GARIMPAGEM DO OURO
Em
1993, estimou-se que cerca de 6 milhões dos milhões de trabalhadores na
mineração mundial estavam engajados no que se chama mineração artesanal
ou garimpagem como é definido no Brasil. Esses mineiros espalhados em
40 paises extraiam mais de trinta diferentes tipos de minerais. Em 2000,
a Organização Internacional do Trabalho, estimou que o número de
mineiros artesanais cresceu, totalizando cerca de 13 milhões em 55
países o que leva a crer que de 80 a 100 milhões de pessoas dependem
desta atividade para sobreviver. O ouro por sua característica de fácil
venda e alto valor tem sido o bem mineral mais extraído pelos mineiros
artesanais em todo o mundo. Em 1995, estimou-se que mais de um milhão de
mineiros atuavam na América Latina com uma produção de 115 a 190
toneladas de ouro com o maior contingente no Brasil (200.000 a 400.000)
produzindo de 30 a 50 toneladas.
Em
muitos paises, as leis relativas às atividades de mineração artesanal
não se baseam nas características do tipo de tecnologia utilizada, mas
na escala de produção ou no tipo de minério extraído (ex: aluvião). No
Brasil a lei n° 7.805 de 20-07-89 estabelece que os minérios
aluvionares, coluvionares e eluvionares estariam à disposição de serem
minerados por atividade garimpeira organizada, isto é, associações ou
cooperativas de garimpeiros. A legislação brasileira exclui os
garimpeiros da extração de ouro de depósitos primários, que na realidade
foram em grande maioria descobertos pelos próprios garimpeiros. A
história tem mostrado que sem suporte técnico e investimento, os
depósitos primários, normalmente ricos em sulfetos, são pesadelos para
os mineiros artesanais. Assim não parece ter sentido regulamentar a
atividade garimpeira pelo tipo de depósito geológico a ser trabalhado,
uma vez que existe um controle natural da atividade artesanal.
Infelizmente,
a maioria dos governos de paises em desenvolvimento não provêm uma
assistência de qualquer tipo aos mineiros artesanais. Esta seria uma
forma pela qual os mineiros poderiam ter acesso à tecnologia e garantias
legais das jazidas que descobriram. Os governos têm um papel
fundamental em estabelecer o arcabouço legal que seja visivelmente
vantajoso ao mineiro artesanal de outra forma ele irá (e tem sido),
inevitavelmente, trabalhar na ilegalidade.
A
mineração artesanal representa uma situação embaraçosa para as elites
dos países em desenvolvimento, que procuram mostrar ao mundo seus
avanços tecnológicos e a evolução de seus conceitos de modernidade.
Contudo, a garimpagem representa uma atividade absolutamente coerente
com a falta de planejamento de desenvolvimento rural da maioria dos
paises ricos. Um grupo de estudiosos reunidos pela Organização das
Nações Unidas para desenvolvimento industrial em Viena, em 1997, conclui
que em todo o mundo a mineração artesanal é uma atividade importante
como fonte de emprego que contribui para o alivio da pobreza, e se bem
organizada e assistida, pode vir a contribuir para o desenvolvimento
sustentável das comunidades rurais.
1. HISTÓRICO DA GARIMPAGEM DE OURO NA AMAZÔNIA
É
reconhecido que a moderna corrida ao ouro na Amazônia foi intensificada
pela descoberta de Serra Pelada, em janeiro de 1980. O mérito dessa
descoberta é atribuído ao peão de nome Aristeu, a serviço do senhor
Genésio Ferreira da Silva, proprietário da fazenda Três Barras.
Constatada a abundância de ouro, houve uma grande corrida de pessoas
para esse local de modo que em março de 1980, já existiam cerca de cinco
mil pessoas garimpando na 'Grota Rica'. Em abriu de 1980 ocorreu o
início da garimpagem no 'Morro da Babilônia'.
A
partir de 20 de maio de 1980, já com a presença do DNPM (Departamento
Nacional da Produção Mineral), e da DOCEGEO (empresa de pesquisa da
antiga CVRD, hoje VALE), foi montado um esquema governamental para
controlar e orientar as diferentes atividades que ali se desenvolviam, e
para tal se fizeram presentes diversos órgãos do governo federal e
estadual. Em outubro de 1980, houve necessidade de paralisia dos
trabalhos de desmonte manual para serem executados os serviços de
terraplenagem. O aprofundamento das catas de Serra Pelada fez com que
se surgissem problemas de desmoronamento, visto que os garimpeiros
acostumados a trabalhar com o ouro secundário, não davam a devida
atenção para a segurança de trabalho. Em julho de 1983 um acidente
vitimou 19 garimpeiros. Ao final de 1983 existiam, 3.973 catas de
mineração distribuídas em uma cava de forma elipsoidal com 30.000 m² de
área e profundidade de cerca de 60 m. Os direitos minerários do depósito
pertenciam a CVRD, que havia feito seu requerimento de pesquisa para
manganês e ferro e não havia reconhecido a presença de ouro na área.
Atualmente
a cava da Serra Pelada está inundada (pelo lençol freático) e menos de
800 garimpeiros tentam sobreviver re-processando rejeitos ou dragando
material do fundo da cava. A VALE (CVRD) anunciou em 1997 ter
encontrado através de sondagens cerca de 150 toneladas de ouro na área
de Serra Pelada. E esse anúncio atraiu novamente garimpeiros e
especulou-se o retorno de milhares de pessoas ao garimpo. Todavia
problemas geológicos e estruturais não ratificaram a previsão e com isso
o garimpo continuou latente, sem maiores fluxos de trabalhadores para a
região.
