GARIMPO DE CUMARU
INTRODUÇÃO
A descoberta em 1980 de ouro residual de alto teor na região de
Cumaru, nome retirado de um fruto muito comum na região (Foto 01) ,
localizada no sudeste do estado do Pará, no município de São Félix do
Xingu, distando cerca de 90 km do vilarejo de Redenção, fez com que
imediatamente inúmeras frentes de garimpagem ocupassem uma área de
15.120 km compreendida entre os rios Naja e Branco, afluentes da margem
direita do Rio Fresco. As frentes de garimpo mais ricas, denominadas de
Maria Bonita, Cumaru, Retiro do Guará-Pará e Macedônia ( Figura 2 ),
localizam-se em bacias do Rio Naja.
A criação do Projeto Cumaru pelo governo Federal no início dos
anos 80, objetivando controlar a produção local de ouro, levou a um
aumento significativo de garimpeiros na região. Todavia o aprofundamento
das cavas e poços dos garimpeiros e o progressivo esgotamento de
minério residual de alto teor, resultaria no desmantelamento do Projeto
Cumaru, permitindo a entrada na área de companhias de mineração.
MODO DE OCORRÊNCIA
O perfil dos sedimentos modernos que preenchem as calhas dos
drenos representam uma seqüência típica de depósitos aluvionares. Da
base para o topo observa-se respectivamente:
· argila de diversas cores e denominada pelos garimpeiros de "la grese"
· um ou até três níveis de cascalho, formados de seixos angulosos de quartzo leitoso,
arenito, quartzito e rocha vulcânica. O nível mais inferior é denominado de cascalho
propriamente dito e ao superior o garimpeiro denomina de bagerê.
· capeamento formado por camadas alternadas de areia, silte e argila
· solo rico em matéria orgânica
Via de regra todo o perfil da aluvião exibe mineralização
aurífera, todavia, tão somente o cascalho, e raramente o bagerê, exibem
teores de ouro em quantidades possíveis de serem explorados
economicamente pelos métodos tradicionais de garimpagem.
GARIMPAGEM
A incursão de garimpeiros na região de Cumaru no início da década
de 80, em áreas com alvarás de pesquisa expedidos pelo Departamento
Nacional da Produção Mineral (DNPM) a empresas de mineração, áreas estas
com significativa atividade agropastoril, e suas constantes incursões
na reserva indígena dos Gorotires, resultaram em conflitos nesta imensa
região. Objetivando evitar as tensões sociais, o governo federal
elaborou e deu início em março de 1981 ao Projeto Cumaru, convocando
vários órgãos federais e estaduais sob a tutela do extinto Conselho de
Segurança Nacional, representado por uma Coordenação. A esta Coordenação
cabia supervisionar e estabelecer as diretrizes a serem executadas
pelos diversos órgãos atuantes na região O (DNPM) deveria prestar as
primeiras informações aos garimpeiros, orientando-os por ocasião da
entrega dos Certificados de Matrícula de Garimpeiro (CMG), assim como
ensinando-os a maneira de obter o máximo aproveitamento do ouro contido
em seus garimpos, supervisionando a instalação das máquinas
rudimentares, na segurança do trabalho e na solução de pendências entre
os mesmos. A Rio Doce Geologia e Mineração S/A (DOCEGEO), utilizando-se
de verbas do Banco Central (BC); repassadas pela Caixa Econômica Federal
(CEF), responsabilizava-se pela compra do ouro produzido na região. A
CEF respondia pelo apoio logístico e a manutenção da infra-estrutura,
funcionando também como agência bancária. A Secretaria da Receita
Federal (SRF) expedia gratuitamente aos garimpeiros CMG e CPF
informando-os dos tributos sobre bens minerais e impostos. A Força Aérea
Brasileira (FAB) realizava o transporte das equipes para as diversas
frentes de garimpo e responsabilizava-se pelo transporte do ouro. A
Companhia Brasileira de Alimentos (COBAL) vendia gêneros alimentícios
para os garimpeiros a preços compatíveis. O Instituto Nacional de
Assistência Médica e Previdência Social (INAMPES) dispunha de pequeno
hospital e um ônibus dotado de ambulatório para dar assistência médico
hospitalar aos garimpeiros. No campo da medicina preventiva uma equipe
da Superintendência de Campanha de Saúde Pública (SUCAM), vacinava e
efetuava exames de sangues. Tratando-se de área nas imediações da
reserva indígena Gorotire, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) alocou
na região um indigenista de seu quadro.
METODOLOGIA DO GARIMPO
Comprovada a existência do ouro delimita-se uma frente de
serviço, paralela a calha do rio, com 20 metros de extensão, que se
estende perpendicularmente até a outra margem do rio. Após o
desmatamento, abre-se a primeira cata, geralmente com 10 x 10 metros e
que recebe o nome de "banda" pelas garimpeiros.
Como a primeira cata é aberta no leito ativo do rio é necessário
desviar o curso d’água para um canal paralelo construído lateralmente e
denominado "tilim". Feito o tilim o garimpeiro inicia o
trabalho a partir do leito do rio ou da grota, no sentido de uma das
margens, abrindo uma seqüência de barrancos de modo que cada barranco
aberto e explorado seja entulhado com o rejeito do barranco seguinte.
Esta seqüência de atividades só é efetuada se o teor de ouro do
cascalho, à medida que se avança para a sua margem for compensatório,
pois caso contrário a seqüência de trabalho passa a ser longitudinal
acompanhando o leito da grota ou rio.
Na abertura de um barranco são empregadas em média três pessoas,
que se revezam no desmonte e retirada de material. À medida que o
barranco vai se aprofundando, as paredes dos mesmos são escoradas com
troncos de árvores.
O cascalho é retirado e antes de ser lavado é misturado com água, ato este denominado pelo garimpeiros de "traçar"
para formar uma polpa e retirar a argila dos seixos. Quando a matriz do
ouro é muito argilosa e o ouro é fino o garimpeiro adiciona sabão em pó
a polpa, objetivando uma melhor recuperação do ouro. A polpa é jogada
então em um plano inclinado construído de madeira a mais recentemente
alumínio , que dispõe de tariscas a intervalos regulares e que serve de
anteparo para diminuir a velocidade da água e onde se deposita o ouro
que é mais denso que os demais minerais que compõem o cascalho.
RECUPERAÇÃO DO OURO
O principal responsável pela baixa recuperação do ouro de Cumaru
advém do uso de maquinário rústico construído no próprio local. Assim a
retenção do ouro nos planos inclinados dotados de tariscas é função
direta da qualidade do maquinário, da instalação do mesmo e da
experiência do garimpeiro. O tamanho do plano inclinado, geralmente de
reduzidas dimensões; a não uniformidade da distribuição da água; a
qualidade desta água, que por ser continuamente reciclada, fica densa
pela presença de argila; o ângulo de inclinação do plano inclinado; a
distribuição e a altura das tariscas, são os fatores determinantes para
uma melhor ou pior recuperação do ouro, devendo ser salientado que por
mais experiente que seja o garimpeiro sempre ocorria significativa perda
de ouro.
Estudos efetuados por diversos técnicos em Cumaru, apontam para
uma enorme variação na perda de ouro nos garimpos daquela região, perda
esta que varia de 15% a até 90%.
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