se dirigir para a região em busca de riqueza. Em 1729, a notoriedade da descoberta chegou ao reino, o que obrigou D. Lourenço de Almeida a fazer sua comunicação oficial. No documento enviado à Coroa, justificou a demora em dar a notícia alegando que havia incerteza quanto à qualidade e à autenticidade das pedras encontradas. Argumento difícil de engolir, uma vez que, no tempo em que a exploração dos diamantes correu sem fiscalização da Coroa, o governador conseguiu fazer um excelente pé-de-meia. Irmão do Patriarca de Lisboa (título dado ao arcebispo da cidade) e cunhado do secretário de Estado, ele retornou mais tarde à Corte com cerca de 18 milhões de cruzados, uma fortuna incalculável na época.
    Por sua vez, o proprietário Bernardo Fonseca Lobo apressou-se a viajar para Portugal levando um lote de diamantes. Com isso, recebeu o título oficial de descobridor da pedra e várias mercês do rei.
    Com o anúncio oficial da descoberta, a Coroa tratou de pôr ordem na casa: organizou a exploração dos diamantes e, claro, a cobrança dos respectivos impostos. Entre 1729 e 1734, a exploração foi aberta a todos que tivessem escravos e capital para investir na mineração, mas cobrava-se uma taxa sobre cada escravo empregado nos trabalhos de extração. Por várias vezes essa taxa foi elevada, para dificultar o acesso às lavras e aumentar a arrecadação dos impostos.
    O aumento da produção trouxe rápida prosperidade à população, que passou a viver do aluguel de seus escravos a juros de 12% ao ano. Enquanto isso, o Arraial do Tejuco crescia vertiginosamente.
    Os primeiros deslocamentos populacionais para a região tinham sido provocados pelo ouro encontrado em torno da Vila do Príncipe. Agora, muita gente partia para lá em busca das pedras preciosas. Um observador dos acontecimentos, o comerciante Francisco da Cruz comentou o número significativo de pessoas que abandonavam, desde 1726, a região aurífera das Minas e se transferiam para a região diamantina. Calculou, pelo que lhe “afirmaram várias pessoas casadas nesta terra que voltaram a buscar suas famílias”, que para lá já tinham passado mais “de mil homens brancos e negros”. Previa que dali “a ano e meio ficará essa comarca [do Rio das Velhas] sem gente, pois uma coisa é ver, e outra é contar as muitas tropas que todos os dias partem para elas”. Numa carta de 1728, confirmou que havia já alguns anos que a vila de Sabará estava ficando deserta, pois todos os moradores corriam para a região diamantina.
    A febre dos diamantes contagiou todo mundo. Havia quem vendesse todas as suas posses para comprar escravos, a fim de explorar com eles as lavras de pedras preciosas. Havia quem trocasse uma casa por um freio de cavalo.
    Sem falar nos que tentavam obter seu quinhão na base da violência. Os caminhos para a Comarca do Serro do Frio ficaram inseguros. Até 1730, os arredores do Tejuco ainda estavam infestados de ciganos, desocupados e quilombolas que atacavam continuamente os viajantes. Por isso, costumava-se viajar com bandos bem armados de negros. Os diamantes enviados anualmente para Portugal eram escoltados pela guarda diamantina e pelo Regimento dos Dragões até o porto do Rio de Janeiro.
    As autoridades portuguesas logo perceberam que o preço do diamante era extremamente sensível, ligado à raridade das gemas. O excesso de oferta fez despencar o valor do quilate no mercado mundial. Na tentativa de reduzir a produção, foi elevado substancialmente o valor das taxas. Depois, todas as concessões de lavras foram revogadas, e só se concediam novas licenças para áreas que fossem exclusivamente auríferas. Foram expedidas ordens para que os diamantes já extraídos fossem registrados e recolhidos em um cofre localizado na Intendência.
    Essas medidas provocaram forte comoção na população que para lá tinha imigrado atraída pelas riquezas diamantinas. Somente em 1739 a exploração foi reaberta, mas sujeita a novas regras, aparentemente mais fáceis de controlar. Estabeleceu-se um sistema de contratos particulares que seriam arrematados de quatro em quatro anos, por um único interessado ou em sociedade.
