Ex-deputados gerem negócios de mineração
Investidores de Minas Gerais, Brasília e São Paulo
entregaram este ano cerca de R$ 8 milhões para o ex-deputado federal
pelo PT de Minas Gerais Virgílio Guimarães com o objetivo de extrair
ouro em montanhas de rejeito na região de Serra Pelada, no Pará.
Guimarães não tem experiência em mineração. Foi parar em Serra Pelada
pelas mãos de outro petista, o também ex-deputado federal pelo Pará
Paulo Rocha.
Os dois atuaram juntos na Câmara Federal. Tinham em comum o interesse por temas relacionados à mineração e à atividade garimpeira. Outro ponto em comum foi o mensalão. Rocha foi acusado de envolvimento no esquema, mas acabou inocentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Guimarães entrou no episódio de outra forma: como a pessoa que apresentou o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, seu conterrâneo, a integrantes da cúpula do PT à época do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Marcos Valério foi um dos condenados pelo STF por sua atuação no esquema de compra de votos de parlamentares.
O negócio com ouro em Serra Pelada está a cargo de uma empresa de consultoria em gestão de Guimarães, a BS3. Os R$ 8 milhões revelados por ele ao Valor são 100% privados, segundo disse. A maior parte do dinheiro saiu de investidores de Minas. O restante, afirmou o ex-deputado, veio de um fundo de investimentos de São Paulo, que aplicou R$ 1 milhão, e de investidores baseados em Brasília, cujo aporte total foi de R$ 2,5 milhões. Guimarães não revelou quem são os investidores.
Serra Pelada é uma área pertencente ao município de Curionópolis, no Sudeste do Pará. Nos anos 80, migraram para lá cerca de 100 mil pessoas atrás do ouro, que era extraído de um grande garimpo numa cava a céu aberto. Em 1992, o governo federal proibiu o garimpo manual em Serra Pelada. Os garimpeiros e suas cooperativas tentam há anos encontrar um sócio com capital para retirar toneladas de ouro que eles dizem ainda haver na região.
Guimarães conta que em fevereiro, a BS3 fechou contratos com quatro cooperativas de garimpeiros de ouro de Serra Pelada. Seu papel passou a ser, como disse o ex-deputado, ver o que é lixo e o que pode ser aproveitável, identificar o porte do empreendimento e o que pode atrair determinado tipo de investidor. Além disso, a BS3 também passou a captar recursos junto a investidores.
Um deles, o fundo de São Paulo, tem como gestor um ex-ministro, disse Guimarães, sem revelar nome.
O ex-deputado conta que foi parar meio por acaso em Curionópolis. "Ele [Paulo Rocha] me levou para discutir a questão da reserva garimpeira", disse o petista, que identifica em Rocha um bom interlocutor com os ex-garimpeiros de Serra Pelada. "Quando eu fui eu nem sonhava em ser gestor ou ter qualquer tipo de participação." Ao saber que os garimpeiros já haviam tentando diversas vezes um acordo com uma empresa para produzir ouro, Guimarães sugeriu uma alternativa, conta. "Como eu sou economista, sempre mexi com esse assunto, eu mostrei para as pessoas que o que havia ali era um problema muito grande de gestão." Acrescentou que dificilmente as cooperativas conseguiriam atrair investidores porque não confiabilidade para isso. Daí foi um passo para que o próprio Guimarães fechasse contratos com as cooperativas.
Antes, no entanto, Virgílio Guimarães tentou outro negócio. Diz ter agido como uma espécie de corretor e apresentado a possibilidade de investimento em Serra Pelada a uma pessoa próxima a um executivo da holding que controla o frigorífico JBS. "Não era para o grupo JBS, era para uma pessoa física, alguém que tinha empresas próprias e é diretor da holding que controla a JBS", disse. "Eu só fiz um contato com uma pessoa próxima a esse diretor, que se entusiasmou. Ele autorizou um investimento de R$ 15 milhões", disse Guimarães, que se recusou a citar o nome do investidor. A operação acabou sendo cancelada pelo executivo, segundo Guimarães.
Os contratos que fechou então preveem que 44% do que for produzido ficará com cada uma das cooperativas e seus associados e 56% ficarão com a empresa do ex-deputado para cobrir os custos com a contratação de companhias especializadas em mineração e em lidar com a recuperação ambiental e parte para remunerar a BS3. Guimarães não diz quais são suas previsões de ganhos nem a de seus investidores. Segundo ele, a parte que lhe caberá do ouro a ser produzido em áreas de rejeito e em depósitos aluvionares (na superfície) ele venderá para "três ou quatro empresas que atuam nisso" e que se encarregam buscar a produção.