Nas
décadas de 70 e 80 muitas das áreas descobertas por garimpeiros foram
requeridas por empresas de mineração. Muitas delas alegaram depois de
terem suas concessões invadidas por garimpeiros. Outras, realmente
foram vítimas de invasões irresponsáveis. Empresários da mineração
passam a conviver não só com o risco, mas, também, com a insegurança, ao
verem seus investimentos sucumbidos e os depósitos minerais
dilapidados.
Cerca
de 236 mil km² ou 4,34% da área total da região amazônica brasileira
são afetados pela garimpagem de ouro. Somente no estado do Pará, essas
áreas atingem 150 mil km², das quais o Tapajós é maior área garimpeira
do Estado e do mundo – 100 mil km² – e também a mais importante em
termos de produção.
A
produção aurífera oficial dos garimpos da região do Tapajós, no período
1991-2000,representou cerca de 70% da produção paraense que por sua vez
representou 52,5% da produção garimpeira da Amazônia. No ano de 1991 a
produção industrial de ouro sob a responsabilidade da CVRD (na época) ,
representava cerca de 7% da produção total do Pará, sendo a grande
maioria, 93% , proveniente dos garimpos ativos do Tapajós (59,3%).
Cumaru-redenção-tucumã (26,2%) e de outras áreas (7,8%). Em 2000 o
quadro se inverteu sendo a produção industrial da mina do Igarapé Bahia
(Mineradora VALE) a fonte mais importante de ouro do Estado do Pará e do
Brasil. A produção garimpeira representou apenas 27,6% do total de
ouro produzido no Pará.
2. ASPECTOS AMBIENTAIS COM RELAÇÃO AOS GARIMPOS
Os
impactos ambientais da garimpagem podem ser divididos em físicos e
biológicos.Os aspectos físicos são caracterizados pela destruição da
capa vegetal e dos solos assim como pelo assoreamento de rios. O
envolvimento do solo promove intensa erosão das margens de rio,
carreando sólidos em suspensão e mercúrio associado à matéria orgânica
para sistema de drenagem. Este processo pode ser umas das principais
vias de mercúrio natural ou antropogênico nos sistemas aquáticos
amazônicos. Os impactos biológicos iniciam-se nos impactos a qualidade
das águas por intermédio do assoreamento*, pela descarga de derivados do
petróleo, tais como óleo diesel e graxa, pelo uso exacerbado de
detergentes utilizados para dispensar o minério e, o mais grave pelo uso
inadequado do mercúrio.
* Assoreamento é a obstrução, por sedimentos, areia ou detritos quaisquer, de um estuário, rio, ou canal. Pode ser causador de redução da correnteza. No Brasil é uma das causas de 'morte' de rios, devido à redução de profundidade. Os processos erosivos, causados pelas águas, ventos e processos químicos, antrópicos e físicos, desagregam solos e rochas formando sedimentos que serão transportados. O depósito destes sedimentos constitui o fenômeno do assoreamento.
3. ASPECTOS SOCIAIS EM RELAÇÃO AOS GARIMPOS
A
característica transiente, migratória e muitas vezes ilegal dos
mineiros artesanais modernos na América Latina, em particular no Brasil,
não tem contribuído com benefícios de assentamentos observados durante o
período colonial. O ciclo da atividade de mineração e bem conhecido:
descoberta, imigração, relativa prosperidade econômica, seguida de
exaustão do recurso mineral (material secundário), emigração e
decadência econômica. A mecanização dos garimpos contribuiu mais para a
aceleração deste ciclo. Drogas, prostituição, doenças, jogos, abuso de
álcool e degradação de princípios morais são conseqüências freqüentes da
ocupação caótica dos garimpos. É óbvio que os benefícios econômicos
obtidos pelos mineiros não compensam as deploráveis condições
socioeconômicas deixadas nas comunidades formadas pelos garimpos. Após a
exaustão do minério de ouro facilmente extraído, as minas são
abandonadas e quem permanece nos locais tem que conviver com o
desenvolvimento econômico alternativo.
A
criação de muitos municípios, cidades ou vilas, originados de maneira
caótica, através da corrida do ouro tem causado sérios problemas aos
gestores municipais. No Pará, os casos mais conhecidos são Curianópolis,
Eldorado dos Carajás, Cachoeira do Piriá, etc. muitas dessas
comunidades sofrem falta de opções econômicas, escassez de visão de
futuro e liderança, além de viverem em extrema pobreza, normalmente
buscando e reprocessar rejeito dos garimpos.
A
significativa produção histórica do ouro no Brasil retrata o enorme
potencial aurífero das regiões geológicas do país. Os investimentos
realizados na exploração de ouro, principalmente nos anos 1980, ainda
que bem menor em relação a outros paises tradicionais produtores
trouxeram excelentes retornos aos investidores através de importantes e
novas descobertas que alavancaram a produção nacional industrializada a
níveis sem precedentes. Este relato só não foi mais proeminente devido à
falta de uma política nacional que incentivasse a pesquisa mineral como
um todo. Apesar do pouco conhecimento acerca da geologia do território
nacional e das reservas de ouro contidas, sabe-se que o grande potencial
aurífero encontra-se associado a rochas de idade arqueana e
paleoproterozóica, que em geral fazem partes da seqüência do tipo
greenstone belt. No entanto, a nova fronteira exploratória no Brasil
situa-se na região Amazônica, de geologia ainda menos conhecida.
Nesta
região, além dos greenstone belt já reconhecidos, ocorrem depósitos
ainda pouco definidos, alguns associados a outros metais que também
apresentam interesse econômico. O real potencial dessas regiões deve ser
estudado através da metalogênese, à luz dos conhecimentos gerados de
outras partes do globo, e de desenvolvimento de técnicas exploratórias
adaptadas às condições tropicais que dominam a paisagem nessas regiões.
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