Sobre a polêmica da origem do diamante na Serra do Espinhaço (Minas Gerais): um enfoque mineralógico
A origem do diamante da Serra do Espinhaço tem sido alvo de
discussões por quase 200 anos. O enigma da fonte diamantífera primária
na região conduziu a uma série de hipóteses díspares, as quais
representam duas linhas antagônicas de pensamento a respeito desta
origem: próxima, isto é, dentro da bacia de sedimentação do Supergrupo
Espinhaço (mesoproterozóica), ou distante, na zona cratônica situada a
oeste (mesoproterozóica ou anterior), perifericamente ao sítio
deposicional, liberando o diamante durante a evolução do registro
sedimentar da bacia. O estudo das principais características
mineralógicas do diamante e de seus minerais acompanhantes, resultou na
obtenção de novos dados que permitiram apoiar a segunda linha de
pensamento sobre a origem da gema. Em relação às rochas conglomeráticas,
encaixantes da mineralização na Serra, concentrados volumosos de sua
matriz revelaram ser ela destituída de minerais indicadores de fonte
mantélica. A mineralogia dos pesados aluvionares que ocorrem na região
também não foi indicativa de quaisquer minerais mantélicos; as granadas
amostradas foram determinadas como almandina de origem crustal. Quanto a
mineralogia do diamante, estudos integrados de lotes representativos de
diversas áreas foram conclusivos a respeito de que: (1) cristais
grandes (>lct) são raros, totalizando menos que 1% em relação ao
total de indivíduos amostrados; (2) cristais "inteiros" predominam
largamente (>90%), destacando-se os de hábitos rombododecaédricos,
octaédricos e transicionais entre ambos (>70%); (3) diamantes como
agregados policristalinos estão praticamente ausentes (<0,1%); (4)
diamantes com macro-inclusões (visíveis a olho nu) são raros (<5%);
(5) cristais de qualidade gemológica predominam (78-97%). À integração
dos dados apresentados apontam para o transporte desde uma área fonte
distante para o diamante do Espinhaço, extra-bacia, provavelmente
situada na zona do Craton do São Francisco a oeste do atual espigão
serrano.
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