A
atividade mineradora no Brasil foi
fator
determinante para interiorização do povoamento, bem como
para a ocupação dos "sertões", que compreendiam
desde
o nordeste até o sul do país. Dinâmica sem
precedentes
na História do território português na
América,
até aquele momento, a mineração trouxe em seu
bojo,
uma demanda crescente de mercadorias que envolviam desde os implementos
para mineração propriamente dita até produtos de
primeira
necessidade (1). A exploração das minas transformou o
perfil
da produção de abastecimento, com
intensificação
do trabalho, diferentes formas de ocupação do
espaço
e organização fundiária, dilatando as fronteiras
do
Império e colocando em constante litígio as terras
portuguesas
e espanholas (2).
Este
projeto enfoca, dentro das
dinâmicas
estabelecidas pela exploração aurífera, a
formação
da rede fundiária do Sertão do Rio Pardo, em
relação
ao estabelecimento e desenvolvimento de um dos caminhos ligados ao
abastecimento
das regiões mineradoras: o Caminho de Goiás.
Imagem de satélite abrangendo a região que vai de Jundiaí a Mogi - Guaçu |
I - Histórico
Desde
1655, registram-se
solicitações
e doações de terras ao longo do Caminho de Goiás.
Contudo, foi nos dez anos posteriores as descobertas de ouro na
região
Goiás (1718 em Cuiabá e 1725 em Vila Boa de Goiás)
que se concedeu a maioria de sesmarias ao longo do trajeto.
O
caminho iniciava-se em
São Paulo
de Piratininga, seguindo em direção a Jundiaí,
Mogi
Mirim, Mogi Guaçu e Casa Branca. Depois deste percurso
sul-norte,
o caminho tomava a direção Noroeste, atingindo os atuais
municípios de Cajuru, Batatais, Franca Ituverava, já na
área
designada como "Sertão do Rio Pardo" (3).
A
sua margem foram se formando
pequenos
núcleos, pousos e roças, que serviam tanto para a
subsistência,
como para o abastecimento das expedições que por ali
passavam.
II
- O Caminho e o Ouro
Com
a descoberta do ouro nas
Gerais, inicia-se
intenso fluxo migratório de paulistas; as vilas despovoavam-se
(4)
e parte da produção foi canalizada para os centros de
mineração
nas Minas Gerais, onde alcançavam altos preços. O intenso
comércio e o fluxo de viajantes, dinamizaram as áreas em
torno dos caminhos que levavam às minas, intensificando a
produção
agrícola
Três
eram os caminhos
paulistas que
conduziam às regiões mineradoras, sendo o principal
deles,
o que passava pela garganta do Embu, mais conhecido por Caminho Velho.
O segundo seguia por Atibaia, Bragança e Extrema transpondo a
serra
da Mantiqueira por Camanducaia (trajeto percorrido por Fernão
Dias
e Castelo Branco (5) ) e o terceiro, o Caminho dos Guaianases, que
passava
pelo vale do Mogi – Guaçu e Morro do Gravi e que constituiu o
traçado
inicial do Caminho de Goiás.
Embora
o comércio de
São
Paulo para as Gerais houvesse se estabelecido já ao final do
século
XVII, o "Caminho dos Guaianases" só se constitui como importante
via de comércio após 1725 (época da descoberta do
ouro em Goiás), transformando-se no Caminho de Goiás.
Até
então, somente à parte que compreendia até Mogi
Mirim,
por estar ligada ao comércio das Gerais, tinha importância
comercial.
|
Região
de inúmeros rios,
o Sertão do Rio Pardo constituía ótima via fluvial
que serviu tanto para desbravar os sertões desconhecidos,
(empurrando
os índios Guianases para fora desses "sertões"), bem como
para abastecer as regiões de Minas Gerais (pelo Rio Pardo e Rio
Grande principalmente), o que explica o número de sesmarias
concedidas
às margens, nascentes ou afluentes destes rios.
A
afirmação do Caminho de
Goiás como importante via de ligação correspondeu
aos interesses da Coroa que buscando coibir os inúmeros caminhos
e as picadas que serviam ao contrabando. Nesse sentido, a
administração
portuguesa incentivou a criação, ao longo de seu trajeto,
de diversos núcleos populacionais, com moradores que plantassem
roças e criassem pastagens, como pousos, para abastecimento aos
viajantes e suas montarias (tropas) (6).
Entre
o período da
descoberta do
ouro nas Minas Gerais e a abertura do Caminho Novo (1708), para as
Minas
(a partir do Rio de Janeiro), São Paulo foi retaguarda de
suprimento
das regiões mineiras (7). Entretanto, com a abertura do Caminho
Novo, o trajeto até as Gerais, que pelos caminhos paulistas
durava
em média 60 dias, reduziu-se para 17 e, aberta a vertente "Terra
Firme", este tempo diminuiu para 10 ou 12 dias, dependendo da
intensidade
da marcha (8).
O
Caminho Novo, aberto por Garcia
Rodrigues
Pais (9), transferiu para as cidades fluminenses os proveitos
usufruídos
até aquele momento, quase que somente por São Paulo. Os
Paulistas
ainda tentaram o fechamento do Caminho Novo, mas não obtiveram
resultado,
pois, além de mais curto, e com a nova rota buscava-se
também
dificultar o contrabando.
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O Porto
do Rio de Janeiro tornou-se o o
mais
importante porto de escoamento do ouro mineiro e o principal porto de
entrada
de produtos europeus (portugueses, ingleses e holandeses,
principalmente)
e dos escravos vindos da África.
Em 1725,
com a descoberta do ouro na
Vila
Boa de Goiás, o caminho para aqueles sertões, que servira
anteriormente quase só ao aprisionamento de índios, com
algumas
roças de subsistência, transformou-se em uma via de acesso
importante para as regiões mineradoras da Vila Boa de
Goiás
e Cuiabá e o abastecimento e escoamento dessas regiões
imprimiram
nova dinâmica de ocupação e produção
das terras do sertão do Rio Pardo.
Mesmo com o declínio da produção aurífera em Goiás e Mato Grosso, na segunda metade do século XVIII, o sertão do Rio Pardo continuou a atrair populações, agora de mineiros, que se deslocam para seus campos e estabelecem criação de gado. O vínculo com as Minas Gerais permanece, o que se denota pela conservação dos traços culturais tipicamente mineiros, tais como a arquitetura e o modo de falar, e que de certa forma imprimiu sua marca a esta região. |
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III – A
Pesquisa
O
século XVIII é portanto
chave para compreender a estrutura fundiária do Nordeste
Paulista.
Torna-se necessário estudos que permitam a compreensão da
complexa estrutura fundiária, que formada no século XVIII
é a base das grandes lavouras do século posterior. O Sertão
do Rio Pardo, terra de posseiros, agregados e donatários de
sesmarias durante o decorrer do XVIII, redefini-se no início do
XIX, e com a especialização da produção em
algumas áreas; açúcar, algodão, milho e
futuramente
o café, são as principais causas dessas
redefinições
que, por hora, podem ter agregado ou desagregado lavradores, posseiros
e donatários, remodelando a estrutura fundiária conforme
seus interesses.
Este
pré projeto de mestrado
caminha
nesta direção: demonstrar em um região
específica
como se constitui a propriedade, quem são seus moradores,
habitantes
e produtores, e de como esta produção voltada tanto para
o comércio interno, como para a exportação,
dialogou
com estas ocupações territoriais, e neste ponto o Caminho
de Goiás é fundamental, pois é ele, o mais
importante
elemento de povoação do Nordeste paulista no decorrer do
século XVIII.
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