ROTA DO OURO
RR é rota do garimpo do Suriname e Guiana
RR é rota do garimpo do Suriname e Guiana
Fonte: a A A A
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Condições de trabalho dos garimpeiros são precárias: brasileiros são maioria
ANDREZZA TRAJANO
Cerca de 20 mil pessoas trabalham nos garimpos de
ouro no Suriname. Setenta e cinco por cento são brasileiros, segundo
dados oficiais divulgados em 2005, além das profissionais do sexo.
Muitos desses garimpeiros e prostitutas partem de Roraima, que virou
rota para quem deseja entrar naquele país, que é vizinho à Guiana.
Há uma grande atividade de brasileiros nos garimpos
do Suriname, Guiana Francesa, República da Guiana e Venezuela, uma vez
que as condições geológicas desses terrenos são semelhantes às do
Brasil. Logo, os brasileiros já sabem trabalhar nestas áreas, além de
enfrentarem menos restrições burocráticas.
Segundo levantamentos feitos pela Folha, a chamada
rota “transgarimpeira” é feita via aérea e custa cerca de R$ 1.200,00.
Uma aeronave com capacidade para poucos passageiros parte de Belém (PA),
faz uma parada em Boa Vista para pegar mais passageiros, segue para
Georgetown, na Guiana, e finaliza em Paramaribo, capital do Suriname,
retornando em seguida para Belém.
Roraima também se tornou uma parada estratégica para
os garimpeiros depois que a fronteira do Brasil, no Amapá, com a Guiana
Francesa passou a ter fiscalização apertada pelas autoridades. Com o
cerco fechado, os amapaenses passaram a usar a “transgarimpeira”.
Mas quem não quer desembolsar esse montante pode ir
de ônibus – quando a estrada esta boa - até Georgetown e de lá seguir
para os garimpos naquele país ou no Suriname. A passagem é mais barata.
Outra “transgarimpeira” parte de Mato Grosso, dá uma
parada em Rondônia, Amazonas e Roraima, e tem como destino final esses
países de grande atividade garimpeira.
Paramaribo é a porta de entrada, segundo os
garimpeiros. É tida como a “currutela” [vila garimpeira], na linguagem
deles. Lá eles se abastecem de equipamentos, comida, bebida e de
mulheres brasileiras nas boates.
A maioria desses garimpeiros trabalha em situação
irregular. Mas a Embaixada Brasileira estuda regularizar a situação,
criando uma permissão por dois anos.
Há cerca de um mês, a Folha conversou com um
garimpeiro no Aeroporto Internacional de Boa Vista, enquanto ele
aguardava o momento de embarcar para Paramaribo. Ao lado dele estavam
garimpeiros do Amazonas, Rondônia e Mato Grosso.
Semi-analfabeto, disse que se enfia na selva por
meses em busca de riqueza e melhores condições de vida. Ele manda o
dinheiro para a família em Mato Grosso.
Seu filho de 17 anos tem apenas o ensino fundamental e
por “não gostar de estudar” e estar desempregado, quer seguir a
carreira arriscada do pai. “É uma profissão arriscada, que pode dar
sorte ou azar. Conheço gente que facilmente ficou rica e outras que
rapidamente empobreceram. Só vai para garimpo quem realmente precisa”,
declarou.
Garimpeiros buscam principalmente o ouro
Segundo especialista consultado pela Folha e que já
esteve nos garimpos do Suriname, o principal minério procurado pelos
garimpeiros é o ouro, pois apesar da crise financeira global ou por
causa dela - os preços das commodities minerais despencaram -, ele
mantém os preços altos, em torno de R$ 70,00 o grama. Isto provocou mais
uma corrida do ouro em toda a Amazônia.
“É cíclico. Para se ter uma ideia do número de
garimpeiros que atuam na Amazônia é só observar o preço do metal da
bolsa de Londres”, explicou o especialista.
A extração do ouro é feita por desmonte hidráulico
dos aluviões (areia, cascalho e argila depositados nos rios e igarapés
pelas enxurradas), em que a água em alta pressão das mangueiras remove o
sedimento e o bombeia para uma caixa de madeira.
Antes passa por uma caneleta de madeira, conhecida
entre os garimpeiros como “cobra fumando”, com o fundo coberto por sacos
de farroupilha, carpetes e até tapetes de carro, que aprisionam o ouro
mais fino. O resto é sedimentado na caixa.
No fim de semana é feita a “despesca”, onde o
material da “cobra fumando” e da caixa é lavado e concentrado na bateia.
Para este processo adiciona-se o mercúrio que captura (amalgama) as
partículas de ouro, formando uma bola achatada. Depois é queimada com
maçarico, evaporando o mercúrio e ficando o ouro.
A produção é repartida entre os garimpeiros depois de
descontada as despesas com diesel, comida, e equipamentos. Sempre tem
uma “cantina” do dono do garimpo ou pista onde se compra o ouro, vende
bebida, comida e pequenas coisas, além das mulheres. O dono dever ser
surinamês ou preposto dele.
O ouro aluvionar dos garimpos ou contido no solo
alterado é de alto teor e baixo volume, ou seja, é mais fácil de ser
concentrado, mas não sustenta uma produção de longo prazo. Por exemplo:
um aluvião pode ter mais de 20 gramas de ouro por metros cúbicos de
material, e na rocha uma empresa pode produzir com teores de menos de
0.3 grama por tonelada. Mas as empresas removem milhões de toneladas de
material.
Quando o ouro dos aluviões e solo se exaure, os
garimpeiros partem para o filão, que é o ouro contido na rocha. Mas, por
problemas tecnológicos, como dificuldade de escavar e bombear a água
subterrânea, e também de seguir o veio, eles acabam invariavelmente
perdendo o investimento. É nesse estágio que deve entrar a mineração
industrial, na avaliação do especialista.
Garimpo está em alta, diz especialista
Nos tempos de crise, com o preço alto dos minérios, o
garimpo torna-se uma atividade muito lucrativa. O garimpeiro vive,
sobrevive e pode guardar e mandar dinheiro para a família.
“Mas tem que ser safo [esperto] para não acumular um
crédito grande com o dono do garimpo, pois aí ele pode ser trocado pelo
ouro. Acho que por isso eles gastam tudo com mulheres e bebidas, além do
fascínio e poder que podem exercer naquelas condições. São tratados
como gente por elas”, observa o especialista consultado pela Folha.
Quem ganha mais são os comerciantes de ouro. Compram barato e vendem a preço internacional. O ouro é moeda em qualquer país.
No Brasil, a Caixa Econômica Federal compra o ouro em
alguns locais de produção, como em Itaituba (PA), Humaitá (AM) e Porto
Velho (RO). Na década de 80, no auge da Serra Pelada, o ouro brasileiro
literalmente pagava a dívida brasileira, pois ia direto da Caixa em
Marabá para Whashington, conforme lembrou o profissional.
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