    A sociedade diamantina era composta de uma grande camada de escravos, outra menor de homens e mulheres libertos, muitos deles pardos, e uma pequena classe dominante branca, composta quase toda de portugueses. Estes ocupavam os principais postos administrati¬vos e monopolizavam as honrarias e as patentes militares. Apesar de ter seus principais valores baseados nos critérios de nascimento e honra, como acontecia em toda a colônia, não era uma sociedade rigidamente estratificada. Contrariando a lógica, mulatos e mulatas alforriados encontravam espaço para ascender socialmente.
    Escravas e ex-escravas podiam acumular renda com vendas de tabuleiro e prestando pequenos serviços no arraial. Algumas melhoravam sua condição social pelo concubinato com algum homem branco. Foi o caso de Chica da Silva, que se tornou célebre por seu relacionamento amoroso com o contratador de diamantes português João Fernandes de Oliveira. Funcionários como ele dispunham de enorme riqueza e prestígio.
    Durante todo o século XVIII, o Tejuco ficou reduzido à situação jurídica de arraial, para evitar que se instalasse uma Câmara Municipal na localidade. Apesar disso, era um núcleo urbano florescente e dinâmico. Em 1732, a população já ultrapassara em muito à da Vila do Príncipe, sede da comarca. Distante dos rios diamantinos, a vila acabou despovoada, enquanto o arraial, por estar mais perto das lavras, crescia a olhos vistos.
    Nascia ali também uma elite ilustrada. Na década de 1750, o Arraial do Tejuco ganhou uma Ópera, onde eram encenadas as peças populares da época. As diversas igrejas (Matriz, São Francisco, Carmo, Rosário, Mercês) também contratavam músicos para escrever peças inéditas para as diversas celebrações anuais, como a Semana Santa, a Quarta-feira de Cinzas, o Corpo de Deus, o Senhor dos Passos, o Corpus Christi, além de ofícios de defuntos e missas cantadas. O mulato José Joaquim Emérico Lobo de Mesquita destacou-se entre os cerca de 120 músicos que atuaram no Tejuco durante o século XVIII, tornando-se renomado compositor.
    A posse de livros entre os moradores refletia um grau de instrução elevado para a época. Chamava a atenção a biblioteca do guarda-livros Manoel Pires de Figueiredo, composta de aproximadamente 140 obras, com cerca de 360 tomos, escritas em latim e francês. Nas suas estantes sobressaíam O espírito das leis, de Montesquieu, e um exemplar da Enciclopédia portátil, resumo da maior obra iluminista do século XVIII, escrita por Diderot e D’Alembert. Um dos fatores decisivos para esse intercâmbio cultural foi o significativo número de tejucanos enviados para estudar em universidades do exterior. No final do século XVIII, boa parte dos estudantes brasileiros matriculados na Universidade de Coimbra provinha da região diamantina.
    Entre 1750 e 1775, havia mais de 500 casas no Arraial do Tejuco, dispostas em 19 ruas e sete becos, com um total de 884 moradores livres. Quando Saint-Hilaire passou por ali, já no século XIX, existiam 800 casas e seis mil habitantes. Assim como outros viajantes, ele se deslumbrou com o ambiente de luxo e a pujança do comércio local, com lojas abastecidas de objetos importados, como louças inglesas e da Índia. Tudo transportado em lombo de burros para as famílias de posses. Havia no Tejuco, segundo ele, “um ar de abastança que não havia observado em nenhuma parte da Província, (...) mais instrução que em todo o resto do Brasil, mais gosto pela literatura e um desejo mais vivo de se instruir”.
    Somente com o decreto imperial de 13 de outubro de 1831 o Tejuco foi elevado à categoria de vila. Em 1838 foi criada a cidade de Diamantina. A Real Extração foi extinta por decreto em 1845. Instituiu-se, então, o arrendamento dos terrenos diamantinos, a ser realizado em leilão público pelo prazo de quatro anos. Alguns mal-entendidos surgiram da aplicação desta lei, pois várias pessoas que já exploravam os ribeiros diamantinos não dispunham de recursos para arrendá-los. Assim, o decreto não foi imediatamente posto em vigor. Em 1852, novos adendos legitimaram as ocupações já realizadas, e a legislação pôde enfim ser efetivada, o que ocorreu no ano seguinte.
    Estava definitivamente acabada a Real Extração dos Diamantes. Mas não a exploração das preciosas pedras, que em mãos particulares continuou a render intrigas, cobiça e disputas nas bandas das Minas Gerais. Esta é uma outra história, que, por sinal, perdura até hoje.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Diamantes do médio rio Jequitinhonha, Minas Gerais: qualificação gemológica e análise granulométrica

Diamantes do médio rio Jequitinhonha, Minas Gerais: qualificação gemológica e análise granulométrica





RESUMO
Os depósitos aluvionares da bacia do Rio Jequitinhonha, em Minas Gerais, constituíram a fonte da maior parte dos diamantes produzidos no Brasil desde 1714 até meados da década de 1980. Essa importância histórica e econômica motivou a apresentação dos dados quanto à granulometria e qualificação gemológica dos diamantes nas áreas de concessão das mineradoras Tejucana e Rio Novo. Em adição, a amostragem adquirida em 14 pontos ao longo do rio é instrumental para a composição de um banco de dados, tendo em vista a identificação da origem de populações de diamantes. No mega-lote estudado, constituído por 186.052 pedras (17.689 ct), merece ser destacada a grande proporção (82,2%) de diamantes gemológicos.
Palavras-chave: Rio Jequitinhonha, diamante, distribuição granulométrica, qualidade gemológica.

ABSTRACT
The Jequitinhonha River basin alluvial deposits, in Minas Gerais, were the source of most of the Brazilian diamond production since 1714 until the last middle eighties. This historical and economical importance is in itself a reason to publish grain-size and gemological quality data concerning the diamonds of the Tejucana and Rio Novo mining companies concession areas. In addition, extensive sampling (186,052 stones or 17,689 ct) on 14 locations along the river can contribute to create an important database to identify the origin of different diamond populations. Among other observations, the high proportion (82,2%) of gem diamonds should be stressed.
Keywords: Jequitinhonha River, diamond, grain-size distribution, gemological quality.



1. Introdução
Diamantes foram descobertos no Brasil nas proximidades de Diamantina, centro-norte de Minas Gerais, ao início do século XVIII. Nesse contexto, a bacia hidrográfica do rio Jequitinhonha se destaca por sua importância, não só histórica, como também comercial, uma vez que a maior parte dos diamantes daquele distrito foram produzidos sobre tal bacia, nas suas porções superior e média. No médio curso do rio Jequitinhonha, os aluviões são mais largos, permitindo a operação de grandes dragas de alcatruzes, como as das mineradoras Tejucana e Rio Novo, ao contrário do que ocorre no seu alto curso. O objetivo do presente trabalho é apresentar os dados quanto a granulometria e qualidade comercial referentes à produção de diamantes do Médio Jequitinhonha. Além disso, busca-se compor um banco de dados que apóie o desenvolvimento de um modelo para a identificação da origem de diferentes populações de diamantes.

2. Depósitos diamantíferos do rio Jequitinhonha
Na porção superior do rio Jequitinhonha, os vales são apertados, freqüentemente formando canyons entalhados sobre as rochas quartzíticas da serra do Espinhaço. Nessa área, como a largura dos aluviões raramente excede os 20 m, somente atividades garimpeiras são viáveis. A partir da localidade de Mendanha , o rio ganha o seu médio curso, desenvolvendo aluviões mais largos, muitas vezes com o flat alcançando 1.000 m de largura, onde as companhias Tejucana (atualmente com os serviços interrompidos) e Rio Novo operam diversas dragas de alcatruzes, acompanhadas, respectivamente, de dragas de sucção. No processo minerador, a draga de sucção segue à frente retirando o capeamento arenoso, estéril, enquanto a draga de alcatruzes, em seguida, escava, recolhe e trata o cascalho basal do depósito, rico em diamantes (ouro também é recuperado como subproduto).






A lavra de diamantes aluvionares do rio Jequitinhonha abrange exclusivamente sua calha atual, de idade recente a sub-recente. A fonte desses diamantes está concentrada nos conglomerados proterozóicos intercalados na Formação Sopa-Brumadinho, aflorantes em porções altas da serra do Espinhaço nas cabeceiras do rio e sua margem oeste  constituindo, assim, um novo ciclo geológico de erosão-deposição. A forte queda no gradiente do rio, com altitudes entre 1.200-1.500 m no espigão serrano para 700-600 m na área da jazida, fez com que os diamantes fossem reconcentrados nesse trecho aluvionar estudado . Na área de concessão da Mineração Rio Novo, mais ou menos na parte central do depósito (em termos longitudinais), a espessura média do cascalho mineralizado é de 4 m, para uma cobertura estéril que, em geral, alcança porte similar



