Metade da população de Coober Pedy mora debaixo da terra
No verão, o calor chega a 50°C. Já debaixo da terra, a temperatura é sempre agradável. Tem uma caverna-livraria, e a pequena igreja ganha iluminação de acordo com a hora do dia.
Nos meses de inverno, faz até frio em Coober Pedy. Mas no verão faz muito calor na cidade. A temperatura chega a 50°C. Por isso, as pessoas se adaptaram tão facilmente à vida subterrânea, onde a temperatura é sempre agradável.
Mas há mais detalhes nesse estranho cenário de Coober Pedy. Essas chaminés funcionam como entradas de ar. E essas imensas máquinas usadas nas minas de opala estão por toda a cidade.
O velho mineiro Ken Male conta que, na afastada Coober Pedy, encontrou o que queria. “Aqui eu encontrei a liberdade de fazer o que quisesse, sem a burocracia do governo”, diz Ken. “Quando eu cheguei, 20 anos atrás, eu pude ter minha própria casa. Se eu quisesse trabalhar, eu ia, mas, se eu não quisesse, não precisava”.
Com o dinheiro das opalas, Ken construiu uma vida em Coober Pedy. A casa onde mora fica no mesmo lugar da antiga mina que explorava. Na parte da frente, fica a loja. Descendo a escada, está o subterrâneo, a cozinha, com uma falsa janela, a sala e os quartos.
Ken diz que é uma ótima experiência, mas que não gosta de ficar embaixo da terra todo o tempo. Tem a vantagem de a temperatura ser sempre a mesma, cerca de 22°C no verão ou no inverno. Não faz diferença.
O nosso hotel em Coober Pedy também é subterrâneo. No quarto, não tem janela. Mas dormir no subterrâneo é bom demais. É sempre escurinho, faz silêncio e, se andarmos pelo hotel, temos a oportunidade de se deparar com uma parte da mina.
É que, nos corredores do hotel, ficava a mina cavada no passado pelos pais da gerente do hotel Debby Clee. Hoje, eles se dedicam aos hóspedes, mas não deixaram as opalas de lado. Lidar com essas pedras está no sangue da família.
Debby explica que há milhões de anos, quando essa região toda era mar, havia conchas na areia. A areia se transformou em pedra, e as conchas se desintegraram, deixando moldes naturais, que foram preenchidos com água e sílica. Ao se solidificarem, viraram opalas.
As opalas mais valiosas têm mais brilho e cores, mudam de tom conforme a luz. A mais cara, no entanto, ainda está do jeito que foi achada. Escondida dentro de uma pedra sem valor, uma espécie de ouro de tolo da região. Foi uma surpresa e uma sorte, pois a opala guardada ainda bruta por pouco não foi para o lixo. Ela vale US$ 69 mil, e Debby a achou quando estava cavando para construir a sala de jantar.
As opalas encontradas no hotel até hoje são polidas pela mineira Valerie Clee, mãe de Debby, em um cantinho bem especial, perto de uma das entradas da mina. É um trabalho de artesã, feito com carinho. O amor pelas opalas transparece no olhar de Valerie, que brilha quando fala delas.
“É fascinante. Tem lindas cores”, diz Valerie. “Quando você corta a opala, não vê as cores. Contra um fundo preto, a cor aparece”. Ela conta ainda que faz esse serviço com opala, há 26 anos e que já achou a sua opala, que ela carrega pendurada no pescoço.
Entusiasmada com a nossa curiosidade, Valerie nos leva pelos túneis formados pelas antigas minas nos subterrâneos da cidade. É um labirinto interminável. Agora dá para entender de onde vem o nome Coober Pedy: Kupa Piti. Em aborígene, quer dizer homem branco no buraco.
A Austrália produz 90% das opalas do mundo, e 70% desta produção sai daqui de Coober Pedy.
Atualmente, quase tudo é exportado, principalmente para a China. Mas já não está tão fácil encontrar opalas. A nova mina de Ken fica há alguns quilômetros da cidade.
O velho mineiro diz que nada é como dez anos atrás. É preciso cavar cada vez mais fundo.
Mas ele acredita que ainda há muitas opalas nessa região.
Coober Pedy sempre atraiu gente do mundo inteiro. Hoje, há pessoas de 52 nacionalidades vivendo na cidade. A construtora Irene Spillmann é suíça e veio para a cidade atrás das opalas há nove anos. Nunca encontrou uma pedra valiosa. Quer dizer, ainda não. Ela é casada com Michael, australiano de Brisbane. O sócio deles é Steve, de Montenegro, ex-República Iugoslava. Eles estão construindo uma casa subterrânea, para vender. Em Coober Pedy, quem cava está sempre de olho nas opalas.
O sonho de encontrar uma opala valiosa em Coober Pedy pode se tornar realidade para qualquer um. É só procurar. E até mesmo visitantes como nós podem tentar a sorte.
Para velhos mineiros como Ken, encontrar uma opala preciosa é uma esperança que se renova. Como a flor Sturt Desert Pea, que é um dos símbolos do sul da Austrália. Mesmo na aridez do solo de Coober Pedy, ela não se acanha. É por isso que Ken quer ser enterrado na cidade, junto ao que ainda hoje o faz sonhar.
“Eu sempre fui um garoto do campo. Nasci no campo, amo o campo e esta liberdade. Você olha para todo o lado e nada, ninguém. Talvez somente uns poucos cangurus”, afirma Ken.
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