O filho do ex-deputado, o deputado federal Gabriel Guimarães (PT-MG), é presidente da Comissão na Câmara que trata do marco regulatório do setor mineral. "Para evitar algum possível mal entendido, lembro que no marco tem um artigo que é expresso que a lei do garimpo é separada dessa".
Numa fase inicial, numa exploração em uma montanha de rejeito de uma das cooperativas, Guimarães, fala que a perspectiva de produção ainda é pequena. "Nós pesquisamos o rejeito e vamos começar com uma extração de 200 toneladas dia de material inerte e isso vai dar 3 kg de ouro por dia." A cotação do grama do ouro na BM&F Bovespa da sexta-feira era R$ 89,4 o grama.
A produção-piloto está para começar, disse. A área escolhida onde, segundo ele, se dará essa produção inicial é uma montanha de rejeito carregada de mercúrio que pertence à maior cooperativa de Serra Pelada, a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp). E fica numa área pertencente à Colossus, a mineradora canadense está terminando as obras de uma mina subterrânea e de uma estrutura de processamento do ouro, conforme mostrou uma reportagem do Valor de do início do mês. A Colossus diz não ter interesse no rejeito.
Além da Coomigasp, Guimarães tem contratos para produção de ouro com a Cooperativa Mista Agro Mineral do Rio Sereno, com a Cooperativa dos Produtores, Agricultores e Garimpeiros de Curionópolis e com Cooperativa de Mineração, Desenvolvimento Social e Agromineral dos Garimpeiros de Serra Pelada (CooperSerra). As três funcionam em casinhas simples com telhados de duas águas numa das ruas tranquilas de Curionópolis. A Coomigasp, cujos dirigentes estão em pé de guerra, está numa sede provisória.
Antes mesmo de começar a produzir, Guimarães paga "luvas" às quatro entidades. São uma espécie de antecipação dos ganhos com a produção. São R$ 50 mil reais que a BS3 paga a cada uma das três cooperativas menores e mais R$ 200 mil para a Coomigasp.
O Valor esteve em Curionópolis e conversou com dirigentes das quatro entidades. Todos disseram que os valores antecipados servem para custear a manutenção das cooperativas. "Em tese, as luvas são para manter a cooperativa. Na prática eu não sei, não fiscalizo. Cumpro a minha parte. Isso eu espero que o promotor, os associados, o conselho fiscal façam. No modelo de contrato tinha o pagamento de luvas", diz o ex-deputado.
Os dois atuaram juntos na Câmara Federal. Tinham em comum o interesse por temas relacionados à mineração e à atividade garimpeira. Outro ponto em comum foi o mensalão. Rocha foi acusado de envolvimento no esquema, mas acabou inocentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Guimarães entrou no episódio de outra forma: como a pessoa que apresentou o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, seu conterrâneo, a integrantes da cúpula do PT à época do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Marcos Valério foi um dos condenados pelo STF por sua atuação no esquema de compra de votos de parlamentares.
O negócio com ouro em Serra Pelada está a cargo de uma empresa de consultoria em gestão de Guimarães, a BS3. Os R$ 8 milhões revelados por ele ao Valor são 100% privados, segundo disse. A maior parte do dinheiro saiu de investidores de Minas. O restante, afirmou o ex-deputado, veio de um fundo de investimentos de São Paulo, que aplicou R$ 1 milhão, e de investidores baseados em Brasília, cujo aporte total foi de R$ 2,5 milhões. Guimarães não revelou quem são os investidores.
Serra Pelada é uma área pertencente ao município de Curionópolis, no Sudeste do Pará. Nos anos 80, migraram para lá cerca de 100 mil pessoas atrás do ouro, que era extraído de um grande garimpo numa cava a céu aberto. Em 1992, o governo federal proibiu o garimpo manual em Serra Pelada. Os garimpeiros e suas cooperativas tentam há anos encontrar um sócio com capital para retirar toneladas de ouro que eles dizem ainda haver na região.
Guimarães conta que em fevereiro, a BS3 fechou contratos com quatro cooperativas de garimpeiros de ouro de Serra Pelada. Seu papel passou a ser, como disse o ex-deputado, ver o que é lixo e o que pode ser aproveitável, identificar o porte do empreendimento e o que pode atrair determinado tipo de investidor. Além disso, a BS3 também passou a captar recursos junto a investidores.
Um deles, o fundo de São Paulo, tem como gestor um ex-ministro, disse Guimarães, sem revelar nome.
