terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Desertificação ameaça área disputada no NE

Desertificação ameaça área disputada no NE


O município de Gilbués, no sul do Piauí, é retrato do que pode acontecer com áreas de divisa abandonadas ao deus-dará ou submetidas à produção agrícola a qualquer custo, sem critérios na conservação da água. A localidade, situada bem próximo a terras em litígio, constitui o centro do maior núcleo brasileiro de desertificação, onde já é praticamente impossível plantar. O fenômeno é acelerado por aspectos naturais, como clima e solo, mas também pelo desmatamento e práticas inadequadas de cultivo, entre outras ações humanas.
"Restaram apenas essas poucas cabras e bodes, que vivem soltos, comendo qualquer vegetação que encontram pela frente", aponta o lavrador Odetino Laurindo, morador do povoado Prata, porta de entrada para o Parque Nacional Nascentes do Parnaíba, onde a água em fatura está guardada.
Em Gilbués, a paisagem desértica de dunas e erosão se destaca em plena zona urbana. A pobreza e a degradação de hoje contrastam com a riqueza do passado, quando a mineração de diamante atraiu garimpeiros de várias partes do país. "Troquei o sofrimento da seca pelo sonho da pedra preciosa, mas hoje continuo dependendo da chuva para sobreviver", lamenta Valmir dos Santos. Hoje poucos se aventuram no garimpo - apenas empresas capazes de investir em equipamentos. As dragas secaram rios e a terra boa para cultivo concentrou-se na mão de poucos. A margem do riacho Boqueirão virou um cemitério de maquinário em ruínas.
A realidade atual é bem diferente de quando a cidade tinha movimentada vida noturna e até um aeroporto que recebia voos regulares da antiga Cruzeiro do Sul. "Tudo o que se ganhava era gasto ali mesmo, com vaidades e supérfluos, porque no dia seguinte bastava 'estourar' outro riacho para conseguir uma nova pedra", conta Ibelta Barros.
Hoje o desafio é recuperar o estrago, uma tarefa difícil, porque exige mudanças produtivas e culturais. Ao custo de R$ 3 milhões, um experimento do governo do Piauí em 54 hectares com plantio de feijão e espécies nativas tenha conter o avanço das dunas.
A degradação causa perda da produtividade e está associada a questões sociais. "As áreas de risco de desertificação concentram 66% da pobreza rural do país", revela Francisco Campello, especialista do tema no Ministério do Meio Ambiente. O governo trabalha para consolidar um marco legal de combate ao problema, baseado no Projeto de Lei 2447, de 2007, engajando governos estaduais e assentamentos.
Em Cabrobó (PE), onde se localiza a segunda maior área desertificada no Brasil, com 4.960 km², a erosão abriu grandes crateras na terra e é intenso o processo de salinização do solo, resultado de projetos inadequados de irrigação.
De acordo com a Organização das Nações Unidas, até 2050 a desertificação afetará 50% das terras agrícolas da América Latina e Caribe. No mundo, o problema atinge 2,1 bilhões de pessoas, 90% em países em desenvolvimento.



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