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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Não dá mais para tirar ouro com a mão, diz coronel
Não dá mais para tirar ouro com a mão, diz coronel
Sebastião Curió chegou ao garimpo em 1980 e
coordenou a extração de ouro com mão de ferro. Hoje, acompanha de longe
a mecanização
Aos 75 anos, o coronel Sebastião Rodrigues de Moura conhece
como poucos as agruras de Serra Pelada. Há exatos 30 anos, Curió, como é
conhecido, chegou pela primeira vez na região, como enviado do governo
federal para coordenar a corrida pelo ouro. Durante três anos, baixou
regras rigorosas para controlar a turba de mais de 100 mil homens que
tentavam bamburrar – ou enriquecer, na gíria dos garimpeiros – e viu
sair 42 toneladas de ouro da mina. Quando foi deputado federal, aprovou
um projeto de lei para estender por mais cinco anos o garimpo e foi
prefeito de Curionópolis, município do qual Serra Pelada é um distrito e
cujo nome foi dado em sua homenagem.
Durante três anos, o coronel Sebastião Curió coordenou com mão de ferro o garimpo em Serra Pelada
Com a experiência de três décadas em Serra Pelada, Curió tem uma
certeza: não dá mais para tirar ouro com as mãos como nos velhos tempos.
Por isso, é a favor da mecanização da mina, processo que terá início em
maio, quando o governo deverá conceder a licença de lavra para a Serra
Pelada Companhia de Desenvolvimento Mineral (SPCDM), joint venture entre
a mineradora canadense Colossus e a Coomigasp, a Cooperativa de
Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada. “Nessa nova fase de Serra
Pelada nenhum garimpeiro vai enriquecer”, disse ao iG o coronel Curió.
“Mas, como acionistas da empresa, eles têm uma boa perspectiva para
melhorar a qualidade de vida”.
De sua casa em Brasília, Curió, que antes de chegar a Serra Pelada
havia combatido a guerrilha do Araguaia, falou sobre a mecanização da
mina e fala dos tempos em que comandava os garimpeiros. Acompanhe os
principais trechos da entrevista: iG: Como o senhor foi parar em Serra Pelada?
Sebastião Curió: Por causa de uma busca e apreensão que fiz com o Zé
Arara, o maior comprador de ouro da região. Trouxe o material apreendido
e fiz uma apresentação para o ministro da Fazenda, o presidente da
Caixa Econômica, vários generais e representantes do presidente da
República, João Figueiredo. Contei o que estava acontecendo em Serra
Pelada e, depois dessa palestra, foi determinado que a exclusividade de
compra do ouro fosse dada para a Caixa Econômica e que eu fosse o
coordenador do garimpo. iG: Em que condições o senhor encontrou a região?
Curió: Havia uma corrida do ouro e milhares de garimpeiros chegavam
diariamente em Serra Pelada. Cheguei no dia 2 de maio de 1980, e o
povoado devia ter uma população de 40 mil pessoas. Ao chegar, falei que
meu objetivo era evitar desvios, contrabando e coordenar a exploração.
Trouxe alguns benefícios. Entre outras coisas, cortei o percentual que
eles pagavam ao Genésio, o suposto dono da propriedade, um posseiro que
cobrava taxa de 20% da produção dos garimpeiros.
iG: Por que o senhor proibiu a entrada de mulheres em Serra Pelada? Curió: Muitos dizem que foi discriminação, mas não é verdade.
Eram muitos homens e a presença das mulheres causaria muitas mortes por
noite. Além das mulheres, proibi jogo de azar, bebida alcoólica e o uso
ostensivo de armas. Recebi uma ordem de Brasília para desarmar todo
mundo. Mas não dava para desarmar 60 mil homens com apenas 16 policiais.
iG: E se alguém não respeitasse as regras?
Curió: Quem não tinha carteirinha da Receita Federal (naquela época
ainda não existia a cooperativa) era colocado num avião e mandado embora
do garimpo. Eram os chamados furões. Brigões e ladrões também eram
expulsos de Serra Pelada. iG: Como era o relacionamento com os garimpeiros?
Curió: Excelente. Montávamos um telão com lençóis brancos e 40 mil
homens assistiam a filmes à noite. Quando decidi que iria hastear a
bandeira nacional todas as manhãs, convidei todo mundo para assistir.