O ex-deputado conta que foi parar meio por acaso em Curionópolis. "Ele [Paulo Rocha] me levou para discutir a questão da reserva garimpeira", disse o petista, que identifica em Rocha um bom interlocutor com os ex-garimpeiros de Serra Pelada. "Quando eu fui eu nem sonhava em ser gestor ou ter qualquer tipo de participação." Ao saber que os garimpeiros já haviam tentando diversas vezes um acordo com uma empresa para produzir ouro, Guimarães sugeriu uma alternativa, conta. "Como eu sou economista, sempre mexi com esse assunto, eu mostrei para as pessoas que o que havia ali era um problema muito grande de gestão." Acrescentou que dificilmente as cooperativas conseguiriam atrair investidores porque não confiabilidade para isso. Daí foi um passo para que o próprio Guimarães fechasse contratos com as cooperativas.
Antes, no entanto, Virgílio Guimarães tentou outro negócio. Diz ter agido como uma espécie de corretor e apresentado a possibilidade de investimento em Serra Pelada a uma pessoa próxima a um executivo da holding que controla o frigorífico JBS. "Não era para o grupo JBS, era para uma pessoa física, alguém que tinha empresas próprias e é diretor da holding que controla a JBS", disse. "Eu só fiz um contato com uma pessoa próxima a esse diretor, que se entusiasmou. Ele autorizou um investimento de R$ 15 milhões", disse Guimarães, que se recusou a citar o nome do investidor. A operação acabou sendo cancelada pelo executivo, segundo Guimarães.
Os contratos que fechou então preveem que 44% do que for produzido ficará com cada uma das cooperativas e seus associados e 56% ficarão com a empresa do ex-deputado para cobrir os custos com a contratação de companhias especializadas em mineração e em lidar com a recuperação ambiental e parte para remunerar a BS3. Guimarães não diz quais são suas previsões de ganhos nem a de seus investidores. Segundo ele, a parte que lhe caberá do ouro a ser produzido em áreas de rejeito e em depósitos aluvionares (na superfície) ele venderá para "três ou quatro empresas que atuam nisso" e que se encarregam buscar a produção.
O filho do ex-deputado, o deputado federal Gabriel Guimarães (PT-MG), é presidente da Comissão na Câmara que trata do marco regulatório do setor mineral. "Para evitar algum possível mal entendido, lembro que no marco tem um artigo que é expresso que a lei do garimpo é separada dessa".
Numa fase inicial, numa exploração em uma montanha de rejeito de uma das cooperativas, Guimarães, fala que a perspectiva de produção ainda é pequena. "Nós pesquisamos o rejeito e vamos começar com uma extração de 200 toneladas dia de material inerte e isso vai dar 3 kg de ouro por dia." A cotação do grama do ouro na BM&F Bovespa da sexta-feira era R$ 89,4 o grama.
A produção-piloto está para começar, disse. A área escolhida onde, segundo ele, se dará essa produção inicial é uma montanha de rejeito carregada de mercúrio que pertence à maior cooperativa de Serra Pelada, a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp). E fica numa área pertencente à Colossus, a mineradora canadense está terminando as obras de uma mina subterrânea e de uma estrutura de processamento do ouro, conforme mostrou uma reportagem do Valor de do início do mês. A Colossus diz não ter interesse no rejeito.
Além da Coomigasp, Guimarães tem contratos para produção de ouro com a Cooperativa Mista Agro Mineral do Rio Sereno, com a Cooperativa dos Produtores, Agricultores e Garimpeiros de Curionópolis e com Cooperativa de Mineração, Desenvolvimento Social e Agromineral dos Garimpeiros de Serra Pelada (CooperSerra). As três funcionam em casinhas simples com telhados de duas águas numa das ruas tranquilas de Curionópolis. A Coomigasp, cujos dirigentes estão em pé de guerra, está numa sede provisória.
Antes mesmo de começar a produzir, Guimarães paga "luvas" às quatro entidades. São uma espécie de antecipação dos ganhos com a produção. São R$ 50 mil reais que a BS3 paga a cada uma das três cooperativas menores e mais R$ 200 mil para a Coomigasp.
O Valor esteve em Curionópolis e conversou com dirigentes das quatro entidades. Todos disseram que os valores antecipados servem para custear a manutenção das cooperativas. "Em tese, as luvas são para manter a cooperativa. Na prática eu não sei, não fiscalizo. Cumpro a minha parte. Isso eu espero que o promotor, os associados, o conselho fiscal façam. No modelo de contrato tinha o pagamento de luvas", diz o ex-deputado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário