Os embaixadores das esmeraldas
Sinônimo da preciosa pedra verde, a joalheria carioca Amsterdam Sauer completa 70 anos de criação de luxo e beleza, sob o comando do fundador, Jules Sauer, e seu filho, Daniel
Por Márcia Pereira
O bandeirante Fernão Dias Paes Leme (1608-1681), morreu acreditando
que havia encontrado a cobiçada esmeralda brasileira. Na verdade, seu
mérito foi revelar ao mundo que o Brasil era rico em outra pedra. No
caso, a semipreciosa turmalina, que, só com o tempo, foi alçada ao
panteão das pedras preciosas. Em 1963, quase três séculos depois, um
imigrante francês chamado Jules Sauer, dono da joalheria Amsterdam
Sauer, deparou-se com uma pedra esverdeada, quando passava férias com a
família na Bahia.
A gema lhe foi mostrada por um garimpeiro que a havia retirado de
uma mina da região de Salininha, no nordeste do Estado da Bahia. A pedra
era, sem dúvida, uma esmeralda de alto valor comercial – característica
que, até então, não tinha sido atribuída a nenhuma das gemas
esverdeadas encontradas. “No início da carreira, meu pai foi um
bandeirante moderno, que trocou o lombo do burro pelo carro e soube
explorar o valor da esmeralda”, diz Daniel Sauer, de 58 anos, filho
caçula de Jules. Foi assim que começou uma história de amor, que já dura
sete décadas.
Em 1941, com 20 anos, Jules criou, em Belo Horizonte, a Amsterdam
Sauer, a joalheria que assumiria a cidadania carioca em 1953, com a
inauguração de sua primeira loja na então Capital Federal. A empresa
tornou-se sinônimo de joias com esmeraldas e hoje atua no País com 25
lojas, além de negociar peças prontas e pedras lapidadas com joalherias
dos EUA, Europa e Ásia. Recentemente, inclusive, firmou uma parceria
com a maior rede de joalherias da China, a Shanghai Lao Feng Xiang, que
tem 800 lojas. “Os Sauer são os embaixadores brasileiros da esmeralda,
que, com o diamante, a safira e o rubi forma o grupo das pedras
consideradas preciosas pela joalheria tradicional”, diz Ivan Endreffy,
presidente da Associação Brasileira de Gemologia e Mineralogia.
"Ao longo do tempo, as joias ficaram mais suscetíveis às tendências de moda.
Porém, os clássicos da alta joalheria permanecem como ícones da elegância"
Jules Sauer, fundador da Amsterdam Sauer, aparece no museu da sua joalheria com o filho Daniel
“Admiro muito o profissionalismo e a visão de Jules. Um homem que
soube, como ninguém, promover essa bela pedra e, claro, também lucrar
com ela.” Admiração é o que o geólogo e gemólogo Daniel também
sente pelo pai e mentor. “Ele me ensinou, com seus 90 anos de vida e 70
de joalheria, a gostar das pedras. Tanto que me formei em geologia para
entender melhor o negócio”, diz o herdeiro, diretor técnico e
comercial da empresa. “Outras características que admiro em meu pai são o
otimismo e o arrojo.” O executivo, juntamente com a irmã, Debora,
diretora de criação, e com o cunhado, Silvio Eisenberg, presidente,
divide com Jules o comando da joalheria.
Daniel lembra que foi esse espírito ousado que fez o pai comprar,
em meados da década de 1950, a água-marinha mais famosa do País, a
Martha Rocha, colocando de vez o nome Sauer no mapa da joalheria
brasileira. “Ela era gigantesca, pesava 36,5 quilos e tinha 50 mil
quilates”, diz Jules. “Inicialmente, adquiri 43% da pedra, por cerca de
US$ 750 mil, à época.” Segundo ele, depois da lapidação, fragmentos da
pedra se espalharam por todo o mundo, transformados em belas joias.
“Ficaram conosco apenas as peças com as quais presenteei minha mulher,
Zilda”, diz o empresário.
Hoje e ontem: acima, a loja da marca, no número 1.782 da avenida Atlântica, no bairro de Copacabana, no Rio,
em dois momentos: atualmente, mais à esquerda, e em 1953, quando da sua inauguração
Jules batizou a água-marinha com o nome da mais badalada Miss
Brasil de todos os tempos, por ela ter a mesma cor dos olhos da bela
morena baiana. Uma curiosidade: 30 anos depois, ele contratou a ex-miss
Martha Rocha, a das duas polegadas a mais, para ser a relações públicas
da joalheria. O empresário conta que, atualmente, as peças lapidadas da
pedra valeriam, juntas, US$ 50 milhões.
Outro ensinamento que Daniel diz ter aprendido com o pai foi tentar
preservar ao máximo o quilate original de uma pedra, sem cortá-la em
muitos pedaços. Em geral, a Amsterdam Sauer utiliza pedras
grandes, com 30 quilates. “Assim, preservamos seu valor e sua raridade e
emprestamos esses quesitos à joia que irá recebê-la”, afirma.
“Fazemos dessa maneira, desde a década de 1950, e, por isso, nossas
joias estiveram entre as mais caras do País.” As peças atuais
(excetuando as da categoria Reserva) custam entre R$ 3 mil e R$ 116
mil.
Pai e filho recordam que, antigamente, as joias avantajadas eram
mais usadas pela realeza. No entanto, com uma maior distribuição da
riqueza, o mercado se democratizou e está ainda mais exuberante. “O
minimalismo não tem muita vez nesse ramo”, afirma Daniel. Mas o glamour,
sim. Com clientes como a atriz Shirley MacLaine em sua carteira, Daniel
acredita que, com a morte de Elizabeth Taylor, a “mulher-joia” das
décadas passadas, quem deve assumir o posto é a duquesa de Cambridge e
mulher do príncipe William, Kate Middleton.
“É uma plebeia com ar real”, diz. Galante e expert na arte de
confeccionar o presente mais apreciado pelas mulheres, ao longo das
gerações, o patriarca Jules é categórico: “Uma joia e uma mulher
elegante são reconhecíveis em qualquer tempo”, afirma. “Ver uma bela
peça vestindo uma bela mulher é sempre um verdadeiro fascínio. Até para
nós, joalheiros, que convivemos diariamente com as duas belezas.”
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