Cerca de 30 mil homens apareceram. Quando começou a tocar o hino e
coloquei a mão no peito, percebi que os garimpeiros fizeram a mesma
coisa. Toda dia pela manhã, 40 mil homens hasteavam a bandeira e
cantavam o hino nacional. Era um espetáculo de civismo. iG: O senhor viu muita gente enriquecer em Serra Pelada?
Curió: Muita. Tem um caso engraçado. Estava no meu barraco de lona e vi
um tumulto na pista de pouso. Tinha um monte de garimpeiro correndo
atrás de um cara. Quando ele se aproximou de mim, pude ver que fumava um
charuto de notas de Cr$ 1 mil. Além disso, tinha uma cauda parecida com
as usadas em pipas, mas feita de notas de Cr$ 1 mil ao invés de
plástico. O garimpeiro parou perto de mim e gritou: ‘bamburrei
(enriqueci, na gíria local), meu chefe’. Perguntei o que era aquele rabo
e ele falou: ‘sempre andei atrás do dinheiro. Agora o dinheiro anda
atrás de mim’. Ao todo, colocamos 42 toneladas de ouro nos cofres do
Banco Central. iG: Mas os garimpeiros não viviam numa situação muito degradante?
Curió: Muita gente me pergunta se os formigas (carregadores de sacos)
não viviam num sistema semi-escravo. Eles carregavam sacos com cinco,
seis, oito pás de cascalho, mas ganhavam de cinco a seis salários
mínimos por mês. Era a mão de obra não especializada mais bem remunerada
do País. iG: Por que o senhor resolveu se candidatar a deputado federal?
Curió: Não tive escolha. Em 1982, recebi ordem da presidência da
República para me candidatar a deputado. Um compadre acha que fizeram
isso para me tirar do garimpo. Quando saí de lá desligaram as bombas que
puxavam a água, a cava encheu e acabou a exploração. Fui
estrategicamente retirado de Serra Pelada. iG: Por que o senhor acha que fizeram isso?
Curió: Para que Serra Pelada não funcionasse. Eleito deputado, recebi a
orientação para voltar à Serra Pelada para dizer aos garimpeiros que o
garimpo havia terminado. Fiz o oposto. Em 1984, apresentei um projeto de
lei para prorrogar o garimpo por cinco anos, criei a cooperativa dos
garimpeiros de Serra Pelada. Deixei de ser deputado e os garimpeiros
pediram que eu fosse presidente da cooperativa. Aceitei, mas estava numa
situação muito difícil porque já não tinha o apoio do governo. iG: O senhor é a favor da mecanização de Serra Pelada? Curió: Sou. A lavra manual tornou-se impossível, o ouro pode
ser encontrado a 150 metros abaixo do solo. Não dá mais para tirar com a
mão. iG: Se a mecanização é boa, por que ela não aconteceu
antes, como na época em que o senhor foi presidente da cooperativa dos
garimpeiros?
Curió: Quando era presidente da cooperativa, pedi o alvará de lavra
industrial de empresa de mineração. Ou seja, a cooperativa passou a ser
cooperativa de mineração dos garimpeiros de serra pelada, deixou de ser
só dos garimpeiros. Se não tivesse feito essa mudança, ela não poderia
fazer um convênio com uma empresa como a Colossus. iG: Os garimpeiros que ficaram em Serra Pelada acreditam
que saíram perdendo com o acordo fechado com a Colossus. O que o senhor
acha disso?
Curió: Muitos têm razão. O problema é que a cooperativa não teria
condições de industrializar a mina. Tem de ter uma empresa de porte da
Colossus para realizar o trabalho. O que é perigoso é a cooperativa
perder os direitos minerais e administrativos. Consta que a diretoria da
cooperativa assinou um contrato com uma cláusula passando os direitos
para a Colossus. É isso que preocupa uma parcela dos garimpeiros. iG: Algumas pessoas acreditam que Serra Pelada só produziu miséria. O senhor acha que agora ela vai produzir riqueza?
Curió: Se o acordo funcionar direito, o garimpeiro deixa de ser um
sonhador para ser um cotista, um acionista. Ele vai receber um
percentual do lucro da mineração de acordo com o número de cotas que ele
tem. É uma boa perspectiva.
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