 
3. Identificação da fonte de lotes de diamantes
Desde quando foi percebido que a produção diamantífera de certos países africanos, como Angola, Serra Leoa e Congo, estava atrelada ao financiamento de grupos engajados em guerras civis locais (os chamados conflict diamonds, também conhecidos em português como "diamantes-de-sangue"), uma campanha internacional patrocinada pela ONU tem procurado impor sanções à importação de material desses países. Além disso, a comunidade consumidora, sentindo-se moralmente abalada por tais acontecimentos, estimulou a pesquisa de propostas científicas visando a conhecer a real procedência dos lotes de diamantes, para evitar que essa produção chegasse aos grandes centros lapidadores. Entretanto, logo ficou claro que inexistiam metodologias científicas seguras capazes de identificar tal procedência (Janse, 2000; Shigley, 2002).
Desde longa data se tem percebido que diferentes depósitos diamantíferos, desde os primários, mostram particularidades específicas (Lewis, 1887). Nesse sentido, as médias de tamanho, valor ou qualidade gemológica, a freqüência relativa de formas cristalográficas, a presença de certas variedades, bem como outras propriedades químicas afins, poderiam ser relacionados com certos depósitos ou áreas diamantíferas. Estudos nesse sentido foram inicialmente propostos para alguns kimberlitos sul-africanos (Harris et al., 1975, 1979), norte-americanos (Otter et al., 1994) e para os pláceres costeiros da Namíbia (Sutherland, 1982). No Brasil, estudos semelhantes incluíram os diamantes da mina de Romaria - Triângulo Mineiro (Svisero & Haralyi, 1985), do rio Tibagi - Paraná (Chieregatti, 1989) e da serra do Espinhaço - norte de Minas Gerais (Chaves, 1997; Chaves et al., 1998).
Diversos autores (Chambel, 2000a,b; Chaves et al., 1998; Janse, 2000; Shigley, 2002) procuraram enfatizar que os diamantes de determinado depósito têm uma história geológica comum e, assim, devem possuir características que são "únicas" para cada depósito. Documentando tais características, elas poderiam conduzir à identificação do local de origem do lote de diamantes. Para isso, entretanto, precisa-se envolver análises estatísticas sobre populações de diamantes com grande número de indivíduos e os resultados precisam de ser compilados dentro de um programa de dados para cada área produtora de diamantes do mundo. Tal assinatura mineralógica, ainda que bastante fácil de se obter nas jazidas em fontes primárias, torna-se mais complicada em relação aos depósitos secundários, muitas vezes dispersos sobre grandes regiões. A apresentação dos dados referentes aos aluviões do rio Jequitinhonha pretende ser uma contribuição a tal proposta.

