domingo, 9 de março de 2014

HISTÓRIA DO GARIMPO DE CUMARU

GARIMPO DE CUMARU
INTRODUÇÃO
A descoberta em 1980 de ouro residual de alto teor na região de Cumaru, nome retirado de um fruto muito comum na região (Foto 01) , localizada no sudeste do estado do Pará, no município de São Félix do Xingu, distando cerca de 90 km do vilarejo de Redenção, fez com que imediatamente inúmeras frentes de garimpagem ocupassem uma área de 15.120 km compreendida entre os rios Naja e Branco, afluentes da margem direita do Rio Fresco. As frentes de garimpo mais ricas, denominadas de Maria Bonita, Cumaru, Retiro do Guará-Pará e Macedônia ( Figura 2 ), localizam-se em bacias do Rio Naja.
A criação do Projeto Cumaru pelo governo Federal no início dos anos 80, objetivando controlar a produção local de ouro, levou a um aumento significativo de garimpeiros na região. Todavia o aprofundamento das cavas e poços dos garimpeiros e o progressivo esgotamento de minério residual de alto teor, resultaria no desmantelamento do Projeto Cumaru, permitindo a entrada na área de companhias de mineração.

MODO DE OCORRÊNCIA
O perfil dos sedimentos modernos que preenchem as calhas dos drenos representam uma seqüência típica de depósitos aluvionares. Da base para o topo observa-se respectivamente:
· argila de diversas cores e denominada pelos garimpeiros de "la grese"
· um ou até três níveis de cascalho, formados de seixos angulosos de quartzo leitoso,
arenito, quartzito e rocha vulcânica. O nível mais inferior é denominado de cascalho
propriamente dito e ao superior o garimpeiro denomina de bagerê.
· capeamento formado por camadas alternadas de areia, silte e argila
· solo rico em matéria orgânica
Via de regra todo o perfil da aluvião exibe mineralização aurífera, todavia, tão somente o cascalho, e raramente o bagerê, exibem teores de ouro em quantidades possíveis de serem explorados economicamente pelos métodos tradicionais de garimpagem.

GARIMPAGEM
A incursão de garimpeiros na região de Cumaru no início da década de 80, em áreas com alvarás de pesquisa expedidos pelo Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM) a empresas de mineração, áreas estas com significativa atividade agropastoril, e suas constantes incursões na reserva indígena dos Gorotires, resultaram em conflitos nesta imensa região. Objetivando evitar as tensões sociais, o governo federal elaborou e deu início em março de 1981 ao Projeto Cumaru, convocando vários órgãos federais e estaduais sob a tutela do extinto Conselho de Segurança Nacional, representado por uma Coordenação. A esta Coordenação cabia supervisionar e estabelecer as diretrizes a serem executadas pelos diversos órgãos atuantes na região O (DNPM) deveria prestar as primeiras informações aos garimpeiros, orientando-os por ocasião da entrega dos Certificados de Matrícula de Garimpeiro (CMG), assim como ensinando-os a maneira de obter o máximo aproveitamento do ouro contido em seus garimpos, supervisionando a instalação das máquinas rudimentares, na segurança do trabalho e na solução de pendências entre os mesmos. A Rio Doce Geologia e Mineração S/A (DOCEGEO), utilizando-se de verbas do Banco Central (BC); repassadas pela Caixa Econômica Federal (CEF), responsabilizava-se pela compra do ouro produzido na região. A CEF respondia pelo apoio logístico e a manutenção da infra-estrutura, funcionando também como agência bancária. A Secretaria da Receita Federal (SRF) expedia gratuitamente aos garimpeiros CMG e CPF informando-os dos tributos sobre bens minerais e impostos. A Força Aérea Brasileira (FAB) realizava o transporte das equipes para as diversas frentes de garimpo e responsabilizava-se pelo transporte do ouro. A Companhia Brasileira de Alimentos (COBAL) vendia gêneros alimentícios para os garimpeiros a preços compatíveis. O Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPES) dispunha de pequeno hospital e um ônibus dotado de ambulatório para dar assistência médico hospitalar aos garimpeiros. No campo da medicina preventiva uma equipe da Superintendência de Campanha de Saúde Pública (SUCAM), vacinava e efetuava exames de sangues. Tratando-se de área nas imediações da reserva indígena Gorotire, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) alocou na região um indigenista de seu quadro.

METODOLOGIA DO GARIMPO
Comprovada a existência do ouro delimita-se uma frente de serviço, paralela a calha do rio, com 20 metros de extensão, que se estende perpendicularmente até a outra margem do rio. Após o desmatamento, abre-se a primeira cata, geralmente com 10 x 10 metros e que recebe o nome de "banda" pelas garimpeiros.
Como a primeira cata é aberta no leito ativo do rio é necessário desviar o curso d’água para um canal paralelo construído lateralmente e denominado "tilim". Feito o tilim o garimpeiro inicia o trabalho a partir do leito do rio ou da grota, no sentido de uma das margens, abrindo uma seqüência de barrancos de modo que cada barranco aberto e explorado seja entulhado com o rejeito do barranco seguinte. Esta seqüência de atividades só é efetuada se o teor de ouro do cascalho, à medida que se avança para a sua margem for compensatório, pois caso contrário a seqüência de trabalho passa a ser longitudinal acompanhando o leito da grota ou rio.
Na abertura de um barranco são empregadas em média três pessoas, que se revezam no desmonte e retirada de material. À medida que o barranco vai se aprofundando, as paredes dos mesmos são escoradas com troncos de árvores.
O cascalho é retirado e antes de ser lavado é misturado com água, ato este denominado pelo garimpeiros de "traçar" para formar uma polpa e retirar a argila dos seixos. Quando a matriz do ouro é muito argilosa e o ouro é fino o garimpeiro adiciona sabão em pó a polpa, objetivando uma melhor recuperação do ouro. A polpa é jogada então em um plano inclinado construído de madeira a mais recentemente alumínio , que dispõe de tariscas a intervalos regulares e que serve de anteparo para diminuir a velocidade da água e onde se deposita o ouro que é mais denso que os demais minerais que compõem o cascalho.

RECUPERAÇÃO DO OURO
O principal responsável pela baixa recuperação do ouro de Cumaru advém do uso de maquinário rústico construído no próprio local. Assim a retenção do ouro nos planos inclinados dotados de tariscas é função direta da qualidade do maquinário, da instalação do mesmo e da experiência do garimpeiro. O tamanho do plano inclinado, geralmente de reduzidas dimensões; a não uniformidade da distribuição da água; a qualidade desta água, que por ser continuamente reciclada, fica densa pela presença de argila; o ângulo de inclinação do plano inclinado; a distribuição e a altura das tariscas, são os fatores determinantes para uma melhor ou pior recuperação do ouro, devendo ser salientado que por mais experiente que seja o garimpeiro sempre ocorria significativa perda de ouro.
Estudos efetuados por diversos técnicos em Cumaru, apontam para uma enorme variação na perda de ouro nos garimpos daquela região, perda esta que varia de 15% a até 90%.

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