Ferro e dólar em bom momento
Recuperação da cotação do minério e desvalorização do real amenizam perdas do ano, mas arrancada depende da China
Sem abandonar a volatilidade que tem dominado o mercado
transoceânico de minério de ferro, os preços da matéria-prima
completaram na segunda-feira dois meses de alta acumulada, embora o
balanço deste ano seja ainda negativo. Esta semana começou com preço de
US$ 129,75 por tonelada do produto contendo 62% de ferro, principal
referência usada no setor, cotação 18,22% superior à do início de junho,
segundo o acompanhamento de índices internacionais feito pelo Instituto
Brasileiro de Mineração (Ibram). Combinada à valorização do dólar sobre
o real, de 12,6% neste ano – baseada na diferença entre R$ 2,0460 por
dólar comercial em 31 de dezembro de 2012 e R$ 2,3035 na segunda-feira
–, a boa notícia está num cenário mais favorável para as mineradoras.
Analistas
de empresas de consultoria e corretoras que seguem os passos da
indústria mineral esperam repercussões da nova situação no resultado da
Vale no segundo trimestre, a ser divulgado hoje ao mercado. O
analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, diz não ter dúvida de que o
comportamento dos preços e das vendas de minério de ferro vai depender
do modelo de desaceleração que a economia chinesa adotar. As estimativas
convergem para uma expansão do gigante asiático limitada a 7,5% neste
ano, frente aos 11% anuais verificados em meados dos anos 2000.
“A
taxa de 7,5%, de qualquer forma, significa um senhor crescimento.
Precisamos ver agora se a economia crescerá ou não abaixo disso, levando
a China a comprar volume bem menor de commodities (produtos agrícolas e
minerais cotados no mercado internacional)”, afirma Galdi. Quanto aos
preços, o analista trabalha com projeções entre US$ 110 e US$ 140 até o
fim do ano. De 2 de janeiro ao último dia 5, de acordo com o
levantamento do Ibram, os preços caíram 11,43%. Na análise anual,
entretanto, houve aumento de 46,2% frente a cotação mais baixa, de US$
88,75 de setembro de 2012.
As exportações brasileiras de minério
de ferro reagiram em julho, quando comparadas ao mesmo período do ano
passado, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). As
vendas somaram 29,7 milhões de toneladas, volume quase 9% maior ante
idêntico período de 2012. Frente a junho, as vendas aumentaram 13,8%. Em
recente entrevista ao Estado de Minas, o presidente da mineradora
Ferrous Resources do Brasil, Jayme Nicolato, afirmou que mantém visão
otimista de preços e da demanda da China. Entre os países emergentes, a
Índia também promete participação destacada no consumo de minério de
ferro, e outra promessa é o Oriente Médio.
Avaliação semelhante
tem feito o presidente da Vale, Murilo Ferreira, em entrevistas à
imprensa e encontros com analistas do mercado financeiro. A companhia
destina 50% de suas vendas à locomotiva asiática. Indagado, o presidente
da mineradora enfatiza a posição do país de maior produtor de aço,
respondendo por metade da produção mundial. Sendo assim, não haveria
qualquer estranheza na alta proporção de vendas da Vale à siderurgia
chinesa. Ferreira observa que tanto a China quanto os demais países
emergentes precisam continuar consumindo para satisfazer a necessidade
de infraestrutura e de moradia.
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