4. Discussão dos dados
Na área da Cia. Tejucana, os dados utilizados, no presente estudo, compõem-se de 14 parcelas correspondendo à produção mensal de cinco dragas (T1-T5), quando em plena operação nas décadas de 1980-90. Tal produção foi classificada originalmente pelos técnicos dessa companhia em termos granulométricos e comerciais, nos quatro grupos principais: (1) diamantes gemológicos de 1ª qualidade, (2) diamantes gemológicos de 2ª qualidade, (3) chips e (4) diamantes industriais. Os chips correspondem a diamantes de qualidade gemológica inferior, por apresentarem cristalização irregular ou geminada (Chaves & Chambel, 2003). Nesse trabalho, os diamantes de melhor qualidade (1ª/2ª) foram agrupados constituindo os diamantes "gemas", conforme referido nas Tabelas
Em relação aos estudos realizados na área de concessão da Mineração Rio Novo, somente duas amostragens foram utilizadas (janeiro e junho/1994), referentes a cerca da metade da produção mensal em porções distintas do setor de lavra conhecido como "Lagoa Seca" (jusante e montante), um distando do outro cerca de 1.000 m (Figura 1). Tal produção era proveniente de uma das duas dragas em operação pela companhia ("Maria Bonita"), pois, desde 1989, a mesma trabalhava também com a draga "Chica da Silva" (ou T1), adquirida da Mineração Tejucana. Para melhor entendimento das análises fornecidas, o trecho estudado do rio Jequitinhonha foi ainda dividido em dois setores, designados de "bloco montante" e "bloco jusante".
Há que se lamentar a falta de dados entre as localidades de Mendanha e Maria Nunes, onde os teores com certeza foram maiores por estarem logo à frente do espigão serrano (Figura 1). Sem dúvida, nesse trecho do rio Jequitinhonha, os serviços estavam concentrados na época da Coroa Portuguesa, a julgar pelos relatos de Mawe (1812) e Eschwege (1833). Com os dados fornecidos na Tabela 1, a impressão inicial é de que não existe correlação entre a distribuição das médias de peso/tamanho das pedras com o distanciamento de montante para jusante. Ainda que se verifique uma drástica diminuição desses valores desde o ponto 1 (resultando em 3 pedras para cada quilate) até o ponto 14 (19 pedras/ct), nos pontos intermediários os dados apresentam-se aparentemente caóticos.
Dessa maneira, poder-se-ia, em princípio, deduzir que as distribuições granulométricas, bem como os teores em diamantes, são bastante variáveis, provavelmente em dependência do posicionamento das cabeceiras dos tributários da margem esquerda do rio (Tabela 1 - Coluna 5). Produções (e teores) maiores determinariam o quanto de superfície tal sub-bacia teria drenado áreas de afloramento do Conglomerado Sopa. Entretanto, juntando-se os dados para trechos maiores do rio, conforme a coluna 6 da mesma tabela, observa-se uma notável regularidade na diminuição das médias de tamanho das pedras, desde 5,17 pedras/quilate na área de lavra da T3 - no início do bloco montante, até 19,36 p/ct na área da T4 - ao final do bloco jusante.
Em termos de granulometria (Tabela 2), a faixa preferencial, em função do peso dos diamantes (a qual se considera como a melhor maneira de se interpretar os dados), está concentrada no crivo [>12 <19], a qual inclui diamantes de peso médio de 0,33 ct, com a média geral de 35,3%. Interessante lembrar que tal classe, conhecida no meio comercial como 3/1 (três pedras por quilate), apresenta valores médios bastante apreciáveis de comercialização, pois ela é largamente utilizada na confecção de brilhantes de pequeno porte (@0,10 ct), os mais procurados em termos de "volume" de vendas em joalherias.
Em relação às qualidades gemológicas dos lotes (Tabelas 3, 4, 5), algumas observações se destacam: (1) em função do peso, a classe de granulometria [>12 <19] também apresenta amplo predomínio em termos de diamantes gemológicos de alta qualidade, variando entre 19,6-31,0%, com média de 26,5% para este crivo nos sete pontos do bloco montante, e 10,1-27,8% no bloco jusante (média de 20,2%); (2) a média total de diamantes lapidáveis (gemas + chips) atingiu o máximo de 93,5% (Ponto 3 - bloco montante), com média geral de 82,2% sobre o "mega-lote" (todos os 14 pontos), pesando 17.689 ct, com 186.052 pedras.

5. Considerações finais
As mineradoras Tejucana e Rio Novo representam raríssimas excessões no cenário nacional, no sentido de operações racionais e organizadas de lavras diamantíferas. O estudo dos dados de produção dessas empresas, por conseguinte, constitui uma excelente oportunidade de se trabalhar com dados precisos e confiáveis, para uma atividade em geral desorganizada e dominada por atividades garimpeiras. Ressalte-se também o fato de que ambas as mineradoras estão com suas reservas à beira da exaustão, tornando o estudo ainda mais premente. As populações de diamantes, ora estudadas, serão ainda úteis na criação de um grande banco de dados, visando a conhecer a proveniência geográfica de lotes de diamantes através de suas características mineralógicas.
Os diamantes do Médio Jequitinhonha, assim, embora de tamanhos médios bastante reduzidos e constituírem uma parcela ínfima da produção mundial (considerando uma produção mundial de 100.000.000 ct/ano e a produção do rio Jequitinhonha em 100.000 ct/ano - isto significaria 0,1% daquele montante), podem ser considerados bastante interessantes pelos seus conteúdos histórico e comercial. Afinal, a bacia desse rio foi por quase 160 anos, a maior produtora mundial de diamantes. Além disso, tal produção representa uma das maiores freqüências médias mundiais de diamantes gemológicos (82,2%, conforme demonstrado). Por isso, ainda atualmente a cidade de Diamantina constitui um importante pólo de comercialização de diamantes em termos internacionais.